• 04/09/2015

    Ruralista convoca fazendeiros para novo ataque e comunidade Guarani e Kaiowá solicita proteção às autoridades federais

    O dia seguinte ao ataque de fazendeiros contra o tekoha – lugar onde se é – Guyra Kamby’i, ocorrido na noite desta quinta-feira, 3, pode reservar mais violência contra a comunidade Guarani e Kaiowá. Sobretudo com um feriado pela frente. Conforme determinação de abertura de inquérito policial do Ministério Público Federal (MPF) do Mato Grosso do Sul, o presidente do Sindicato Rural de Itaporã, Otávio Vieira de Mello, tem convocado fazendeiros de toda a região de Dourados a fazer a remoção forçada dos indígenas de Guyra Kamby’i, localizada entre as cidades de Douradina e Itaporã. Na foto, é possível ver cápsulas recolhidas pelos indígenas.  

    De acordo com os procuradores do MPF, Mello estaria desde ontem, através de redes sociais, organizando o grupo para a ação. Pela manhã, o ruralista enviou uma mensagem aos servidores da Fundação Nacional Índio (Funai) afirmando que haveria novo “conflito” envolvendo produtores “de toda região”, não apenas de Douradina, repetindo a dose do ataque ocorrido na noite passada. Depois do ataque a tiros, capangas e pistoleiros atearam fogo ao acampamento dos indígenas, que recuaram, mas não saíram da terra indígena e por conta disso o ruralista anunciou a iminente nova investida.

    Nesse momento, centenas de famílias Guarani e Kaiowá, entre elas ao menos 50 crianças, estão acampadas em outra porção de Guyra Kamby’i, já identificada pela Funai como de posse tradicional dos índios. Conforme o apurado junto às lideranças, a decisão dos indígenas é de que não vão sair do local porque descartam a hipótese de regresso às margens da rodovia, pois há uma terra reivindicada e identificada para se viver com mais dignidade.

    Um servidor da Funai se dirigiu ao local do conflito, mas sem o acompanhamento de agentes da Polícia Federal. Como uma grande operação de combate ao tráfico de drogas foi desencadeada na manhã de hoje, envolvendo inclusive uma aldeia Guarani e Kaiowá dentro da cidade de Dourados, não havia homens suficientes para atender órgão indigenista estatal e proteger as famílias indígenas vilipendiadas na noite anterior.   

    A violência empregada pelos fazendeiros acontece menos de 48 horas depois da visita do ministro da Justiça José Eduardo Cardozo ao estado, onde um pacto de paz foi selado. Para os servidores da Funai, um risco de novo ataque é bastante elevado. Um dia antes dos fazendeiros barbarizarem a comunidade Guarani e Kaiowá de Ñanderú Marangatú, no último dia 29 de agosto, os servidores da Funai de Ponta Porã insistiam que algo grave poderia acontecer a qualquer momento. As autoridades federais não deram ouvidos e Semião Vilhalva terminou assassinado com um tiro no rosto e hoje o Exército está na região.

    Portanto, os Guarani e Kaiowá de Guyra Kamby’i solicitam que todos e todas peçam às autoridades o envio de forças policiais para que a comunidade não sofra novo ataque.

    Envie e-mail ou telefone para:

    Ministério da Casa Civil – Aos cuidados do ministro Aloizio Mercadante: imprensaccivil@presidencia.gov.br, (61) 3411-1410, twitter: @casacivilbr.  

    Ministério da Justiça – Ao ministro José Eduardo Cardozo: agenda.ministro@mj.gov.br, (61) 2025-3135, twitter: @JE_Cardozo, @JusticaGovBR, facebook: Ministério da Justiça;

    Corregedoria-Geral de Polícia Federal – Aos cuidados de Roberto Mário da Cunha Cordeiro: (61) 2024-8222, ou denuncie aqui em genocídio ou crime de ódio: http://denuncia.pf.gov.br/

    Secretaria-Geral da Presidência da República – Ao ministro Miguel Rossetto: sg@presidencia.gov.br (61) 3411.1224, twitter: @secgeralpr, facebook: Secretaria-Geral da Presidência da República;

      

              

     

     

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  • 04/09/2015

    Bancada do latifúndio insiste em aprovar a PEC 215

    Como se fosse um ato de provocação, apenas alguns dias depois do assassinato de Simião Vilhalba, um indígena Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, os deputados que atuam na Comissão Especial da PEC 215 realizaram uma reunião para discussão do substitutivo do deputado Osmar Serraglio (PMDB). Essa PEC é um desejo dos ruralistas que querem levar para o Congresso Nacional a decisão sobre a demarcação das terras indígenas, tirando do executivo esse poder. Todo o movimento indígena é contra essa proposta, pois é sabido o poder que a bancada da bala (dos latifundiários) tem no legislativo.

