• 10/03/2015

    Nota de Esclarecimento sobre acusações do GTA

    Perante as mentiras, calúnias e preconceitos expressos em nota publicada e assinada pelo presidente da Rede Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), informamos que:

    1-     O jornal Porantim é um instrumento de comunicação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) que está a serviço dos povos indígenas do Brasil desde o ano de 1978, sendo usado permanentemente para dar voz aos povos, às comunidades e lideranças indígenas de todas as regiões do país.

    2-     O Jornal “Nortão” não pertence ao Cimi e a entidade não tem qualquer responsabilidade relativamente ao que é publicado no mesmo.

    3-  Os povos indígenas têm sido recorrentemente assediados e atacados por distintos grupos econômicos interessados na exploração de seus territórios. Temos dado apoio incondicional aos povos na luta que realizam contra o ataque sistemático e violento de grupos ligados ao ruralismo, às mineradoras, às empreiteiras e aos madeireiros, dentre outros, que pretendem mudar a Constituição a fim de impedir novas demarcações e legalizar a invasão e a exploração das terras indígenas no Brasil. O empenho do presidente da Rede GTA em atacar o Cimi não é percebido quando se trata de apoiar os povos na defesa de seus direitos territoriais.

    4-     Recentemente, apoiamos uma delegação de aproximadamente 40 lideranças, representantes de 10 povos indígenas dos estados de Rondônia e Mato Grosso, que estiveram em Brasília entre os dias 23 e 27 de fevereiro de 2015, onde realizaram uma série de ações de incidência política junto a órgãos públicos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário em defesa do direito à demarcação de suas terras; por melhoria no atendimento à saúde das comunidades na região; contra a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215/00; contra decisões da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que anulou portarias declaratórias de terras tradicionais dos povos indígenas Guarani-Kaiowá e Terena, no estado do Mato Grosso do Sul, e Canela, no Maranhão. A denúncia em veículos de imprensa, inclusive na Rádio Nacional da Amazônia, da ocorrência de invasão e exploração de seus territórios por fazendeiros e madeireiros, bem como a cobrança, junto a órgãos públicos, de ações efetivas de proteção aos territórios e para a suspensão do Projeto Carbono Suruí também fizeram parte das demandas apresentadas pelas lideranças dos 10 povos indígenas.

    5-     Uma das denúncias apresentadas pelas lideranças indígenas no período foi que o Projeto Carbono Suruí tem potencializado sobremaneira a divisão e o conflito interno entre os Suruí. Isso porque, segundo as lideranças em questão, o “Projeto” estaria enriquecendo um pequeno grupo de indígenas que, na sua maioria, vivem no meio urbano, fora da terra indígena, além de muitos consultores não indígenas de organizações não governamentais e deixando o povo abandonado. Portanto, diferentemente do que o presidente da Rede GTA sugere, as informações divulgadas pelo Cimi não geraram, mas explicitaram um conflito já instalado e fortalecido pelo Projeto Carbono Suruí.

    6-     Defendemos o direito dos povos ao usufruto exclusivo de seus territórios e os apoiamos nas ações que realizam para combater a invasão, a mercantilização e exploração dos mesmos por grupos não indígenas, sejam eles quais forem.

    7-     Repudiamos a tentativa, por parte do presidente da Rede GTA, de associar o Cimi a práticas ilegais, como a exploração madeireira em terras indígenas. Trata-se de uma iniciativa repugnante. Os povos indígenas e a sociedade brasileira sabem do empenho do Cimi e de seus agentes nas denúncias realizadas contra a prática da invasão possessória, inclusive a exploração madeireira, como uma das faces mais visíveis da estratégia anti-indígena em curso no país. O jornal Porantim é um dos instrumentos recorrentemente usados neste sentido.

    8-     Embora as terras indígenas sejam as áreas melhor protegidas ambientalmente, como apontam pesquisas recentes, a avareza dos madeireiros associada à omissão do governo brasileiro fez com que a exploração madeireira em terras indígenas se expandisse em 2014. Sempre defendemos que essa prática deva ser combatida pelos órgãos responsáveis e que os envolvidos sejam devida e legalmente responsabilizados.

