• 29/01/2015

    Munduruku abrem o ano de luta em Brasília

    Depois de quatro ou cinco dias de ônibus e voadeira, uma delegação de 30 lideranças do povo Munduruku, chegou a Brasília nessa quarta-feira (28), com pés inchados, corpo dolorido e muita disposição para lutar pelos direitos de seu povo e de todos os povos indígenas no Brasil.

    Querem conversar com o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) e com o ministro Miguel Rossetto, da Secretaria Geral da Presidência da República, exigindo uma resposta concreta com relação a seus direitos básicos, às terras, aos recursos hídricos e tudo que pretende ameaçar seus direitos, sua autonomia e seus recursos naturais.

    Querem saber o que efetivamente o governo irá fazer para impedir retrocessos como a aprovação da PEC 215, o PL 1610 e outros tantos projetos ameaçadores à vida dos povos originários deste país. Essas e outras questões mais específicas relacionadas à construção de hidrelétricas em território Munduruku, no médio e alto Tapajós.

    O governo precisa nos ouvir

    Dentre os vários assuntos que irão debater e obter respostas e compromissos está a questão da relação do Estado Brasileiro com o povo Munduruku. Questionam a forma autoritária e má fé com que o governo diz ter consultado o povo para a construção de hidrelétricas, especialmente a de São Luiz do Tapajós, forjando posicionamentos favoráveis e dividindo o povo. Em função dessa atitude política maldosa e perversa,  os Munduruku se reuniram por diversas vezes no ano  passado, e em dezembro aprovaram o “Protocolo de Consulta Munduruku”.

    No documento, exigem do governo a demarcação da Terra Indígena Sawré Muybu, antes de iniciar a consulta prévia sobre os empreendimentos hidrelétricos “sabemos que o relatório está pronto e que a demarcação não ocorre por conta da hidrelétrica.” E demonstrando firmeza, clareza e estratégia política, exigem que os outros povos indígenas e os ribeirinhos também sejam ouvidos, de modo adequado e específico  à  realidade deles.

    Colocam com muita clareza que devem ser ouvidos amplamente as 130 aldeias, os caciques, os guerreiros e guerreiros. Devem ainda ser consultadas as mulheres (que são pajés, parteiras e artesãs), os professores e agentes de saúde. “As decisões do povo Munduruku são coletivas”.

    Colocam suas exigências sobre como deve ser o processo de consulta: “O governo não pode nos consultar apenas quando já tiver tomado uma decisão. A consulta deve ser antes de tudo”. E descrevem como querem que sejam as consultas “Eles têm que viver com a gente, comer o que a gente come. Eles têm que ouvir a nossa conversa. O governo não precisa ter medo de nós. Se ele quer propor algo que vai afetar nossas vidas, que ele venha até nossa casa. Não aceitaremos conversar com assessores, queremos ser consultados por quem tem poder de decisão”. A isso acrescem que as reuniões devem ser feitas em seu território, na língua Munduruku e coordenadas pelos líderes de seu povo. Descrevem como devem ser as reuniões. “Reunião para fazer acordo sobre o plano de consulta. Reunião informativa, quando o governo deve reunir o nosso povo de aldeia em aldeia. Reuniões internas, necessárias para discutir entre nós a proposta do governo, com tantas reuniões quantas forem necessárias para que o povo Munduruku possa informar-se completamente. Reunião de negociação, quando tivermos discutido com o nosso povo e tivermos uma resposta a dar ao governo”.

    Terminam o documento dizendo que “nossa decisão deve ser coletiva… nós esperamos que o governo aceite nossa decisão. Nós temos poder de veto, Sawe”

    Educação e saúde como nós queremos

    Em debate na Funai nesta quinta-feira (29), ressaltaram que não abrem mão de ter uma escola diferenciada conforme a vontade do povo. Que as escolas profissionalizantes, de nível médio, funcionem efetivamente e que as atividades se dêem nas aldeias, e não nas cidades da região.

    Na discussão sobre uma possível Universidade Intercultural do Tapajós, foi sugerido o intercâmbio com experiências nessa perspectiva já em curso no país e a criação de um Instituto que viabilize um processo nas perspectivas desejadas.

    Quanto aos diversos problemas e desafios que enfrentam no dia a dia nas aldeias foram sugeridos alguns encaminhamentos.

     

    Egon Heck

    Cimi Secretariado

    Brasília, 29 de janeiro de 2015

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

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  • 29/01/2015

    Boletim Mundo: Kaingang manifestam-se contra criação do Insi durante encontro de lideranças no RS

    Reunidas nessa terça e quarta-feira (28) na Terra Indígena Campo do Meio, município de Gentil, no Rio Grande do Sul, mais de 40 lideranças indígenas de 16 comunidades do grande território Kaingang discutiram a proposta governamental de criação do Instituto Nacional de Saúde Indígena (Insi) e encaminharam ações concretas no que tange à questão do prosseguimento das demarcações de terra tradicional.

    Na presença da procuradora da República do Ministério Público Federal em Passo Fundo, do coordenador da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) Regional Sul e do presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) Sul, as lideranças Kaingang reafirmaram sua posição contrária a criação do Insi, conforme documento abaixo.

    Nós, lideranças Kaingang do Rio Grande do Sul reunidas na TI Re Kuju (Campo do Meio), nos dias 27 e 28 de janeiro de 2015, refletimos e discutimos sobre a proposta do Ministério da Saúde de criação de um Instituto Nacional de Saúde Indígena (Insi).

    Durante a reunião as lideranças repudiaram a pretensão governamental da criação do Insi por entenderem que se trata de uma estratégia de terceirização e privatização da saúde indígena e que isso fere diretamente o direito dos povos indígenas a um sistema de saúde específico e diferenciado, ligado ao Sistema Único de Saúde. Fere também nosso direito estabelecido na Convenção 169 da OIT, da qual o Brasil é signatário, onde prevê uma consulta prévia, livre e informada sobre qualquer decisão que tange nossos direitos.

    As lideranças consideram a proposta do governo como um desrespeito à luta histórica dos povos indígenas por um Subsistema de saúde diferenciado, garantido sobretudo pela Constituição de 1988 e pela Lei Arouca.

    O Ministério Público Federal já se posicionou em relação ao Insi e nós concordamos com esse posicionamento porque a proposta segue na contramão das instâncias de controle social conquistadas arduamente pela luta indígena no passado.

    Ressaltamos que a nossa proposta é de fortalecimento da Sesai, pois essa é conquista nossa e não vamos permitir que nos tirem o que conquistamos. O fortalecimento da Sesai segue desde sua infraestrutura, na ampliação e renovação da frota de veículos, contratação e aumento no quadro de profissionais, assim como avançar no processo de efetivação de uma política pública diferenciada de saúde indígena.

    Exigimos mais diálogo e não aceitamos que apenas pessoas que administram os distritos tenham possibilidade de se manifestar. Não fomos consultados, não nos convidaram para tratar do tema que afeta incisivamente nossa organização, nossa saúde e nossa cultura.  Por esses motivos e outros reafirmamos que somos contra o Insi e a favor do Subsistema de Atenção Diferenciada. Queremos uma Sesai fortalecida e não aniquilada por uma proposta que visa, na prática, a transferência das obrigações pela assistência à saúde para terceiros.  E nós sabemos que nisso tudo há interesses econômicos, pois os recursos disponibilizados para a atenção à saúde aumentaram significativamente nos últimos anos e é nestes recursos que estão focados os interesses da iniciativa privada.