    Não bastasse tirar do executivo a prerrogativa de determinar a demarcação das terras indígenas, a lei que os ruralistas querem aprovar também possibilita a revisão de todas  as Terras Indígenas já demarcadas ao longo da história do país, o que já dá para imaginar a “farra” que está sendo preparada pelos fazendeiros. A nova PEC também garante ao congresso a possibilidade de decidir sobre a exploração de terras indígenas e seu arrendamento. Ou seja, a tal PEC 2015 abre as porteiras para que os territórios indígenas sejam utilizados ao bel prazer dos interesses dos fazendeiros, mineradores e outros tipos de exploradores de riquezas naturais. Aos índios seria tirado tudo, inclusive o direito à consulta.

    O parecer do deputado peemedebista se baseia num voto proferido pelo ministro do Superior Tribunal Federal, Gilmar Mendes, em 16 de dezembro de 2014, no qual ele nega aos Guarani-Kaiowá os direitos sobre a terra indígena Guyraroká. O deputado também faz referência a demarcação da terra Raposa Serra do Sol, que precisou de um violento embate para ser concretizado e que até hoje não é engolido pelos ruralistas.  

    Diz o deputado no seu relatório: Ninguém nega tenham sido os indígenas vítimas históricos das hordas pretensamente civilizatórias ou de colonização e até mesmo de pregadores religiosos. Todavia, sacrificados foram por diversas gerações, como outros povos também o foram, sob o influxo de circunstâncias em relação às quais nada se pode imputar aos nossos coetâneos. Querer que pequeno agricultor perca os recursos que, suada e legitimamente, ele e seus antepassados amealharam, ao longo de anos, a título de reparação de injustiças das quais não participaram, será , perpetrar-se contra ele nova injustiça.

    A pergunta que não quer se calar é: esses que bradam aos céus contra a opressão indígena estariam dispostos a abrir mão de todos seus pertences em prol da causa indígena? Que argumento moral tem essas pessoas para exigir que os que titularizam imóveis, centenariamente, na mais absoluta boa-fé, de tudo sejam privados, sem direito a qualquer centavo, se não demonstram o mesmo desprendimento? Não é possível que quem está a legislar não se subsuma à condição de atingido pela lei que prega, para então aquilatar o alcance das consequências de sua proposição.

    Há um princípio jurídico hodiernamente remarcado, que é o da razoabilidade. Pergunta-se, será razoável exigir-se de um cidadão que concorde, como um cordeiro, resignadamente, com que tudo o que tem lhe seja retirado? Somos uma Pátria laica, mas de maioria cristã. Questionamos: será cristão abordar-se famílias de agricultores e lhes determinar que desalojem suas moradias, adquiridas segundo as regras de direito, sob o manto do princípio da aparência de legalidade, e caminhem para o olho da rua?

    O deputado argumenta sobre as terras como se elas fossem mesmo ocupadas pelos pequenos produtores, pobres coitados enganados ao longo dos anos. Isso é um argumento falso. O número de pequenos proprietários que estão em terras indígenas é ínfimo e, no mais das vezes, eles são bastante propensos à negociação. O verdadeiro interesse está na defesa das terras griladas pelos hoje “fazendeiros”, os grandes proprietários que insistem em se apropriar das ricas terras indígenas, argumentando que os índios não precisam de tanta terra, e que eles sim são os que produzem a comida que alimenta a mesa da nação. Dupla mentira. Nem as terras indígenas são suficientes para os povos originários, nem os grandes fazendeiros produzem comida.

    O relatório do deputado Serraglio ainda fala de construção de conflitos, colocando na conta dos indígenas a culpa sobre a violência que eles mesmos sofrem. As vítimas sendo colocadas como as responsáveis pela sua dor. É um documento aviltante.

    Leia o documento na íntegra:

    (http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=208DD21966A4AF5A6BED55F133440408.proposicoesWeb2?codteor=1288819&filename=Tramitacao-PEC+215/2000)

    Na reunião de ontem os deputados acordaram que o relatório será discutido numa reunião que contará com a presença de um representante do STF, do Poder Executivo, e de um grupo de parlamentares de ambos os lados, os que são favoráveis e os que são contra. De qualquer sorte, o substitutivo segue caminhando e com a pressão dos fazendeiros há grandes possibilidades de ser votado na Comissão.

    Nesse sentido, é fundamental que o movimento social se aproprie do conteúdo dessa PEC, que conheça também o relatório do deputado peemedebista e que assuma uma posição firme na defesa dos povos indígenas, lutando contra a aprovação dessa proposta de emenda constitucional.

    Se a bancada ruralista aprovar essa nova lei vai ter início um levante violento no campo brasileiro. Os povos indígenas vivem há 500 anos no duro processo de resistência ao genocídio, à violência do estado, aos assassinatos provocados pela jagunçagem. Têm lutado pacificamente pelo seu território, realizando manifestações, marchas, reuniões. Mas estão com a paciência se esgotando. Os assassinatos sistemáticos de lideranças e o clima de guerra que tem sido criado pelos fazendeiros estão unificando os parentes de todas as etnias. Não haverá aceitação dessa PEC. Não haverá paz enquanto os grandes insistirem em se apropriar das terras indígenas.

