• 24/06/2015

    Munduruku leva batalha épica por direitos indígenas às Nações Unidas

    Genebra, Suíça – Num evento paralelo à 29ª Reunião do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, que aconteceu na tarde desta quarta, 24, o líder indígena Ademir Kaba Munduruku denunciou o agravamento de abusos de direitos indígenas pelo governo brasileiro na sua corrida para construir uma quantidade sem precedentes de hidrelétricas na Amazônia. Grande parte de sua crítica teve como enfoque as repetidas violações dos direitos dos povos indígenas a processos de consulta e consentimento livre, prévio e informado sobre barragens que teriam consequências devastadoras para seus territórios e meios de vida.

    Ademir também condenou a recusa do governo brasileiro de demarcar um território Munduruku conhecido como Sawre Muybu, que sofreria inundações pela mega-barragem São Luiz do Tapajós. As exigências do líder Munduruku foram reforçadas por uma sentença da JustiçaFederal emitida na semana passada que ordena a administração da presidente Dilma Rousseff a abster-se de emitir uma licença ambiental para o empreendimento na ausência de consulta prévia com os povos indígenas e outras comunidades ameaçadas.

    Em seu depoimento, Ademir Kaba destacou a determinação do povo Munduruku em defender incondicionalmente seus direitos e meios de vida frente às ameaças de barragens. Comunidade indígena mais numerosa na bacia do rio Tapajós, os Munduruku têm organizado uma série de protestos de alta visibilidade contra abusos de seus direitos pelo governo, incluindo uma ocupação da polêmica hidrelétrica de Belo Monte em 2013.

    Em janeiro de 2015, os Munduruku entregaram ao governo federal um protocolo descrevendo como deve ser realizado um processo culturalmente apropriado de consulta prévia, tal como consagrado pela Constituição Brasileira e pela Convenção 169 da OIT.

    “Nós viemos para as Nações Unidas para enfatizar a obrigação do nosso governo de cumprir com a Convenção 169 da OIT, um acordo respeitado por muitos países que nunca foi colocado em prática no Brasil”, afirmou Ademir Kaba. “Exigimos um diálogo sincero e transparente sobre estes projetos de barragens, sem mentiras e enganos. Esta consulta deve respeitar o nosso direito de decidir e nosso poder de vetar projetos que impactam territórios indígenas e ribeirinhos”.

    O evento realizado hoje em Genebra, intitulado “Barragens e Consulta Indígena: propostas concretas para deter violações de direitos na Amazônia brasileira” também contou com a presença do procurador da República Felício Pontes Jr., do Ministério Público Federal no Estado do Pará. Pontes criticou tanto a falta de consultas prévia como a utilização de um mecanismo jurídico conhecido como “Suspensão de Segurança” que permite aos presidentes de tribunais, a pedido do governo, suspender indefinidamente decisões judiciais em favor dos direitos dos povos indígenas, com base em alegações de supostas ameaças à segurança nacional.

    “Estamos demonstrando que o MPF não está negligenciando a defesa dos povos indígenas da Amazônia”, afirmou Felício Pontes. “As dezenas de ações que temos ajuizado demonstram que o governo brasileiro está violando os direitos indígenas, inclusive através do uso indiscriminado de um instrumento jurídico da época da ditadura militar, chamado Suspensão de Segurança.”.

    Na decisão que proíbe a concessão de licenças ambientais para a barragem de São Luiz do Tapajós até que os povos indígenas sejam consultados, o Juiz Federal Ilan Presser afirmou: “Não se pode ignorar a assertiva de que a vontade da Convenção 169 da OIT, e do artigo 231 da Constituição é de, a partir do exercício do direito de consulta, seja permitida a preservação e fomento do multiculturalismo; e não a produção de um assimilacionismo e integracionismo, de matriz colonialista, impostos pela vontade da cultura dominante em detrimento dos modos de criar, fazer e viver dos povos indígenas, que corre o grave risco de culminar em um etnocídio”.

    Bianca Jagger, defensora de longa data dos direitos dos povos indígenas da Amazônia, e fundadora e presidente da Fundação Bianca Jagger de Direitos Humanos, encerrou o evento de hoje em Genebra, afirmando: “Estou aqui hoje para apoiar o povo Munduruku, representado por Ademir Kaba, e as outras comunidades amazônicas. Conclamo o governo da presidente Dilma Rousseff a cumprir com as obrigações do Brasil no âmbito da Convenção 169 da OIT e da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, garantindo processos de consulta e consentimento livre, prévio e informado entre todos os povos indígenas e comunidades tradicionais, cujos meios de vida e culturas seriam irreparavelmente afetados por esses empreendimentos”.

    Antes do evento de hoje, uma coalizão de entidades civis brasileiras e internacionais, incluindo France Libertés (Fondation Danielle Mitterrand), apresentou uma declaração à Assembleia Geral da ONU, solicitando ao governo brasileiro o respeito pelos direitos indígenas e garantias da independência do judiciário. A declaração detalha a ausência de consulta prévia no caso de Belo Monte e barragens na bacia do Tapajós, em contraste com as determinações da Constituição Federal e a Convenção 169 da OIT, enquanto a Suspensão de Segurança tem permitido que as obras prossigam, apesar destas violações.

    Read More
  • 24/06/2015

    URGENTE! Fazendeiros atacam a tiros acampamento Guarani e Kaiowá de Kurusu Ambá

    Fazendeiros atacaram a tiros na manhã e tarde desta quarta-feira, 24, a comunidade Guarani e Kaiowá do tekoha Kurusu Ambá, que está acampada desde a madrugada desta segunda-feira, 22, em retomada de área tradicional. Nesta parte da terra indígena está instalada a fazenda Madama. Ainda não é possível afirmar se houve mortos e feridos, mas em contato telefônico com os indígenas foi possível ouvir tiros ao fundo.

    O ataque ocorreu porque a Polícia Federal não cumpriu o acordo intermediado pelo Ministério Público Federal (MPF), nesta segunda, e na manhã de hoje, 24, simplesmente não acompanhou os fazendeiros que para a Madama se dirigiram com o intuito de seguir com a retirada de pertences. Com isso, o proprietário da fazenda sentiu-se livre e impune para incitar os demais que o acompanhavam a juntos expulsarem os indígenas do local.

    Um agrupamento do Departamento de Operações de Fronteira, força policial do estado do Mato Grosso do Sul, presente no local elevada pelos fazendeiros, se retirou alegando que o conflito não era de sua atribuição, conforme informações passadas pelos indígenas, só restando uns poucos policiais civis que não tinham como dar conta da turba de fazendeiros.

    A informação repassada por indígenas no local do ataque é de que a comunidade acampada se dispersou pelos arredores. A preocupação maior é com as crianças e feridos, pois conforme os indígenas contatados existe a possibilidade inicial de dois Guarani e Kaiowá atingidos pelos tiros e uma criança perdida. Esses dados aguardam por posterior confirmação.