    9-     Entendemos que o mecanismo de Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação florestal, mais conhecido pela sua sigla Redd, é também um mecanismo de invasão e exploração dos territórios indígenas. Isso porque, como consta no próprio site da Rede GTA “já existem casos documentados de que a busca pelo lucro com os créditos de carbono, que são gerados pelos projetos de Redd +, acabam resultando em conflitos e na expulsão de pessoas de suas terras”. Entendemos e respeitamos a opção política dos povos que estabelecem, por meio de seus mecanismos e relações próprias de poder, contratos dessa natureza. No entanto, como entidade indigenista, consideramos legítima a possibilidade de manifestarmos posição política institucional sobre o tema, bem como, abrirmos espaços em nossos veículos de comunicação a fim de que a questão seja abordada e problematizada e que perspectivas críticas sejam conhecidas e socializadas pelos povos.

    10- Consideramos legítimos os diferentes posicionamentos existentes relativamente ao tema entre organizações da sociedade brasileira e é um direito de todos manifestar e defender essas posições sejam elas contrárias ou favoráveis à Economia “Verde” e mecanismos como o Redd. Porém, esconder posições político-ideológicas atrás de acusações fajutas a quem tem entendimento divergente é irresponsabilidade e covardia.

    11- É lastimável e vergonhosa a manifestação do presidente da Rede GTA que se refere a “um grupo de indígenas que possivelmente não tem total consciência de suas ações”. Trata-se de uma afirmação preconceituosa que desconhece o fato dos povos e lideranças indígenas serem plenamente capazes. A plena capacidade dos povos indígenas foi devidamente reconhecida pela Constituição Brasileira de 1988.

    12- Por último, denunciamos e desautorizamos o uso indevido que a Rede GTA tem feito do nome do Conselho Indigenista Missionário na lista de parceiros em seu site institucional.

     

    Conselho Indigenista Missionário (Cimi), 10 de março de 2015

    Leia também: Lideranças Suruí afirmam ao presidente da Funai que não querem mais o projeto de carbono em suas terras

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  • 09/03/2015

    Lava Jato: 16 ruralistas aparecem em lista de envolvidos no esquema de desvios da Petrobras

    Parlamentares da bancada ruralista serão investigados por uma força tarefa de 30 procuradores do Ministério Público Federal (MPF), depois de autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, relator dos inquéritos, acusados de envolvimento com um esquema de desvios na Petrobras, que pode chegar a R$ 10 bilhões, desarticulado pela Operação Lava Jato. Os indícios avalizados por Zavascki apontam que os envolvidos tenham participado de pagamento de propina e lavagem de dinheiro. O esquema, portanto, possui elos contundentes contra os investigados no entendimento do ministro do STF, corroborando com a conclusão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. 

    Serão 47 investigados, sendo ao menos 16 ruralistas, entre deputados federais, ex-deputados e senadores. Puxa a lista o ex-presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), Luiz Carlos Heinze (PP-RS). Em seguida vem Jerônimo Goergen (PP-RS), Vilson Covatti (PP-RS, atualmente sem mandato), Carlos Magno (PP-RO, atualmente sem mandato), Pedro Henry (PP-MT, atualmente sem mandato), José Otávio Germano (PP-RS), Dilceu Sperafico (PP-PR), Nelson Meurer (PP-PR), Ciro Nogueira (PP-PI), Aline Corrêa (PP-SP), Waldir Maranhão (PP-MA), Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Arthur Lira (PP-AL), Vander Loubet (PT-MS), Afonso Hamm (PP-RS) e o senador Valdir Raupp (PMDB-RO).

    Os parlamentares investigados compõem a FPA, veja lista aqui. A maioria é filiada ao PP. O Time Agro, diretamente atrelado ao escândalo de corrupção na Petrobras, é o mesmo que briga para transferir do Executivo para o Legislativo a demarcação de terras indígenas e quilombolas com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215. Um dos principais líderes desta que é a maior bancada do Congresso Nacional, desde a atual legislatura, Luiz Carlos Heinze incentivou a violência contra indígenas, afirmando que eles ao lado de negros e gays “são tudo o que não presta”. O episódio se deu no final de 2013, durante uma audiência pública no município de Vicente Dutra (RS) – assista aqui. Junto com Heinze, estava o parlamentar ruralista Alceu Moreira (PMDB-RS).

