• 26/11/2014

    Terror no Sul da Bahia: operação policial termina com disparos de borracha e bombas de gás contra o povo Pataxó

    Em ação truculenta para cumprir mandado de reintegração de posse na Aldeia Boca da Mata, a Polícia Federal com apoio da Polícia Militar e Civil do estado da Bahia, disparou balas de borracha e bombas de gás contra os indígenas Pataxó. Segundo relatos, os policiais não pouparam nem crianças e mulheres, hoje, 26 de novembro, por volta de 5h da manhã.  

    Uriba Pataxó informou que há muitos indígenas desaparecidos nas matas que estavam fugindo do ataque da Polícia. O representante da Funai na região, Tiago de Paula, estava na área e segundo indígenas ele também foi agredido. “Bateram em nossos parentes, nossas crianças e mulheres. Tem índio que ainda tá perdido no mato. Chegaram botando terror. São mais de 30 viaturas que estão no território, PF, Polícia Civil e Polícia Caema. Então é muita policia, já chegaram espancando os índios, estamos preocupados com nossos parentes que ainda estão perdidos no mato”, lamenta Antônio José Pataxó, que vive na Aldeia Guaxuma, outra área de retomada distante 11km de Barra Velha, local onde aconteceu a barbárie.


    A Polícia pretende cumprir todas as liminares favoráveis aos fazendeiros que reivindicam a posse do território tradicional dos Pataxó. As lideranças indígenas
    ainda não informaram data, mas vão se articular para ver o que fazer diante dessa situação.

    Devido a morosidade do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em assinar as Portarias Declaratórias, os fazendeiros estão entrando com liminares reivindicando as terras ancestrais dos indígenas. Deixando-os vulneráveis e expostos a ataques, um verdadeiro contexto de insegurança e violência.

    São 13 portarias declaratórias de terras em todo o Brasil que estão na mesa do ministro só a espera da assinatura. Nos últimos quatro anos, foram três audiências dos Pataxó com o ministro da Justiça, inclusive a última, no dia 20 de outubro deste ano, a audiência foi em uma das áreas de retomadas dos indígenas. Onde estavam presentes o Ministério Público Federal, a Funai e o MJ. Os indígenas afirmam que uma base da polícia esta instalada no território, onde permanecerá durante três dias.


    A Terra Indígena Barra Velha do Monte Pascoal, situada nos municípios de Porto Seguro, Prado, Itamaraju, região do extremo sul da Bahia é área
    tradicionalmente ocupada pelos Pataxó, conforme vários relatos históricos desde de 1.500 e tem o território delimitado e homologado conforme processo Funai com 8.627 hectares, entretanto, os indígenas reivindicam 52.748 hectares, área que incide no Parque Nacional Monte Pascoal, sobreposto a Terra Indígena.

    Em desacordo com a reivindicação da comunidade indígena, a terra indígena foi demarcada em 1981 e declarada como posse permanente da comunidade por meio da Portaria de nº 1.393, em 1982.

    Área que é insuficiente para uma população de mais de 5 mil indígenas espalhados em cerca de 17 aldeias. Com a revisão de limites essa área passa para 52.748 hectares, sendo que desse total,  22.500 pertence ao Parque Nacional do Monte Pascoal , criado em 29 de novembro de 1961. Na década de 1970, a área foi reduzida.

    Devido a demora do governo na regularização territorial em abril de 2014, as lideranças e membros de várias comunidades indígenas deram início ao processo de retomadas em fazendas que estão dentro da área
    delimitada pela Funai, totalizando cerca de 27 propriedades, para pressionar o Ministério da Justiça a expedir Portaria Declaratória. Atualmente existem cerca de 13 interditos proibitórios, 12 mandados de reintegrações e manutenção de posse na Justiça Federal de Eunápolis e Teixeira de Freitas, aguardando cumprimento pela Polícia Federal.












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  • 25/11/2014

    Comitiva do Maranhão protesta contra a PEC 215 na Câmara dos Deputados

     

    O Maranhão foi o estado do Brasil que mais deu votos proporcionais para a reeleição da presidenta Dilma Roussef, no entanto, é um dos estados mais controversos no que tange a causa indígena. Com objetivo de reivindicar direitos garantidos na Constituição e Federal e protestar contra retrocessos, uma comitiva composta por 40 lideranças indígenas do Maranhão chegou hoje (25) a Brasília para protestar contra a nomeação da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) como ministra da Agricultura, pela revogação da Proposta de Emenda Constitucional 215 (PEC 215) e pela continuação das demarcações.

    Hoje pela manhã os indígenas participaram de uma audiência pública na Câmara dos Deputados com Padre Ton (PT-RO), Janete Capiberibe (PSB-AP), Érika Kokay (PT-DF) e representante da Organização das Nações e Povos Não Representados, ou UNPO (do inglês Unrepresented Nations and Peoples Organization).

    A nomeação da senadora ruralista Kátia Abreu como ministra da Agricultura reafirma o compromisso do atual governo com o agronegócio, sob pena de deixar indígenas, quilombolas e pequenos agricultores vulneráveis a ataques. “Temos que começar a questionar o governo e não aceitar Kátia Abreu como ministra da Agricultura, já que fazemos parte dos 54 milhões que elegeram Dilma, precisamos avançar nas políticas sociais. Sou contra a nomeação de Kátia Abreu ao Ministério da Agricultura, tendo em vista o que isso significará”, critica Padre Ton (PT-RO).

    PEC 215 e inviabilização das demarcações

    A proposta de parecer da PEC 215 apresentada pelo deputado, Osmar Serraglio (PMDB-RR) tem pontos mais controversos e reforça o ataque as comunidades tradicionais, pois propõe mudanças no art. 231. Na nova proposta, os indígenas poderiam permutar terras, além de propor para os povos considerados "em estágio avançado de integração" poder celebrar o arrendamento de terras, uma estratégia utilizada pelo Estado no passado para o esbulho dos territórios tradicionais. O novo texto também coloca aos procedimentos de demarcação que estão em desacordo possam ser revistos no prazo de um ano, o que possibilitaria criar uma grande instabilidade jurídica. “A PEC 215 nos extermina e vai dar o direito dos latifundiários entrar em nossas terras”, aponta Ana Cleide Guajajara.