  • 24/06/2015

    Acampamento Bem Viver no Incra/MA se encerrou com vitórias e uma Teia fortalecida

    A ocupação à sede da Superintendência do Incra, em São Luís (MA), onde se estabeleceu o Acampamento Bem Viver, além da greve de fome sustentada por oito pessoas durante quase dez dias, se encerrou neste último final de semana com vitórias, conforme a avaliação dos integrantes do movimento. Cerca de 48 horas depois, a presidente Dilma Rousseff assinou dez decretos de regularização fundiária quilombola país afora, sendo dois no Maranhão – comunidades de Charco e Santa Rosa -, um acordo foi firmado com o Incra que prevê para o 2º semestre de 2017 a conclusão de 70 Relatórios Técnicos de Identificação e Delimitação e a Fundação Nacional do Índio (Funai), atendendo os Gamela, visitou a comunidade no início dessa semana para encaminhar as demandas reivindicadas pelo povo.

    Tanto o acampamento quanto a greve de fome foram puxadas pelo Movimento Quilombola do Maranhão (Moquibom). Todavia, com os quilombolas foram os indígenas Gamela, camponeses, extrativistas e apoiadores, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). A isso chamam de Teia, uma articulação iniciada há poucos meses, mas que começa a demonstrar o quanto a unidade de povos e comunidades do campo e das florestas pode fortalecer a luta. “Nas horas mais difíceis, de maior fome, dávamos as mãos e apoiávamos uns aos outros. Cara, tem camponês que precisa dar para o fazendeiro parte do que planta como pagamento. Mulheres quebradeiras de coco precisam pagar para o fazendeiro para trabalhar. Em terras que lhes pertencem! Esse foi o alimento desses dias”, diz o quilombola Nailton Braga, um dos que se manteve na greve de fome até o fim.

    Perdura, porém, um longo caminho para que estes povos e comunidades tenham seus direitos garantidos. São 329 processos de territórios quilombolas em curso no Incra-MA, simplesmente parados. Terras indígenas não demarcadas e invadidas, povos ressurgidos, assinaturas pendentes para a criação de reservas extrativistas, espoliação, violência, racismo. “Mas, veja, esse último processo de luta avançou na conquista de direitos e deixa um legado tão importante quanto. Quilombolas, indígenas, camponeses, comunidades tradicionais e extrativistas precisam estar juntos”, analisa Rosimeire Diniz, do Cimi Regional Maranhão. A missionária destaca que essa Teia ficou ainda maior depois do acampamento, com a chegada de novos apoiadores e grupos urbanos.

    Na próxima semana o Incra e as lideranças do acampamento deverão ter uma reunião com o Ministério Público Federal (MPF) para que o órgão estatal informe o cronograma de regularização das 70 terras quilombolas dentro do prazo acordado com os quilombolas. “Esta foi nossa segunda greve de fome. O descaso do governo brasileiro conosco é grande. Há tempos que a situação deveria ter sido resolvida, mas foi uma importante vitória. Parcial, né. Porque agora temos de garantir que o Incra cumpra com o prazo”, afirma o quilombola Nailton. Emocionado, ele lembra dos quilombolas assassinados na luta pela terra, caso de Flaviano Pinto Neto, morto em 2010 por pistoleiros. Neto vivia na comunidade de Charco, cujo decreto acaba de ser assinado pela presidente.

    “Eu não estava ali ou estou nessa luta só por mim. Pensava muito em Flaviano, que abriu esse caminho para a gente. Pensava muito em quem morreu sem ter a terra garantida. Penso ainda. Todo santo dia eu penso na minha gente”, declara Nailton. Morador da comunidade São Raimundo, quilombo Pau Pombo, município de Santa Helena, Nailton destaca que não fosse a ocupação, o acampamento e a greve de fome nenhuma conquista aconteceria. “Precisamos tomar uma postura radical e colocar nossas vidas em jogo. O governo brasileiro não tem nos oferecido alternativa. Por isso agradecemos a todos e todas que nos apoiaram. Recebemos mensagens até do México, então nossa luta teve uma repercussão muito boa”, encerra.  

     

     

    Read More
  • 23/06/2015

    Autoridades agem com rapidez e comunidade Guarani e Kaiowá garante permanência em retomada de Kurusu Ambá

    “Começaram a tirar as vacas e os pertences. Teve um acordo e vamos ficar na nossa retomada, na terra dos antepassados, o tekoha (lugar onde se é) Kurusu Ambá”, diz Tapé Rendi, assim identificado por razões de segurança, ao informar que os Guarani e Kaiowá garantiram nesta terça-feira, 23, a permanência na retomada localizada na sede da fazenda Madama. Como, da noite para o dia, uma retomada Guarani e Kaiowá, no cone sul do Mato Grosso do Sul, parte de mais um cenário de violência explícita contra os povos indígenas para, por enquanto, um lugar seguro aos seus verdadeiros donos, pode ser explicado por algo simples, mas raro: as autoridades agiram.

    Leia mais: Indígenas Guarani e Kaiowá retomam nova área de Kurusu Ambá e são atacados por pistoleiros

    Enquanto se espalhava a notícia de que capangas e pistoleiros cercavam o acampamento da retomada no tekoha Kurusu Ambá, atirando contra os barracos de lona, o procurador da República Ricardo Pael trabalhava de forma rápida para colocar em campo uma operação envolvendo a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) com o intuito de por terra e ar chegar ao local da retomada e evitar que mais uma tragédia ocorresse contra os Guarani e Kaiowá. Em Brasília, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal e a 6ª Câmara de Coordenação e Revisão da Procuradoria-Geral da República (PGR) garantiram apoio e respaldaram toda a articulação.

    No final da tarde, início da noite, o helicóptero da operação desceu na sede da fazenda Madama. Capangas armados fugiram e o fazendeiro foi obrigado a recuar. Ele explicou que estava ali, com todos aqueles homens, para retirar seus pertences do local. “O que não é verdade. Estavam ali para nos expulsar. Estavam atirando na gente. Nunca que a gente quis nada dele. Pode levar tudo, até os tijolos da casa. Retomamos a nossa terra, só isso”, afirma Tapé Rendi. Conforme informações obtidas com servidores da Funai, dezenas de cápsulas – aparentemente de fuzil – foram recolhidas na área.

    Na sequência, de acordo com relatos de indígenas ouvidos pela reportagem, o procurador Ricardo Pael passou a negociar uma saída para evitar ataques contra a comunidade indígena. “O fazendeiro foi embora e hoje (terça-feira, 23) todo mundo voltou para fechar o acordo. Vieram aqui e começaram a tirar tudo, vaca, tudo, tudo”, diz o Guarani e Kaiowá. O acordo, porém, está longe de garantir a posse definitiva do território aos indígenas de Kurusu Ambá. O proprietário pode entrar na Justiça pedindo reintegração de posse, por exemplo.         