    A luta está acesa e precisa da presença de todos os lutadores sociais. A causa indígena não é só dos índios. Todos são responsáveis pelo bem viver daqueles que são os verdadeiros donos dessa terra.

    Já basta de mentiras sobre o território. Não há necessidade de as famílias não índias abrirem mão de suas terras, nem há ameaça aos pequenos. Há terra demais no Brasil. E o que há é o interesse dos grandes em explorar as terras indígenas. O que os indígenas querem é a demarcação do seu território, da terra sobre a qual eles têm direito, que sequer chega a 12% do espaço nacional. Os fazendeiros – grandes proprietários  – detém mais de 60% das terras. Então que é que tem terra demais?

    Conheça o conteúdo: SUBSTITUTIVO A PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 215-A, DE 2000.

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  • 04/09/2015

    MPF/MS determina instauração de inquérito para investigar milícia privada de produtores contra índios

    Requisição de abertura de inquérito foi efetivada após convocação de produtores rurais para promover remoção forçada de indígenas de área ocupada. Ao lado: imagem de mensagem enviada hoje por rede social incita à violência contra índios.

    O Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul determinou instauração de inquérito policial para apurar possível prática de formação de milícia privada por fazendeiros. A determinação ocorreu após troca de mensagens em rede social do presidente do Sindicato Rural de Rio Brilhante, Luís Otávio Britto Fernandes, convocando produtores a promover remoção forçada de indígenas que ocupam área no Distrito de Bocajá, a 30 km de Dourados (MS), desde ontem (3). Os indígenas da etnia guarani-kaiowá reivindicam a área, que eles chamam de Guyrakamby’i.

    A investigação terá por base o artigo 288-a do Código Penal:

    – Artigo 288-a. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código. Pena – reclusão, de 4 a 8 anos.

    Assessoria de Comunicação Social

    Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul

    (67) 3312-7265/ 7283

    www.prms.mpf.mp.br

    PRMS-ascom@mpf.mp.br

    www.twitter.com/mpf_ms

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  • 03/09/2015

    Guarani-Kaiowá são novamente atacados a tiros por fazendeiros no Mato Grosso do Sul

    Indígenas do tekoha Guyra Kambi’y. Fotos: Egon Heck.

    Ataque paramilitar ruralista desrespeita pacto pela paz firmado com ministro da Justiça, na tarde de quarta-feira

    Fazendeiros desferem novo ataque paramilitar na noite desta quinta-feira, 03, no estado do Mato Grosso do Sul, contra outro grupo Guarani-Kaiowá. O ataque dá-se contra o tekoha Guyra Kambi’y, localizado entre os municípios de Douradina e Itaporã, distante cerca de 30 km de Dourados. O fato ocorre apenas cinco dias após a investida criminosa organizada por fazendeiros, parlamentares e sindicalistas rurais contra a terra indígena de Nanderu Marangatu, no município de Antônio João, que culminou com o assassinato de Simião Vilhalva, 24 anos.

    Sob chuva de tiros advindos de uma milícia rural, os indígenas se esconderam como puderam em pequenas picadas de mato, estando até o momento impossibilitados de retornar até suas casas, onde teriam maiores possibilidades de proteção contra o fogo aberto pelos fazendeiros e jagunços.

    A pedido das famílias indígenas de Guyra Kambi’y, a Funai informou, em tempo hábil, a Polícia Federal de Dourados sobre o aglomeramento de caminhonetes e de um grupo armado nas imediações de onde se encontravam os indígenas. A Polícia Federal, porém, negou-se a prestar atendimento e garantir destacamento para realização de diligências e proteção dos indígenas.

    Para entender:

    Guyra Kambi’y é um tekoha (lugar onde se é) localizado dentro do território indígena de Lagoa Rica/Panambi, com extensão de 12.169 hectares, devidamente identificado, delimitado e reconhecido pelo Estado brasileiro, através da portaria nº 524, da Funai, de 12 de dezembro de 2012.

    Os Guarani-Kaiowá foram removidos, na década de 1940, da região onde está localizada hoje Guyra Kambi’y e deslocados para a reserva de Dourados. Em 2005, as famílias indígenas iniciaram um grande movimento de retorno e luta pela identificação de Lagoa Rica. Em 2008, após as retomadas de Guyra Kambi’y e Itay, terras indígenas que ficam dentro deste território maior, os estudos da Funai se iniciaram sendo conclusos em 2011 quando foi publicado o relatório antropológico que delimitou o território de Panambi/Lagoa Rica, com de 12.196 hectares.

    Após brigas judiciais travadas entre o órgão indigenista e o Sindicato Rural de Itaporã durante mais de três anos em que o procedimento demarcatório ficou suspenso, o Tribunal Regional Federal, 3ª. Região, decidiu, em 2014, por manter a determinação atual que garante os efeitos dos procedimentos demarcatórios de maneira plena. Desde 2008, mais de 15 famílias viviam enclausuradas em cerca de apenas dois hectares.

