• 19/01/2016

    “Ódio e violência contra indígenas tem relação com bancada ruralista no Congresso”

    Sobre o crescimento da violência contra os povos indígenas nas últimas semanas, com os chocantes casos da morte do menino Vitor, da etnia Kaingang, assassinado no colo da mãe enquanto era amamentado em frente à rodoviária do município de Imbituba, em Santa Catarina, e de outro indígena não identificado morto também em uma rodoviária, no centro de Belo Horizonte, espancado enquanto dormia, o secretário-executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Cléber Buzatto, afirma ter relação direta com os ataques aos direitos indígenas promovidos pela bancada ruralista no Congresso Nacional.

    Em entrevista à Rádio Brasil Atual, o secretário-executivo do Cimi cobra também ações mais efetivas por parte do Executivo Federal na demarcação de terras indígenas que, segundo ele, é o elemento central da disputa com os ruralistas, e lamenta a redução do orçamento previsto para a Fundação Nacional do Índio (Funai). “Em vez de fortalecer o órgão indigenista, em vez de aumentar os recursos disponíveis para a solução dos problemas, o governo, ao contrário, reduziu drasticamente o orçamento para essas ações”.

    Confira a íntegra da entrevista:


    RBA – No acompanhamento desse trato com os indígenas, e também do preconceito contra os povos, o Cimi tem alguma resposta do porquê do aumento da violência contra os indígenas?

    Cléber Buzatto – Estamos muito preocupados. Já conversamos em outras oportunidades sobre situações de violência e essa situação tem se agravado permanentemente e, nesses últimos dias, se manifestado em casos extremamente graves, marcantes e revoltantes. Ataques incompreensíveis, para quem tem o mínimo de humanidade no coração. Ataques gratuitos, onde as pessoas que morreram, em ambos os casos, não fizeram nada contra os seus algozes e agressores. Portanto, a violência que eles sofreram diz respeito a um ódio que está sendo veiculado na sociedade contra um grupo, ou grupos de pessoas, das quais elas fazem parte, que sofrem essa violência puramente gratuita. Estamos convencidos de que o aumento dessas manifestações de ódio, que se traduzem em atos de violência, inclusive assassinatos, tem relação direta com o ataque que os ruralistas tem praticado contra os povos indígenas no âmbito do Congresso Nacional, e em outras instâncias, na tentativa de desfazer os direitos, especialmente os direitos territoriais, dos povos originários, para continuar tomando de assalto as terras que pertencem e que são fonte de vida para os povos originários do nosso país.

    Nesse processo de ataque aos direitos territoriais dos povos indígenas, que estão consagrados na Constituição Federal, como uma forma de tentar legitimar a ação desses ruralistas, eles próprios têm adotado postura extremamente agressiva no seu discurso anti-indígena, em todas as regiões do país. Discursos, inclusive, de incitação à violência e ao ódio contra os povos indígenas. É o caso concreto, por exemplo, dos deputados (federais) Alceu Moreira (PMDB-RS), Luiz Carlos Heinze (PP-RS), que, no final de 2014, fizeram discursos de incitação ao ódio e à violência contra as comunidades. Esses discursos têm sido repetidos por centenas de parlamentares da bancada ruralista de várias regiões do país, e esses discursos potencializam ao extremo um sentimento de preconceito que já é latente numa parcela significativa da população brasileira, a ponto de nesses últimos períodos estar chegando nesses extremos de assassinatos gratuitos contra pessoas totalmente indefesas.

    RBA – Muitos outros casos também não chegam a público. Como está o acompanhamento do Cimi da política indigenista do país, ainda precária?

    Cléber Buzatto – Exatamente, tem muitos casos. A gente faz um esforço bastante grande, nossos funcionários e nossas equipes, de sempre que tomam conhecimento, a gente procura fazer um esforço para dar visibilidade para estas situações. Mas, evidentemente, muitos casos acabam não chegando devidamente ao conhecimento público, e esse é um problema também.

    Nós estamos acompanhando a questão da política indigenista, sempre com uma preocupação bastante grande, porque, apesar de todas essas manifestações de preconceito e ódio que estão acontecendo, a gente não vê, por parte do poder Executivo, uma ação efetiva na perspectiva de combater estruturalmente essas situações. Ao contrário, ficamos perplexos, há poucos dias, ao tomarmos conhecimento da redução bastante drástica do orçamento da Fundação Nacional do Índio (Funai), disponível para ações como, por exemplo, das demarcações de terras indígenas e indenização aos ocupantes não-indígenas. É um sinal, segundo a nossa avaliação, de que o governo não tem uma perspectiva, dentro da sua política indigenista, de atacar o cerne, o elemento central, que motiva, produz e potencializa essas situações de conflito, violência e ódio entre os povos.

    É preocupante essa informação de que, em vez de fortalecer o órgão indigenista, em vez de aumentar os recursos disponíveis para a solução dos problemas, o governo, ao contrário, reduziu drasticamente o orçamento para essas ações. Isso demonstra claramente uma opção política que, infelizmente, não prioriza os povos indígenas, numa perspectiva economicista que evidentemente a gente discorda.

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  • 19/01/2016

    Indígena é assassinado em Belo Horizonte

    No dia 15/01/2016 mais um indígena foi assassinado em Belo Horizonte, na rua 21 de Abril, na região central da Capital. O indígena de aproximadamente 55 anos de idade, ainda sem identificação, sobrevivia naquela região como morador de rua, reconhecido como uma pessoa tranquila e pacífica, sem antecedentes criminais. Ele dormia na calçada quando um jovem se aproximou e iniciou um ataque covarde e cruel com um chute e mais 20 pisadas em sua cabeça. O indígena ficou agonizando na calçada durante cinco horas. Levado ao hospital, não resistiu aos ferimentos e faleceu. O assassino é um jovem bem apessoado que agiu por ódio, preconceito e racismo, comportamento este que está se tornando comum em nossa sociedade, principalmente contra indígenas, negros, prostitutas, homossexuais, todos cidadãos.

    Registrado por câmeras de monitoramento do comércio local, o crime teve repercussão nacional, principalmente pela intencionalidade e crueldade contra uma pessoa indefesa. Apesar de estar sendo divulgado que a vítima tem origem indígena, ainda não há informações concretas sobre sua identidade e nem etnia.  Entretanto, trata-se de um crime bárbaro, que poderá ficar sem esclarecimento, assim como outros crimes violentos contra indígenas que têm acontecido em Belo Horizonte, sem providências e punição aos assassinos.

    Em julho de 2014, o indígena Samuel Pataxó, de 19 anos, da Aldeia Coroa Vermelha, localizada no município de Santa Cruz Cabrália, veio vender artesanato em Belo Horizonte, foi assassinado com vários tiros, e seu corpo foi encontrado dois dias depois em um matagal.