    Nós, lideranças Kaingang, exigimos respeito e diálogo. Não nos ouviram. Nós somos contra o Instituto Nacional de Saúde Indígena. E exigimos também que sejam abertos editais para processos seletivos específicos para indígenas, uma vez que há um crescente número de profissionais indígenas se formando na área da saúde.

    TI Campo do Meio, 28 de Janeiro de 2015.

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  • 29/01/2015

    Lideranças Kaingang exigem demarcação de territórios indígenas no RS

    Nessa terça e quarta-feira (28), na Terra Indígena Re Kuju (Campo do Meio), no Rio Grande do Sul, foi realizado um encontro de lideranças Kaingang de 16 comunidades indígenas do estado, para dar continuidade ao processo de mobilização e reflexão comunitária Kaingang, reafirmando princípios e valores que norteiam o bem viver Kaingang, latente na sua cosmologia. O evento teve o objetivo de enaltecer e afirmar a posição ética das lideranças indígenas Kaingang do Rio Grande do Sul em suas relações com a sociedade, o Estado, a natureza e a sobrenatureza recepcionadas em categorias como o bem viver.

    Estiveram presentes as lideranças das Terras Indígenas (TI) Re Kuju (Campo do Meio), Ketyjug Tegtu (Três Soitas, Santa Maria), Rio dos Índios, Xingú, Lajeado do Bugre, Forquilha, Monte Caseiros, Mato Castelhano, Kandóia, Faxinal, Pontão, Inhacorá, Votouro, Iraí, Serrinha, Ligeiro e Ventarra. Representantes do Ministério Público Federal em Passo Fundo, da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) Regional Sul e do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) Sul também participaram do encontro. Leia o documento elaborado pelos indígenas:

    Analisamos a política anti-indígena que está em curso no Brasil e avaliamos que isso repercute na paralisação dos processos demarcatórios em nossa região. Enquanto isso, nós, povo Kaingang, e o povo irmão Guarani, continuamos em situação de acampados e sofrendo ameaças, atitudes de racismo e discriminação e a consequência da falta de atendimento básico que levam à situação de miseráveis. Tal situação é agravada pela ação de deputados, prefeitos, organizações representativas de agricultores e outros políticos interesseiros que estimulam atitudes preconceituosas e incitam a violência contra os Kaingang.

    Denunciamos que nossas comunidades indígenas sofrem com a violência, com o preconceito, com a discriminação, com a criminalização de nossas lideranças e com a situação de miséria, tudo estimulado pelo atraso e a falta da conclusão das demarcações das terras de ocupação tradicional.

    Denunciamos as prisões arbitrárias e infundadas das lideranças Kaingang da TI Kandóia e as ações truculentas e violentas da Polícia Federal sobre a comunidade.

    Constantemente nossos direitos sofrem ataques. Nossas terras, nossos territórios, já degradados pelo capitalismo (monoculturas e o uso de agrotóxicos), não estão sendo demarcados conforme manda a Constituição Federal nos artigos 231 e 232, reiterada pela Convenção 169 da OIT e a declaração sobre os Povos Indígenas da ONU.

    Passado um ano não tivemos nossas exigências atendidas, conforme documento de lideranças Kaingang de 14 de fevereiro de 2014, passamos a reafirmar os mesmos compromissos, reivindicando o cumprimento da lei que defende o direito de acesso à nossa terra. Exigimos da Presidência da República, Ministério da Justiça e Funai que realizem a desintrusão da TI Rio dos Índios,  façam o levantamento fundiário da TI Passo Grande da Forquilha, publiquem a portaria declaratória da TI Kandóia e da TI Irapuá, concluam os laudos antropológicos e publiquem os relatórios das TIs Xingú, Morro do Osso e Mato Castelhano, conclua a analise dos relatórios prévios das TIs de Lajeado do Bugre, Pontão, Carazinho e crie Grupo Técnico de Trabalho (GT) para a identificação e delimitação das mesmas. Exigimos GT de identificação e delimitação para TIs Campo do Meio, Faxinal e Ketyjug Tegtu (Três Soitas, Santa Maria) e GT para revisão de divisas da TI de Ventarra, Iraí, Monte Caseiros e Inhacorá e outras, que já estão sendo solicitados há anos.

    Nós, lideranças indígenas Kaingang também exigimos do presidente da Funai explicações do porque o cronograma de ação da Funai construído em Passo Fundo em dezembro de 2011 não foi concretizado, assim como justificativas de o porque que nenhuma informação clara se materializou para as TIs após a elaboração deste.   Queremos ver passos concretos e ações claras em nossas reivindicações, inclusive com previsão orçamentária nos recursos públicos para a realização dessas ações, isso até fins de fevereiro de 2015, caso isso não aconteça, o povo Kaingang está organizado e articulado para concretizarmos nossos direitos. Estamos prontos para parar o Brasil e ocuparmos os nossos territórios.

    Por fim, nós lideranças não aceitamos sob hipótese nenhuma negociar nossos direitos à terra, abusos de poder e coerção de nossas lideranças e nem aceitamos propostas de redução dos nossos territórios tradicionais.

    Campo do Meio, 27 de janeiro de 2015.

     

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  • 28/01/2015

    Herói da Pátria Brasileira, Sepé Tiaraju é homenageado em sua Semana

    Sepé Tiraju, líder guarani, deu a vida para defender as terras do povo nativo gaúcho, virou mito, foi canonizado pela vontade popular, é reconhecido oficialmente como "herói guarani missioneiro rio-grandense" pela Lei nº 12.366 do Estado do Rio Grande do Sul e Herói da Pátria Brasileira pela lei Federal 12.032/09, mas é ignorado pelo brasileiro e rio-grandense.

    No sentido de conscientizar a sociedade gaúcha e brasileira sobre a existência de um único herói brasileiro no Rio Grande do Sul, entre 1º e 7 de fevereiro de 2015, em comemoração aos 259 anos da sua morte estarão ocorrendo uma série de eventos no território gaúcho. Entre 1609 e 1768 ocorreu uma das principais histórias do mundo em nosso território latino-americano, reconhecida pela UNESCO, como uma “experiência única na Humanidade”. Visitantes do mundo todo vêm em busca dos fatos que encantaram filósofos dos anos 1600, 1700 e 1800, todavia, a própria sociedade que construiu o processo histórico ainda mantem-se de olhos fechados para os acontecimentos aqui ocorridos.

    No estado há 12 mil anos viviam grupos pré-pampeanos. Há cerca de 2.500 anos ocorre a entrada do Povo Guarani. Em 3 de maio de 1626 os primeiros padres jesuítas entram no território gaúcho e fundam 18 reduções. Estas foram expulsas pelos Bandeirantes que naquele período mataram no todo mais de 600 mil guaranis em busca de escravos para suas lavouras paulistas. Expulsos ficaram as reduções no território entre o rio Uruguai e Paraná, hoje Argentina. Voltaram a partir de 1682 fundando os Sete Povos das Missões que com suas estâncias de gado ocupavam mais de 2/3 do atual Rio Grande do Sul.