    Com a inércia do Governo em resolver a questão da demarcação, os indígenas retomaram, há dois dias, um pedaço mais amplo de seu tekoha Guyra Kambi’y. Ignorando as advertências e o acordo de paz firmado com o ministro da Justiça, nesta quarta-feira, 02, quando o mesmo esteve no MS, mais uma vez forças paramilitares ruralistas decidiram atacar as famílias Guarani-Kaiowá que buscam apenas sua sobrevivência. Não há notícias, no momento, sobre indígenas feridos.

    Brasília, 03 de setembro de 2015.

    Cimi – Conselho Indigenista Missionário

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  • 03/09/2015

    Ministro da Justiça tem 30 dias para decidir demarcação de terra indígena

    O Ministério Público Federal (MPF) em Mato Grosso do Sul obteve liminar na Justiça que obriga o ministro José Eduardo Cardozo a se posicionar, em no máximo 30 dias, sobre processo demarcatório da Terra Indígena Taunay-Ipegue, no pantanal sul-mato-grossense. O ministro deve analisar os estudos demarcatórios encaminhados pela Funai em 2009 e aprová-los ou rejeitá-los. Se Cardozo descumprir a ordem judicial, a União será multada em R$ 50 mil por dia.

    A Terra Indígena Taunay-Ipegue, com 6.461 hectares, fica em Aquidauana, a 150 km de Campo Grande, e é habitada por 5.500 indígenas da etnia Terena. Em média, são 6,8 hectares por família, quantidade de terra insuficiente, se ponderada a qualidade do solo da região, já localizada no Pantanal. Os estudos demarcatórios, iniciados em 1985, há mais de 30 anos, e finalizados em 2004, concluíram pela existência de um território tradicional indígena de 33.900 hectares.

     O decreto 1.175/96 determina que os estudos, encaminhados ao Ministério da Justiça, devem ser analisados em até 30 dias. O procedimento nº 08620.000289/85, referente à Terra Indígena Taunay-Ipegue, foi encaminhado pela Funai ao ministro em 25 de novembro de 2009. Desconsiderado o tempo em que liminar na Justiça suspendeu os estudos, de 13/08/2010 a 29/04/2014, o processo esteve à disposição do ministro Cardozo por pelo menos dois anos e dez meses, tempo 34 vezes superior ao prazo legal de 30 dias.

    A decisão judicial afirma que a omissão do ministro “reflete exatamente a necessidade da atuação do Poder Judiciário para fazer cumprir um direito constitucional espelhado na demarcação de terras indígenas, refletindo no direito de índios e não índios. São notórios os conflitos nas áreas rurais objeto de demarcação, inclusive com morte. Por outro lado, os não índios também sofrem consequências, diante das frequentes ocupações”.

    Conflito iminente

    O procurador da República Emerson Kalif Siqueira afirma que “um embate armado de grandes proporções é iminente e a tomada de posição pelo Ministério da Justiça, em cumprimento ao prazo legal para decidir, é indispensável e urgente”. Para o MPF, a lentidão na conclusão dos processos demarcatórios podem levar a conflitos como o ocorrido recentemente em Antônio João, no sul do estado, onde um indígena foi morto e dezenas ficaram feridos.

    Para o MPF, a demora na definição prejudica toda a sociedade. “Os produtores rurais ficam privados das indenizações devidas e dos reassentamentos de direito, que dependem dessa manifestação do ministro da Justiça. Os índios, por sua vez, continuam sem o pronunciamento conclusivo sobre os limites das terras, em reiterados embates com os agricultores e disputas internas em razão do espaço exíguo”.

     

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  • 03/09/2015

    Organizações exigem investigação da participação de parlamentares em reunião que resultou na morte de Guarani e Kaiowá

    Em nota pública, organizações indígenas e indigenistas pedem a investigação imediata da participação de fazendeiros e políticos ligados à bancada ruralista do Congresso Nacional na morte de Simião Vilhalva, liderança Guarani e Kaiowá assassinada no município de Antônio João, estado do Mato Grosso do Sul no último sábado (29/08). A presidente do Sindicato Rural do município, Sra. Roseli Maria Ruiz, os deputados federais Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Tereza Cristina (PSB), além do senador Waldemir Moka (PMDB), estiveram presentes na reunião que incentivou produtores rurais a organizarem o ataque na comunidade indígena.

    Na hora do ataque, o deputado federal Luiz Henrique Mandetta chegou a postar nas redes sociais que “NA FRONTEIRA A CHAPA É QUENTE”, tendo apagado todos seus posts após cair por terra a versão que sustentava que Simião Vilhalva Guarani e Kaiowá já estivesse morto horas antes do ataque.