    Em março de 2015, o indígena Genilson Lima dos Santos – Pataxó – de 39 anos, também da Aldeia Coroa Vermelha, foi assassinado com um tiro a queima roupa por um policial no Bairro Paraíso, também em Belo Horizonte.

    A cidade de Belo Horizonte tem 3.477 indígenas e na região metropolitana da Grande Belo Horizonte há 7.979 mil indígenas, segundo o último censo do IBGE. A maioria dessa população indígena saiu de suas terras e locais originários, fugindo de conflitos e ameaças na luta por seus territórios e também em busca de melhores condições de vida na região Sudeste, considerada a mais próspera do país. Em Belo Horizonte, os indígenas vivem nas periferias, em condições precárias de sobrevivência, vendendo artesanato, fazendo pequenos “bicos” na construção civil, como vigilantes ou participando das ocupações urbanas, na esperança de um terreno para construir um barraco. Existem também alguns vivendo na rua, pedindo esmolas já em situação deplorável, devido ao uso excessivo de bebidas alcoólicas e outras drogas. Esta foi a situação do indígena assassinado brutal e covardemente na última sexta-feira, dia 15/01/2016, por um jovem, bem apessoado, de cor clara e comportamento frio de um assassino.

    É importante salientar que em documentos, audiências, reuniões com autoridades e movimentos sociais os representantes indígenas têm reclamado do preconceito e do comportamento truculento e violento da Polícia Militar e da Guarda Municipal quando são abordados e se identificam como indígenas vendendo seus artesanatos, que são muitas vezes impedidos de entrar no metrô, nos ônibus, nos órgãos públicos, trajando suas pinturas, suas vestes, seus instrumentos. Também reclamam dos órgãos públicos que se negam a cumprir a lei na responsabilidade da assistência, no caso a Funai, a Sesai, as Secretarias de Educação e outros, colocando os indígenas que moram nos centros urbanos em total vulnerabilidade social.

    É lamentável que pessoas que sobrevivem com as migalhas da sociedade, nas ruas, nas favelas, nos morros, nos becos, nas estradas, geralmente negras e indígenas, sejam submetidas ao preconceito, à discriminação e até ao racismo, gerando tamanha violência.

    É lamentável que no século XXI os poderes constituídos, Executivo, Legislativo e Judiciário, tramem para retirar os poucos direitos constitucionais dessas populações, incitando o ódio e a violência.

    Ao completar 21 anos do martírio de Galdino, o índio queimado vivo por três jovens de classe média alta de Brasília; ao completar 30 dias do martírio de Vitor Pinto, a criança indígena de 2 anos, que foi degolada em plena rodoviária de Ibituba, sul de Santa Catarina; ao completar 7 dias do martírio do índio sem nome, que foi assassinado com mais de 20 pontapés na cabeça enquanto dormia no centro de Belo Horizonte, o Conselho Indigenista Missionário vem lamentar, mas também denunciar e exigir providências contra toda a violência praticada por particulares e pelo Estado contra toda a população pobre e desprotegida, alvo do preconceito, discriminação e racismo em nosso país.

    Denunciamos que os indígenas estão sendo assassinados em suas terras e fora delas pela ganância do capital e pela imobilidade das estruturas de poder que negociam os seus direitos e por vezes “lavam as mãos”.  

     

    Conselho Indigenista Missionário – Regional Leste

    Janeiro de 2015

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  • 18/01/2016

    Indígenas Guarani e Kaiowá denunciam ataques a tiros após retomada da Terra Indígena (TI) Lechucha no MS

    No primeiro final de semana posterior à retomada da Terra Indígena (TI) Lechucha, território tradicional reivindicado pelo povo Guarani e Kaiowá nas adjacências da TI Taquara, no município de Juti (MS), os indígenas sofreram intensos ataques a tiros e com veneno e permanecem isolados, cercados pelos pistoleiros.

    Segundo relato dos indígenas, desde o momento em que a retomada da TI Lechucha foi descoberta pelos fazendeiros, na última sexta-feira (15), os Guarani e Kaiowá que se encontram no acampamento da retomada –separada da TI Taquara apenas por um rio – vinham sofrendo ameaças de homens que circulavam armados em caminhonetes.

    Na tarde de sábado (16), em torno das três e meia da tarde, pistoleiros chegaram ao local da retomada atirando contra os indígenas, que se esconderam na mata. Os ataques duraram várias horas e, segundo os relatos, tiveram seu momento mais intenso entre as oito e as onze horas da noite. Pelo menos dois barracos erguidos pelos indígenas foram queimados.

    Também durante a tarde de sábado, um grupo de pistoleiros distribuídos em dez caminhonetes dirigiu-se à tekoha – lugar onde se é – Taquara, onde atacou os indígenas que estavam lá. Crianças, adultos e idosos buscaram proteção contra os tiros na mata das proximidades. Valdelice Veron, liderança da TI Taquara que estava presente no momento do ataque, afirma que agentes do Departamento de Operações Especiais de Fronteira (DOF), polícia mantida pelo governo do estado do MS, participaram dos ataques e bloquearam a via que liga as TIs Taquara e Lechucha, impedindo a comunicação entre os indígenas.

    “No sábado, enquanto atiravam, eles gritaram que estava tudo bloqueado e a gente não teria saída”, relata Valdelice, que conta que durante os ataques um administrador de uma fazenda incidente sobre a tekoha Taquara afirmou que a Polícia Federal (PF) era “amiga do fazendeiro”. A PF de Naviraí – município onde fica a comarca mais importante da região – chegou ao acampamento da retomada apenas no domingo e, segundo os indígenas, tratou-os com rispidez.

    Segundo Valdelice, os Guarani e Kaiowá solicitam a presença da Força de Segurança Nacional, pois afirmam não confiarem na Polícia Federal, órgão legalmente responsável por garantir a segurança dos povos indígenas. Como justificativa para a desconfiança, os indígenas lembram o assassinato de Oziel Terena, ocorrido durante uma reintegração de posse orquestrada pela PF numa área retomada pelo povo Terena em 2013, na Terra Indígena Buriti.

    No sábado, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados foi avisada da situação de violência que os Guarani e Kaiowá estavam enfrentando na retomada e interveio junto à DOF – a qual, desde então, não foi mais vista pelos indígenas nas redondezas das TIs Taquara e Lechucha.

    Na manhã desta segunda-feira (18), os Guarani e Kaiowá da tekoha Taquara permaneciam escondidos na mata quando um avião sobrevoou a região e despejou veneno sobre eles. Ainda não há relatos sobre se o veneno foi despejado também sobre a TI Lechucha, mas os indígenas relatam que o avião seguiu na direção da retomada.