    Cresceram imensamente em termos de indústria e exportação remetendo sua produção para diversos locais da América e Europa. A indústria se fez plena, tanto quanto a cultura, Montesquieu chamou de “primeiro estado industrial da América”. Com o desenvolvimento as cortes europeias decidem exterminar o projeto comunitário assinando o Tratado de Madri e com a não aceitação das trocas das terras entre espanhóis e portugueses ocorre a Guerra Guaranítica, momento do aparecimento do nosso herói Sepé Tiaraju.

    José Tiaraju foi criado pelos Padres, pois seus pais foram mortos em um aparecimento de escarlatina. Da doença, restaram em seu corpo, cicatrizes várias, uma delas em sua testa, com formato de meia-lua. Como diz a lenda, esta lhe dava uma aura mística e brilhava nas noites, em cor escarlate. Aos poucos foi adquirindo o conhecimento e a cultura dos Jesuítas que se somaria ao espírito de liberdade guarani, o suficiente para transformá-lo em um dos maiores líderes da brilhante comunidade indígena missioneira.

    Foi Corregedor do Cabildo de São Miguel, o mais tenaz resistente à entrega dos Sete Povos aos Portugueses, em troca da Colônia de Sacramento. Sepé Tiaraju transformou-se num autêntico guerreiro, chamando para si a responsabilidade da defesa do povo guarani, da cobiça e do egoísmo dos Espanhóis e Portugueses, pela posse da terra. Em uma carta, a ele atribuída, dirigida ao governo espanhol ele escreveu: “Nossa riqueza é a nossa liberdade. Esta terra tem dono e não é nem português nem espanhol, mas Guarani”.

    Sepé morreu em 7 de fevereiro de 1756, às margens da sanga da Bica, afluente do rio Vacacaí, no município gaúcho de São Gabriel. Três dias depois ocorre a Batalha de Caiboaté e a morte de 1.500 dos principais guerreiros e Caciques Guaranis. Encerrava-se assim, uma das mais bem sucedidas experiências de vida comunitária cristã de todos os tempos citadas por Voltaire, principal Iluminista Francês, como “Triunfo da Humanidade”.

    Por seu feito, Sepé Tiaraju, é considerado santo popular, virou personagem lendário do Rio Grande do Sul e dos Povos Nativos da América Latina, sua memória ficou registrada na literatura por Basílio da Gama no poema épico O Uruguai (1769) e por Érico Veríssimo no romance ‘O Tempo e o Vento’.

    Programação: De 1º a 7 de fevereiro de 2015.

    Conforme o Irmão Antônio Cechin, coordenador geral dos eventos, “pretende ser essa semana, uma arrancada rumo a uma possível introdução da Causa de Beatificação e Canonização dos heróis riograndenses, guarani, missioneiros e brasileiros Sepé Tiaraju e seus 1500 companheiros Mártires Pela Justiça. São Sepé, além de empoderador dos pobres, pode também tornar-se padroeiro dos prefeitos populares”.

    Cechin pede que deem o máximo de importância, comparecendo todos a fim de prestigiar a semana que nos ajudará na glorificação não só de Sepé e Companheiros, mas também dos 3 santos padres jesuítas missioneiros dos Sete Povos: Roque, Afonso e João. Diz que são tempos de papa jesuíta Francisco, da estirpe missioneira dos Sete Povos das Missões do Rio Grande do Sul.

     

    Domingo – 01-02

    Manhã

    Saída da Bicicletada de Porto Alegre, rumo a São Gabriel – Sede do Caminho das Águas – dormem em Rincão dos Negros.


    Segunda – 02/02

    Início da exposição sobre Sepé Tiaraju no Museu Nossa Senhora do Rosário – Bom Fim- Porto Alegre.

    Bicicletada: Rincão dos Negros – Cachoeira do Sul.

     

    Terça – 03-02

    Bicicletada: Cachoeira do Sul – São Sepé.

     

    Quarta – 04-02

    Bicicletada: São Sepé – Santa Margarida.

     

    Quinta-feira – 05/02

    Manhã

    Chegada dos índios e da equipe da Bicicletada em São Gabriel.

    Recepção: Parque Tradicionalista Rincão das Carretas

    Almoço de confraternização organizado pelo Cimi

    Tarde

    Reunião interna dos índios (a partir das 15h) e apresentação teatral da equipe da Bicicletada em frente ao Museu (a partir das 19h30).

     

    Sexta-feira – 06/02

    Manhã

    Reunião aberta dos índios com a participação da equipe da Bicicletada e de todos os envolvidos.

    Tarde

    16h – Bicicletada nas principais ruas da cidade, fazendo paradas estratégicas na Praça Dr. Fernando Abbott, Praça Camilo Mércio e Praça Tunuca Silveira

    18h30 – Futebol no Estádio Municipal (atividade que agrega Governo, CIMI e equipe da Biciletada)

    21h – Palestra sobre “As Missões e Sepé Tiaraju – a importância de para o Brasil”, no Parque Tradicionalista Rincão das Carretas com o pesquisador José Roberto Oliveira.

     

    Sábado – 07/02

    Manhã

    6h – Deslocamento dos índios e comunidade até a Coxilha de Caiboaté (ritual indígena).

    9h30 – Missa da Terra Sem Males, na Chácara Juca Tigre.

    11h30 Inauguração da Trilha "Pelos caminhos de Sepé", na Chácara Juca Tigre.

    Almoço no Parque Tradicionalista Rincão das Carretas.

    Tarde

    16h – Retorno à Chácara Juca Tigre, onde terá apresentações de corais indígenas e outras atrações.

    19h – Inauguração da Estátua em concreto armado de Sepé Tiaraju.

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  • 27/01/2015

    “A Funai está sendo desvalorizada e sua autonomia totalmente desconsiderada”, diz ex-presidente

    Maria Augusta Assirati foi presidente interina da Fundação Nacional do Índio (Funai) por um 1 ano e 4 meses, tempo em que ela diz ter vivido com “grande descontentamento e constrangimento”. Na gestão que menos demarcou terras desde José Sarney, ela aponta a interferência política do governo Dilma Rousseff como a maior responsável pela imobilização do trabalho técnico do órgão indigenista. “A orientação é no sentido de que nenhum processo de demarcação em nenhum estágio, delimitação, declaração, ou homologação, tramite sem a avaliação do Ministério da Justiça e da Casa Civil”.

     Na primeira entrevista desde que saiu, em outubro, ela fala sobre o estopim para o seu pedido de exoneração: uma manobra para licenciar a usina de São Luiz do Tapajós, que pode alagar terra Munduruku (leia mais na nossa reportagem). Depois de analisar o caso e se comprometer com os indígenas a publicar o relatório que delimita a terra, Assirati diz que foi obrigada a voltar atrás. “Nós tivemos que descumprir esse compromisso em razão da prioridade que o governo deu ao empreendimento. Isso é grave”.

     A ex-presidente da Funai fala sobre como tentou apresentar uma alternativa, propondo que se selecionasse outro local para a obra. Mas o governo não teria considerado a solução satisfatória, pois o setor elétrico indicava que o leilão precisava ser lançado ainda em 2014.

    De fato, em setembro, o Ministério de Minas e Energia anunciou o leilão da usina de São Luiz do Tapajós. Mas dias depois teve que adiar para uma data não definida, pois o licenciamento da hidrelétrica ainda não estava concluído. A “culpa” do atraso não foi da Funai ou do Ibama. Faltava a conclusão do Estudo de Componente Indígena, avaliação de impactos que é feita pelo grupo de empresas interessadas em construir a hidrelétrica: Eletrobras, Eletronorte, GDF SUEZ, EDF, Neoenergia, Camargo Corrêa, Endesa Brasil, Cemig e Copel.