     

    NOTA PÚBLICA PELA INVESTIGAÇÃO DA MORTE DE SIMIÃO VILHALVA

    EXIGIMOS A INVESTIGAÇÃO IMEDIATA DA RESPONSABILIDADE DE TODOS OS PRESENTES NA REUNIÃO NO SINDICATO RURAL DO MUNICÍPIO DE ANTÔNIO JOÃO (MS) QUE ORGANIZOU ATAQUE AOS INDÍGENAS GUARANI E KAIOWÁ 

    Na manhã do dia 29 de agosto, um grupo de pessoas ligadas a produtores rurais, que disputam na justiça a propriedade da Terra Indígena Nhanderu Marangatu, esteve reunido na sede do Sindicado Rural do município de Antônio João para planejar um ataque à comunidade indígena que ocupa o local visando desalojá-los à força da área.  A área é reconhecida pelo Governo Federal como de ocupação tradicional do povo Guarani e Kaiowá, mas os efeitos da homologação foram suspensos por liminar concedida pelo STF há cerca de dez anos, gerando o impasse que adquire contornos cada vez mais dramáticos.

    Após a reunião na sede do Sindicato Rural, mais de 40 veículos chegaram na Terra Indígena   com pessoas armadas e equipadas com coletes à prova de bala. O resultado foi o assassinato do indígena Simião Fernandes Vilhalva, de 24 anos, com um tiro que atingiu seu crânio e saiu pela nuca, de acordo com as primeiras vistorias realizadas pela Polícia Federal.

    A reunião de proprietários rurais foi conduzida pela Sra. Roseli Maria Ruiz, presidente do Sindicato, e contou com a presença dos deputados federais Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Tereza Cristina (PSB), além do senador Waldemir Moka (PMDB). O clima da reunião era de plena incitação à violência e foi dali que partiu a ordem de ataque, que foi precedido por uma onda de boatos plantados com a informação falsa de que os Guarani e Kaiowá haviam incendiado propriedades rurais e que invadiriam o município.

    Um dos mais ativos na campanha de difamação, o ruralista e ex-deputado federal Pedro Pedrossian Filho, usou premeditadamente imagens de um incêndio ocorrido no dia 24 deste mês na cidade de Capitán Meza, Paraguai, para reforçar a versão mentirosa de que os Guarani e Kaiowá estariam incendiando a região.

    No Facebook da advogada Luana Ruiz Silva, filha da presidente do Sindicato, lê-se a seguinte frase, postada às 13h do dia 29/08: “RETOMAMOS A FAZENDA. NO PEITO. NA RAÇA. NO GRITO. O CORPO DE ÍNDIO É CADÁVER DE 20 A 24 HORAS. É CADÁVER ANTIGO UTILIZADO COMO BANDEIRA”.

    As vistorias da PF no local, entretanto, encontram sangue no local exato do assassinato, descartando a hipótese de que Vilhalva já tivesse falecido horas antes.

    Os comentários dos seguidores da Sra. Ruiz Silva na mensagem acima mostram os efeitos da incitação ao ódio e a confiança na impunidade. Comentário do sr. Daniel Filipe Guiscem: “PELO MENOS MATOU O CABEÇA, O LÍDER, O ATIÇADOR. SE NÃO, FEZ MERDA!!”. Comentário do sr. Danilo Alves Correa Filho:“SENTA O DEDO! SE PRECISAR EM DUAS HORAS ESTOU AÍ. PRA MATAR E PRA MORRER”.

    O deputado Mandetta na hora do ataque chegou a postar nas redes sociais que “NA FRONTEIRA A CHAPA É QUENTE”, tendo apagado todos seus posts após cair por terra a versão que sustentava que Simião Vilhalva Guarani e Kaiowá já estivesse morto horas antes do ataque.

    As organizações abaixo assinadas exigem que todas as pessoas que participaram da reunião ocorrida no sindicato rural de preparação ao ataque à comunidade Guarani e Kaiowá tenham investigada a sua responsabilidade criminal na morte de Simião Fernandes Vilhalva.

    Qualquer um que tenha incitado o ataque armado aos indígenas é responsável pelo disparo que tirou a vida de Vilhalva e tanto as gravações da referida reunião quanto o histórico das manifestações dos presentes nas redes sociais precisam ser objeto de análise pericial.

    Não é aceitável que o Estado Democrático de Direito conviva com grupos paramilitares atuando livremente para perseguição de cidadãos brasileiros como se estivéssemos no período colonial e se pudesse declarar guerra aos indígenas, não só os primeiros habitantes desse continente, mas parte integrante da atual nação brasileira.

    ASSINAM:

    Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)

    Associação Brasileira de Antropologia (ABA)

    Centro de Trabalho Indigenista (CTI)

    Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo (CJP-SP)

    Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP)

    Conselho Indigenista Missionário (CIMI)

    Grupo Tortura Nunca Mais (GTNM-SP)

    Índio É Nós

    Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB)

    Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (IEPE)

    Instituto Socioambiental (ISA)

    Rede de Cooperação Amazônica (RCA)

    Uma Gota no Oceano

     

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  • 03/09/2015

    Escritório de direitos humanos da ONU condena morte de líder Guarani e Kaiowá no Brasil

    O Escritório Regional para América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), em Santiago do Chile, condenou hoje (02/09) a morte violenta do líder indígena Simião Vilhalva, ocorrida em 29 de agosto de 2015 no território indígena Guarani Kaiowá de Ñande Ru Marangatu, município de Antonio João, estado de Mato Grosso do Sul, no Brasil.