    Apesar de ter sido percebida e divulgada apenas na sexta-feira (16), segundo Valdelice Veron, a retomada da TI Lechucha aconteceu na madrugada de 13 de janeiro, data em que o assassinato do cacique Marcos Veron completava 13 anos. Marcos foi uma liderança histórica da TI Taquara e um dos responsáveis por iniciar o processo de retomada da tekoha em 1997, após anos aguardando a resposta do governo aos pedidos de identificação e demarcação de sua terra.

    A área retomada na semana passada está em estudo pela Fundação Nacional do Índio (Funai) há pelo menos uma década e foi objeto de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) estabelecido em 2007 pelo Ministério Público Federal (MPF), o qual buscava dar celeridade aos processos demarcatórios de terras do povo Guarani e Kaiowá no estado do MS. Apesar disso, desde então, os processos praticamente não avançaram.

    Já a TI Taquara aguarda a homologação pelo governo federal. Os estudos de identificação da terra tradicional iniciaram em 1999 e, em 2010, o Ministério da Justiça publicou a Portaria Declaratória reconhecendo aos Guarani e Kaiowá a tradicionalidade de seu território. Atualmente, os cerca de 600 indígenas da tekoha vivem confinados em uma pequena porção de seu território tradicional, ocupando apenas 300 dos 9.700 declarados da TI Taquara.

    Em função dessa situação de morosidade, Valdelice Veron afirma que os indígenas reunidos na Aty Guasu (grande assembleia) do grande povo Guarani e Kaiowá decidiram partir para a retomada da totalidade da TI Taquara, caso o processo demarcatório não avance.

    “Nós estávamos quietos durante 19 anos, vivendo como refugiados em nossa própria terra. Não vamos mais esperar pela Justiça, porque não existe justiça para os Guarani e Kaiowá. Com a demora da homologação, nós vamos fazer a demarcação com o nosso sangue”, afirma Valdelice Veron, que é uma das 18 filhas e filhos do cacique Marcos e da Ñandeci Júlia Cavalhera. A matriarca, que já perdeu o marido e outros quatro filhos em função da violência contra o povo Guarani e Kaiowá na TI Taquara, é uma das lideranças que aponta para a necessidade de retomar o território tradicional de seu povo.

    Após a retomada da TI Lechucha, fazendeiros iniciaram uma campanha de difamação contra os indígenas, afirmando que os Guarani e Kaiowá na retomada estariam portando armamento pesado. O administrador de uma fazenda incidente sobre a tekoha afirmou a veículos de imprensa que os indígenas teriam "espingardas de diversos calibres e outras armas".

    “Não temos dinheiro nem para comida, como vamos ter dinheiro para armas?”, questiona Valdelice Veron. “Nós conhecemos a nossa história, conhecemos nossa raiz, sabemos onde estão nossos bisavós, nossos tataravós, e não precisa ninguém nos contar. A gente sabe quais são as nossas terras e conhece a história do nosso povo”.

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  • 15/01/2016

    Guarani e Kaiowá retomam parte de seu território tradicional na Terra Indígena Taquara, no MS, e já sofrem ameaças

    Na madrugada desta sexta (15), indígenas do povo Guarani e Kaiowá retomaram mais uma parte de seu território tradicional na Terra Indígena (TI) Taquara. A área retomada, sobre a qual está sobreposta uma fazenda, é conhecida pelos indígenas como Lechucha e integra a tekoha – lugar onde se é – Taquara, localizada junto ao município de Juti, no Mato Grosso do Sul (MS). Durante o dia de hoje, indígenas relataram ter recebido ameaças de homens armados em caminhonetes.

    A nova retomada aconteceu dois dias depois do assassinato do cacique Marcos Veron, morto em 13 de janeiro de 2003, completar 13 anos. Marcos foi uma liderança histórica da TI Taquara, responsável por liderar os Guarani e Kaiowá de volta à sua tekoha, em 1997, após anos aguardando a resposta do governo aos pedidos de identificação e demarcação de sua terra.

    Atualmente, o território aguarda a homologação da área pelo governo federal. Os estudos de identificação da terra tradicional iniciaram em 1999, e em 2010 o Ministério da Justiça publicou a Portaria Declaratória, reconhecendo aos Guarani e Kaiowá a tradicionalidade de seu território.

    Até a retomada realizada hoje, os cerca de 600 indígenas da tekoha viviam confinados em uma pequena porção de seu território tradicional, ocupando apenas 300 dos 9.700 da TI Taquara. Nesse espaço restrito, os Guarani e Kaiowá vinham sofrendo com constantes abusos, ameaças e violações dos mais diversos tipos, além de serem cotidianamente impactados pelo uso de agrotóxicos nas plantações de cana de açúcar próximas e pelo desmatamento provocado pelos fazendeiros das redondezas.

    Os indígenas vêm denunciando, há anos, a prática de crimes ambientais pelos fazendeiros locais e a poluição do rio que passa no interior da terra indígena com o veneno utilizado nas plantações.


    Em maio de 2015, uma representação da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados visitou a tekoha Taquara, para conhecer a realidade de violações que os Guarani e Kaiowá enfrentam na região. Na ocasião, uma das lideranças da tekoha afirmou aos visitantes: “Levem daqui todo o sofrimento de um povo, tragam no retono justiça, porque aqui embaixo já deixamos de saber o que é justiça há muito tempo, mesas de dialogo, enrolação, desculpas, isso já nos levou 25 anos sem nossa demarcação”.


    Um longo histórico de violência marca a trajetória recente dos Guarani e Kaiowá da TI Taquara. Em outubro de 2001, os indígenas foram expulsos da área retomada em 1997 e passaram a viver sob lonas ao lado de uma rodovia. No início de 2003, a comunidade resolveu retomar mais uma vez seu território tradicional. Após a retomada, o cacique Marcos Veron foi espancado por jagunços e veio a falecer horas depois.

    Além do assassinato de Marcos Veron, pelo menos outras quatro lideranças da comunidade foram mortas nos últimos anos, e os indígenas denunciam que estupros contra as mulheres indígenas da tekoha são recorrentes, praticados pelos jagunços que são contratados pelos fazendeiros locais.

    Funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai), notificados da retomada, partiram na tarde de hoje para averiguar a situação do acampamento. Segundo relatos de indígenas, homens armados que rondam a retomada em caminhonetes fizeram ameaças contra os Guarani e Kaiowá e possíveis ataques podem acontecer a qualquer momento.