    A frente ruralista se reúne durante almoços semanais em uma mansão custeada por empresas do agronegócio, na Capital Federal – leia aqui. Páginas nas redes sociais mantidas pela FPA divulgam a pauta do encontro sob a alcunha de “no cardápio de hoje”; as terras indígenas e quilombolas costumam aparecer como o prato principal. Com a divulgação da lista de políticos ruralistas importantes envolvidos no esquema de desvios, o que se espera é que estes almoços não acabem em pizza.

    Fundamentalmente ruralista

    Marcou presença na lista, como já havia sido anunciado com antecedência, o presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Evangélico de linha fundamentalista, Cunha passou a fazer parte da FPA alguns dias depois de eleito presidente pelos pares, numa disputa acirrada com o petista Arlindo Chinaglia (PT-SP). Logo que passou a fazer parte da frente ruralista, o presidente da Câmara reabriu a Comissão Especial da PEC 215, atendendo a demanda protocolada na Mesa Diretora pelos líderes do novo clube de Cunha. 

    Barrageiros e mineradores   

    Outros políticos e parlamentares anti-indígenas também configuram na lista de investigados. O senador Romero Jucá (PMDB-RR), que há décadas busca abrir as terras indígenas para a mineração, e o ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão, atualmente senador pelo PMDB do Maranhão, responsável por uma avalanche de grandes empreendimentos em terras tradicionais sem consultar os povos que nelas vivem, se destacam. O PT teve alguns de seus parlamentares que cumprem o papel de força auxiliar do agronegócio, além de apoiar mineração e grandes empreendimentos em terras indígenas, presentes na lista.

    O deputado federal Cândido Vacarezza (PT-SP), autor, ao lado de uma advogada da multinacional Monsanto, do Projeto de Lei que liberou a utilização das sementes Terminator, chamadas também de suicidas, que não se reproduzem e obrigam o agricultor a ficar refém da Monsanto, será investidado. Além dele, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) também terá de se explicar às autoridades. A parlamentar era ministra da Casa Civil quando tentou mudar a legislação de demarcação das terras indígenas, paralisando os procedimentos em curso com base em slides da Embrapa. Chegou a dizer que os Avá-Guarani, povo do oeste do Paraná, não são índios, mas paraguaios.  

    Atualizado em 10 de março, às 17h30

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  • 04/03/2015

    O Bolo da Saúde Indígena e o Insi

    O grupo de trabalho encarregado de fazer a reforma da Saúde Indígena após a mobilização indígena que enfrentou os desmandos da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), culminando no seu banimento da gestão deste subsistema do SUS, iniciou os seus trabalhos em 2009. O que deveria ser um grande mutirão de reconstrução das propostas originais do modelo proposto na segunda Conferência de Saúde Indígena de 1993 revelou-se o mais absurdo retrocesso, para perplexidade de todos os que participaram na difícil luta pela criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).

    A receita inicial para toda esta confusão é muito simples: começa pela indicação de pessoas sem nenhum compromisso, conhecimento ou experiência prévia na saúde indígena, mas cheias de oportunismo político e apetite para administrar a coisa pública e seus polpudos orçamentos. Os conluios com grupos políticos corruptos e influentes nas altas esferas do governo são o fermento para fazer a massa levedar. Acrescente a isto grandes doses de autoritarismo, clientelismo e manipulação, e o bolo estará pronto para ser servido.

    Nos seis anos de atuação do grupo que atualmente controla a Sesai, a situação piorou ao ponto de muitas lideranças indígenas desejarem o retorno da Funai ou da Funasa à coordenação da saúde indígena. As estratégias de marketing e de protelação, no entanto, têm se mostrado eficazes para garantir a sobrevivência deste pequeno grupo nas disputas internas do atual governo. Assim pode ser entendida a proposta de criação do Instituto Nacional de Saúde Indígena (Insi), o instituto privado de Saúde Indígena proposto pela Sesai e assumido pelo governo.

    Nada vai melhorar, muito antes pelo contrário, mas vai se ganhando tempo e novos argumentos para enganar aqueles que se deixam ser enganados. Infelizmente estas artimanhas funcionam no atual governo, e podemos prever a provável continuidade deste modelo pelos próximos quatro anos. Nada de reforma na política de recursos humanos, nada de transparência administrativa, o fim de qualquer pretensa autonomia nos distritos e, por último, porém importante, nenhum controle social ou externo para incomodar.