    Leia mais: Ruralistas ampliam ataque aos direitos fundiários dos povos indígenas
     

    O Brasil é um dos países signatário da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que prevê consulta livre, prévia e informada sobre o impacto dos megaprojetos em territórios indígenas, quilombolas e tradicionais. “A criminalização histórica deixou os povos vulneráveis. O Brasil poderia ser um modelo para a proteção, mas parece ser uma coisa que só fica no papel. Hoje os indígenas sofrem com expectativa baixa, pobreza e alto índice de mortalidade”, comenta Iva Petrovick da UNPO.

    A representante da Organização dos Povos e Nações não representados (UNPO) manifestou preocupação sobre o andamento das demarcações. “A demarcação é uma etapa importante, pois indica reconhecer os povos, com Dilma as demarcações pararam e a Funai hoje sofre pressão para não publicar os Relatórios de Identificação e Delimitação. Entendemos que sem a demarcação e sem o reconhecimento das terras, os direitos indígenas podem ser violados e o meio ambiente destruído. O governo brasileiro deve usar um diálogo de autodeterminação, terra e bem estar e a UNPO vai continuar atuando na defesa dos povos indígenas, inclusive dos Awá-Guaja, que sofrem com a invasão de madeireiros em sua terra”, diz Iva Petrovick UNPO.

    “O colonialismo ainda não findou neste país, a PEC 215 é o sangrar de nossa CF. Todo dia arrancamos a condição de ser indígena. Será que alguém acha possível ser indígena sem rios, terra? É um epistemicídio contínuo com a negação da cultura dos povos, precisamos negar o colonialismo, contra uma ditadura que tirou o Brasil dele mesmo”, assinala a deputada federal Érika Kokay (PT-DF).

     

    Pontos reivindicados pela comitiva do Maranhão:

    -Revogação da PEC 215

    – Destituição de Kátia Abreu como ministra da Agricultura

    – Assinatura dos 17 decretos de homologação que estão atualmente na mesa da presidenta Dilma

    – Assinatura das 13 portarias declaratórias pelo ministro da Justiça, Eduardo Cardozo

    – Fortalecimento da Funai

    – Desintrusão de invasores da Terra Indígena Krikati

    – Publicação do Relatório de Identificação e Delimitação da TI Governador do povo Pukobyê-Gavião

    – Combate a exploração de madeira na TI Arariboia do povo Guajajara

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  • 25/11/2014

    Povos do Maranhão vêm a Brasília reivindicar direitos indígenas junto aos Três Poderes

    Uma delegação de 40 lideranças indígenas, com representantes dos povos Krikati, Gavião, Krenyê, Guajajara, Gamela e Ramkokamekrá Canela, do estado do Maranhão, está em Brasília para participar de audiências e fazer mobilizações junto aos órgãos dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário durante esta semana.

     

    Hoje (25), a partir das 10 horas no Congresso Nacional, os indígenas participarão de mesa redonda com a Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas para denunciar os desmontes constitucionais aos direitos dos povos originários no Brasil. No restante do dia as lideranças deverão permanecer no Congresso e manifestar-se contra proposições anti-indígenas de parlamentares ruralistas, especialmente a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215/00.

     

    Ainda durante a semana, os indígenas pretendem cobrar a retomada das demarcações das terras indígenas por parte do governo Dilma, o que menos tem demarcado terras desde a ditadura militar,  e manifestar repúdio à indicação da senadora ruralista Kátia Abreu (PMDB-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Kátia Abreu, em 2013,  apresentou ao Senado a PEC 45, que suspende processos demarcatórios de terras indígenas que incidem sobre “propriedades invadidas”. Também foi relatora da MP da Grilagem (Medida Provisória nº 458/2009), que legalizou a invasão de terras públicas na Amazônia Legal.  A senadora também empreende esforços para alterar a PEC do Trabalho Escravo e barrar a Lista Suja do Trabalho Escravo no Supremo Tribunal Federal (STF).

     

    A comitiva também fará a entrega de documentos aos ministros do STF contra decisões recentes da Segunda Turma do Supremo que restringem o alcance do direito dos povos, estabelecido pela Constituição Federal, no que diz respeito às suas terras tradicionais. As decisões podem afetar o procedimento demarcatório das Terras Indígenas Guyraroká, do povo Guarani-Kaiowá, e Porquinhos, do povo Apanjekrá Canela.

     

    As lideranças indígenas ainda reivindicarão, no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, mais recursos no orçamento da União para as demarcações, desintrusões e proteção de terras indígenas e  também a realização de concursos públicos para repor o quadro de funcionários técnicos da Fundação Nacional do Índio (Funai).

     

     

     

    Serviço:

     

    O quê: Mesa Redonda no Congresso Nacional

     

    Quando: 25 de novembro (terça-feira) a partir das 10h

     

    Onde: Congresso Nacional, Anexo II, Plenário 16 – Praça dos Três Poderes, Brasília – DF

     

    Mais informações: Assessoria de Imprensa Cimi – Luana Luizy: 61 8128-5799, Carolina Fasolo: 61 9686-6205

     

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  • 25/11/2014

    Ruralistas ampliam ataque aos direitos fundiários dos povos indígenas

    O Cimi – Conselho Indigenista Missionário repudia veementemente o texto do “Substitutivo à Proposta de Emenda à Constituição 215/2000” apresentado pelo deputado ruralista Osmar Serraglio (PMDB-PR), no dia 17 de novembro de 2014 (LEIA INTEIRO TEOR). A PEC 215/2000 e seu Substitutivo é descaradamente inconstitucional e ultrajante aos povos. Inviabiliza novas demarcações de terras indígenas. Reabre procedimentos administrativos já finalizados. Legaliza a invasão, a posse e a exploração das terras indígenas demarcadas.

     O Substitutivo propõe uma ampla gama de exceções ao direito de posse e usufruto das terras por parte dos povos indígenas. Além das “ocupações configuradas como de relevante interesse público da União”, as exceções e limitações à posse indígena também se aplicaria em relação à “instalação e intervenção de forças militares e policiais, independentemente de consulta às comunidades indígenas", à "instalação de redes de comunicação, rodovias, ferrovias e hidrovias”, à “área afetada por unidades de conservação da natureza”, a “perímetros urbanos” e ao “ingresso, trânsito e permanência autorizada de não índios, inclusive pesquisadores e religiosos”.