    Hoje com 38 anos, Assirati é formada em direito e trabalhou em gestões municipais do PT em São Paulo. Foi para Brasília em 2007 para integrar a mesa de negociações com servidores públicos do Ministério do Planejamento. Desde então passou pelo Ministério da Saúde, Justiça e Secretaria-Geral da Presidência, sempre em áreas ligadas à interlocução com movimentos sociais.

    Deixou a Funai em 1º de outubro de 2014, nove dias depois de uma tensa reunião com lideranças Munduruku sobre a terra indígena que pode ser alagada pela usina de São Luiz do Tapajós. Nesse encontro, ela disse aos indígenas que não poderia encaminhar a demarcação porque a hidrelétrica é prioridade de outros setores do governo. Hoje vive em Portugal, onde faz um curso de doutorado em Direito, Justiça e Cidadania no Século XXI.

    Em setembro, o Ministério de Minas e Energia anunciou o leilão de São Luiz do Tapajós antes que a Funai pudesse dar seu parecer sobre a usina. Como interpretou esse ato?

    Como uma completa desconsideração da presença dos indígenas na área de influência do empreendimento e dos seus respectivos direitos, além de uma desconsideração com o trabalho do órgão indigenista.

    A Funai fez um parecer técnico apontando a usina como inconstitucional. Por que esse parecer ainda não entrou como documentação do processo de licenciamento?

    A Funai não chegou a emitir o parecer sobre a licença previa de Tapajós, mas houve esse documento da equipe técnica. Assim que concluído o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), expusemos nossa posição institucional, que corrobora esse parecer da equipe técnica. O EIA aponta que um dos impactos é a supressão por alagamento de áreas dentro da terra indígena. Como o alagamento foi identificado, o empreendimento dependeria de remoção da comunidade indígena, o que é proibido pela Constituição Federal. No entanto, o Ministério do Planejamento e o Ministério de Minas e Energia alegam que não há terra indígena ali.

    Por que o relatório de delimitação da Sawré Muybu, a terra que seria alagada pela usina, nunca foi publicado pela Funai?

    O processo foi levado à consideração do Ministério da Justiça e Casa Civil, que, em virtude da usina, acreditam que a demarcação tem que ser discutida mais profundamente e com outros órgãos de governo.

    Em reunião com os munduruku, a senhora revelou que a usina impedia a demarcação e disse que só permanecia no cargo porque acreditava em uma solução para o caso. Mas, nove dias depois, deixou a presidência da Funai. O que esse caso significou para a senhora? Foi o estopim para a sua saída?

    Essa reunião foi um momento muito duro para todos nós: para os indígenas, para nós da Funai, e para mim, pessoalmente. Nós, como Funai, havíamos assumido um compromisso com os Munduruku no sentido da publicação do relatório [de delimitação da Sawré Muybu]. E nós tivemos que descumprir esse compromisso em razão da prioridade que o governo deu ao empreendimento. Isso é grave. Uma situação como essa fragiliza a confiança que deve pautar as relações com os indígenas. Eles já foram muito enganados, por mais de 500 anos. Uma relação de confiança não se constrói só com palavras, exige compromisso e coerência. Por isso procurei explicar a eles o que estava acontecendo, dizer como estávamos buscando solucionar essas questões e quais seriam os próximos passos. Mas a solução que, do ponto de vista da Funai, garante o respeito à legislação brasileira e os direitos indígenas daquele povo foi descartada pelo governo naquele momento. Espero que ela possa ser reconsiderada nesse segundo governo Dilma.

    Qual foi a solução apresentada pela Funai?

    Solicitei que fossem apresentadas alternativas locacionais para a barragem, que o setor elétrico indicasse outros locais possíveis para a construção, onde a comunidade não fosse afetada dessa forma. A aldeia é uma área de habitação permanente daquela comunidade munduruku. Além do grave impacto que isso geraria aos indígenas, há também um entrave jurídico. Adverti sempre que a remoção daquele local é uma situação que o nosso ordenamento jurídico proíbe.

    Como a proposta de mudar o lugar da barragem foi recebida?

    Não foi considerada como uma solução satisfatória tendo em vista que, segundo o setor elétrico, havia necessidade de realizar o leilão em 2014.

    Quem são os representantes do governo federal que defendem o projeto da usina mesmo com o alagamento de uma terra indígena?

    É um projeto prioritário do PAC, essas prioridades são definidas junto ao Palácio. Além do setor elétrico, há uma dedicação especial do Ministério do Planejamento. Como é um projeto caro à própria Presidenta, vira um projeto prioritário para todo o centro de governo.

    Como o governo federal pretende driblar a Constituição?

    Como presidenta da Funai quando no governo e como ex-presidenta e cidadã hoje, eu não acho que a Constituição tem que ser driblada. Acho que tem que ser respeitada e o parágrafo 5º do artigo 231 diz: “É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, garantido o retorno imediato logo que cesse o risco”. Essa proibição foi expressamente colocada na Constituição para evitar que qualquer interesse se sobreponha ao direito dos indígenas de viverem em suas terras e impedir que fossem removidos sob quaisquer pretextos, como era permitido antes de 88. Hoje uma remoção forçada é mais difícil, justamente porque há uma proteção normativa.

    Como o governo planeja viabilizar a usina apesar desse impedimento constitucional?

    O parágrafo 3º do artigo 231 diz que o aproveitamento dos recursos hídricos em terras indígenas só pode ser efetivado com “autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados”. Como não há lei regulamentando isso, há quem ache fundamental a proposição de um projeto de lei dizendo como se dará a exploração desses recursos dentro de terra indígena.

    Eu acho que isso vai ser muito prejudicial nesse contexto político em que está em curso a mais grave ofensiva aos povos indígenas pós-democratização. Regulamentar nesse momento é afirmar que os recursos naturais são mais importantes que os próprios indígenas. E pergunto: os povos indígenas serão consultados sobre isso? Terão participação nesse debate? Depois, mesmo que regulamentado esse parágrafo, a vedação do parágrafo 5º continuará existindo e, portanto, proibindo que os Munduruku sejam removidos.

    Essa tentativa de mudança é um caso isolado? Como ela se assemelha ao PLP 227 (projeto que regulamenta situações em que não-índios podem explorar terras indígenas)?

    Tudo isso vem no bojo dessa ofensiva anti-indígena: PEC 215 [pretendia transferir ao Legislativo a decisão final sobre a demarcação], regulamentação de artigos da Constituição, mudanças no procedimento de demarcação. Quando estava na Funai apresentamos uma nota técnica manifestando nossa posição contrária a esse projeto e as razões. Esse PLP cria situações que reduzem as possibilidades de demarcação de terras. Só por isso já é impróprio.

    Há ainda a portaria 303 da Advocacia Geral da União (estende para todas as demarcações as condicionantes criadas em Raposa Serra do Sol, como por exemplo proibir a extensão de terras já demarcadas). Qual o contexto político em que essa norma foi aprovada?