    Boa Vista – RR
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  • 03/03/2015

    Encarte pedagógico 2: Pluralidade cultural e relações étnico-raciais

    Encarte pedagógico, voltado a professores e professoras, que acompanhou a edição 373 do jornal Porantim.

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  • 03/03/2015

    Porantim 373: 515 anos de resistência

    Apesar da realidade marcada por severos massacres, violações e discriminação, os povos indígenas da Bahia resistem, em defesa de seus modos de vida coletivos, suas espiritualidades, territórios e um projeto de país que abarque a sua pluralidade.

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  • 02/03/2015

    Na contramão dos direitos indígenas, Cunha recria Comissão Especial da PEC 215

    Na quarta-feira (25), mesmo dia em que lideranças indígenas e deputados da Frente Ambientalista discutiam estratégias contra a retomada da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215/2000, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recriou a Comissão Especial de análise da proposta, que transfere do Poder Executivo para o Congresso Nacional a prerrogativa de demarcar Terras Indígenas, Unidades de Conservação e Territórios Quilombolas.

    Agora, os partidos precisam indicar seus representantes para compor a comissão, que será composta de 26 membros titulares, respectivos suplentes e mais o Relator – função ocupada no último exercício por Osmar Serraglio (PMDB PR), que deve elaborar parecer sobre a Proposta, a ser apreciado pelo Plenário da Câmara.

    Com o Congresso Nacional dominado pela bancada ruralista, o novo relatório não deve divergir do apresentado ano passado por Serraglio, que propunha ampla gama de exceções ao direito de posse e usufruto das terras por parte dos povos indígenas, inviabilizava novas demarcações e legalizava a invasão, a posse e a exploração das terras indígenas demarcadas.

    Graças à constante mobilização indígena junto ao Congresso, o parecer não foi votado em 2014 e a PEC acabou arquivada. No entanto, Eduardo Cunha – eleito para a presidência da Câmara 24 horas depois de ingressar na bancada ruralista, não demorou a fazer jus ao “compromisso com as bandeiras da bancada ruralista” e autorizou, logo na primeira semana de atividades do Congresso, o desarquivamento da PEC, instituindo a Comissão Especial 20 dias depois.

    A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) alertou sobre as negociações em torno de algumas candidaturas à Presidência da Câmara, que acabaram elegendo Cunha. “Converter direitos constitucionais, historicamente conquistados pelo povo brasileiro, em objeto de barganha política é inadmissível por afrontar o Estado Democrático de Direito, rebaixando a relevante função de representação parlamentar e beneficiando interesses particulares em detrimento de direitos de grupos vulneráveis e do interesse público, com graves impactos a toda a sociedade brasileira”.

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  • 02/03/2015

    CTNBio deve aprovar no próximo dia 5 de março mais sementes modificadas

    O Brasil já é líder, junto com os EUA, no uso de agrotóxicos e sementes transgênicas que precisam de mais agrotóxico. Nossa soberania agrícola está nas mãos de seis empresas que, se amanhã resolverem não vender mais sementes, comprometem todo o sistema agrícola nacional.

    Como se não bastasse, no próximo dia 5 de março, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) irá "votar" a liberação de três novas variedades de plantas transgênicas no Brasil: milho resistente ao 2,4-D e haloxifape, e o eucalipto transgênico. "Votar" é um eufemismo para não dizer diretamente que vão aprovar, já que, como é amplamente sabido, são pouquíssimas as vozes dissonantes dentro da comissão.

    Uma delas é a de Rubens Nodari, professor titular da UFSC, agrônomo e doutor em genética vegetal. Ele pediu vistas ao processo do milho transgênico resistente ao 2,4-D e ao haloxifope, ambos extremamente tóxicos. O 2,4-D, não custa lembrar, é um dos ingredientes do Agente Laranja, usado pelos EUA na guerra do Vietnã. Nodari argumenta que faltam no processo estudos básicos, inclusive alguns exigidos por lei. O relator do processo, Jesus Aparecido Ferro, elaborou um parecer consolidado sobre pareceres parciais que não existem, descumprindo a própria regra da CTNBio.