    Além de vedar à “ampliação de terra indígena já demarcada”, a proposta determina que a delimitação definitiva das terras indígenas seria feita somente por meio da aprovação de projeto de lei. Sendo assim, a demarcação de toda e qualquer terra indígena teria que passar pela aprovação da Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. Com um Congresso Nacional dominado pelo ruralismo e interesses das grandes corporações empresariais multinacionais do campo, a consequência prática disso seria o total impedimento de novas demarcações de terras. A Proposta estabelece ainda que, “Havendo conflito fundiário”, deve ser feita a “permuta de áreas”.

    Concomitantemente, a Proposta ressuscita a estratégia usada pelo Estado e inimigos dos povos para promover o roubo e o esbulho dos territórios indígenas em décadas passadas ao definir que “As comunidades indígenas em estágio avançado de integração com os não índios podem se autodeclarar, na forma da lei, aptas a praticar atividades agropecuárias e florestais sustentáveis, celebrar contratos, inclusive os de arrendamento e parceria”.

    Por fim, e não menos grave, o Substitutivo apresentado pelo deputado ruralista Osmar Serraglio, além de abrir a possibilidade das comunidades indígenas “permutar, por outra, a área que originariamente lhe cabe”, determina que “Os procedimentos de demarcação que estejam em desacordo com as disposições desta Emenda Constitucional serão revistos no prazo de um ano, contado da data da publicação desta Emenda”. Com isso, como evidente, abrir-se-ia uma situação de profunda fragilidade e instabilidade jurídica e política relativamente às terras indígenas já demarcadas e que estão na posse dos povos indígenas.

    O Cimi reafirma o compromisso de manter o apoio às necessárias, urgentes e abrangentes mobilizações dos povos em defesa do direito às suas terras e às suas Vidas. Não à violência da Bancada Ruralista no Congresso Nacional. Sim à causa e à Vida dos povos originários. Pela rejeição da PEC 215/00.

    Brasília, DF, 25 de novembro de 2014.

    Cimi – Conselho Indigenista Missionário

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  • 24/11/2014

    Nota de repúdio das lideranças Kaingang contra a postura agressiva da PF e Brigada Militar

     

    Lideranças Kaingang reunidas na Aldeia Indígena Kandóia, no município de Faxinalzinho, Rio Grande do Sul repudiaram a mega-operação militar que mobilizou centenas de homens armados com objetivo de incriminar os indígenas pela morte de dois agricultores, mesmo com inquérito inconcluso.

     

    Confira aqui o documento:

     

    As lideranças indígenas do Rio Grande do Sul vêm através deste abaixo-assinado repudiar a operação da Polícia Federal que reuniu 60 agentes e 200 policiais da Brigada Militar, Corpo de Bombeiros, Pelotão Ambiental e Polícia Rodoviária Federal, buscando provas para incriminar os indígenas, possíveis autores do duplo homicídio ocorrido na Aldeia Indígena Kandóia. Entendemos que o poder coercitivo do Estado foi utilizado de forma excessiva, exorbitante, constrangedora e truculenta, pois adentraram na aldeia às 6 horas da manhã, perfilando mulheres, idosos e indagando para que as crianças dissessem os verdadeiros assassinos, obrigando idosos a realizarem exame para coleta de material para a prova técnica. Tal situação ocorre de maneira sistemática com o claro intuito de intimidar o movimento indígena que luta pela demarcação de seus territórios.

     

    Desta forma, nós lideranças indígenas vimos a público manifestar nossa profunda decepção quando vemos a violação de nosso habitat, rasgaram a Constituição Federal que afirma no seu Art. 5º. XI – “A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem conhecimento do morador. III – Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante”. Assim agindo o Estado Brasileiro, utiliza seu poder coercitivo, invade nossas casas, perturba nossos filhos e velhos em busca de uma “pseuda” justiça, onde os verdadeiros culpados se refrigeram no ar condicionado de seus gabinetes, pois negligenciam e nada fazem para que os processos demarcatórios avancem, permanecendo em suas mesas ou engavetados por vários anos.

     

    Não vamos nos intimidar, vamos buscar os nossos direitos, não escrevemos a Constituição Federal e nem as leis vigentes em nosso país, mas as implementaremos e a invocaremos em prol de nosso povo até mesmo nas cortes internacionais, para que nossos filhos, mulheres e idosos não venham a ser molestados no seu repouso e no albergue de suas casas. Somos todos Kandóia.

     

    Atenciosamente,

     

    Lideranças Indígenas Kaingang

     

     

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  • 24/11/2014

    Grande Assembleia do povo Terena reafirma a luta pelo território tradicional

    Nós, povo Terena, reunidos na 6ª Grande Assembleia do Povo Terena, juntamente com representantes do Conselho Aty Guasu Guarani-Kaiowá, Conselho do povo Kinikinau, representante do povo Maya da Guatemala, representante do povo Xavante, representante do povo Kadiwéu, representante do povo Ofaié e as lideranças da Aldeia Lalima, Aldeia Passarinho, Aldeia Moreira, Aldeia Babaçu, Aldeia Argola, Aldeia Cachoeirinha, Aldeia Morrinho, Aldeia Lagoinha, Aldeia Água Branca (Aquidauana), Aldeia Bananal, Aldeia Ipegue, Aldeia Buriti, Aldeia Tereré, Aldeia Nova Tereré, Aldeia 10 de maio, Aldeia Lagoinha (Sidrolândia), Aldeia Nova Buriti, Aldeia Olho d’Agua, Aldeia Oliveira, Aldeia Recanto, Aldeia Tereré, Aldeia Água Azul, Aldeia Córrego do Meio, Aldeia Brejão, Aldeia Cabeceira, Aldeia Taboquinha, Aldeia Água Branca (Nioaque), Limão Verde, Aldeia Mãe Terra, Aldeia Esperança, Aldeia Nova Esperança, Aldeia Maraoxapá, Aldeia Tumuné Kalivono, juntamente com nossas mulheres, jovens, crianças, anciãos e rezadores, viemos a público expor.

    O Conselho do Povo Terena constitui-se na organização tradicional formada pelos caciques, lideranças, mulheres, jovens e anciãos; integrante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e tem por objetivo a defesa e promoção dos direitos e interesses dos povos indígenas.