     

    O Representante para América do Sul do ACNUDH, Amerigo Incalcaterra, expressou suas condolências à família da vítima e ao povo Guarani Kaiowá, e instou o Estado brasileiro a realizar uma investigação rápida, independente e exaustiva para esclarecer os fatos e levar à justiça os responsáveis pela morte.

     

    “A demora excessiva na demarcação das terras tradicionais, as ordens de despejo por parte das autoridades e a violência que sofrem os povos indígenas no marco de suas reclamações estão entre as principais razões dos enfrentamentos violentos com outros atores na região”, afirmou Incalcaterra.

     

    O Representante do ACNUDH pediu publicamente ao Estado que garanta o respeito e a proteção dos direitos humanos dos povos indígenas, incluindo seu direito às terras. “Chamamos as autoridades a parar os despejos do povo Guarani Kaiowá das suas terras ancestrais e a finalizar urgentemente o processo de demarcação de terras”, disse.

     

    Em 11 de agosto, a Relatora Especial da ONU sobre os direitos dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, exortou o governo do Brasil a garantir que os direitos humanos dos indígenas Guarani Kaiowá sejam plenamente respeitados, e destacou que em nenhum caso os povos indígenas devem ser obrigados a abandonar seus territórios.

     

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  • 03/09/2015

    Ruralismo arcaico promove conflito contra comunidade indígena em Mato Grosso do Sul

    Num país como o nosso, dê o agro a um governante sensato e ele moverá o Brasil”. A formulação é de Kátia Abreu (Folha de S. Paulo, 24/05/14), mas entre os parlamentares brasileiros a premissa é quase consensual. O setor do agronegócio seria a alavanca, e, para ele, todas as concessões parecem pequenas. Os conflitos de terra que assolam o Brasil são vistos como efeitos colaterais no movimento dessa alavanca que supostamente geraria, para o Brasil, ordem e progresso.

    A alavanca do agronegócio tem, de fato, movido o Brasil, mas não em direção ao equilíbrio, à segurança e à rentabilidade econômica prometida e sim em direção a um abismo, no qual declinam os princípios éticos, os valores sociais e humanos, os preceitos constitucionais que asseguram aos povos indígenas o respeito às suas formas de vida e aos seus territórios. A alavanca do agronegócio vai (re)movendo, de acordo com interesses e necessidades dos setores nele representados, os obstáculos que impedem seu movimento e sua expansão. Vai esmagando aqueles que não se dobram ao produtivismo, aqueles que são tidos como obsoletos.

    O conflito de terras que presenciamos hoje no estado de Mato Grosso do Sul e, mais especificamente, no município de Antônio João, é emblemático para entendermos para onde a alavanca do agronegócio tem nos conduzido.

    Conforme se define no texto constitucional brasileiro, a demarcação de terras indígenas é um procedimento administrativo a partir do qual o governo federal reconhece a tradicionalidade da ocupação indígena, e se responsabiliza pela garantia de usufruto exclusivo por parte destes.

    Em 1999 o governo federal iniciou os trabalhos de identificação da Terra Indígena Ñanderú Marangatú. Passados 16 anos, esse processo ainda não foi finalizado. Em março de 2005, a área chegou a ser homologada com uma extensão de 9.241 hectares. Depois da homologação, as comunidades Kaiowá e Guarani iniciaram um processo de retomada, visto que suas terras estão invadidas por fazendas. Contudo, por ser uma área ocupada por fazendeiros e de grande interesse para o agronegócio, ainda em 2005 o então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim suspendeu, por intermédio de uma liminar, o decreto de homologação e a comunidade indígena foi despejada. A suspensão impediu ainda que a área indígena fosse registrada no Serviço de Patrimônio da União (SPU), última etapa do processo demarcatório.

    Uma longa espera se sucedeu, na qual os Kaiowá e Guarani pacientemente aguardaram que fossem retomados os procedimentos de desintrusão de seu território tradicional, mas, nestes dez anos, após a homologação, nenhuma medida concreta foi tomada pelo governo federal para assegurar a posse e usufruto exclusivo destes povos sobre suas terras.

    A vida em acampamentos se mostrou insustentável para os Kaiowá e Guarani e, por isso, em agosto deste ano eles retomaram as fazendas Primavera, Fronteira, Cedro, Bananal e Barra, situadas dentro dos limites de seu território.

    Estas retomadas têm sido desqualificadas, criminalizadas e nomeadas como atos de invasão por parlamentares e ruralistas da região. Dentre as vozes mais ferozes que se erguem contra os Kaiowá e Guarani estão as de Roseli Ruiz, presidente do Sindicato Rural de Antônio João, e a de sua filha, Luana Ruiz. Herdeiras de uma tradição ruralista arcaica, ambas têm atacado pública e abertamente as instituições (governamentais e não governamentais) que atuam na defesa dos direitos indígenas. Declarações depreciativas sobre a Fundação Nacional do Índio (Funai), sobre o Ministério Público Federal (MPF), por exemplo, têm sido frequentes.