    Outro ponto curioso é o Ministério Público Federal pediu que o agrotóxico 2,4-D fosse reavaliado. Se ele for suspenso, como ficam as pobres sementes "desprotegidas"? Argumentos para banir o 2,4-D não faltam.

    Se fosse possível fazer um ranking, o caso do eucalipto seria ainda mais lunático, dada a crise hídrica que o país atravessa. A planta que normalmente já consome 30 litros de água por dia, e já provoca seca no norte do ES e sul da BA, vai crescer mais rápido e utilizar mais água. Além, é claro, de muito agrotóxico. Segundo Paulo Yoshio Kageyama, professor titular da USP, agrônomo e doutor em genética, o processo desse pedido não apresenta condições mínimas exigidas de análise de biossegurança para sua aprovação. Os problemas de impactos sobre o meio ambiente (água, biodiversidade, solos) e saúde humana (mel, pólen) são mais agravados ou são desconhecidos em relação às culturas agrícolas já aprovadas. Kageyama afirma que em relação aos impactos na água, a redução da rotação para 4/5 anos geraria um impacto nas microbacias nessas plantações, que agravaria drasticamente a atual crise hídrica.

    Sobre os impactos no mel, ele afirma o potencial impacto na fauna de polinizadores (nativos e exóticos) também não foi devidamente estudado, levando em conta que o próprio estudo da empresa demonstra que o pólen do transgênico possui uma concentração muito maior do efeito da transgenia do que outros tecidos da planta, o que pode levar ao colapso das colmeias.

    Leia aqui o parecer completo de Kageyama sobre o eucalipto, e outro de Leonardo Melgarejo sobre o 2,4-D.

    Diga você também à CTNBio: Não queremos mais transgênicos! 
    Envie sua foto ou mensagem para ctnbio@mct.gov.br e secretariactnbio@mcti.gov.br,
    e poste com a hashtag #NaoQueremosMaisTransgenicos no 
    Facebook da Campanha

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  • 02/03/2015

    Oswaldo Sevá, um rio que correu para o infinito

    À meia noite deste sábado perdemos o amigo Oswaldo Sevá, um dos mais ferrenhos defensores dos nossos rios e um dos mais contumazes críticos das usinas que os estão destruindo.

    Sevá foi um rio caudaloso que buliu com tudo e todos que estiveram a sua volta. Lutou com ferocidade e ciência contra Belo Monte e seus realizadores, ao mesmo tempo em que foi infinitamente solidário e gentil com a gente que sofre com seus impactos. Foi um grande acadêmico e um ser humano ainda mais grandioso e generoso para com seus amigos. Foi superlativo e intenso em todos os momentos de sua vida.

    Com o saudoso Glenn Switkes, que nos deixou em 2009, Sevá produziu Tenotã-Mõ, a mais importante obra sobre Belo Monte. E em 2008 esteve com o amigo e os povos do Xingu no grande encontro que deu origem ao Movimento Xingu Vivo para Sempre em Altamira. Sevá sempre foi essencial.

    É com grande pesar que sofremos a perda de mais um amigo, mas é com enorme gratidão que lembraremos sua presença em nossas vidas e de seu trabalho em favor do Xingu e sua gente.

    O espírito de Sevá continuará correndo livre nas águas do rio, agora e sempre.

     

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  • 02/03/2015

    Projeto de Lei para regulamentar exploração de recursos genéticos e conhecimentos tradicionais gera carta de repúdio

    Carta Circular Aberta

    Brasília, 27 de fevereiro de 2015.

    Povos indígenas, povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares repudiam projeto de lei que vende e destrói a biodiversidade nacional

    Os Povos Indígenas, Povos e Comunidades Tradicionais e os Agricultores Familiares do Brasil, representados por suas entidades e organizações parceiras abaixo assinadas, vêm expor o seu posicionamento sobre o Projeto de Lei n.º 7.735/2014 (atual PLC n.º 02/2015), que pretende regulamentar o acesso e a exploração econômica da biodiversidade e da agrobiodiversidade brasileiras, bem como dos conhecimentos tradicionais associados.