    Nós, povo Terena somos originários deste território e não abriremos mão de nossos direitos conquistados. Recebemos a carta da presidenta Dilma Rousseff e esperamos que o Estado brasileiro cumpra com seu dever constitucional de demarcar nossos territórios. O atual governo é a gestão que menos demarcou terra indígena, marcado pelo não diálogo com as populações tradicionais e total negação da autonomia dos povos indígenas.

    A mesa de diálogo instalada pelo Ministério da Justiça em Mato Grosso do Sul revela-se numa verdadeira mesa de enrolação denunciada por este conselho desde o início. Os processos estão paralisados e não há por parte do Governo Federal nenhuma sinalização positiva na definitiva demarcação.

    O povo Terena reafirma que continuará lutando pela manutenção dos direitos conquistados e pela efetivação dos princípios consagrados nos tratados internacionais como a consulta e consentimento prévio, livre e informado.

    Juntamente com nossos professores indígenas e lideranças tradicionais iremos retomar nossa educação tradicional que tem como base nosso território, nossa cosmovisão e língua materna. Unidos, o povo terena e todos os outros povos de Mato Grosso do Sul, continuaremos lutando por um atendimento básico de qualidade à nossa saúde, sob responsabilidade da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).

    Encaminhamentos:

    Fica decidido que o Conselho do Povo Terena, juntamente com Conselho Aty Guasu Guarani- Kaiowá e Conselho Kinikinau irão no ano de 2015 fortalecer as suas articulações e distintas formas de luta pela garantia dos seus territórios tradicionais.

    O Conselho do Povo Terena repudia a proposta do governo de criar o Instituto Nacional de Saúde Indígena (INSI), reafirmando que nossas comunidades e lideranças são contra a criação desta instituição, cujo propósito é terceirizar e privatizar e inclusive municipalizar o atendimento à saúde indígena.

    Fica decidido que é preciso avançar na consolidação de iniciativas, como o GATI, e programas de sustentabilidade enquanto políticas públicas estruturantes para o bem viver das nossas comunidades, exigindo do governo condições políticas, financeiras, técnicas e institucionais necessárias para a sua efetivação.

    Fica decidido a partir desta data que a Coordenação Regional da Funai iniciará a imediata expedição do RANI, seguindo os critérios definidos nesta assembleia.

    Fica constituída a Comissão de educação escolar indígena dos povos do pantanal que será composto por professores indígenas das Terras Indígenas: Biriti, Nioaque, Limão Verde, Taunay/Ipegue, Cachoeirinha, Pilad Rebuá, Lalima e Buritizinho.

    O Conselho do Povo Terena renova seu apoio ao parente Sr. Hilário Kadiwéu, atual Gestor do Distrito Sanitário Especial de Saúde Indígena – DSEI de Mato Grosso do Sul e conclamam todas as lideranças para juntos continuarmos lutando pela saúde digna de nossas comunidades.

    Fica encaminhado que o próximo presidente do CONDISI será da região Norte de Mato Grosso do Sul, conforme acordo pré-estabelecido entre as regiões.

    Fica decidido que serão realizadas audiências públicas sobre educação escolar indígena.

    O Conselho do Povo Terena expressa seu aceite em apoiar a proposta do Curso de Formação política para lideranças indígenas oferecido pelo Núcleo de Pesquisa de Estudo do Poder da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ/CPDA.

    Fica decidido que no ano de 2015 este Conselho continuará atuando junto com seus aliados nas instancias internacionais.

    Fica decidido que será proposta a realização de audiência pública para tratar do ICMS Ecológico.

    Fica decidido que no ano de 2015 serão realizadas Oficinas de Formação Política nas comunidades de Mato Grosso do Sul.

    Fica decidido que será realizado encontro de jovens Terena na Terra Indígena Limão Verde em setembro de 2015.

    Fica decidido que a próxima Assembleia do Povo Terena será realizada na Aldeia Cachoeirinha, Terra Indígena Cachoeirinha nos dias 07, 08 e 09 de maio de 2015.

     

     

    Povo Terena,

    Povo que se levanta!

     

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  • 22/11/2014

    Relembremos da história do golpe de Kátia Abreu contra camponeses do Tocantins

    A presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Kátia Abreu (PMDB-TO), está sendo convidada pela presidenta Dilma Rousseff para assumir o comando do Ministério da Agricultura.

    Apesar da nomeação já ser aguardada há algumas semanas, como parte das negociações para assegurar o espaço do PMDB no novo governo, diversos setores da sociedade se dizem abismados com a possibilidade de um governo do PT abrigá-la num ministério de Estado.

    O jornalista Leandro Fortes, por exemplo, disse não ver "racional e emocionalmente, uma justificativa minimamente plausível para ofender os milhões de trabalhadores do campo que, desde sempre, foram perseguidos, usurpados e trucidados política e fisicamente por muitas kátias abreus, ao longo da nossa história. Simplesmente, é inacreditável que isso esteja acontecendo".

    Abaixo, a Página do MST resgata a denuncia do golpe da família Kátia Abreu contra 80 famílias de pequenos agricultores em Campos Lindos, no Tocantins.

    Golpe contra camponeses

    Por Leandro Fortses

    Da Carta Capital

    Em dezembro passado, a senadora Kátia Abreu, do DEM Tocantins, assumiu a presidência da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) com um discurso pretensamente modernizador.

    Previa uma nova inserção social dos produtores rurais por meio de “rupturas” no modo de se relacionar com o mercado, o consumidor, o governo e a economia global. Pretendia, segundo ela mesma, “remover os preconceitos” que teriam isolado os ruralistas do resto da sociedade brasileira e cravado neles a pecha de “protótipos do atraso”.

    Diante de uma audiência orgulhosa da primeira mulher a assumir o comando da CNA, Kátia concluiu: “Somos o que somos e não quem nos imaginam (sic)”. Foi efusivamente aplaudida. E tornou-se musa dos ruralistas.

    Talvez, em transe corporativo, a plateia não tenha percebido, mas a senadora parecia falar de si mesma. Aos 46 anos, Kátia Abreu é uma jovem liderança ruralista afeita à velha tradição dos antigos coronéis de terras, embora, justiça seja feita, não lhe pese nos ombros acusações de assassinatos e violências outras no trato das questões agrárias que lhes são tão caras. A principal arma da parlamentar é o discurso da legalidade normalmente válido apenas para justificar atos contra pequenos agricultores.