    Em vídeos postados na internet, mãe e filha têm convocado os setores do agronegócio a unirem-se contra aqueles que ameaçam os interesses de proprietários rurais (ainda que esses interesses colidam frontalmente com os preceitos constitucionais). E elas não têm economizado palavras de ódio no intuito de difamar o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cuja trajetória histórica de mais de 40 anos evidencia a seriedade e o compromisso com a vida dos povos indígenas e com o cumprimento dos preceitos constitucionais.

    A estratégia utilizada para difamar e estabelecer um sentido indesejável e nefasto à atuação do Cimi expressa, por tabela, todo o preconceito destilado contra os Kaiowá e Guarani. O preconceito se manifesta, por exemplo, na ideia de que os indígenas seriam “massa de manobra”, manipuláveis ou incapazes de promover autonomamente ações em favor da garantia de seus direitos territoriais.

    Ao afirmar, em redes sociais, que “o Cimi insiste em dizer para os índios que eles têm direitos que não tem”, tentam fazer letra morta as garantias expressas no Artigo 231 da Constituição Federal e, por outro lado, o sentido do ato administrativo de demarcação. Se a terra indígena Ñanderú Marangatú foi demarcada, o Estado reconheceu, no ato da demarcação, o direito originário, inalienável e imprescritível dos Guarani e Kaiowá. Felizmente, apesar das pressões parlamentares e ruralistas, os preceitos constitucionais são soberanos e definem os caminhos para a resolução de embates fundiários: as terras indígenas são bens da União e os títulos que sobre elas incidirem são nulos. Nos termos da lei, não são os interesses dos fortes, os desbravadores, os impetuosos que prevalecem, e sim daqueles para quem a terra é mais do que um recurso econômico.

    Por fim, enquanto os Guarani e Kaiowá buscam soluções para assegurar sua sobrevivência física e cultural, seguem as incitações para que agricultores do Mato Grosso do Sul e fazendeiros do Paraná, mais especificamente da região de Guaíra, se posicionem contra as ações dos povos indígenas. Expressões como “estamos dispostos a matar ou morrer” têm sido usualmente utilizadas em postagens irresponsáveis. Estas sim são um perigoso chamado à intolerância e à violência.

    As consequências desses ataques se expressam, por exemplo, em atos covardes como o assassinato de Semião Vilhalva, na manhã do dia 29 de agosto, durante o ataque de fazendeiros contra os Kaiowá e Guarani. Ele tinha apenas 24 anos, estava desarmado, procurava o filho à beira de um córrego e foi morto com um tiro no rosto.

    Versões fantasiosas foram veiculadas na internet e em jornais locais onde se dizia que Semião estaria morto há mais de 24 horas. Tais versões, ao que parece, tinham a intenção de imputar aos próprios indígenas a morte do Semião e desviar o foco dos fazendeiros que, a partir de uma reunião realizada no Sindicato Rural de Antônio João, decidiram enfrentar os indígenas e expulsá-los das áreas ocupadas.

    Não há como entender esse assassinato, senão como efeito da intolerância instituída, da vontade de exterminar aqueles que lutam para restabelecer seus espaços tradicionais de vida. Atos de intolerância não são isolados, são manifestações extremas de um pensamento cultivado, alimentado, reforçado, por exemplo, em manifestações ferozes e irresponsáveis de ruralistas que não têm apreço à verdade e à justiça.

     

    Retomando a alegoria de Kátia Abreu, com a qual se inicia este texto, a alavanca do agronegócio tem movido muito mais do que empreendimentos e fortunas, ela tem promovido a violência, o preconceito e o desrespeito pela vida. A imagem da alavanca também pode ser útil para se pensar como se deu o assassinato de Semião Vilhalva: dê força ao pensamento intolerante e preconceituoso de um ser arrogante e ele moverá a mão que aciona o gatilho.

  • 02/09/2015

    Casa de Cultura do Urubuí manifesta solidariedade aos Guarani e Kaiowá com cobranças ao Estado brasileiro

    Os membros da Casa da Cultura do Urubuí-Cacuí manifestam a sua solidariedade às lutas dos povos indígenas no Mato Grosso do Sul, em especial, neste momento, aos Kaiowá-Guarani da fronteira Estado.

    Repudiam, simultaneamente, as violências contínuas, físicas e pressões que sofre esse Povo Indígena e que, outra vez, no último dia 29 de agosto, culminou com o assassinato da liderança Kaiowá-Guarani Semião Fernandes Vilhalva, no município de Antônio João.

    Insistimos que o Estado Brasileiro assuma, em definitivo, o seu papel institucional na construção de canais e meios que atenuem e resolvam as tensões e os conflitos, garantindo os direitos constitucionais dos Povos Indígenas e a demarcação de seus territórios.

    Solidariedade também ao Conselho Indigenista Missionário, permanente apoio dos povos indígenas mais perseguidos. Particularmente neste momento em que os representantes do governo dos latifundiários invasores das terras Kaiowa-Guarani, Kadiwéu e Terena do Mato Grosso do Sul, vem tentando calar a sua voz e inibir a sua ação através de uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia Legislativa.