    Um dia cheguei para trabalhar e essa portaria estava publicada no Diário Oficial. Não tive acesso a nenhuma informação prévia à aprovação, pois sequer sabia que a AGU tomaria uma medida como essa. Não sei se foi discutida com alguém ou com algum órgão de governo antes da publicação. Ela afeta muito negativamente os direitos territoriais indígenas. Inclusive diz que haveria revisão de processos de demarcação já concluídos. Isso é um absurdo político e jurídico.

     O governo Dilma foi o que menos demarcou terras desde José Sarney. Como a senhora viveu isso na presidência da Funai?

    Com grande descontentamento e constrangimento. Acho esse número lastimável para um governo que se diz democrático e que teve um importante apoio de setores populares.

    Caiu também o número de delimitações de terras indígenas, processo que depende apenas da Funai. Há orientação para que o órgão segure esses processos?

    A orientação é no sentido de que nenhum processo de demarcação em nenhum estágio, delimitação, declaração, ou homologação, tramite sem a avaliação do Ministério da Justiça e da Casa Civil. Isso é, nada mais, nesse momento, “depende apenas da Funai”.

    O governo Dilma está operando um processo de desconstrução da Funai?

    O que sei é que a Funai está sendo desvalorizada e sua autonomia totalmente desconsiderada. Ela precisa ser fortalecida, e ter o mínimo de condições para sua sobrevivência e bom funcionamento. Não tem recebido a atenção que merece do ponto de vista administrativo e político. Não foi realizado ou sequer aprovado um concurso público, o orçamento é insuficiente. Sob o aspecto político-institucional, esse apoio também não vem. A Fundação segue com um dirigente interino enquanto ruralistas afirmam publicamente que os processos da Funai são fraudulentos, o que é uma grande calúnia, e não há defesa por parte de setores importantes do governo.

    Em 2013, a então ministra-chefe da Casa Civil Gleisi Hoffmann pediu a suspensão de demarcações com base em estudo da Embrapa. Logo depois o governo anunciou que demarcações seriam submetidas a outros órgãos. O que essa mudança significa?

    A Funai já tem a prerrogativa de consultar outros órgãos e já faz isso sempre que necessário. Isso não sou eu que digo, basta olhar os processos: consulta-se o Incra, a Fundação Palmares, o ICMBio, o Ibama, o Iphan. Mas não vejo como a imposição da obrigatoriedade de consultar outros órgãos, como o Ministério da Agricultura, a Embrapa e o Planejamento pode contribuir para concluir um estudo de identificação de terra indígena. Que elementos técnicos imprescindíveis esses órgãos podem produzir acerca da identificação de um território tradicional ou de sua delimitação? Sua participação, em meu entender, seria de ordem política, com vistas à defesa de interesses que estão fora do âmbito dos direitos constitucionalmente garantidos aos povos indígenas.

    Como a Constituição mudou os processos de demarcação?

    Antes das atuais garantias constitucionais, a Funai fazia o estudo de identificação com base em elementos técnicos, apresentava uma delimitação e esse trabalho era submetido a uma apreciação de um colegiado, que ficou conhecido como “grupão”. Em Brasília, o “grupão” definia, segundo critérios políticos, qual seria o limite da terra indígena. Mas, com os parâmetros estabelecidos a partir de 88, isso é impensável.

    Como é hoje?

    A partir da Constituição de 88 e da atual legislação, os processos se aperfeiçoaram e se sofisticaram. As esquipes se especializam continuamente, há profissionais competentes nessa área. Claro que se pode colocar em análise algum aspecto jurídico, para isso há análise pela AGU e Ministério da Justiça. A legislação também prevê um prazo para que qualquer interessado conteste, apresente novos elementos e questione aspectos técnicos e jurídicos. Ao fim, quem decide sobre a declaração da área como terra indígena é o Ministro da Justiça. Caso precise de novos elementos, ele ainda pode solicitar a realização de diligências. E, depois disso tudo, ainda há uma análise da Casa Civil. Portanto, a legislação atual já traz instrumentos suficientes para a efetivação segura de um processo de demarcação.

    Qual será o impacto dessa série de mudanças propostas pelo governo?

    Uma efetiva política indigenista pública precisa de um órgão plenamente capaz de coordená-la e implementá-la. Hoje, a ação indigenista ainda não faz parte da preocupação e atuação de um grande número de órgãos públicos, federais, estaduais e municipais. Isso significa que, em certos casos, se a ação da Funai não chegar aos indígenas, nenhuma outra ação pública vai chegar a eles. Por isso, o desempenho da Funai é fundamental para a sobrevivência de muitos indígenas. Um funcionamento inadequado pode significar perdas irreparáveis. A desconsideração de comunidades indígenas por parte do Estado pode permitir ou acarretar a perda de vidas indígenas, ou até o desaparecimento de todo um povo indígena, o que equivale a um genocídio.

    A Secretaria-Geral da Presidência coordena o processo de consulta aos Munduruku sobre as usinas no rio Tapajós. As demandas dos indígenas estão sendo ouvidas?

    Não dá para fazer consulta como se ela fosse mera etapa burocrática ou obrigação processual apenas. O que está em questão são vidas que serão modificadas para sempre em função dessa intervenção [usinas]. Não dá para encarar como se os indígenas fossem um empecilho ou um fator de atraso no cronograma de um empreendimento. A intervenção é que interrompe, dificulta ou impede as práticas das comunidades indígenas. A demanda dos munduruku é, primeiro, entender o que se passa. Querem um diálogo respeitoso, esclarecedor e num tempo que permita verdadeiramente isso. Os momentos de diálogo que ocorreram durante o período em que eu estive na Funai não foram suficientes para esclarecer as questões que o povo munduruku tem sobre o assunto.

    O governo trata a consulta como “mera etapa burocrática”?

    A meu ver, parte do governo, em especial a parte que considera apenas a importância de empreendimentos de infraestrutura, trata assim. Mas há uma parte que não trata. A Ministra Tereza Campello fez questão que o Ministério de Desenvolvimento Social realizasse uma consulta prévia à realização de uma pesquisa em comunidades indígenas.

    Em entrevista ao El País, a procuradora Thais Santi denunciou o não cumprimento das condicionantes em Belo Monte, o que provocou impactos profundos e irreversíveis entre os indígenas. Por que a Funai não exigiu que a Norte Energia cumprisse o plano?

    A Funai cobrou inúmeras vezes o cumprimento das condicionantes. Eu mesma assinei muitos documentos nesse sentido. Mas exigir é uma medida que está bastante distante das possibilidades da Funai. Lembrando, inclusive, que o órgão licenciador é o Ibama, que também já recebeu muitos ofícios da Funai nesse sentido.

    A procuradora descreve os impactos de Belo Monte como etnocídio e aponta a senhora, quando presidente da Funai, como uma das responsáveis. Como responde a essa acusação?

    Reconheço e respeito a importância do trabalho do Ministério Publico. Mas estar na posição de presidente da Funai é bem diferente, bem mais difícil. Primeiro porque não compete à Funai conceder, negar ou suspender licenças de empreendimentos. Isso é competência do Ibama. Se o Ibama não considera o descumprimento de certas condicionantes apontadas pela Funai (e pelo MPF) como razão para rediscutir a licença de um empreendimento, não é a Funai quem vai reverter administrativamente essa situação. O que compete à Funai é cobrar do empreendedor e do Ibama. E isso nós fizemos sempre, inclusive em Belo Monte. Mas, se nem o próprio judiciário solucionou a questão nos mais de dez processos judiciais a que esse empreendimento foi submetido, parece que nada é tão simples como na compreensão da Dra. Thais. Não se resolve apenas a partir de aspectos administrativos e jurídicos.