    De início, registramos que os Povos e Comunidades acima mencionados estão plenamente cientes da atual ofensiva verificada no Brasil contra seus direitos fundamentais, garantidos pela Constituição Federal, pela legislação ordinária e por Tratados Internacionais ratificados pelo Brasil, contexto no qual se insere o PL n.º 7.735/2014, apresentado ao Congresso Nacional pelo governo federal em regime de urgência. Em razão desse cenário, que ameaça a própria existência dos Povos e Comunidades Tradicionais, informamos que as entidades representativas encontram-se unidas e mobilizadas com a determinação de lutar conjuntamente na defesa de seus direitos historicamente conquistados, os quais constituem a base da soberania e democracia constitucional do País.

    Especificamente em relação ao PL n.º 7.735/2014, que pretende anular e restringir nossos direitos, repudiamos a decisão deliberada do Poder Executivo de nos excluir do processo de sua elaboração, sem qualquer debate ou consulta, em violação à Convenção n.º 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), à Convenção da Diversidade Biológica (CDB), ao Tratado Internacional dos Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e Agricultura/FAO (TIRFAA) e à Constituição Federal. Em contraste a isso, denunciamos o amplo favorecimento dos setores farmacêutico, de cosméticos e do agronegócio (principalmente sementeiros), a ponto de ameaçar a biodiversidade, os conhecimentos tradicionais associados e programas estruturantes para a segurança e soberania alimentares, a exemplo do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), com a possibilidade inclusive de legalização da biopirataria.

    Tal cenário, reconhecido pelo próprio Governo, resultou em grave desequilíbrio no conteúdo do Projeto de Lei em questão. Além de anistiar as irregularidades e violações históricas e excluir qualquer fiscalização do Poder Público sobre as atividades de acesso e exploração econômica, o PL n.º 7.735/2014 viola direitos já consagrados na legislação brasileira, o que pode ser claramente verificado nos seguintes pontos principais:

    1)       Em relação ao acesso ao patrimônio genético e aos conhecimentos tradicionais:

    a)       Deixa de prever e inviabiliza a negativa de consentimento prévio dos povos e comunidades tradicionais;

    b)      Flexibiliza a comprovação do consentimento livre, prévio e informado, em detrimento da proteção de conhecimentos coletivos;

    c)       Dispensa o consentimento livre, prévio e informado, para o acesso ao patrimônio genético e conhecimento tradicional associado relacionado à alimentação e agricultura; e

    d)      Permite que empresas nacionais e internacionais acessem e explorem, sem controle e fiscalização, o patrimônio genético brasileiro e os conhecimentos tradicionais associados, permitindo, por exemplo, o acesso de empresas estrangeiras a bancos de sementes.

    2)       No que tange à repartição de benefícios:

    a)       Prevê que apenas produtos acabados serão objeto de repartição de benefícios, excluindo os produtos intermediários;

    b)      Restringe a repartição de benefícios aos casos em que o patrimônio genético ou conhecimento tradicional for qualificado como elemento principal de agregação de valor ao produto;

    c)       Isenta de repartição de benefícios todos os inúmeros casos de acessos realizados anteriormente ao ano de 2000, e mantém explorações econômicas até hoje;

    d)      Condiciona a repartição de benefícios apenas aos produtos previstos em Lista de Classificação a ser elaborada em ato conjunto por seis Ministérios;

    e)       Estabelece teto, ao invés de base, para o valor a ser pago a título de repartição de benefícios;

    f)        Deixa a critério exclusivo das empresas nacionais e internacionais a escolha da modalidade de repartição de benefícios nos casos de acesso ao patrimônio genético ou conhecimento tradicional de origem não identificável;

    g)      Isenta microempresas, empresas de pequeno porte e micro empreendedores individuais de repartir benefícios; e

    h)       Exclui de repartição de benefícios a exploração econômica do patrimônio genético e do conhecimento tradicional associado relacionado à alimentação e agricultura.

    3)       No que se refere às definições:

    a)       Substitui o termo “povos” por “população” ao tratar de povos indígenas;

    b)      Substitui o termo “agricultor familiar” por “agricultor tradicional”, em afronta à Lei 11.326/2006;

    c)       Descaracteriza a definição de “sementes crioulas” contida na Lei n.º 10.711/2003;

    d)      Deixa de prever que o atestado de regularidade de acesso seja prévio e com debates participativos sobre seus termos ao início das atividades; e

    e)       Enfim, adotou conceitos à revelia dos detentores dos conhecimentos tradicionais.