    Integrante da Aty Guasu, organização do povo Guarani e Kaiowá, Otoniel Guarani e Kaiowá afirma que o próximo passo será o governo brasileiro “garantir o andamento da demarcação e que as lideranças dessa nova retomada de Kurusu Ambá entrem no Programa de Proteção (de Defensores de Direitos Humanos)”. Otoniel se diz surpreso com a rapidez das autoridades e que só assim uma situação de ameaça de morte iminente pôde se transformar numa saída pacífica. “Quando as autoridades agem rapidamente é possível evitar mortes, violências e sofrimento. Nada está totalmente resolvido. Sabemos que agora o governo precisa agir e concluir a demarcação”, explica o Guarani e Kaiowá ao analisar o caso.

    Read More
  • 23/06/2015

    O que o bispo do Xingu tem a ver com a Encíclica Verde do Papa Francisco?

    A encíclica sobre ecologia do Papa Francisco é um pronunciamento sem precedentes na história da Igreja Católica. Mais uma vez, o primeiro papa sul-americano faz a comunidade internacional ouvir palavras que pouco ou nenhum chefe de Estado têm coragem ou independência para pronunciar. Até mesmo entre os ambientalistas, atrelar meio ambiente e desigualdade social, tendo como pano de fundo uma postura anticapitalista, é algo reservado a poucas organizações do setor. O interessante é que o documento não partiu dos palácios do Vaticano. Francisco buscou em bispos de continentes marginalizados os apoiadores para a empreitada. Entre eles, um “austríaco moreno”, que escolheu a Amazônia como causa e moradia desde os anos 1960, além da questão indígena como pacto de vida, esteve entre os eleitos pelo papa para colaborar com a encíclica chamada de verde pela opinião pública mundial.

    Leia mais: Papa Francisco denuncia ataques contra os povos indígenas em encíclica sobre ecologia

    Bispo do Xingu, morador de Altamira (PA) e presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Dom Erwin Kräutler esteve com o papa, em audiência particular, no início de abril deste ano. Com o bispo, estava o padre Paulo Suess, assessor teológico do Cimi. Na ocasião, Dom Erwin alertou o papa sobre a destruição em curso da Floresta Amazônica e dos ataques sofridos pelos povos indígenas. “Disse a ele que os povos indígenas só irão sobreviver física e culturalmente se permanecerem no seu habitat tradicional que hoje é ameaçado pelos grandes projetos governamentais, pelas empresas mineradoras e madeireiras e pelo agronegócio”, conta Dom Erwin.

    Francisco, ao ouvir as palavras do bispo, confessou que estava preparando uma encíclica sobre ecologia e prontamente convidou Dom Erwin para colaborar. “O papa pediu-me então que colaborasse enviando alguma contribuição minha neste sentido o que, voltando ao Brasil, imediatamente fiz. Ao ler agora a Encíclica deparo-me com vários números do documento em que o papa levou em conta os nossos anseios e angústias”, explica o bispo do Xingu.

    No próximo mês de setembro, Dom Erwin encerra o seu segundo mandato consecutivo como presidente do Cimi e não poderá ser reeleito. Durante a Constituinte, entre 1987 e 1988, Dom Erwin era o presidente do Cimi. Na ocasião, sofreu um dos inúmeros atentados no decorrer de sua atuação no Xingu. Em defesa da Amazônia, chegou a ser preso e sua detenção arbitrária foi transmitida, em rede nacional, a todo o país. A história de Dom Erwin perpassa os últimos 55 anos de resistência popular, dos povos indígenas e comunidades tradicionais na Amazônia contra grandes empreendimentos e todo tipo de contravenção envolvendo grilagem de terras, crimes de pistolagem, mineração, retirada de madeira, exploração do trabalho escravo e sexual, desde o período da ditadura militar. Nesse meio tempo, Dom Erwin perdeu companheiros e companheiras de luta, como a Irmã Dorothy Stang.     

    Leia abaixo os principais trechos da entrevista com Dom Erwin sobre a Encíclica Verde do papa Francisco:    

     Por que o Papa Francisco decidiu elaborar uma encíclica sobre ecologia, algo sem precedentes na Igreja Católica? O que o senhor destaca no documento?

    Havia nas décadas passadas alguns pronunciamentos papais pontuais sobre temas de ecologia. O primeiro Papa que se referiu explicitamente à questão do meio ambiente foi Paulo VI, quando em 16 de novembro de 1970 dirigiu uma mensagem à FAO por ocasião de seu XXV aniversário: “O homem gastou milênios para aprender a submeter a natureza,a dominar a terra (…). Agora soou a hora de ele dominar o seu próprio domínio”.João Paulo II e Bento XVI insistiram na responsabilidade humana em relação ao meio ambiente. Cito o Papa João Paulo II em sua encíclica Sollicitudo Rei Socialis de 1987: “Usá-los (os recursos naturais) como se fossem inesgotáveis, com domínio absoluto, põe seriamente em perigo sua disponibilidade não só para a geração presente, mas, sobretudo, para as gerações futuras” (n. 34). O Papa Paulo VI escreveu sete, João Paulo II quatorze e Bento XVI três encíclicas. Os três redigiram outras numerosas mensagens aos bispos e fiéis da Igreja Católica e a "todas as pessoas de boa vontade", mas não dedicaram nenhum documento especial ao tema da ecologia. Assim estava na hora de a Igreja Católica manifestar-se oficialmente sobre esse assunto que diz respeito à humanidade toda para além de todas as fronteiras, também as confessionais. Escreve agora o Papa Francisco: Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós“ (LS 14).

    A imprensa internacional comenta, ironicamente, que o Papa deverá lançar o 11º mandamento: não poluirás. Também que ele atribui os problemas ambientais ao acúmulo de riquezas, à voracidade do Capital. Que impacto a encíclica causará na comunidade internacional e na própria Igreja?

    Não precisa de um outro mandamento. O quinto mandamento “Não matarás” já inclui o pecado contra o meio ambiente porque ao desrespeitarmos a criação que Deus nos deixou como lar, ao queimarmos e arrasarmos as florestas, ao envenenarmos o solo com agrotóxicos e pesticidas que deixam resíduos em nossos alimentos, ao poluirmos rios, mares e lagos, ao fazermos o ar quase irrespirável por causa de gases venenosos de fábricas e descargas, estamos comprometendo seriamente a vida em nosso planeta e a sobrevivência num ambiente sadio dos filhos e netos de nossa geração que parece comportar-se como se fosse a última. Neste sentido o papa nos fala com toda clareza: O meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade e responsabilidade de todos. Quem possui uma parte é apenas para a administrar em benefício de todos. Se não o fizermos, carregamos na consciência o peso de negar a existência aos outros. Por isso, os bispos da Nova Zelândia perguntavam-se que significado possa ter o mandamento ‘não matarás‘, quando ‘uns vinte por cento da população mundial consomem recursos numa medida tal que roubam às nações pobres, e às gerações futuras, aquilo de que necessitam para sobreviver‘“ (LS 95).

    É público o convite que o papa fez pessoalmente ao senhor, em visita ao Vaticano, para contribuir na elaboração da encíclica. Quais as contribuições feitas pelo senhor ao texto da encíclica?