    A Funai ainda é capaz de desempenhar seu papel de defesa dos direitos indígenas no Brasil?

    A Funai é, sem dúvida, a instituição pública comprometida com a defesa dos direitos indígenas no Brasil. Essa é a sua missão institucional, mas tem sido cada vez mais difícil desempenhar esse papel com a qualidade e especificidade que os povos indígenas demandam e merecem. A Funai precisa ser fortalecida. O movimento indígena e outros segmentos da sociedade civil têm tido um papel importante, é fundamental que continue a mobilização social em favor dos direitos indígenas. Mas não dá para desconsiderar que garantir a sobrevivência física e cultural dos povos indígenas no Brasil é uma obrigação inequívoca do Estado. Ou o governo olha com respeito para a Funai e para a importância de sua missão, ou deixará claro que não se importa nem se responsabiliza pelo futuro dos povos indígenas no Brasil.

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  • 27/01/2015

    MPF contesta Funai e insiste na demarcação da Terra Indígena Sawré Muybu

    O Ministério Público Federal apresentou contestação ao Tribunal Regional Federal da 1a Região, em Brasília, para que a Fundação Nacional do Índio seja obrigada a dar prosseguimento ao processo de demarcação da Terra Indígena Sawré Muybu, dos índios Munduruku, em Itaituba, oeste do Pará. O território será alagado em caso de construção da usina hidrelétrica São Luiz do Tapajós e o reconhecimento dele é crucial para que os direitos dos índios sejam reconhecidos no licenciamento da barragem.

    O MPF havia obtido, na Justiça Federal de Itaituba, uma liminar obrigando a Funai a dar prosseguimento à demarcação, mas o TRF1 concedeu efeito suspensivo (uma suspensão temporária até o julgamento dos recursos), paralisando novamente o procedimento, que já ultrapassou a fase mais custosa, que é o trabalho de identificação e delimitação. A próxima etapa deveria ser a publicação do Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação (RCID), um passo procedimental sem custos significativos para o governo.

    Mesmo assim, a Funai alegou, para pedir a suspensão, que não poderia prosseguir a demarcação por questões de planejamento e custos. Para o MPF, o argumento não se sustenta. “Ao contrário, economia maior se realizaria se houvesse a efetiva assinatura e publicação do RCID. Afinal, grandes gastos de recursos públicos já ocorreram na contratação e manutenção dos trabalhos do Grupo Técnico (que fez os levantamentos de campo que resultaram no relatório). Publicar o resultado deste trabalho não implica gasto público. Em outras palavras, não publicar o RCID representa elevados gastos públicos”, diz o recurso assinado pelos procuradores Janaina Souza e Camões Boaventura.

    A paralisação da demarcação agrava os conflitos já existentes na terra indígena, como invasões de madeireiros e garimpeiros. Outra preocupação é que a Sawré Muybu está no caminho dos projetos de aproveitamento hidrelétrico na região. A terra onde vivem os índios será alagada se o governo federal construir a usina de São Luiz do Tapajós. Sem a delimitação do território, os Munduruku podem ter seus direitos ignorados no processo de licenciamento e até serem vítimas de remoção forçada, o que é vedado pela Constituição brasileira.

    O MPF menciona na contestação, que a ex-presidente da Funai, Maria Augusta Assirati, em reunião com os índios Munduruku em Brasília no dia 17 de setembro de 2014, admitiu que a publicação do RCID já deveria ter sido feita mas não o foi por interferência de setores do governo interessados na usina hidrelétrica. A reunião foi gravada e a transcrição, enviada ao Tribunal, registra: “Eu acho que essa terra indígena já deveria estar demarcada, já deveria ter sido o relatório publicado, mas que isso não depende da vontade de uma só pessoa, de um só órgão. Isso é um conjunto de fatores que define essas questões, que não sou só eu que posso ditar quais são os interesses prioritários do governo”. Logo depois, Maria Augusta deixou o cargo.

     

    Íntegra da contestação

    Processo no TRF1 0064080-17.2014.4.01.0000/PA

    Processo na Vara Federal de Itaituba 1258-05.2014.4.01.3908

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  • 26/01/2015

    Indígenas discutem impactos de grandes obras na Amazônia no Fórum Social Mundial da Biodiversidade 2015

    “As ameaças aos direitos dos povos indígenas e os megaempreendimentos econômicos na Amazônia” é o tema do debate que acontecerá nesta quinta-feira (29), no Parque do Mindu, das nove às 12 horas, promovido pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e outras organizações indígenas da Amazônia. O evento faz parte das atividades do Fórum Social Mundial da Biodiversidade 2015, que acontece de 26 a 30 de janeiro em Manaus (AM).

    Os indígenas, juntamente com representantes de entidade de apoio à causa indígena, querem analisar os efeitos da construção de hidrelétricas, rodovias, da exploração mineral e introdução de monoculturas para combater seus impactos sociais e ambientais, bem como as ameaças aos direitos constitucionais já conquistados decorrentes das ações governamentais e de empresas privadas para viabilização desses mega empreendimentos. A partir da reflexão desses impactos e ameaças, as organizações indígenas pretendem fortalecer a luta pela vida na Amazônia.

    O debate sobre a as ameaças aos direitos acontece num momento em que o movimento indígena em todo o Brasil se mobiliza para barrar Projetos de Leis (PLs), Propostas de Emendas à Constituição (PECs) e outras iniciativas em tramitação na Câmara e no Senado que podem derrubar as garantias proporcionadas pelo artigo 231 da Constituição Federal. O movimento indígena, no final de 2014, conseguiu impedir a votação da PEC 215, que transfere do Executivo para o Legislativo a prerrogativa de demarcar terras indígenas.

    Nos últimos anos, as organizações indígenas têm se mobilizado e procurado fortalecer alianças com outros segmentos da sociedade para impedir a construção de grandes obras na Amazônia que o Governo Federal quer executar a qualquer custo, sem consulta às comunidades afetadas e sem respeito aos direitos, como a hidrelétrica de Belo Monte e o Complexo Hidrelétrico do Tapajós.

    No evento desta quinta-feira, no Parque do Mindu, estarão presentes abordando o tema lideranças como: Sonia Guajajara, Coordenadora da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil); Maximiliano Correa Menezes, Coordenador da Coiab; Roseninho Munduruku, da região do Tapajós, onde o Governo Federal pretende construir um complexo hidrelétrico; Icles Nascimento da Costa, Coordenador da Copime (Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno); Francinara Soares Martins, da Coiab e Raquel Macedo, da Umiab (União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira).

     

     

     

     

     

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  • 26/01/2015

    O governo Dilma no cabresto do agronegócio?

    Não é só porque o mapa do agronegócio todo azulou ou tucanou nas últimas eleições, mas, principalmente, porque a saúde da terra e do povo brasileiro está em jogo. Caros companheiros e companheiras, assessores (as) do Governo Dilma, o diálogo com a sociedade brasileira exige que vocês ajudem a Dilma a questionar o apoio que vem sendo dado ao agronegócio.