    Diante do exposto, os Povos Indígenas, os Povos e Comunidades Tradicionais e os Agricultores Familiares do Brasil exigem o comprometimento do Governo Federal com a reversão do cenário acima denunciado, mediante a correção dos graves equívocos contidos no Projeto de Lei n.º 7.735/2014, de forma a assegurar o respeito e a efetivação dos seus direitos legal e constitucionalmente garantidos.

    Declaramos que não mais admitiremos a postura antidemocrática e o engajamento político do Governo Federal, associado aos interesses empresariais e outros, em direção à expropriação da biodiversidade e da agrobiodiversidade brasileiras e dos conhecimentos tradicionais associados.

    Reafirmamos, por fim, a nossa determinação de continuar unidos, mobilizados e dispostos a manter-nos em permanente luta na defesa de justiça e de nossos direitos.

    Assinam a presente carta:

    1. Amigos da Terra Brasil

    2. Articulação do Semiárido – ASA Brasil

    3. Articulação do Seminário – ASA Paraíba

    4. Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo – APOINME

    5. Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB

    6. Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste – ARPINSUDESTE

    7. Articulação dos Povos Indígenas do Sul – ARPINSUL

    8. Articulação Nacional de Agroecologia – ANA

    9. Articulação Pacari

    10. Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses

    11. Articulação Rosalino de Povos e Comunidades Tradicionais do Norte de Minas

    12. AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia

    13. Associação Agroecológica TIJUPÁ

    14. Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica

    15. Associação Brasileira de Agroecologia

    16. Associação Brasileira de Estudantes de Engenharia Florestal – ABEEF

    17. Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO

    18. Associação Cedro – Centro de Estudos e Discussões Romani

    19. Associação das Mulheres Organizadas do Vale do Jequitinhonha

    20. Associação das Panhadoras de Flores

    21. Associação de Agricultura Biodinâmica do Sul

    22. Associação de Comunidades da Diáspora Africana por Direito à Alimentação – Rede Kodya

    23. Associação de Mulheres Catadoras de Mangabas

    24. Associação dos Agricultores Guardiões da Agrobiodiversidade de Tenente Portela – AGABIO

    25. Associação dos Retireiros do Araguaia – ARA

    26. Associação dos Trabalhadores Assalariados Rurais de Minas Gerais – ADERE/MG

    27. Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural – AGAPAN

    28. Associação Nacional Ciganas Calins

    29. Associação Nacional da Agricultura Camponesa

    30. Associação Nacional da Cultura Bantu – ACBANTU

    31. Associação para a Pequena Agricultura no Tocantins – APA-TO

    32. Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia – AOPA;

    33. Bionatur

    34. Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida

    35. Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas – CAA-NM

    36. Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA)