    Fotos: Cimi Regional MS

     

     

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  • 14/01/2016

    Justiça suspende Licença de Operação de Belo Monte por desobediência a decisão judicial

    A Justiça Federal de Altamira determinou a suspensão da Licença de Operação da usina de Belo Monte até que a Norte Energia SA e o governo brasileiro cumpram a obrigação de reestruturar a Fundação Nacional do Índio (Funai) na região para atender os índios impactados pelo projeto. A condicionante já constava na licença prévia da usina, concedida em 2010, mas nunca foi cumprida. Em 2014, o Ministério Público Federal acionou a Justiça, que ordenou por meio de liminar o cumprimento da condicionante. Até hoje, com todos os impactos atingindo severamente os povos indígenas, a reestruturação não aconteceu.

    A liminar inicial do processo é de janeiro de 2015. E ordenava a apresentação, em 60 dias, de um plano de reestruturação, que deveria incluir a construção de sede própria para a Funai e contratação de pessoal suficiente para atender as demandas geradas por Belo Monte no atendimento aos oito povos indígenas impactados pela usina. O governo e a Norte Energia não apresentaram o plano até hoje e o MPF comunicou à Justiça o descumprimento e solicitou medidas mais rigorosas. 

    Como resposta, a juíza Maria Carolina Valente do Carmo determinou “a suspensão dos efeitos da Licença de Operação da UHE Belo Monte até a satisfação da obrigação condicionante referente à reestruturação da Funai, de modo a garantir as condições necessárias ao acompanhamento da implementação das demais medidas e condicionantes relacionadas ao componente indígena”.

    Em vez da reestruturação, o que ocorreu entre 2010, data da primeira licença de Belo Monte, até 2015, data da última licença, foi a desestruturação da Funai. Continua sem sede própria, em 2012 foram retirados todos os postos das aldeias e tem hoje 72% menos funcionários para atuar com os povos indígenas. O governo federal chegou a dizer à Justiça, em 2015, que o problema dos funcionários seria resolvido com a realização de um concurso público, mas até hoje não apresentou cronograma para isso. E a situação se agravou, com mais funcionários se afastando ao longo do ano. Em 2011 eram 60 servidores, hoje são apenas 23. 

    Em junho de 2015, a coordenação regional da Funai enviou correspondência para Brasília em que afirmou: “no âmbito da Funai de Altamira nunca enfrentamos um desafio de tamanha grandeza, onde funcionários abnegados se veem obrigados a aceitar o processo crescente de agregação de atribuições, o que vem resultando em um desgaste físico, emocional e laboral. Alertamos que, provavelmente, nos próximos 6 (seis) meses, se nada for feito no sentido de analisar, avaliar e deliberar sobre a questão em tela, corre-se o risco de um colapso e interrupção das atividades desta regional, situação que prejudicará as ações institucionais e as comunidades indígenas”.

    A situação da Funai agrava os impactos que Belo Monte provoca sobre os povos indígenas, abandonados à própria sorte, lidando diretamente com diretores e prepostos da Norte Energia S.A, que passam a atuar como se fossem o Estado. “A reestruturação da Funai era medida indispensável para que as demais ações condicionantes fossem devidamente implementadas. O que ocorreu foi a desestruturação da FUNAI e o corrompimento das obrigações do licenciamento pela Norte Energia”, diz o MPF. Com isso o impacto de Belo Monte sobre os indígenas ultrapassou de modo ainda não mensurado os prognósticos dos Estudos de Impacto Ambiental.

    A decisão que suspende a licença de Belo Monte é de 11 de janeiro. Depois que for notificado, o Ibama tem prazo de cinco dias para paralisar o enchimento do reservatório. Além da suspensão da licença, a juíza determinou multa de R$ 900 mil para União e Norte Energia, pelo descumprimento da ordem judicial. 

    Clique aqui para ler a íntegra da decisão.

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  • 12/01/2016

    Waimiri Atroari não autorizam linhão de Tucuruí em suas terras

     

    Os índios Waimiri Atroari estão contestando o aval que o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), o petista João Pedro Gonçalves da Costa, concedeu ao Instituto Nacional de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e que permitiu, em 9 de dezembro passado, a emissão da Licença Prévia ambiental à concessionária Transnorte Energia S/A, responsável pela construção de 125 km da Linha de Transmissão Manaus-Boa Vista dentro do território indígena. A maior parte do território Waimiri Atroari fica localizada no Estado do Amazonas, mas abrange também a região sul de Roraima.

    Em carta enviada à presidente do Ibama, Marilene Ramos, no dia 1º de dezembro, portanto, oito dias antes da emissão da Licença Prévia, 23 lideranças Waimiri Atroari afirmam que a etnia não foi consultada previamente por João Pedro Gonçalves sobre os impactos socioambientais da obra na terra indígena. Para construir a linha de transmissão, serão instaladas cerca de 250 torres de sustentação, o que levará centenas de operários para dentro da reserva onde vivem mais de 1,6 mil índios considerados de recente contato pela Funai.

    A consulta prévia é determinada pela Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o seu descumprimento constitui numa violação de direitos do povo. A OIT foi ratificada pelo governo brasileiro em 2002.

    “A nossa comunidade não foi consultada previamente sobre o referido empreendimento e que em função do licenciamento por parte do Ibama, há problemas internos entre os grupos sociais que compõe a nossa Nação. (…) A Funai, mesmo sendo uma instituição do governo com missão de defender os direitos dos índios do Brasil, legalmente não pode falar em nome da nossa Comunidade Waimiri Atroari”, dizem os índios na carta encaminhada à Marilene Ramos, a qual a agência Amazônia Real teve acesso exclusivo.

    A Licença Prévia do Ibama foi o primeiro passo do processo ambiental para que a concessionária Transnorte Energia S/A (formada por consórcio entre a Alupar e Eletronorte) consiga a Licença de Instalação, esperada para iniciar a obra. A linha de transmissão terá um total de 721 km partindo de Manaus para gerar 500 KV de energia em Boa Vista a partir da hidrelétrica de Tucuruí, no Pará. O linhão ligará o Estado de Roraima ao Sistema Integrado Nacional do Ministério de Minas e Energia (MME).

    Segundo o Ibama, o traçado escolhido pela concessionária Transnorte Energia S/A é a alternativa 1, que consta do Estudo de Impactos Ambientais (EIA-Rima), que contemplou, em 2014, os estudos do componente indígena. O percurso vai acompanhar o acostamento da rodovia federal BR-174.

    Foi nos anos 70, durante o governo da ditadura militar, que a estrada foi aberta dentro da terra indígena à revelia dos índios. Mais de 1,1 mil indígenas morreram em conflitos e doenças, conforme consta em documentos de investigação de crimes de violação de direitos humanos da Comissão Nacional da Verdade (CNV), criada pela Presidência da República.
    Na carta, o líder da comunidade Waimiri Atroari, Mário Paruwe Atroari, e mais 22 indígenas afirmam que desde que tomaram conhecimento do aval da Funai ao Ibama para execução da obra do Linhão de Tucuruí, “dificuldades já estão ocorrendo na comunidade, surgindo conflitos que estavam contidos desde a abertura da BR-174”.