    Com a espada da lei nas mãos, e com a aquiescência de eminências do Poder Judiciário, ela tem se dedicado a investir sobre os trabalhadores sem-terra. Acusa-os de serem financiados ilegalmente para invadir terras Brasil afora.

    Ao mesmo tempo, pede uma intervenção federal no estado do Pará e acusa a governadora Ana Júlia Carepa de não cumprir os mandados de reintegração de posse expedidos pelo Judiciário local. O foco no Pará tem um objetivo que vai além da política. A senadora, ao partir para o ataque, advoga em causa própria.

    Foram ações do poder público que lhe garantiram praticamente de graça extensas e férteis terras do Cerrado de Tocantins. E mais: Kátia Abreu, beneficiária de um esquema investigado pelo Ministério Público Federal, conseguiu transformar terras produtivas em áreas onde nada se planta ou se cria. Tradução: na prática, a musa do agronegócio age com os acumuladores tradicionais de terras que atentam contra a modernização capitalista do setor rural brasileiro.

    De longe, no município tocantinense de Campos Lindos, a mais de 1,3 mil quilômetros dos carpetes azulados do Senado Federal, ao saber das intenções de Kátia Abreu, o agricultor Juarez Vieira Reis tentou materializar com palavras um conceito que, por falta de formação, não lhe veio à boca: contras-senso.

    Expulso em 2003 da terra onde vivia, graças a uma intervenção política e judicial capitaneada pela senadora do DEM, Reis rumina o nome da ruralista como quem masca capim danado. Ao falar de si mesmo, e quando pronuncia o nome Kátia Abreu, o camponês de 61 anos segue à risca o conselho literal da própria. Não é, nem de longe, quem ela imagina.

    Em 2002, Reis foi expulso das terras onde havia nascido em 1948. Foi despejado por conta de uma reforma agrária invertida, cuja beneficiária final foi, exatamente, a senadora. Classificada de "grilagem pública" pelo Ministério Público Federal do Tocantins, a tomada das terras de Reis ocorreu numa tarde de abril daquele ano, debaixo da mira das armas de quinze policiais militares sob as quais desfilaram, como num quadro de Portinari, o agricultor, a mulher Maria da Conceição, e dez filhos menores.

    Em um caminhão arranjado pela Justiça de Tocantins, o grupo foi despejado, juntamente com parte da mobília e sob um temporal amazônico, nas ruas de Campos Lindos. "Kátia Abreu tem um coração de serpente", resmunga, voz embargada, o agricultor, ao relembrar o próprio desterro.

    Em junho de 2005, Reis reuniu dinheiro doado por vizinhos e amigos e foi de carona a Brasília a fim de fazer, pessoalmente, uma reclamação na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Na capital federal, alojou-se na casa de amigos, no miserável município goiano de Águas Lindas, e se alimentou de restos de almoço servido numa pensão da cidade.

    Aos técnicos da comissão apresentou documentos para provar que detinha a posse da terra em questão de 545 hectares, desde 1955, parte da fazenda Coqueiros, de propriedade da família, numa região conhecida como Serra do Centro. De acordo com a documentação apresentada pelo agricultor, uma ação de usucapião da fazenda havia sido ajuizada em agosto de 2000.

    Após esse ajuizamento, um vizinho de Reis, o também agricultor Antônio dos Santos, ofereceu-lhe para venda de uma área contígua de 62 hectares, sob sua posse havia onze anos, cuja propriedade ele alegava ser reconhecida pelo governo de Tocantins. O negócio foi realizado verbalmente por 25 mil reais como é costume na região até a preparação dos papéis. Ao estender a propriedade, Reis pretendia aumentar a produção de alimentos (arroz, feijão, milho, mandioca, melancia e abacaxi) de tal maneira de sair do regime de subsistência e poder vender o excedente.

    Ele não sabia, mas as engrenagens da máquina de triturar sua família haviam sido acionadas uns poucos anos antes, em 1996, por um decreto do então governador do Tocantins Siqueira Campos (PSDB). O ato do tucano, mítico criador do estado que governou por três mandatos, declarou de “utilidade pública”, por suposta improdutividade, um área de 105 mil hectares em Campos Lindos para fins de desapropriação. Protocolada pela comarca de Goiatins, município ao qual Campos Lindos foi ligado até 1989, a desapropriação das terras foi tão apressada que o juiz responsável pela decisão, Edimar de Paula, chegou à região em um avião fretado apenas para decretar o processo. O magistrado acolheu um valor de indenização irrisório (10 mil reais por hectare), a ser pago somente a 27 produtores da região.

    Do outro lado da cerca ficaram 80 famílias de pequenos agricultores. A maioria ocupava as terras a pelo menos 40 anos de forma “mansa e pacífica”, como classifica a legislação agrária, cujas posses foram convertidas em área de reserva legal, em regime de condomínio, sob o controle de grandes produtores de soja. Na prática, os posseiros de Campos Lindos passaram a viver como refugiados ilegais nessas reservas, torrões perdidos na paisagem de fauna e flora devastados de um Cerrado em franca extinção. Sobre as ruínas dessas famílias, o governador Siqueira Campos montou uma confraria de latifundiários alegremente formada por amigos e aliados. A esse movimento foi dado um nome: Projeto Agrícola de Campos Lindos.

    Em 1999, quatro felizardos foram contemplados com terras do projeto ao custo de pouco menos de 8 reais o hectare (10 mil metros quadrados), numa lista preparada pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins (Faet). A federação teve o apoio da Companhia de Promoção Agrícola (Campo), entidade fundada em 1978, fruto do acordo entre consórcios que implantaram o Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados (Prodecer) em parceria com o Banco do Brasil e com cooperativas de produtores.

    Escrúpulos às favas, os dirigentes de ambas as instituições se esbaldaram nas posses de Campos Lindos. À época, a presidente da Faet era ninguém menos que Kátia Abreu, então deputada federal pelo ex-PFL. No topo da lista, a parlamentar ficou com um lote de 1,2 mil hectares. O irmão dela, Luiz Alfredo Abreu, abocanhou uma área do mesmo tamanho. O presidente da Campo, Emiliano Botelho, também não foi esquecido: ficou com 1,7 mil hectares.