    O grupo ruralista que tem sido privilegiado em todos os governos anteriores, mas em especial na primeira gestão de Dilma, são os principais poluidores da terra e da nossa comida brasileira. E eles estão aí de volta, no Congresso, querendo de novo comandar e desmandar.

    O grupo está alinhado a um modelo essencialmente desenvolvimentista predador e como alerta a Comissão Pastoral da Terra, é o principal responsável “pela devastação ambiental dos nossos biomas, com o desmatamento e a utilização intensiva de agrotóxicos que suprimem a proteção vegetal e contaminam solos, águas, ar e trabalhadores e trabalhadoras. Provocam ainda o secamento e morte de nascentes e rios e o rebaixamento de lençóis freáticos e aquíferos. A destruição dos cerrados compromete a segurança hídrica atual e futura, o que já se evidencia na crise de abastecimento de várias regiões do país, que não se pode atribuir simplesmente à falta de chuvas. Ao se expandir para a Amazônia, este modelo chega à última fronteira, onde agrava a crise ecológica e nos põe a temer ainda mais pelo futuro…”

    Não pode um governo que pretende ser “popular” se submeter às exigências econômicas e políticas do agronegócio. Nas condições atuais já seria escandaloso o Governo fornecer igual incentivo ao Agronegócio do que à Agricultura Familiar.

    Não tem diálogo possível com quem prejudica o povo brasileiro, colocando em risco a sua saúde e até a sua sobrevivência como alertam à exaustão centenas de cientistas do mundo inteiro.

    Sob o título: “Amazônia perde mais de 2000 árvores por minuto nos últimos 40 anos”, – alertam – “cerca de duzentos dos principais estudos e artigos científicos sobre o papel da floresta amazônica no sistema climático, na regulação das chuvas e na exportação de serviços ambientais para áreas produtivas, vizinhas e distantes da Amazônia. A avaliação conclui que reduzir a zero o desmatamento já não basta para garantir as funções climáticas do bioma.”

    E o cientista do INPE, Antônio Donato Nobre, afirma: “Estamos indo direto para o matadouro. Parar de desmatar é fundamental, mas não resolve mais. Temos que conter os danos ao máximo. Parar de desmatar é para ontem. A única reação adequada neste momento é fazer um esforço de guerra. A evidência científica diz que a única chance de recuperarmos o estrago que fizemos é zerar o desmatamento. Mas isso será insuficiente, temos que replantar florestas, refazer ecossistemas. É a nossa grande oportunidade.”

    Mesmo que o agronegócio contribua com 100 bilhões de reais no PIB, não é razão para que se continue apoiando essa forma de agredir a terra e a saúde do povo brasileiro. É preciso que o Governo amplie o seu diálogo com o movimento popular e com os cientistas do Brasil e do mundo. Nomear Kátia Abreu para Ministra da Agricultura e Aldo Rebelo Ministro de Ciência e Tecnologia, símbolos da depredação da terra e da natureza, é agredir a razão e o bom senso. Não pode, é inaceitável!

     

    Casa da Cultura do Urubuí, Amazonas, 21 de janeiro de 2015,

    Egydio Schwade

     

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  • 26/01/2015

    Após 13 anos, famílias correm risco de despejo do Acampamento Nova Vida, em MG

    As 32 famílias do Acampamento Nova Vida, em Novo Cruzeiro, localizado no Vale do Jequitinhonha (MG), correm o risco de despejo caso o pedido de reintegração de posse, marcado para essa segunda-feira (26), se cumpra.

    A área de 340 hectares, ocupada há 13 anos, abriga 32 famílias (cerca de 110 pessoas) que produzem alimentos orgânicos, como milho e feijão, para Novo Cruzeiro e outros municípios da região.

    Para o coordenador nacional do MST, Enio Bohnenberger, a ordem para de reintegração emitida pelo comando da Polícia Militar de Belo Horizonte, por meio da 3ª Vara Agrícola, é digna de repúdio, uma vez que área já é ocupada há anos e se transformou numa colônia agrícola da região.

    “As famílias não vão sair de suas casas e da terra onde trabalharam duramente por anos. Os Sem Terra transformaram essa área num espaço produtivo, construíram estradas de acesso, mata-burros para possibilitar a transposição de córregos e rios, além de casas, área de lazer, centro de reuniões, uma rádio comunitária; isso sem falar do cultivo de policultura, sustentada a partir de cultivares de base, como milho, feijão, mandioca, abóboras e etc”, disse Enio.

    Os Sem Terra entraram com uma petição na Vara de Conflitos Agrários da Região para impedir a reintegração. Segundo o coordenador, a prefeitura municipal apóia as famílias acampadas, e entrou com uma segunda petição com o intuito de impedir a reintegração. “Vamos fazer o que for preciso para garantir a permanência de todas as famílias na área”, afirma.

    Em nota de repúdio enviada à imprensa, o professor doutor Rogério Fernandes Macedo, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e do Instituto Brasileiro de Estudos Contemporâneos (IBEC), lembra que governador Fernando Pimentel (PT) pode colocar fim ao drama das famílias.

    Para tanto, bastaria que o governo do Estado fizesse valer a ordem da prefeitura de Novo Cruzeiro, que no final de 2014 decretou o Acampamento Nova Vida como sendo área de interesse público, convertida em Colônia Agrícola.

    Ele lembra que a prefeitura já dispôs em sua previsão orçamentária os recursos necessários à remuneração do proprietário, bem como a posição do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que já declarou reiteradas vezes interesse em comprar a área e destiná-la à Reforma Agrária.

    Até o momento, policiais e helicópteros rondam o local para fazer um mapeamento da área. Não houve conflito direto. O prazo de reintegração se estendeu até quarta-feira (28).

     

    Leia a nota na íntegra

     

    Nota de repúdio à ordem de reintegração de posse, contra o Acampamento Nova Vida, em Novo Cruzeiro, Minas Gerais, Brasil

     

    Há de se repudiar aqui a ordem de reintegração de posse, a ser executada no dia 26 de janeiro de 2014, segunda-feira, contra 32 famílias do MST, que vivem há 13 anos no Acampamento Nova Vida. Esta área está localizada na porção nordeste do Estado de Minas Gerais, na parcela média da Mesorregião do Vale do Jequitinhonha, mais precisamente na cidade de Novo Cruzeiro. Ao longo desses 13 anos, tais famílias lavraram a terra com muito esforço, solidariedade e organização: retirando dela alimentos variados, orgânicos, promotores da saúde e da vida, não só para a cidade de Novo Cruzeiro, mas para dezenas de outros municípios. Ali, pode-se ver exemplo pujante de policultura, sustentada a partir de cultivares de base, tais como milho, feijão, mandioca, abóboras, somados às múltiplas culturas que a imaginação pode sugerir. Além dos alimentos, desde 2001, os trabalhadores estruturaram toda a área, construindo estradas de acesso, mata-burros para possibilitar a transposição de córregos e rios; construíram casas; área de lazer, como campo de futebol; centro de reuniões, onde são decididos coletivamente os destinos de todos; construíram uma rádio comunitária; elaboraram plano de preservação da mata de tipo atlântica, tanto nos topos das chapadas, quanto à 60 metros das margens do Rio Gravatá, embora a legislação exija apenas 30 metros; estabeleceram próximas às residências áreas de cultivo coletivo, que complementa o produto das lavouras principais. A tudo isso, soma-se a profícua atividade apicultora, que rende aproximadamente 70 quilos de mel silvestre, a cada retirada.