    Considero um grande privilégio que o Papa Francisco me concedeu uma audiência particular no dia 4 de abril de 2014. Devo-o de certa maneira ao Cardeal Dom Claudio Hummes que é presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia de que sou secretário. Ele me incentivou a solicitar essa audiência nesta minha função e na qualidade de presidente do Cimi. Nos primeiros minutos da audiência também o Padre Paulo Suess, assessor teológico do Cimi, esteve presente e teve oportunidade de entregar ao papa o seu livro “Dicionário da Evangelii gaudium. 50 palavras-chave para uma leitura pastoral“. Foram vinte minutos inesquecíveis. O papa parecia ter todo o tempo à disposição. Foi muito cordial e fraterno. Descrevi a realidade da Amazônia e as condições em que vivem os seus povos. Referi-me primeiro às nossas comunidades e lamentei que por causa da acentuada escassez de ministros ordenados só têm acesso à eucaristia algumas vezes ao ano. Falei dos povos indígenas e entreguei-lhe uma mensagem do Cimi previamente redigida, chamando a sua atenção para os diversos pontos do documento. Disse a ele que os povos indígenas só irão sobreviver física e culturalmente se permanecerem no seu habitat tradicional que hoje é ameaçado pelos grandes projetos governamentais, pelas empresas mineradoras e madeireiras e pelo agronegócio. Aí o papa me revelou que estava pensando em escrever uma encíclica sobre a Ecologia e já havia encarregado o Cardeal africano Peter K. A. Turkson, presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, de elaborar um “borrador” (espanhol: anteprojeto, esboço). Aí eu insisti que num documento tão importante não poderia faltar uma clara referência à Amazônia e aos povos indígenas. O papa pediu-me então que colaborasse enviando ao Cardeal alguma contribuição minha neste sentido o que, voltando ao Brasil, imediatamente fiz. Ao ler agora a Encíclica deparo-me com vários números do documento em que o papa levou em conta os nossos anseios e angústias e realmente os assumiu como suas próprias preocupações. À guisa de exemplo cito apenas dois números em que nossas questões estão presentes com toda clareza:

    O número 38 se refere explicitamente à Amazônia:

    “Mencionemos, por exemplo, os pulmões do planeta repletos de biodiversidade que são a Amazônia e a bacia fluvial do Congo, ou os grandes lençóis freáticos e os glaciares. A importância destes lugares para o conjunto do planeta e para o futuro da humanidade não se pode ignorar. Os ecossistemas das florestas tropicais possuem uma biodiversidade de enorme complexidade, quase impossível de conhecer completamente, mas quando estas florestas são queimadas ou derrubadas para desenvolver cultivos, em poucos anos perdem-se inúmeras espécies, ou tais áreas transformam-se em áridos desertos. Todavia, ao falar sobre estes lugares, impõe-se um delicado equilíbrio, porque não é possível ignorar também os enormes interesses econômicos internacionais que, a pretexto de cuidar deles, podem atentar contra as soberanias nacionais. Com efeito, há «propostas de internacionalização da Amazônia que só servem aos interesses econômicos das corporações internacionais». É louvável a tarefa de organismos internacionais e organizações da sociedade civil que sensibilizam as populações e colaboram de forma crítica, inclusive utilizando legítimos mecanismos de pressão, para que cada governo cumpra o dever próprio e não-delegável de preservar o meio ambiente e os recursos naturais do seu país, sem se vender a espúrios interesses locais ou internacionais“ (LS 38).

    E o número 146 enfoca a questão indígena do jeito como a conhecemos e vivemos no Brasil:

    “É indispensável prestar uma atenção especial às comunidades aborígenes com as suas tradições culturais. Não são apenas uma minoria entre outras, mas devem tornar-se os principais interlocutores, especialmente quando se avança com grandes projetos que afetam os seus espaços. Com efeito, para eles, a terra não é um bem econômico, mas dom gratuito de Deus e dos antepassados que nela descansam, um espaço sagrado com o qual precisam de interagir para manter a sua identidade e os seus valores. Eles, quando permanecem nos seus territórios, são quem melhor os cuida. Em várias partes do mundo, porém, são objeto de pressões para que abandonem suas terras e as deixem livres para projetos extrativos e agropecuários que não prestam atenção à degradação da natureza e da cultura“ (LS 146).

    O que Dilma poderá aprender com a nova encíclica do Papa Francisco?

    Não sei se a presidente Dilma vai ler essa Carta do Papa. Iria recomendar a ela que a lesse e meditasse com muita atenção. Seria importante que não só ela, mas todos os integrantes do Governo, do Congresso Nacional e também do Supremo se inteirassem de seu conteúdo tão importante também para o nosso país. Está na hora de o Brasil mudar de paradigma do tipo de desenvolvimento e progresso que está querendo para o país e atualmente promovendo a todo vapor. As agressões inescrupulosas ao meio ambiente são tiros no próprio pé. A natureza há tempo está reclamando. Os desastres naturais são frequentes; secas, escassez de água, enchentes e inundações são sem dúvida consequências dos maus tratos que a natureza sofre há décadas. Cientistas alertam há tempo para as causas desses fenômenos. Pensando na função da Amazônia de regular o clima mundial, está na hora de o Brasil acordar e dar-se conta da imensa responsabilidade que tem em relação ao nosso planeta.

     

     

    Read More
  • 23/06/2015

    Líder Munduruku denuncia usinas durante reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU

    Na próxima quarta-feira, dia 24, às 16h30 (11h30 Brasília), Ademir Kaba Munduruku, representante das organizações Munduruku do Alto Tapajós, vai participar em Genebra de evento paralelo à 29ª Reunião do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (UNHRC) sobre o direito dos povos indígenas a processos de Consulta Livre, Prévia e Informada (CLPI) no planejamento e licenciamento de hidrelétricas na Amazônia, com destaque para as bacias do Tapajós e do Xingu. Ademir será acompanhado pelo procurador da República Felício Pontes Jr., do Ministério Público Federal no Pará, coautor de diversas ações civis públicas sobre violações de direitos humanos e legislação ambiental nos casos de Belo Monte e de barragens na bacia do Tapajós.

    Além do evento paralelo da ONU em Genebra, aberto ao público e a autoridades internacionais, Ademir se reunirá em Paris com o diretor de energia da ex-estatal EDF (Electricité de France, hoje de economia mista com 70% das ações na mão do governo), Antoine Cahuzac, o Conselho Nacional de Direitos Humanos da França, deputados e senadores franceses, para denunciar a participação da empresa nos impactos dos projetos hidrelétricos na bacia Teles Pires/Tapajós. A EDF detém 51% das ações do consórcio construtor da usina de Sinop (Teles Pires), no Mato Grosso, e é uma das duas empresas privadas internacionais (ao lado da GDF Suez, também francesa) no Grupo de Estudos Tapajós – GET, que avalia a de viabilidade da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós (Tapajós, PA).

    A agenda da liderança Munduruku também inclui encontros com os assistentes da relatora especial da ONU sobre independência dos juízes (para denunciar a aplicação sistemática do mecanismo de Suspensão de Segurança a casos de judicialização de crimes contra comunidades e o meio ambiente na construção de usinas), do relator especial da ONU sobre água, do relator especial sobre meio ambiente e com o grupo de trabalho sobre empresas transnacionais.