    Dessa forma, um ambiente de agricultura familiar mantido ao longo de quase meio século por um esquema de produção de alimentos de forma ecologicamente sustentável foi remarcado em glebas de latifúndio e entregue a dezenas de indivíduos ligados ao governador Siqueira Campos. Entre elas também figuraram Dejandir Dalpasquale, ex-ministro da Agricultura do governo Itamar Franco, Casildo Maldaner, ex-governador de Santa Catarina, e o brigadeiro Adyr da Silva, ex-presidente da Infraero. Sem falar numa trupe de políticos locais, entre os quais brilhou, acima de todos, a atual presidente da CNA.

    O resultado dessa política pode ser medido em números. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de soja em Campos Lindos cresceu de 9,3 mil toneladas, em 1999, para 127,4 mil toneladas em 2007. Um crescimento de 1.307% em apenas oito anos. O mesmo IBGE, contudo revela a face desastrosa desse modelo de desenvolvimento. No Mapa da Pobreza e Desigualdade, divulgado também em 2007, o município apareceu como o mais pobre do País. Segundo o IBGE, 84% da população vivia da pobreza, dos quais 62,4% em estado de indigência.

    No meio das terras presenteadas por Siqueira Campos a Kátia Abreu estava justamente o torrão de Reis, a fazenda Coqueiro. Mas, ao contrário dos demais posseiros empurrados para as reservas do Cerrado, o agricultor não se deu por vencido. Tinha a favor dele documentos de propriedade, um deles datado de 6 de setembro de 1958 e originário da Secretaria da Fazenda de Goiás, antes da divisão do estado. O documento reconhece as terras da família em nome do pai, Mateus Reis, a partir dos recibos dos impostos territoriais de então. De posse dos papéis, o pequeno agricultor tentou barrar a desapropriação na Justiça. A hoje senadora partiu para a ofensiva.

    Em 11 de dezembro de 2002, Kátia Abreu entrou com uma ação de reintegração de posse em toda a área, inclusive dos 545 hectares onde Reis vivia havia cinco décadas. Ela ignorou a ação de usucapião em andamento, que dava respaldo legal à permanência dos Reis na terra. Para fundamentar o pedido de reintegração de posse, a então deputada alegou em juízo que Reis, nascido e criado no local, tinha a posse da fazenda Coqueiro por menos de um ano e um dia, providencial adequação ao critério usado na desapropriação.

    Para comprovar o fato, convocou testemunhas que moravam a mais de 800 quilômetros da área de litígio. Incrivelmente, a Justiça de Tocantins acatou os termos da ação e determinou que a expulsão da família de Reis da fazenda Coqueiro e dos 62 hectares recém-comprados. Ignorou, assim, que a maior parte das terras utilizada há 50 anos ou, no mínimo, há mais de dois anos, como ajuizava o documento referente ao processo de usucapião. Reis foi expulso sem direito a indenização por qualquer das benfeitorias construídas ao longo das cinco décadas de ocupação da terra, aí incluídos a casa onde vivia a família, cisternas plantações (mandioca, arroz e milho), árvores frutíferas, pastagens, galinhas, jumentos e porcos.

    A exemplo da Kátia Abreu, os demais agraciados com as terras tomadas dos agricultores assumiram o compromisso de transformar as terras produtivas em dois anos. O prazo serviu de álibi para uma ação predatória dos novos produtores sobre o Cerrado e a instalação desordenada de empresas e grupos ligados ao mercado da soja. Até hoje a questão do licenciamento ambiental da área abrangida pelo Projeto Agrícola Campos Lindos não foi resolvida por órgãos ambientais locais. Mas nem isso a senadora fez.

    Signatário, com outros três colegas, de um pedido de intervenção federal no Tocantins em 2003, justamente por causa da distribuição de terras de Campos Lindos feita por Siqueira Campos a amigos e aliados, o procurador federal Alvaro Manzano ainda espera uma providência. “Houve uma inversão total do processo de reforma agrária. A desapropriação foi feita para agradar amigos do rei.”

    Há cinco meses, o agricultor Reis voltou à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Ele luta pra forçar o Tribunal de Justiça de Tocantins a julgar tanto a ação de usucapião de 2000 como o pedido de liminar impetrado há seis anos para garantir a volta da família, hoje acrescida de 23 netos, à fazenda Coqueiro. “Não tem força no mundo, moço, que faça essa Justiça andar”, reclama o agricultor. Ele atribuiu a lentidão à influência da senadora no Judiciário local. Procurada por Carta Capital, Kátia Abreu não respondeu ao pedido de entrevista.

    Quatro anos atrás, a família Reis conseguiu se alojar numa chácara de 42 hectares ocupada por um dos filhos há dez anos. Lá, quase vinte pessoas vivem amontoadas em uma casa de dois cômodos, feita de sapê e coberta de palha de babaçu em meio a porcos, galinhas e cachorros. No terreiro coberto da residência, infestado de moscas, as refeições são irregulares, assim como os ingredientes dos pratos, uma mistura aleatória de arroz, mandioca, pequi, abacaxi, feijão e farinha.

    Toda vez que um motor de carro é ouvido nas redondezas, todos se reúnem instintivamente nos fundos da casa, apavorados com a possibilidade de um novo despejo. Cercado de filhos e netos, Reis não consegue esconder os olhos marejados quando fala do próprio drama. “Fizeram carniça da gente. Mas não vou desistir até recuperar tudo de novo.”

    Em 19 de junho, um dia após a última visita de Reis à Câmara dos Deputados, o presidente da Comissão de Direitos Humanos, Luiz Couto (PT-PB), encaminhou um ofício endereçado ao Conselho Nacional de Justiça para denunciar a influência de Kátia Abreu na Justiça do Tocantins e pedir celeridade nos processos de Reis. O pedido somente agora entrou na pauta do CNJ, mas ainda não foi tomada nenhuma medida a respeito. Nos próximos dias, corregedor do conselho, Gilson Dipp, vai tornar público o relatório de uma inspeção realizada no Tribunal de Justiça do Tocantins, no qual será denunciada, entre outros males, a morosidade deliberada em casos cujos réus são figuras políticas proeminentes no estado.