    “(…). Não somos contra a luz chegar em Roraima, só não entendemos de o porquê da Linha ter de ser dentro da nossa terra, trazendo de volta um passado que gostaríamos que não tivesse acontecido, no qual nossos parentes foram mortos e não tínhamos o direito de ter opinião. (…). Por favor, repetimos, não considere os termos do ofício que a Funai escreveu para o Ibama, como sendo uma autorização da Comunidade Waimiri Atroari. (…) Nós não falamos para o Presidente da Funai para ele autorizar o Ibama a emitir a licença”, diz a carta das lideranças.


    O interesse político da obra

    O presidente da Funai João Pedro Gonçalves, que assumiu o cargo por indicação do ministro de Minas Energia, ex-senador Eduardo Braga (PMDB/AM), fato que causou surpresa no movimento indígena pelo alinhamento político entre os dois (saiba mais aqui), autorizou o Ibama a conceder a Licença Prévia do chamado Linhão de Tucuruí, no dia 25 de novembro passado.

    No documento, João Pedro alertou o Ibama sobre os possíveis impactos socioambientais da obra à etnia. “(…) No cumprimento de nossa missão institucional, é necessário alertar que qualquer intervenção naquela terra indígena sem a necessária construção de um consenso entre seus moradores, poderá acarretar novos conflitos que não são desejáveis nem ao empreendedor e tampouco àquela comunidade”, diz.

    Mas, em outro trecho do ofício, João Pedro Gonçalves destacou a importância da obra do Linhão de Tucuruí, liberando o empreendimento.

    “(…). Entretanto ao destacar que o Ibama, enquanto autoridade licenciadora já se manifestou acerca do melhor traçado para a Linha de Transmissão (…), e uma vez caracterizada, pelo governo federal, a imprescindibilidade da obra em seu traçado proposto (…), resta a esta Fundação, apresentar as condicionantes cabíveis no que se refere ao componente indígena (…)”, afirma o presidente da Funai.

    Antes da decisão de João Pedro em favor da obra, o ministro Eduardo Braga já tinha acionado a Advocacia Geral da União (AGU) e o Ministério da Justiça para gestões junto à Funai visando o andamento do processo de licenciamento ambiental da linha de transmissão de Tucuruí. Chamado de “ação de obrigação de fazer”, o processo determinou que a Funai não impusesse mais restrição ao Linhão, como publicou o jornal O Estado de S. Paulo.

    O motivo da ação do ministro Eduardo Braga foi porque a concessionária Transnorte Energia S/A comunicou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que tinha desistido da obra por causa da falta de licenciamento ambiental e ações judiciais.

    Com a anuência da Funai, no dia 9 de dezembro de 2015 a presidente do Ibama, Marilene Ramos, concedeu a Licença Prévia à concessionária Transnorte Energia, formada por consórcio entre a Alupar (uma holding de controle nacional privado com atuação no setor de energia no Brasil, no Chile, na Colômbia e no Peru) e a Eletronorte (subsidiária da Eletrobras, que é responsável pelo controle de 45 usinas hidrelétricas no país). A licença ambiental indica a viabilidade do empreendimento por cinco anos, a contar de 2015. A conclusão da obra é prevista para 2018.

    Ibama não deu opção aos índios

    Também no dia 9 de dezembro, a presidente do Ibama, Marilene Ramos, respondeu aos questionamentos dos índios Waimiri Atroari em carta. No documento, que a reportagem teve acesso, o Ibama diz aos índios que os impactos socioambientais da obra do Linhão de Tucuruí dentro da terra indígena foram objetos do Estudo e Relatório de Impactos Ambientais (EIA-Rima). A versão final do estudo contemplou o componente indígena. Em 2014 foram realizadas audiências públicas em três cidades, das oito em que a linhão vai passar, mas o Ibama não cita a consulta aos índios.

    Segundo a carta de Marilene Rocha, o EIA-Rima avaliou quatro alternativas de traçado da linha de transmissão de Manaus à Boa Vista: o n. 1, com 721 km, percorre 125 km dentro da reserva pelo acostamento da BR-174, passando por aldeias; o n. 2, com percurso de 716 km, passa pelos limites da terra indígena; o de n. 3, com 868 km, entra nas ocupações dos índios; e o de n. 4, de 902 km, segue a oeste e ao sul da TI Waimiri Atroari, sem interferir nas aldeias, mas este implica na abertura de estradas de uma região mais preservada da Amazônia.

    O traçado escolhido, diz Marilene Ramos, foi a opção n. 1, que apresentou o de menor impacto ambiental à implantação do empreendimento, mas que fica dentro da TI Waimiri Atroari.

    “O Relatório indica que o aspecto desfavorável à alternativa 1 é a necessidade de passagem na Terra Indígena Waimiri Atroari, porém vale ressaltar que já existe empreendimento nessa condução, no caso a BR-174, que já promoveu a fragmentação do ambiente florestal e as devidas consequências desse processo, assim como o impacto sobre a comunidade indígena, representando, portanto, um corredor de infraestrutura já consolidada”, disse à presidente do Ibama aos índios.

    Na carta, Marilene Ramos não explicou aos índios quais impactos ambientais existem nas alternativas 2 e 3, e descartou completamente o traçado n. 4, que, segundo ela, seria o de maior impacto ambiental, pois a região que sofreria a intervenção do Linhão de Tucuruí não conta com rodovias e estradas.

    “A alternativa 4 apresenta-se totalmente preservada, sendo um dos aspectos mais críticos e sensíveis, quando se avalia (…) que a abertura de nova zona de uso na região intacta a este da TI (Waimiri Atroari) traria grande pressão de ocupação futura na região e graves impactos ambientais, inclusive sobre a TI”, diz trecho da carta do Ibama.

    MPF pede a nulidade da Licença Prévia

    Com base na carta dos índios Waimiri Atroari ao Ibama, o procurador da República no Amazonas, Fernando Merloto Soave ingressou com uma ação civil pública, no dia 16 de dezembro de 2015, pedindo à Justiça Federal a nulidade da Licença Prévia no processo do Licenciamento Ambiental do Ibama. A ação pede também a condenação da União, do Ibama, da Funai e da concessionária Transnorte Energia S/A à obrigação de fazer a consulta prévia, livre e informada aos índios, nos termos da Convenção nº 169/OIT, “mediante as condições previamente acordadas com o povo Waimiri Atroari”.