    Direito à Consulta

    Em 30 de janeiro deste ano, os Munduruku e ribeirinhos do assentamento Montanha e Mangabal, também ameaçados pelo complexo hidrelétrico do Tapajós, entregaram ao ministro Miguel Rossetto, da Secretaria-Geral da Presidência da República, protocolos de consultas elaborados pelos dois grupos como base vinculante do processo de oitiva, determinado pela Justiça (leia os protocolos aqui e aqui). Desde então, não houve nenhuma manifestação por parte do governo sobre o processo.

    A obrigação de que a Consulta Prévia fosse realizada pelo governo já havia sido determinada anteriormente pelo STF, mas no dia 15 deste mês a Justiça Federal de Itaituba confirmou em sentença que o governo federal está proibido de licenciar a usina de São Luiz do Tapajós sem antes realizar a consulta prévia, livre e informada conforme prevista na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

    Para reforçar a pressão sobre o governo brasileiro, um grupo de 62 organizações e movimentos nacionais e internacionais protocolou na ONU, em 22 de maio, um documento que denuncia os desrespeitos às legislações nacionais, à Convenção 169 da OIT e aos direitos humanos dos ameaçados e atingidos pelas autoridades brasileiras. Leia aqui o documento na íntegra, em inglês.

    Read More
  • 22/06/2015

    Indígenas Guarani e Kaiowá retomam nova área de Kurusu Ambá e são atacados por pistoleiros

    Um grupo de indígenas Guarani e Kaiowá do acampamento de Kurusu Ambá, no cone sul do Mato Grosso do Sul, realizou na madrugada desta segunda-feira, 22, a retomada de uma área que compõe o território tradicional reivindicado pela comunidade. Dessa vez, os Guarani e Kaiowá ocuparam a sede da fazenda Madama, que incide na terra indígena e alvo de outras retomadas.

    Leia mais: CNJ recomenda demarcação de terras indígenas no MS e condena violência de fazendeiros

    A recuperação territorial ocorreu, conforme lideranças ouvidas pela reportagem, porque a comunidade “não aguenta mais viver debaixo do veneno, com fome e esperando pelo governo”. Segundo Tapé Rendy, assim identificado por razões de segurança, “logo depois que montamos acampamento na retomada, nos atacaram. Pistoleiros atiraram por cima de nossas cabeças, gritaram xingamentos, mas não foi só pistoleiro não”.

    De acordo com os Guarani e Kaiowá, policiais do Departamento de Operações de Fronteira (DOF), subordinada à Secretaria de Justiça e Segurança Pública do MS, estavam no local de onde partiam os tiros contra os indígenas. “Vimos pelas roupas deles lá. Com os tiros uma parte foi pro mato, mas voltou já. Ninguém feriu não. Assustou a gente, mas continuamos aqui”, informa Tapé Rendy. 

    O Ministério Público Federal (MPF), Fundação Nacional do Índio (Funai) e Polícia Federal foram acionados. “O que pedimos aqui é proteção porque temos direito de ter nossa terra, de garantir vida melhor pras crianças. Kurusu Ambá já teve criança que morreu de fome, liderança que morreu de tiro. A Xurite Lopes, então. Mataram ela com tiro pelas costas, feito animal”, lembra Tapé Rendy.

    Desde 2007, mais de dez lideranças indígenas morreram durante retomadas no território que abrange o tekoha – lugar onde se é – Kurusu Ambá. A matriarca Xurite Lopes foi uma delas. Todavia, a dezena de mortes não sensibilizou o governo brasileiro: a demarcação de Kurusu segue paralisada e as ameaças contra as atuais lideranças avolumam relatos e denúncias às autoridades e organizações de direitos humanos no Brasil e no exterior. A última foi feita no final do último mês de abril por Elizeu Guarani e Kaiowá em Nova York, durante o Fórum Permanente para Questões Indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU). Ao retornar do Fórum, Elizeu sofreu mais uma ameaça de morte.

    A fome também é um outro sério problema em Kurusu Ambá. Ilhados por plantações de soja, os indígenas não conseguem plantar e as únicas fontes de água foram poluídas pelos agrotóxicos lançados sobre o monocultivo. Crianças morrem de fome, de doenças geradas pelo contato com o veneno. Por conta disso, enviaram no natal de 2012 uma carta para a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República denunciando o que sofrem. Leia aqui na íntegra. A realidade não mudou. Mais uma retomada ocorreu.   

    Enquanto isso, a situação da demarcação segue na mesma: um Grupo de Trabalho Técnico (GT) da Funai foi instaurado em 2008. A terra indígena foi identificada pelo órgão indigenista, mas a demarcação não foi adiante. No começo deste mês de junho, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, ao lado da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão da Procuradoria-Geral da República (PGR), visitaram aldeias Guarani e Kaiowá para produção de relatório daquilo que consideram um dos maiores crimes contra os direitos humanos de povos indígenas no mundo.

     

    Histórico de violência de Kurusu Ambá:

    – A terra sagrada de Kurusu Ambá trata-se de um território tradicional imemorial do povo Kaiowá e passou a ser reivindicado através de retomadas por parte dos indígenas, a partir de janeiro 2007. Na ocasião, os indígenas foram expulsos de seu território pela ação de pistoleiros. Diversos indígenas foram espancados e tiveram seus corpos baleados e a rezadora Xurite Lopes, uma senhora de mais de 70 anos, foi assassinada.

    – No mesmo ano, obstinados por recuperar seu território, os indígenas iniciaram novo processo de retomada e novamente tiveram uma liderança assassinada por pistoleiros. Desta vez, foi o indígena Ortiz Lopes que acabou perdendo a vida na tentativa de devolver aos Kaiowá seu Tekoha.

     – Em 2009, durante a terceira tentativa de retomada, com o GT da FUNAI já instaurado, Osvaldo Lopes foi também assassinado. 

     – A partir deste novo ataque sofrido, os indígenas voltaram a viver em acampamentos de lona ao longo das rodovias e estradas existentes entre Amambai e Coronel Sapucaia em situação completamente desumana, que gerou a morte de uma grande quantidade de crianças.

     – Em novembro de 2009, os indígenas retomaram pela 4ª vez o pequeno pedaço de sua terra tradicional, ocupando uma pequena faixa de mato nos limites da reserva legal onde incide a fazenda Maria Auxiliadora. Sofreram processos de reintegração de posse, porém sua permanência foi garantida por decisão do Tribunal Regional Federal (TRF) 3.

     – Apesar de estarem dentro dos limites do seu território os indígenas foram mantidos estes últimos anos em uma espécie de confinamento. Com a paralisação dos procedimentos demarcatórios, os Kaiowá ficaram alijados de sua própria terra, sobrevivendo de maneira desumana, sem ao menos terem suas condições básicas de vida supridas.