    Presidente Figueiredo – AM, 2 de setembro de 2015.

     

     

     

     

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  • 02/09/2015

    Chumbo grosso e pressa

    Assim poderíamos caracterizar a estratégia do agronegócio, bancada da bala, bancada fundamentalista religiosa e setores anti-indígenas para esse dia 2 de setembro. Chumbo grosso e pressa. Na pauta, a aprovação do relatório da Comissão Especial da PEC 215, na Câmara dos Deputados, que Daniel Guarani-Kaiowá chamou de PEC do genocídio. Em Campo Grande, capital do Estado mais violento e anti-indígena do país, assinaturas foram coletadas para a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) contra os direitos indígenas, denominada CPI do Cimi.

    Repete-se a mesma estratégia de 1987, quando, por ocasião da Constituinte se instituiu no parlamento brasileiro a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) com o intuito de impedir a conquista dos direitos indígenas na Constituição. O mecanismo que as mineradoras, políticos, setores militares, madeireiras, latifundiários utilizaram foi exatamente o mesmo: atacar os direitos indígenas atacando seus aliados, particularmente o Cimi.

    Naquela ocasião, Dom Luciano Mendes de Almeida, então presidente da CNBB, de forma brilhante, fez a defesa dos povos indígenas, da verdade e do Cimi. E a farsa, as mentiras foram desmascaradas e os direitos indígenas conquistados.

    Velório nos Três Poderes

    Depois da caminhada com o caixão e muita indignação pelo espaço dos poderes, sob um sol escaldante e abrasador, finalmente lideranças indígenas de vários povos e entidades aliadas de todo o país chegaram à rampa do Congresso. Depressa, as forças de segurança impediram a continuidade da caminhada. “Nós apenas queremos colocar aqui, diante dessa casa onde se encontram cúmplices do assassinato de nossa liderança Simeão Kaiowá Guarani de Nhanderu Marangatu, do Mato Grosso do Sul, fronteira com o Paraguai. Que venham os parlamentares envolvidos nesse assassinato. Vejam no caixão nosso irmão assassinado”, desabafou uma das lideranças desse povo, em meio a rituais para espantar os maus espíritos.

    O caixão contendo o nome de vários inimigos dos índios no Mato Grosso do Sul foi abandonado na rampa da casa do povo, causando um constrangimento na segurança que não sabendo como proceder pediu aos índios para retirassem o caixão. Ao que prontamente veio a resposta: “O caixão é de vocês. Ali estão assassinos dos povos indígenas”.

    Antes da ida à rampa do Congresso, foi feita uma parada, em frente ao Palácio do Planalto. Lá foi exigida da presidente da República a imediata retomada da demarcação das terras indígenas, como condição fundamental para impedir o derramamento de sangue e mais assassinatos no Mato Grosso do Sul e em todo o país.

    Um dos momentos fortes do velório de Simeão Kaiowá Guarani foi diante do Supremo Tribunal Federal. Ali foram feitas falas indignadas pela omissão e inércia do Poder Judiciário, que é ágil contra os índios e moroso quando se trata da garantia dos direitos indígenas. Foi lembrado que fazem dez anos que ali se encontra uma decisão liminar que suspendeu os efeitos da homologação de 9.300 hectares (dos quais os índios estão confinados em apenas 126 hectares). Houve a promessa de retomada do julgamento desta ação, com a máxima agilidade. As lideranças da área estiveram inúmeras vezes no STF e obtiveram do então relator da ação, ministro Cezar Peluzzo, a promessa de que já estava com seu relatório pronto e que agilizaria a decisão. Até hoje nada. A relatoria está atualmente com o ministro Gilmar Mendes!

    Celebrando a esperança e indignação

    A caminhada do velório iniciou em frente à Catedral, com uma primeira parada no Ministério da Agricultura, de Kátia Abreu, inimiga ferrenha dos direitos indígenas e uma das principais responsáveis pela expansão do agronegócio, numa onda de destruição ambiental, sem precedentes na história desse país.

    E foi na Catedral de Brasília que, às 20 horas, se encerrou a manifestação contra a violência, os assassinatos dos índios, com um culto ecumênico articulado pelo Conselho Mundial de Igrejas.

    Lá estavam lideranças indígenas e aliados. Lá estava a esperança. Nas preces e nas falas o apelo de socorro da Mãe Terra e de seus filhos primeiros, originários, os povos indígenas.

    Assim como a ação violenta e apressada dos fazendeiros e seus pistoleiros, dos políticos e seus sequazes, do grande capital nacional e internacional com seus tentáculos insaciáveis de lucro e acumulação, a esperança e a paz avançarão rumo à justiça com igualdade e diversidade respeitada.

    Se hoje os ruralistas têm balas e pressa, certamente esse dia passará para a história como mais uma luta extremamente desigual, mas heroica dos habitantes originários desse continente e seus aliados, e todos os batalhadores da vida e sobrevivência do planeta terra.

     

     

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