    É digno de repúdio ignorar que a alta produtividade do Acampamento Nova Vida dá provas definitivas de que a miséria e a fome no Vale do Jequitinhonha e Mucuri são pré-requisitos da riqueza incalculável, acumulada pelos oligopólios dos ramos madeireiros, carvoeiros, químicos, da indústria papeleira, da construção civil, da siderurgia, da mineração, entre outros. Esses promovem com suas atividades destrutivas a destruição da vida, ampliando a miséria e a fome. São proprietários insensíveis à tragédia alheia: não plantam e não deixam plantar, como costumava dizer Darcy Ribeiro.

    Como é possível permitir que esses trabalhadores sejam despejados? Se isso ocorrer, todos testemunharão no dia 26 de janeiro de 2015 a tragédia revelar as suas várias faces: 1) a conversão das 32 famílias produtivas (aproximadamente 107 pessoas ao total) em sem tetos, desprovidos de renda, desabrigados; 2) a destruição da vida de aproximadamente 30 crianças e jovens; 3) a possibilidade real de derramamento de sangue, em face da atuação da polícia no cumprimento da ordem de reintegração de posse e da resistência dos trabalhadores, que criaram vínculos fortíssimos ao longo desses 13 anos; consequentemente, 4) a transformação da cidade de Novo Cruzeiro em palco de um conflito social, que pode atingir proporções inéditas; 5) a destruição da lavoura, tão produtiva, que ampliará 6) a crise alimentar que se abate sobre o Vale do Jequitinhonha a séculos; 7) a degradação dos recursos naturais – notadamente florestais e hídricos –, tão bem preservados e geridos pelos trabalhadores rurais; enfim, a lista é infinita, proporcional à dimensão da tragédia que se avista no horizonte.

    Esta nota de repúdio registra uma possível rota de saída: basta imediatamente o Governador do Fernando Pimentel, do Partido dos Trabalhadores, colocar fim nesse drama, dando ciência ao Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais que a Prefeitura de Novo Cruzeiro decretou, no final de 2014, o Acampamento Nova Vida área de interesse público, convertida em Colônia Agrícola; que a Prefeitura já dispôs em sua previsão orçamentária os recursos necessários à remuneração do proprietário. Que o Incra já declarou reiteradas vezes interesse em comprar a área e destiná-la à Reforma Agrária. Que pare imediatamente o processo de reintegração de posse.

     

    Ass: Prof. Doutor Rogério Fernandes Macedo.

    Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM.

    Instituto Brasileiro de Estudos Contemporâneos – IBEC.

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  • 26/01/2015

    No Acre, possível epidemia de coqueluche matou 11 crianças indígenas em 2014

    De junho a setembro de 2014 11 crianças da Terra Indígena (TI) Kaxinawá/Ashaninka do Rio Breu, no Acre, morreram com suspeita de coqueluche. Foram nove crianças do povo Kaxinawá, autodenominado Huni Kui, e duas do povo Ashaninka. Uma das vítimas tinha sete anos de idade, mas a maioria entre um e três meses. Sintomas como cansaço, tosse forte e seca, face arroxeada e olhos vermelhos foram relatados à equipe do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Cruzeiro do Sul, que visitou as 10 aldeias da TI em dezembro do ano passado.

    Localizadas ao longo do rio Breu, as comunidades precisam viajar de canoa a motor até o município de Marechal Thaumaturgo para receberem atendimento médico. Da aldeia mais próxima, São José, à cidade, o percurso dura de oito a 12 horas quando o rio está cheio. Jacobina, a mais distante, na fronteira com o Peru, fica a dois dias de viagem. “No verão, quando o rio seca bastante, podem levar até quatro dias para chegar a Thaumaturgo, percorrendo trechos a pé e tendo que carregar a canoa”, explica a missionária Ivanilda Torres.

    Não há sistema de comunicação ou água potável nas aldeias (com exceção de Jacobina) e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) não oferece transporte e combustível para as emergências. Além disso, as visitas de equipes de saúde às aldeias são esporádicas: em 2014, foram apenas duas. “A doença começou a manifestar-se em abril, mas só em julho, depois da morte de seis crianças é que a Sesai foi até a área. Ainda assim, das dez aldeias visitou apenas três e mandou os pais levarem as crianças de barco para o hospital. Infelizmente duas não suportaram a longa viagem”, conta Ivanilda.

    O Pólo Base da Sesai em Marechal Thaumaturgo funciona de forma precária. Cristiane de Souza, coordenadora da unidade, explica que são apenas duas equipes para cobrir toda a região, que abrange cinco Terras Indígenas e 1,7 mil pessoas.  Cada equipe é formada por um médico, uma enfermeira e dois técnicos de enfermagem. Um dentista e um auxiliar acompanham cada viagem. “É muito difícil alcançarmos todas as regiões. O cartão que temos para comprar combustível muitas vezes não dá nem para enviar a equipe e fazer resgates… as aldeias ficam prejudicadas porque não conseguimos distribuir, e precisam muito, porque, por falta de condições básicas como água potável, as crianças têm diarréia e morrem sem atendimento ou transporte para a cidade”.

    Rosildo Jaminawa-Arara, Agente Indígena de Saúde, diz que na prática a política de atenção à saúde indígena não existe, mesmo depois de 15 anos de criação do sistema. “Nós somos esquecidos, durante este tempo não houve melhoria nenhuma para nossa região; a Sesai assumiu com a promessa de que o atendimento ia melhorar, mas nunca esteve tão ruim. Se o Agente de Saúde ou a família não tirarem dinheiro do seu bolso para socorrer uma emergência, o paciente morre. Cadê a assistência diferenciada?”.

    Em Marechal Thaumaturgo não há Casa de Saúde Indígena (Casai) para oferecer apoio aos pacientes. “Os indígenas, ao chegarem à cidade, ou pagam por hospedagem ou mendigam um cantinho nos barcos ancorados na beira do rio, sendo muitas vezes expulsos e humilhados pelos proprietários dos barcos”, diz Ivanilda.

    Na época do surto da doença alguns indígenas não conseguiram nem mesmo atendimento no hospital. Assis Huni Kui, da aldeia São José, de 63 habitantes, desceu o rio no mês de julho em busca de tratamento junto com 12 crianças, entre filhos e sobrinhos, algumas passando muito mal. Em Marechal Thaumaturgo, “A triagem do hospital não deixou passar no médico, disseram que era uma tosse comum. Voltei para a comunidade e dias depois meu sobrinho de dois meses morreu. Ele tossia muito, o rosto estava roxo e os olhos vermelhos. As outras crianças que tinham a tosse também ficavam assim. Para nós essa doença é a tosse braba”, diz Assis.

    O diagnóstico da coqueluche ainda não foi confirmado, mas os sintomas se assemelham muito aos da doença.  Siã Huni Kui, professor e liderança, disse que na aldeia Jacobina, composta por 78 pessoas, todas as crianças e também alguns adultos ficaram doentes. “Nas crianças de mais idade e nos adultos não foi tão forte, mas os bebês sofreram muito”. Sua comunidade também procurou tratamento na cidade. “Enfermeiros da Sesai disseram que não era tosse braba, alguns médicos do hospital também, mas uma médica que internou nossas crianças disse que embora os exames não tenham confirmado a coqueluche, era o único tratamento que estava dando resultado”.

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