    Há três meses, ao lado de um irmão e um filho, Reis voltou à fazenda Coqueiro para averiguar o estado das terras depois da ocupação supostamente produtiva da senadora. Descobriu que nem um pé de soja – nem nada – havia sido plantado no lugar. “Desgraçaram minha vida e da minha família para deixar o mato tomar conta de tudo”, conta Reis.

    Com o auxílio de outros filhos, recolheu tijolos velhos da casa destruída pelos tratores da parlamentar do DEM e montou um barraco sem paredes, coberto de lona plástica e palha. Decidiu por uma retomada simbólica da terra, onde reiniciou um roçado de mandioca. Na chácara do filho, onde se mantém como chefe da família, ainda tem tempo para rir das pirraças de uma neta de apenas 4 anos. Quando zangada, a menina não hesita em disparar, sem dó nem piedade, na presença do avô: “Meu nome é Kátia Abreu”.

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  • 21/11/2014

    Boletim Mundo: Em Paranhos (MS), indígenas protegidos pelo Estado recebem novas ameaças de morte

    O que Otoniel Guarani Kaiowá considerava boato até bem pouco tempo atrás se concretizou neste finzinho da semana. Nas ruas de Paranhos, cone sul do Mato Grosso do Sul, fronteira com o Paraguai, as conversas sobre os “incômodos” gerados pela atuação de Otoniel junto aos tekoha localizados no município têm mobilizado grupos de políticos e comerciantes ligados aos latifundiários daquelas terras.

    Quem ouviu as conversas também viu quem tagarelou nelas. O caso então foi encaminhado ao Ministério Público Federal (MPF). “Fazia algum tempo que vez ou outra alguém dizia para eu tomar cuidado, porque em Paranhos tinha gente ‘importante’, da política, dizendo que eu estava atrapalhando as coisas. Agora ficou comprovado”, diz Otoniel. O indígena afirma que noticiou os fatos ao comando da Operação Guarani, da Polícia Federal.

    De acordo com os indígenas, políticos de Paranhos e alguns comerciantes próximos de fazendeiros que ocupam o tekoha Arroio Korá, dos Guarani Ñandeva, já homologado, mas invadido pelos latifundiários, dizem que a liderança “faz a cabeça dos índios ali” impedindo supostas negociações. Dessa forma, os Guarani exigem o território e ocupam parte dele em retomada – mesmo já sendo um bem da União de usufruto exclusivo daquela comunidade.

    Otoniel afirma que comunicou a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH-PR) tão logo confirmou a relevância das ameaças. O indígena faz parte do Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos (PPDDH), assim como o cacique do tekoha Arroio Korá, Dionísio Guarani Ñandeva, também ameaçado com regularidade por jagunços e através de recados endereçados a ele. Outros seis indígenas do MS fazem parte do programa – três Guarani Kaiowá, um Guarani Ñandeva e dois Terena.

    “Depois que começou (comunidade do Arroio Korá) a reivindicar o direito e a retomar a terra homologada, esses fazendeiros e políticos passaram a responsabilizar liderança. Fico preocupado, porque eu sei de onde vem ameaça, mas a comunidade está atenta e confio em Ñanderu”, diz. Otoniel espera que a SDH baixe no MS para visitas às comunidades que esperam na antessala dos atentados pela regularização e ocupação definitiva de suas terras.

    Arroio Korá      

    Em agosto de 2012, uma área de retomada do tekoha Arroio Korá, homologado em dezembro de 2009, foi atacada e, sob fogo cerrado, o susto e a fome mataram a pequena Geni Centurião Guarani Ñandeva. Os pistoleiros queimaram alimentos e ficaram horas atirando contra os indígenas, recarregando suas armas com munições trazidas pelos jagunços em caminhonetes. Atirados à lama, os Guarani, incluindo as 120 crianças, permaneceram durante horas cercados pela situação desesperadora de opressão, tiros, gritos de ameaças e fome.

    Dos 7.176 hectares homologados, atualmente os indígenas ocupam menos de 700. As fazendas Liane e Campina, palco do ataque de 2012 e onde a aldeia foi instalada, fazem parte da terra homologada. A justificativa dos invasores é de que um embargo à homologação expedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) os legitimam nas ‘propriedades’.

    Esta matéria faz parte do boletim eletrônico O Mundo que Nos Rodeia. Para recebê-lo, envie solicitação ao e-mail mundo@cimi.org.br.   

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  • 21/11/2014

    MPF recomenda imediata suspensão de leilão de florestas na região das terras Munduruku

    O Ministério Público Federal (MPF) em Itaituba deu dez dias de prazo para que o Serviço Florestal Brasileiro (SFB) responda à recomendação para suspender imediatamente o leilão das Florestas Nacionais Itaituba I e II, no município de mesmo nome, no sudoeste do Pará.

    O MPF considera que o edital de licitação é irregular por afirmar a inexistência de população indígena ou ribeirinha na região, quando está em trâmite na Fundação Nacional do Índio (Funai) a demarcação do território tradicional dos índios Munduruku na mesma região e o próprio plano de manejo das duas florestas reconhece a existência de comunidades ribeirinhas e extrativistas.

    Para o MPF, o edital “ofende a boa-fé objetiva, constituindo violação ao dever de informação com as empresas concorrentes que não estão sendo esclarecidas adequadamente quanto à existência de povos indígenas representando iminente lesão aos interesses das pretensas concorrentes, na medida em que pode haver resistência das comunidades indígenas e pedido judicial de anulação do certame”.

    A recomendação lembra também que, de acordo com a legislação brasileira, antes de qualquer concessão, as florestas públicas ocupadas ou utilizadas por comunidades deverão ser destinadas aos próprios moradores por meio da criação de reservas ou por concessão de uso.

    O edital viola ainda a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, que assegura a consulta prévia, livre e informada aos povos interessados, sempre que sejam previstas medidas legislativas ou administrativas suscetíveis de afetá-los diretamente. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) também não foi ouvido pelo SFB, o que deveria ter ocorrido pela existência de vários sítios arqueológicos no perímetro das duas florestas em licitação.

    Além de recomendar a suspensão do edital, o SFB deve fazer a plotagem de toda a extensão das Flonas, identificando principalmente as áreas indígenas incidentes e no entorno, realizar a consulta prévia, livre e informada aos índios e demais povos tradicionais e elaborar estudo do patrimônio arqueológico. O material deve ser encaminhado ao MPF.