    37. Centro Ecológico

    38. Comissão Guarany Ivyrupa

    39. Comitê Chico Mendes (CCN)

    40. Conselho do Povo Terena

    41. Conselho dos Povos Indígenas de Mato Grosso do Sul

    42. Conselho Indigenista Missionário – CIMI

    43. Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS

    44. Cooperativa Coppabacs – AL

    45. Cooperativa Grande Sertão

    46. Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB

    47. Coordenação Nacional Quilombola – CONAQ

    48. Entidade Nacional dos Estudantes de Biologia

    49. FASE – Solidariedade e Educação

    50. Fórum Brasileiro de Segurança e Soberania Alimentar e Nutricional

    51. Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social

    52. Fórum Nacional de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos

    53. Grande Assembleia do Povo Guarani – Aty Guasu

    54. Grupo Carta de Belém

    55. Grupo de Trabalho Amazônico – GTA

    56. Grupo de Trabalho Biodiversidade / ANA

    57. Ingá/RS

    58. Instituto Socioambiental – ISA

    59. Levante Popular da Juventude

    60. Memorial Chico Mendes

    61. Movimento das Aprendizes da Sabedoria (Benzedores e Benzedeiras, Parteiras, e Costureiras de Rendidura)

    62. Movimento de Mulheres Camponesas – MMC

    63. Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais – MPP

    64. Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA

    65. Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais do Paraná – MOPEAR

    66. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST

    67. Movimento Geraizero

    68. Movimento Urbano de Agroecologia – MUDA

    69. Núcleo Amigos da Terra Brasil

    70. Núcleo de Cultura e Extensão – PTECA/ESALQ-USP

    71. Rede de Agrobiodiversidade do Semiárido Mineiro

    72. Rede de Comunidades Tradicionais Pantaneiras

    73. Rede Eco Vida de Agroecologia

    74. Rede Puxirão de Povos e Comunidades Tradicionais

    75. Sociedade Civil da Comissão Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais – CNPCT

    76. Terra de Direitos

    77. Via Campesina

    78. Via Campesina Sudamerica

    79. WWF Brasil

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  • 27/02/2015

    Indígenas de Rondônia pedem ao STF: “respeitem nossos direitos à terra tradicional”

    “Se perdermos a nossa terra, onde vamos morar? Nós, índios, não temos o costume de morar embaixo da ponte. Nós moramos em florestas. Este é um grito de socorro. O marco temporal é, praticamente, uma declaração de guerra entre índios e não índios. Se continuar, nós vamos lutar”. Esse foi o principal recado da delegação, com cerca de 40 indígenas de Rondônia e Mato Grosso, que está em Brasília desde o último final de semana, em visita ao Supremo Tribunal Federal (STF) na tarde desta quinta-feira, acompanhados por representantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

     

    As últimas decisões da 2ª Turma, que ferem os direitos conquistados pelos povos indígenas e representam um grave retrocesso, foram as principais pautas do documento entregue pelas lideranças para cada um dos dez ministros. No documento, os indígenas explicam os principais pontos de desconformidade com as comunidades, as últimas decisões do STF e as manobras que a bancada ruralista vem conseguindo traçar junto ao Congresso. Além disso, a entrega deste posicionamento representa uma última tentativa de diálogo entre indígenas e não indígenas.

     

    As lideranças pedem, também, que o Judiciário compreenda e ouça o que as comunidades indígenas têm a dizer, ou seja, que levem em consideração o que as decisões do próprio órgão e as ações que tramitam no Legislativo podem causar de impacto sobre os povos. “Pedimos que respeitem a Constituição, que façam valer o que diz a Carta Magna e cobrem do Executivo que cumpra o que está na Lei, que impeçam que os parlamentares legislem em causa própria e que o Judiciário anule as decisões da 2ª Turma, por serem arbitrárias”, defendeu Antônio Puruborá que, junto com Hosana Puruborá e Joaton Suruí, levou o recado dos povos indígenas do Brasil aos gabinetes dos ministros.

     

    A situação das florestas, o desmatamento, a poluição dos rios por meio de agrotóxicos e as explorações desenfreadas também foram temas abordados durante as visitas. “Vocês discutem a preservação das florestas, mas mudam as leis para os fazendeiros invadirem nossas terras e derrubar as florestas. De que maneira vocês cuidam das florestas?”, questionou Hosana. Ela também lembrou que a ação dos não índios está prejudicando a sobrevivência do homem e de suas futuras gerações e alertou para a situação de falta de água que já é uma realidade na região sudeste do país.

     

    “Quem está dando o último grito de socorro são os índios”, afirmou Joaton. Ele também lembrou que os indígenas estão abertos ao diálogo, tentando resolver de forma pacífica e querendo mostrar o lado das comunidades, mas, ao mesmo tempo, não são mais ingênuos. “Nesses anos todos nós também aprendemos com vocês e estamos preparados para uma guerra. O espírito indígena é forte e vai resistir”, concluiu.

     

    Participaram do ato lideranças indígenas dos povos Suruí, Cinta Larga, Arara, Puruborá, Wajonô, Karitiana, Guarassungue, Oro Waram, Oro Mon, Oro Nao, Oro Waram Xiyein, Mamaidê, Cujubim, Cassupá e Gavião dos estados de Rondônia e Mato Grosso. Todos os gabinetes receberam o documento, incluindo os ministros da 2ª Turma: Teori Zavaski, Gilmar Mendes, Cármem Lúcia, e Celso de Mello.

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