        

    Read More
  • 22/06/2015

    Povos Indígenas no Brasil: gritos da violência

    Há mais de duas décadas se repete um ritual que ecoa como um grito ensurdecedor pelo país e mundo afora. É o lançamento do Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, organizado pelo Cimi, com informações recolhidas na imprensa, com as comunidades indígenas, os missionários do Cimi e instituições públicas e privadas, relacionadas com a questão indígena. É um recolher criterioso do grito de mais de 300 povos indígenas e em torno de 100 comunidades/grupos de povos isolados, em situação de isolamento voluntário na Amazônia brasileira. Apesar de não conseguir ser revelador da totalidade do sofrimento, dor, crueldades e violências contra os povos indígenas, é sem dúvida uma denúncia inequívoca de que continuamos sendo um país contra os seus povos originários.

    O desejo seria de que esse relatório fosse diminuindo a cada ano, com o crescimento da consciência do povo brasileiro em relação ao respeito aos direitos, vida e dignidade desses povos junto com a ação enérgica do Estado na defesa constitucional dos direitos indígenas e punição dos infratores. Lamentavelmente está ocorrendo o contrário. A cada ano vemos e sentimos que as violências vêm aumentando. De choque surge, como uma flecha no coração do sistema e do poder, a interrogação fatal: até quando? Ao ultrapassar o umbral dessa vergonha nacional nos sentimos todos, de alguma forma, cúmplices dessa secular e atual violência, etnocídio e genocídio.

    Esse relatório deveria ser livro de cabeceira dos responsáveis por essa situação. Que o sangue derramado, as vidas ceifadas, a natureza destruída, as culturas e religiões indígenas vilipendiadas, soassem diuturnamente na cabeça e consciência dos responsáveis por esse sistema e situação iníqua a clamar por justiça e reparação.

    O lançamento do Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil com os dados de 2014, contou com a presença do Secretário Geral da CNBB, Dom Leonardo Steiner. Ele enfatizou que a violência contra os povos indígenas exige de todos nós uma conversão em nosso modo de nos relacionarmos com esses povos e que atinja nossos corações. O presidente do Cimi, Dom Erwin Kraütler, que vem há anos fazendo pronunciamentos e manifestações contundentes em defesa dos direitos dos povos indígenas, exorta uma vez mais a ações concretas e urgentes que acabem com as violências impetradas contra os povos indígenas em nosso país.

    Lúcia Rangel, antropóloga, que nos últimos anos vem coordenando a pesquisa e elaboração dos dados do relatório, lembrou que a publicação é dedicada a um dos esteios das lutas contra as violências que vitimaram os povos indígenas nas últimas décadas. Padre Antônio Iasi, que faleceu no início deste ano, foi um bravo lutador e um exemplo de compromisso radical com a vida e os direitos dos povos indígenas.  A antropóloga destacou o grande aumento das violências durante o ano de 2014. Lembrou que as violências atingem principalmente os jovens indígenas: “Essa é uma realidade latino-americana”.

    Tito Vilhalva, Guarani-Kaiowá, do Mato Grosso do Sul (MS), veio com muita disposição para denunciar que continuam matando seu povo de diversas maneiras. Ele é liderança de Guyraroká, terra indígena já reconhecida, mas cujo processo foi recentemente anulado pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Fato esse, como outros do mesmo teor, considerados extremamente graves e preocupantes. De certa forma essa decisão sinaliza para a total insegurança de qualquer terra indígena no país.

    O secretário do Cimi, Cleber Buzatto, chamou atenção para a intensa campanha anti-indígena registrada nos Três Poderes no ano que passou. A intenção dessas articulações é destruir os projetos de vida dos povos indígenas. A causa principal das violências continua sendo o não reconhecimento, demarcação e respeito às terras e territórios indígenas.

     A voz do Papa pela vida dos povos aborígenes/indígenas e o respeito à criação, à natureza

    “A encíclica sobre ecologia é uma declaração de amor à humanidade e aos povos indígenas”, expressou o deputado Edmilson, no final do lançamento do relatório de Violência. E concluiu dizendo que “não existe dignidade da sociedade brasileira se não houver a dignidade dos povos indígenas”.

    Dom Erwin também fez referência às citações do Papa Francisco em sua recente encíclica sobre ecologia. Disse estar feliz por terem sido contempladas as questões às quais fez menção pessoalmente no encontro com o Papa: a questão indígena e a Amazônia.

    No próximo mês o Papa Francisco irá se encontrar com os movimentos sociais da América Latina, na Bolívia. Quem sabe os relatórios e relatos de violências contra os povos indígenas e seus projetos de vida possam aos poucos diminuir e emergir um novo cenário em nosso continente marcado por tantas contradições e violações de direitos.

    Fotos: Laila Menezes

    Read More
  • 22/06/2015

    CNJ recomenda conclusão das demarcações de terras indígenas no MS e condena violência de fazendeiros

    O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) divulgou há poucos dias relatório onde recomenda a conclusão dos procedimentos demarcatórios das terras indígenas no Mato Grosso do Sul. Com base nas leis vigentes, envolvendo a Constituição e tratados internacionais, o conselho também faz propostas complementares para auxiliar na resolução dos conflitos fundiários, responsáveis pela violência contra os indígenas, rechaçando teses como o marco temporal. Minucioso, o trabalho, iniciado no 1º semestre de 2011, foi executado pela Comissão sobre a Questão Indígena em Mato Grosso do Sul, que realizou reuniões, seminários e visitas às comunidades.

    Leia na íntegra: Relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre terras indígenas no MS

    “Com uma Constituição em plena vigência (…) não se pode conceber que haja resistência contra o cumprimento da Lei Maior”, afirma trecho do relatório. Os trabalhos da comissão demonstram que “mesmo após históricas decisões do Supremo Tribunal Federal reafirmando o direito à demarcação com o estabelecimento de critérios para o procedimento, inclusive impondo várias limitações ao próprio direito reconhecido, os atos de violência não cessaram, ao contrário foram acirrados ao ponto de ceifar vidas, o que não pode ser admitido”. Durante a atuação da comissão, assassinatos contra indígenas, ameaças e atentados não deixaram de ocorrer, caso de Oziel Terena (foto), durante ação de reintegração de posse, e Nísio Guarani e Kaiowá, em ataque de pistoleiros. 

    Sobre as violências sofridas pelas comunidades indígenas, o relatório atesta: “Se é correto afirmar que aqueles que, de boa-fé ocupam as terras consideradas indígenas têm o direito de defender seus direitos através das medidas judiciais que lhes são postas à disposição pelo próprio ordenamento jurídico (…) não é menos verdadeiro afirmar que não poderão fazê-lo por intermédio da intimidação ou da violência”. O documento expressa que é um direito dos povos indígenas “verem suas terras demarcadas”, com respaldo em legislação tanto no país, com a Constituição Federal, Decreto 1775, quanto em tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, caso da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).    