    As áreas de concessão florestal licitadas pelo SFB ficam na região onde o governo quer instalar a usina hidrelétrica São Luiz do Tapajós, atingindo as mesmas populações tradicionais que serão impactadas pela usina.

    Leia aqui a Íntegra da recomendação

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  • 21/11/2014

    Ypo’i: “Estamos aqui em homenagem aos cinco anos de passagem dos assassinatos de Rolindo e Jenivaldo Vera”

    “Estamos nessa homenagem muito tristes de lembrar o que aconteceu no nosso tekoha, lembrar do que aconteceu é viver de novo o que aconteceu. É importante lembrar que, mesmo passados cinco anos dos assassinatos dos nossos dois professores guaranis dentro da nossa Tekoha Ypo’i, nenhum responsável foi punido”, escreve em carta a comunidade depois de encontro, no Mato Grosso do Sul, que lembrou os cinco dos assassinatos impunes dos professores Rolindo e Jenivaldo Vera.  

    Os Guarani e Kaiowá cobram ainda a demarcação de terras, lembram do assassinato de Marinalva Manoel e denunciam mais um caso de discriminação e racismo no município de Paranhos. A vítima foi o cacique Ilson Soares, do tekoha Y’Hovy, oeste do Paraná.

    Leia na íntegra:

    Direcionado aos órgãos CNJ, FUNAI, SDH, MPF, STF, AGU, Casa Civil e 6ª Câmara

    Nós da comunidade Ypo’i, nhanderu e lideranças, junto com outras várias comunidades, Potrero Guasu, Pirajuí, Paraguasu, Arroio Korá e Tekoha Y´Hovy do Paraná, reunidos nos dias 30, 31 de outubro e 1º de novembro no Tekoha Ypo’i, no estado do Mato Grosso do Sul, estamos aqui em homenagem aos cinco anos de passagem dos assassinatos dos 2 professores guaranis, Rolindo Vera e Jenivaldo Vera, que morreram em função da luta pela nossa terra. Estamos nessa homenagem muito tristes de lembrar o que aconteceu no nosso tekoha, lembrar do que aconteceu é viver de novo o que aconteceu. É importante lembrar que, mesmo passados cinco anos dos assassinatos dos nossos dois professores guaranis dentro da nossa Tekoha Ypo’i, nenhum responsável foi punido. Mas sabemos que aqueles que continuam a nos ameaçar são também aqueles que não querem que nos continuemos no nosso tekoha e, por isso, eles já mostraram e continuam a mostrar que estão dispostos a fazer qualquer coisa para nos tirar da nossa terra. Mas nós guaranis, não vamos sair da nossa terra porque essa terra é nossa, nossos pais, avós já moravam aqui há muitos anos, e nos pediram para voltar para nosso lugar, e já perdemos muitas lideranças, por isso já é mais um motivo para continuar resistindo. Porque a terra não é dos fazendeiros, a terra pertence aos Guarani.

    Por isso nós da comunidade não vamos mais sair daqui, vamos morrer aqui, já perdemos dois professores e um membro da comunidade. Por essa razão do encontro dos nossos nhanderu, estamos nos organizando para fortalecer, ainda mais, o nosso espiritual. E os nhanderu exigiram nesse encontro que saia a demarcação e a homologação de todos os tekoha dos Guarani Kaiowá, e demais povos indígenas que estão na mesma situação. Exigimos ao governo federal, e ao estado do Mato Grosso do Sul, respeito a nossa decisão e a nossa cultura. Não basta só a demarcação da nossa terra, queremos também o fortalecimento da nossa autonomia e sustentabilidade, para que haja uma educação diferenciada e que esteja adequada a nossa cultura, um atendimento a saúde de qualidade, investimentos e fortalecimento da nossa agricultura, do nosso meio ambiente, e da nossa segurança. É importante lembrar nosso pedido de segurança: queremos que seja coordenada pela Operação Guarani da FUNAI, e não pela Força Nacional. Pedimos também atendimento a nossa documentação.

    Justo ao final de nosso encontro, nós Guarani e Kaiowá ficamos sabendo de mais uma vítima da luta pela nossa terra. A jovem liderança kaiowá Marinalva Manoel, de 27 anos, foi encontrada na manhã desse sábado, dia 1º de novembro, jogada às margens da rodovia BR-163, em Dourados. Ela que era liderança na luta pela demarcação da Terra Indígena de Ñu Verá e integrante da Aty Guasu recebeu 35 facadas, e foi encontrada morta, depois de várias ameaças que a aldeia vinha recebendo de fazendeiros da região. Mal a gente saiu de uma homenagem de dois professores que foram assassinados e ficamos sabendo de mais uma noticia horrível.

    Além disso, ainda na noite de sábado, estávamos num conhecido supermercado na cidade de Paranhos, quando presentes vimos um ato de discriminação a um indígena. Junto com a gente estava o cacique Ilson Soares, do Tekoha Y’Hovy, que sofreu discriminação porque estava com pena amarela no queixo, enfeitado com a nossa cultura. Quando depois que entrou no banheiro, o dono do supermercado chamou a Polícia Militar por causa de um índio que estava no banheiro. Esse ato de discriminação ao indígena já aconteceu várias vezes em centros comerciais de Paranhos. Repudiamos esses acontecimentos.

    Exigimos que seja feita justiça imediata em relação aos assassinatos dos nossos dois professores. Pedimos e exigimos que não haja despejo em todos os tekoha, e seja publicada a portaria de identificação e providenciada a demarcação dos tekoha Ypo’i, Triunfo, Pyelito Kue, Mbarakay, Kurusu Amba, Guyraroka, Guaiviry, Santiagokue, Yvy Katu, Arroio Kora, Potrero Guasu, Potrerito, Ka’ajari, Karaja Yvy, Mãe Terra, Buriti, e demais tekoha que estão em estudos também no estado do Paraná.

    Nós, da comunidade Ypo’i, pedimos dos conselhos Aty Guasu, Apib, Comissão Yvy Rupa para ajudar nossos povos que estão na luta. Porque nós Guarani e Kaiowa já estamos prontos para avançar na luta.

    Tekoha Ypo’i, Paranhos (MS), 1º de novembro de 2014.

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