    Na ação, o procurador Fernando Soave afirma que o ofício do presidente da Funai, João Pedro Gonçalves, dando o aval ao Ibama para a Licença Prévia demonstrou “caráter dúbio” em contraposição aos direitos garantidos e aos interesses legítimos do povo Waimiri Atroari.

    “Ao mesmo tempo em que [João Pedro] alerta para os graves danos que estão sendo e serão ocasionados ao povo Waimiri Atroari, que ressalta a situação vulnerável e de recente contato dos indígenas, e reforça a necessidade de consenso entre os moradores (necessidade de decisões coletivas), nada alerta sobre a necessidade de oitiva prévia, livre e informada, nos termos da Convenção nº 169 da OIT”, diz o procurador.


    Uma obra à revelia da etnia

    Em entrevista exclusiva à agência Amazônia Real, o porta-voz dos índios Waimiri Atroari, o sertanista José Porfírio Carvalho, afirma que além de não fazer a consulta prévia, a Funai e o Ibama também não concederam o direito aos índios de apresentarem um outro traçado como alternativa da obra dentro da reserva.

    “Os índios Waimiri Atroari não tiveram nenhuma opção em decidir ou concordar com nada. Tudo está sendo feito à revelia deles. A sugestão nossa, e que não está sendo considerada oficialmente, é que a linha seja a partir de Caracaraí (RR) passando pela margem direita do rio Branco até Manaus, sem qualquer interferência na Terra Indígena. Não é nenhuma das opções apresentadas pelo Governo. Os Waimiri Atroari não têm nenhum interesse em que essa linha seja construída por dentro de suas terras”, afirmou o sertanista.

    José Porfírio Carvalho é coordenador do Programa Waimiri Atroari, que desenvolve ações de saúde, educação e proteção da reserva e possibilitou retirar os índios do risco de extinção por causa de obras de grandes empreendimentos em suas terras. O Programa Waimiri Atroari (PWA) foi criado pela Eletronorte (subsidiária da Eletrobras) na década de 80, após inúmeras mobilizações sociais e do movimento indígena para garantir compensações e mitigações dos impactos causados ao povo Waimiri Atroari pela Usina Hidrelétrica de Balbina.

    No dia 1º. de outubro de 2015, o presidente da Funai, João Pedro Gonçalves, acompanhado do diretor de Transmissão da Eletrobras, Antônio Muniz Lopes, e da governadora de Roraima, Suely Campos (PP) participaram de uma reunião dentro da reserva Waimiri Atroari.

    Mas o encontro não foi uma consulta pública, segundo José Porfírio Carvalho. Ele disse que as autoridades foram acompanhadas de técnicos do Ibama e do Ministério de Minas e Energia e apresentaram aos índios o projeto da obra, mas não houve entendimento com relação ao traçado dentro da terra indígena Waimiri Atroari, que tem 2,5 milhões de hectares.

    “Os índios queriam e querem saber quais as razões concretas da opção de o traçado ser instalado dentro das terras indígenas e não por outra opção. Nem a governadora nem os técnicos do Ibama e do Ministério de Minas e Energia conseguiram explicar os motivos. Nada ficou acertado”, afirma José Porfírio Carvalho.
    Porfírio Carvalho assegura que a passagem da linha de transmissão pelo território indígena causará grave impacto ambiental e na vida dos indígenas.

    “O principal impacto é o processo construtivo, onde para cada obra estarão circulando dentro de suas terras 100 homens, máquinas, isto multiplicado por 250 [torres] é um impacto de dimensão violenta”, observou o sertanista.

    Além disso, os índios temem uma possível invasão de garimpeiros. “Bastará um dos trabalhadores que irão cavar buracos dentro da terra indígena falar que achou uma pepita de ouro ou algumas gramas de outro minério, mesmo que não seja verdade, que a terra indígena será violentamente invadida”, disse Porfírio Carvalho, lembrando o caso dos índios

    Yanomami, que há mais 30 anos denunciam a invasão de garimpeiros em seu território, em Roraima e norte do Amazonas.
    Conforme o coordenador do programa de proteção dos Waimiri Atroari, os índios não exigem compensação da obra do linhão, como já aconteceu na construção da hidrelétrica de Balbina, nos anos 80, e na pavimentação da BR-174, nos anos 90.

    “A execução da obra, à revelia deles, pode resultar em confronto. Os Waimiri Atroari não querem dar a última palavra. Eles não querem que o linhão passe dentro de suas terras. Mas ainda não disseram isto publicamente, pois se disserem que não deixam passar, eles vão lutar todo dia para que não seja construída, mesmo que resulte em morte deles como já ocorreu na fase da construção da BR-174”, advertiu Porfírio Carvalho.

    Funai fica em silêncio a críticas

    A agência Amazônia Real procurou a assessoria de imprensa da Presidência da Funai para comentar as críticas dos índios Waimiri Atroari e os questionamentos do sertanista José Porfírio Carvalho sobre a obra do Linhão de Tucuruí na reserva, mas o órgão não respondeu às perguntas enviadas por e-mail.

    Em respostas à reportagem, a assessoria da Presidência do Ibama informou que, para concessão de licenças ambientais em situações que envolvem questões indígenas, adota os procedimentos estabelecidos pela Portaria Interministerial 060/2015.

    Neste caso da obra da Linha de Transmissão Manaus-Boa Vista dentro da terra indígena Waimiri Atroari, segundo o Ibama, a Licença Prévia (LP 522/2015, de 09 de dezembro de 2015) foi concedida após o recebimento do ofício da Presidência da Funai, em 25 de novembro de 2015. No documento, o Ibama diz que a fundação manifestou as condições que entendeu necessárias para a mitigação dos impactos relacionados ao componente indígena. Tais condições foram observadas pelo Ibama no texto da licença emitida.

    “A LP não autoriza o início das obras, ela indica a viabilidade ambiental do empreendimento. Para sua execução é necessária a obtenção da Licença de Instalação (LI). Nesta etapa do processo de licenciamento serão descritos os planos de programas ambientais e medidas de controle de impacto, incluindo os impactos relacionados aos povos indígenas”, afirma a nota do Ibama.

    Fim de apagões em Roraima

    Desde o ano de 2001, o Estado de Roraima é abastecido pela transmissão de energia da hidrelétrica de Guri, na Venezuela. Ainda que o contrato seja de 20 anos para fornecimento de 200 megawatts, o país vizinho tem reduzido sistematicamente o fornecimento de energia, que tem sido suprido com o uso de termelétricas roraimenses. Mesmo assim a capital Boa Vista, que tem mais de 320 mil habitantes, sofre com apagões e queda de energia contínuos.