    O CNJ lembra que na promulgação da Constituição foi estipulado um prazo de cinco para que as terras indígenas fossem demarcadas. “Passados mais de vinte anos da promulgação da Carta da República, a determinação do Constituinte ainda não foi cumprida, e quando são sinalizadas algumas providências concretas visando tornar efetiva a norma constitucional, alguns setores da sociedade e indígenas deflagram um movimento de confronto e de resistência que está tomando rumos bastante preocupantes”, diz trecho do relatório. Desse modo, a questão relativa à terra, conforme o CNJ, é o ponto fundamental dos direitos indígenas constitucionalmente garantidos; como sobrevivência cultural e física desses povos.

    Marco temporal e judicialização

    Para o assessor jurídico do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Adelar Cupsinski, o relatório mostra ainda a discordância do CNJ com a tese do marco temporal, defendida por alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Um trecho do documenta respalda a opinião de Cupsinski: “O art. 231, da Constituição Federal, ao reconhecer aos indígenas o direito originário sobre as terras que tradicionalmente habitam, consolidou o entendimento de que essas áreas nunca deixaram de constituir territórios indígenas, limitando-se o poder estatal à obrigação de declarar essa condição. Deste modo, a titulação dessas áreas, cuja tradicionalidade conferiu proteção especial, deu-se em clara violação aos dispositivos constitucionais, ainda que sob a égide da Constituição de 1967/69, visto que o instituto do indigenato remonta ao século XVII”.

    “Quero ressaltar esse aspecto, mas sem esquecer que o CNJ foi justo na sua análise: em caso de titulação de boa-fé, é preciso indenizar. No caso dos pequenos agricultores, devem ser reassentados. Na verdade, é o que defende os povos indígenas. As dificuldades são criadas por quem não quer ver as leis de demarcação cumpridas. Optam pela judicialização e apostam em teses como o marco temporal”, ressalta Cupsinski. No relatório do CNJ, números comprovam a estratégia dos grupos que tentam, a todo custo, impedir a demarcação de terras indígenas.  

    Cerca de 140 ações judiciais envolvendo as demarcações de terras indígenas no Mato Grosso do Sul tramitam em alguma instância do Poder Judiciário. A maioria se encontra na 1ª Instância da Justiça Federal: 52 em Ponta Porã, 23 em Naviraí, 7 em Campo Grande, além de 3 no Tribunal Regional Federal (TRF) de Dourados, 15 no TRF de Naviraí e 11 no TRF de Ponta Porã. Outras 11 ações tramitam no STF, em Brasília. Desse total, 18 ações foram movidas pela Federação de Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul (Famasul).

    De um modo geral, tais ações judiciais fazem o efeito desejado por quem não quer a demarcação de terras indígenas: 14 terras entre homologadas, identificadas, declaradas, delimitadas ou registradas no patrimônio da União estão com os procedimentos ou portarias declaratórias suspensas por efeito dessas ações. “Além da paralisação da demanda territorial, vemos as terras já com estudos e encaminhadas invalidadas por decisões judiciais que em alguns casos nem chegamos a ser ouvidos”, relata Lindomar Terena. A Terra Indígena Cachoeirinha, onde vive Lindomar, é uma das que sofre com sequências de ações judiciais. “O resultado é que semanas atrás atiraram contra um grupo de patrícios. Um foi atingido e precisou ser hospitalizado. Quem atirou é quem entra com essas ações na Justiça”, afirma o Terena.     

    Dez terras indígenas aguardam por providências da Fundação Nacional do Índio (Funai), conforme o relatório do CNJ. Sobre essa grande quantidade de processos judiciais, o CNJ faz um alerta no relatório: “Não se pode esquecer que os conflitos sobre as terras indígenas, que desaguam no Poder Judiciário são conflitos histórica, social e culturalmente diferenciados dos demais conflitos sociais. De fato, não há como perder de vista que a terra – terra-mãe – não é apenas um meio de produção, de geração de riquezas a qualquer custo. Ao contrário, é um lugar da memória coletiva do povo, da sua história, do seu lazer e trabalho, onde celebra os seus rituais de vida e morte, especialmente de vida”.

    Para a comissão, os indígenas do Mato Grosso do Sul foram desapossados das terras a eles destinadas de forma exclusiva: “O ‘justo título’ tantas vezes invocados pelos atuais ocupantes dessas terras não serve para descaracterizar a área como terra indígena de ocupação tradicional. Porém, e ao mesmo tempo, ao Estado incumbe o dever de reparar integralmente os atuais proprietários rurais. A indigitada titulação, como é de conhecimento público e notório, foi precedida de um processo de colonização do território da então Província de Mato Grosso, especialmente na região sul do atual Estado de Mato Grosso do Sul”. O relatório explica que esse processo colonizador aconteceu por incentivos do próprio governo para que brasileiros ocupassem centenas de hectares naquele estado ocupados por aldeias indígenas. Amontoados em reservas, cansaram de viver longe das terras dos ancestrais para iniciar um longo caminho de volta a elas.

    “Para a gente essas ações judiciais deixam de levar em conta a história, o que aconteceu e ainda acontece com nosso povo. O governo federal é fraco politicamente e faz as vontades de políticos, fazendeiros. Então só nos resta retomar as terras que reivindicamos. Guarani e Kaiowá e indígena nenhum vive longe de sua terra”, destaca Otoniel Guarani e Kaiowá.     

    Comissão heterogênea   

    A comissão foi instituída no 1º semestre de 2011, no âmbito do Fórum de Assuntos Fundiários do CNJ, e foi composta de forma heterogênea: Justiça Federal do MS, integrantes de tribunais regionais federais, Ministério Público Federal (MPF), Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, Advocacia-Geral da União (AGU), Fundação Nacional do Índio (Funai), dois representantes das comunidades indígenas, dois representantes dos proprietários rurais e dois especialistas na questão indígena. A coordenação da Comissão coube ao desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul e membro do Comitê Executivo Nacional do Fórum de Assuntos Fundiários do CNJ, Sérgio Fernandes Martins.

    O resultado dos trabalhos da comissão, em face de sua composição, demonstra, na opinião das lideranças indígenas, que a demarcação das terras indígenas é a única alternativa para a resolução do conflito, como afirma o relatório: “Não é por outra razão que o Preâmbulo da nossa Carta Cidadã de 1988 estabeleceu como fundamento do Estado Democrático Brasileiro a “harmonia social”, e ao qual foi atribuída a magna missão de (…) assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos”.

     

     

    Read More
  • 19/06/2015

    Aumentam os índices de assassinato, suicídio e mortalidade infantil de indígenas, aponta relatório do Cimi

    Houve um severo aumento da violência e das violações praticadas contra os povos indígenas no Brasil em 2014, especialmente em relação aos casos de assassinatos, suicídios, mortes por desassistência à saúde, mortalidade na infância, invasões possessórias e exploração ilegal de recursos naturais e de omissão e morosidade na regularização das terras indígenas. Esta é a constatação do Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – dados de 2014, que o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) lançou na tarde desta sexta-feira, 19, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília.

    Baixe o arquivo: Relatório de Violências Contra os Povos Indígenas – Dados 2014

    “A situação é muito complicada entre os povos indígenas, mas vemos um ataque aos direitos humanos como um todo. Se faz necessário resistir de forma abnegada junto aos condenados desta terra. Que Deus nos dê saúde para seguir adiante”, disse o presidente do Cimi e bispo do Xingu, Dom Erwin Kräutler. O religioso fez referências à encíclica do Papa Francisco sobre ecologia e os alertas feitos pelo Sumo Pontífice aos ataques sofridos pelos povos indígenas no mundo. O relatório do Cimi, portanto, reafirma tais investidas contra os povos originários. No evento, estiveram presentes o secretário da CNBB, Dom Leonardo Steiner, e a liderança indígena Tito Vilhalva Guarani e Kaiowá.

    “Tiraram à força todo mundo dos tekoha – lugar onde se é – lá. Pra gente voltar tem sido esse sofrimento. Pistoleiro mata, fome mata, atropelamento mata, suicídio mata. Não vamos desistir não. A gente continua: embaixo de lona, de frio, de calor, de tiro. Vamos tudo ficar ali”, frisou Tito.

    O Relatório é realizado a partir da sistematização de dados coletados e compilados com base nas denúncias e nos relatos dos povos, das lideranças e organizações indígenas, de informações das equipes missionárias do Cimi que atuam nas áreas e de notícias veiculadas pelos meios de comunicação de todo país. Também inclui informações de fontes oficiais. O aumento das violências e violações foi constatado em 17 das 19 categorias que compõem o Relatório.

    "Violências contra os povos indígenas trazem consigo um histórico não reparado. Das mais graves, a participação do Estado segue e permite todas as outras", afirmou o secretário executivo do Cimi Cleber Buzatto, durante o lançamento do relatório.

    De acordo com informações da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde, 135 indígenas cometeram suicídio em 2014. Este número configura-se como o maior em 29 anos, de acordo com os registros do Cimi. O Mato Grosso do Sul continua sendo o estado que apresenta a maior quantidade de ocorrências, com o registro de 48 suicídios, totalizando 707 casos registrados de suicídio no estado entre 2000 e 2014. Também é preocupante o alto número de casos registrados no Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Alto Rio Solimões, localizado no Amazonas, onde são atendidos os povos Tikuna, Kokama e Caixana. Somente neste Dsei foram registrados 37 casos de suicídio.

    "Decisões da 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) descaracterizam o que é terra indígena. A Constituição Federal não fala em marco temporal", diz Buzatto. O missionário explica que frente a tais decisões, as comunidades indígenas sentem-se vulneráveis, desassistidas. O que confere liberdade aos inimigos das comunidades indígenas.   

    Ainda segundo as informações da Sesai, 138 indígenas foram assassinados em 2014, sendo que no ano anterior 97 casos foram registrados. Os dados enviados pela Sesai não permitem uma análise mais aprofundada em relação aos povos, estado, sexo e idade das vítimas. Mas, segundo informações do Dsei Mato Grosso do Sul, é possível afirmar que este estado figura mais uma vez como o mais violento do país, em relação ao assassinato de indígenas, com 41 ocorrências ou 29% dos casos.

    Um dos dados mais chocantes do Relatório refere-se à mortalidade na infância. “A mortalidade infantil e os suicídios exterminam a juventude indígena. Estamos diante de uma situação absolutamente grave”, analisa a assessora antropológica do Cimi e coordenadora do relatório, Lúcia Helena Rangel. Dados preliminares da Sesai apontam um total de 785 mortes de crianças entre 0 e 5 anos. Em 2013 o relatório do Cimi registrou a morte de 693 crianças em todo o país. Os Xavante, de Mato Grosso, foi o povo com o maior número de crianças mortas em 2014, totalizando 116. A taxa de mortalidade na infância (do nascimento até cinco anos) nos Xavante chegou a 141,64 por mil, enquanto a média nacional registrada em 2013 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi de 17 por mil. Em Altamira, no Pará, município atingido pelas obras da hidrelétrica de Belo Monte, a taxa de mortalidade na infância chegou a 141,84 por mil.

    Entre os Yanomami foram registradas 46 mortes de crianças menores de 1 ano. Este povo realizou diversas mobilizações durante todo o ano de 2014, com o propósito de exigir do governo federal um melhor atendimento na área de saúde. Em relação à morte por desassistência à saúde, em 2014, foram registrados 21 casos. No ano anterior, sete mortes haviam sido registradas.

    Assim como ocorreu no ano anterior, o governo Dilma Rousseff continuou atendendo aos interesses e pressões do agronegócio em 2014. A presidente da República não assinou nenhuma homologação de terra indígena, apesar de pelo menos 21 processos de demarcação de terras sem nenhum óbice administrativo e/ou judicial ainda estarem em seu gabinete no final do ano, aguardando apenas a sua assinatura para a homologação.

    A mesma orientação seguiu o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Nove processos aguardavam apenas sua assinatura para serem publicadas as respectivas portarias declaratórias. Também no caso destas terras não há nenhum impedimento legal e/ou administrativo para que os processos de regularização avancem no Poder Executivo.

    Neste contexto, em 2014, o Cimi registrou 118 casos de omissão e morosidade na regulamentação de terras, mais que o dobro do que foi registrado em 2013, 51 ocorrências. No Pará, estado com o maior número de casos, o não reconhecimento das terras indígenas está diretamente ligado às intenções do governo federal em construir grandes hidrelétricas, como no caso da usina São Luiz do Tapajós que, se construída, alagará aldeias, florestas e cemitérios da Terra Indígena Sawré Muybu, do povo Munduruku.

    Já no Mato Grosso do Sul, estado com 24 ocorrências de omissão e morosidade na regulamentação de terras, as comunidades indígenas vivem à beira de rodovias, em barracos de lonas, cercadas por pistoleiros disfarçados de segurança e sujeitas a todo tipo de violências, inclusive a despejos violentos.

    Em 2014, mais do que duplicaram também os registros relativos a invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao patrimônio. Enquanto em 2013 foram feitas 36 ocorrências, em 2014 foram registrados 84 casos.

    O Relatório Violência Contra os Povos Indígenas – dados de 2014 ainda traz vários artigos que contextualizam e aprofundam a análise sobre os dados reunidos. A baixa execução orçamentária dos recursos públicos disponíveis para a ação de demarcação de terras indígenas, dentre outros, revela que não é por falta de recursos financeiros que as demarcações não foram realizadas. A histórica violência institucional praticada contra os povos indígenas também é abordada no Relatório, a partir de casos bastante graves de violações realizadas pelas forças policiais em 2014. Um novo capítulo, intitulado Memória e Justiça, traz ainda reflexões sobre a recente violência sofrida pelos povos durante o período da ditadura militar e as recomendações da Comissão Nacional da Verdade (CNV) em seu capítulo específico sobre os povos indígenas.

     

    Outras informações:

    Assessoria de Comunicação do Cimi –

    Carolina Fasolo – 61 9926-281261 9926-2812

    Maqueli Quadros – 61 9686-620561 9686-6205

    Patrícia Bonilha – 61 9979-705961 9979-7059

     

Page 447 of 1205