    Segundo o Governo de Roraima, o Linhão de Tucuruí suprirá a deficiência no sistema energético do Estado. A linha de transmissão vai atravessar as cidades amazonenses de Manaus, Rio Preto da Eva e Presidente Figueiredo, além das roraimenses Rorainópolis, Mucajaí, Caracaraí, São Luiz, Cantá, chegando em Boa Vista.

    Em respostas às perguntas da Amazônia Real, a assessoria de imprensa da governadora de Roraima, Suely Campos, confirmou que ela participou da reunião no dia 1º de outubro dentro da TI Waimiri Atroari a convite da Funai.

    “Nesta ocasião, a governadora pediu que eles [os índios] consentissem a obra, levando em conta que o impacto ambiental seria mínimo e o linhão é fundamental para o desenvolvimento do estado de Roraima, que sofre risco de apagão. Guri não atende mais a demanda do estado. Somente este ano já foram instaladas três termelétricas, visando atenuar o problema”, diz a nota.

    O Ministério de Minas e Energia também foi procurado para comentar as denúncias dos índios Waimiri Atroari, mas a assessoria respondeu que as respostas das perguntas estavam em nota divulgada no site do órgão.

    Segundo a nota, a obra o Linhão de Tucuruí apresenta atraso no cronograma de cinco anos. A linha foi licitada em setembro de 2011. O contrato de concessão, com o consórcio Transnorte, formado pela Eletronorte e a Alupar, foi assinado em janeiro de 2012. A obra deveria ter entrado em operação em janeiro de 2015. Mas a justiça acatou pedido do Ministério Público Federal para embargar a obra.

    O caso aconteceu em 2011, quando a Justiça Federal declarou a nulidade do leilão da Aneel de um dos lotes da linha de transmissão e suspendeu o processo de licenciamento ambiental. O traçado escolhido pela Transnorte estava em área delimitada como ocupação dos índios isolados Pirititi, em Roraima.  A ação do MPF questionava também o edital para as obras do linhão por não considerar outras alternativas de locais para o traçado e a falta de consulta aos indígenas na definição da área escolhida. Os efeitos da liminar foram suspensos pelo Tribunal Federal da Regional da 1ª. Região.

    Em nota divulgada pela agência Eletronorte na internet, a Transnorte Energia S/A se apresenta como uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) composta pela Alupar, com 51% de participação societária, e Eletronorte, com 49%. A concessionária da Linha de Transmissão Manaus-Boa Vista diz que já investiu na obra R$ 250 milhões, recursos que contemplaram estudos relativos ao empreendimento, planejamento, aquisição dos cabos, principalmente, na aquisição, instalação e colocação em operação do compensador estático. A previsão de investimento total era da ordem de cerca de R$ 890 milhões.

    Sobre a emissão da Licença Prévia do Ibama, o diretor-técnico da Transnorte, Raul Fernando, Ferreira disse, segundo a agência Eletronorte, que a concessionária estava buscando parceiros para fazer o Plano Básico Ambiental Indígena (PBA-I) para obter a Licença de Instalação (LI) e iniciar as obras. “Esse trabalho de interação com as aldeias, juntamente com a Funai e o Ibama, depende das atividades da comunidade indígena. A construção da linha está prevista para um prazo entre 20 e 24 meses, após a aprovação do Plano Ambiental e da posterior emissão da LI”, afirmou em nota.


    Índios morreram em obras da ditadura

    Os índios Waimiri Atroari se autodenominam “kinja”, palavra que significa “gente” na língua Karib. Há 45 anos, eles não tiveram voz que impedisse a construção da rodovia federal BR-174. Também não foram ouvidos quando foi construída a usina hidrelétrica de Balbina dentro de seu território, que fica na divisa entre os Estados do Amazonas e Roraima.
    Nos anos 70, outro projeto governo militar que afetou a TI Waimiri Atroari foi a implantação da mineração Grupo Paranapanema. Um decreto presidencial desapropriou parte das terras dos índios para a produção de cassiterita.

    Segundo José Porfírio Carvalho, dos 1.500 indígenas Waimiri Atroari que viviam no território em 1971, início da construção da rodovia federal BR-174 pelo Exército brasileiro, 1.126 morreram durante a obra, que foi finalizada em 1977.  Dos 974 km de rodovia abertos, 125 km cortaram o meio da terra indígena Waimiri Atroari.

    Em 1996, os índios Waimiri Atroari foram indenizados com um pagamento de R$ 1,7 milhão pelos governos do Amazonas e de Roraima por danos socioambientais causados pelas obras de pavimentação da BR-174. Apesar da indenização, os indígenas mantêm o bloqueio para o transporte de veículos na estrada, das 18h às 6h. O objetivo é diminuir os atropelamentos de animais silvestres e de índios, que caçam no período noturno.

    O Governo de Roraima moveu uma ação contra o bloqueio, justificando que ele dificulta o desenvolvimento econômico do Estado. O processo tramita na Justiça Federal.

    Conforme parecer do Ministério Público Federal de Roraima, a construção da BR-174 provocou um impacto devastador à organização social, aos costumes, crenças e tradições do povo Waimiri Atroari, infringindo direitos humanos e direitos fundamentais, atualmente expressamente reconhecidos pelo artigo 231 da Carta Magna, além da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas e da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho.

    As mortes dos Waimiri Atroari durante a ditadura militar foram denunciadas à Comissão Nacional da Verdade (CNV) em 2013, mas nenhum militar foi responsabilizado.

    A inundação de Balbina

    Integrante do consórcio que formou a Transnorte Energia S/A para construir o Linhão de Tucuruí, a Eletronorte foi a responsável, em 1985 a 1989, pela obra da Usina Hidrelétrica de Balbina, no Amazonas. O lago que formou o reservatório da usina inundou 30 mil hectares de floresta da terra indígena Waimiri Atroari.

    Segundo documentos públicos da Eletronorte, duas aldeias foram realocadas do local original para outra parte do território. Para mitigar os danos, a Eletronorte fez um convênio com a Funai para desenvolver ações de mitigações na área inundada e compensar financeiramente os índios atingidos pela obra. Os valores da compensação nunca foram divulgados.

    Os recursos propiciaram a criação do Programa Waimiri Atrori que há 30 anos desenvolve ações integradas nas áreas de saúde, educação, proteção ambiental e apoio à produção alimentar, o que permitiu a população sair do risco de extinção. A população só conseguiu se recuperar com as ações do PWA.

    Mas especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpe), como o ecólogo Philip Fearnside, afirmam que Balbina foi o maior desastre ambiental da Amazônia e um erro financeiro, pois sua potência energética de 250 megawatts foi insuficiente para abastecer Manaus, hoje com mais de 2 milhões de habitantes.

    Andrezza Trajano/Amazônia Real

    Foto: Mário Vilela/Funai

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  • 12/01/2016

    Nota de repúdio ao veto presidencial referente ao Projeto de Lei Nº 5.954-C de 2013

    Sempre foi máxima inalteravelmente praticada em todas as Nações, que conquistaram novos Domínios, introduzir logo nos povos conquistados o seu próprio idioma, por ser indisputável, que este é um dos meios mais eficazes para desterrar dos Povos rústicos a barbaridade dos seus antigos costumes (Diretório dos Índios, 1755).

    O Cimi (Conselho Indigenista Missionário) vem a público manifestar veemente repúdio ao Veto Presidencial ao Projeto de Lei nº 5.954-C emitido na Mensagem 600, em 29 de dezembro de 2015 pela Presidência da República. O referido projeto, de autoria do Senador Cristovam Buarque, visa assegurar às comunidades indígenas a utilização de suas línguas maternas, bem como de processos próprios de aprendizagem e de avaliação que respeitem suas particularidades culturais, na educação básica, na educação profissional e na educação superior. Trata-se, na verdade, do reconhecimento da abrangência de direitos já assegurados constitucionalmente, uma vez que o Art. 210, § 2º da Constituição Federal de 1988 estabelece que “o ensino fundamental será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem”. O Art. 231, por sua vez, afirma que “são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. Constata-se, pois, que as línguas indígenas constituem bens que, tanto como os outros, devem ser protegidos pela União, acrescido da incumbência de fazer com que se respeitem esses bens! Dessa forma, o Veto constitui uma violação aos direitos linguísticos já garantidos na Constituição e na Lei 9.394 de 1966, a Lei de Diretrizess e Bases da Educação Nacional (LDBEN).

    A presença das línguas indígenas em outros níveis de ensino além do fundamental não é só desejável, como também necessária para que elas sejam plenamente respeitadas e os preceitos constitucionais sejam efetivamente cumpridos. Ao longo do processo colonizatório, ao massacre de povos indígenas seguiu-se a morte de milhares de línguas. Mesmo assim, nosso país apresenta uma grande diversidade sociocultural e linguística da qual deve se orgulhar, pois isto é uma riqueza em termos de humanidade e não algo “que contrarie o interesse público” como alega o Veto.

    É de se questionar quais interesses e qual público são contrariados com a presença das línguas indígenas nas instituições de ensino, pois todos teriam a ganhar com isso, uma vez que cada língua indígena encerra uma forma única de se conceber e pensar o mundo. Do mesmo modo, questionamos a impossibilidade de se incorporar as particularidades de cada sociedade indígena nos processos de avaliação educacional, a não ser que o objetivo seja a implantação de uma educação homogeneizadora que visa apagar a diversidade constituída pelas formas próprias de educação de cada povo indígena.

    Os complexos processos educativos dos povos indígenas gestaram sociedades nas quais o respeito à singularidade de cada pessoa é concretizado como um valor organizativo. Basta vermos os variados rituais de iniciação que socializam as crianças e jovens, integrando-os à vida comunitária. Muito teríamos a aprender com eles caso retirássemos as vendas do preconceito e da discriminação, pois os princípios das pedagogias indígenas impedem a segregação de crianças e jovens, como o fazem as avaliações massivas que consideram todos os estudantes do país como iguais e com acesso às mesmas oportunidades educacionais.

    Um país que se quer “um país de todos” e “uma pátria educadora” não pode desconsiderar o extenso patrimônio histórico, linguístico e cultural representado pelos povos indígenas que é constitutivo de nossa nação. É inegável o acúmulo de conhecimentos acadêmicos resultantes do diálogo entre as universidades e indígenas que ingressaram nos últimos anos na academia, falantes de inúmeras línguas originárias de seus povos e portadores de saberes que só estão codificados em suas línguas. Assim, as línguas indígenas já estão presentes em várias instituições de ensino superior bem como em cursos de Ensino Médio realizados em terras indígenas.

    O Veto apresenta, ainda, um caráter contraditório pois o próprio Ministério da Educação tem desenvolvido ações que visam o fortalecimento do uso das línguas indígenas nas Escolas Indígenas, como a Ação Saberes Indígenas na Escola.
    Ressaltamos ainda que o Projeto 5.954-C tramitou em três Comissões do Congresso: Direitos Humanos e Minorias, Educação e Constituição e Justiça e Cidadania e os votos dos relatores foram favoráveis à sua aprovação. Ao mesmo tempo, em nenhum momento o processo que resultou no veto presidencial foi submetido à Coordenação-Geral de Educação Escolar Indígena do Ministério da Educação. A equipe técnica da Coordenação não tomou conhecimento do processo. Não se manifestou nos autos.

    Diante do exposto, o Conselho Indigenista Missionário urge que a Presidência da República anule este Veto que remete às piores práticas colonialistas, como a do nefasto Diretório pombalino de 1755 que proibiu o uso das línguas indígenas em nosso país. 

    Brasília, DF, 12 de janeiro de 2016
    Cimi- Conselho Indigenista Missionário

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  • 11/01/2016

    A política indigenista do governo federal no ano de 2015: balanço de uma política esvaziada!

    Quando decidi, ainda no final do mês de dezembro, escrever esta análise de conjuntura acerca da política indigenista do governo federal, não havia acontecido o cruel assassinato de Vítor Pinto, criança Kaingang de dois anos, degolada enquanto era amamentada por sua mãe na rodoviária de Imbituba, Santa Catarina. O Cimi Sul emitiu uma nota, da qual destaco o seguinte trecho: Vítor faleceu em um local que a família Kaingang imaginava ser seguro. As rodoviárias são espaços frequentemente escolhidos pelos Kaingang para descansar, quando estes se deslocam das aldeias para buscar locais de comercialização de seus produtos. A família de Vítor é originária da Aldeia Kondá, localizada no município de Chapecó, Oeste de Santa Catarina. Trata-se de um crime brutal, um ato covarde, praticado contra uma criança indefesa, que denota a desumanidade e o ódio contra outro ser humano. Um tipo de crime que se sustenta no desejo de banir e exterminar os povos indígenas”.


    Destaco ainda aspecto da nota do Cimi Sul que “manifesta preocupação com o clima de intolerância que se propaga, na região sul do país, contra os povos indígenas. Um racismo – às vezes velado, às vezes explícito – é difundido através de meios de comunicação de massa e em redes sociais. Ocorrem, com certa frequência, manifestações públicas de parlamentares ligados ao latifúndio e ao agronegócio contrários aos direitos dos povos indígenas e que incitam a população contra estes povos. Em todo o país registram-se casos de violência e de intolerância contra indígenas e quilombolas, manifestadas concretamente nas perseguições, nas práticas de discriminação, na expulsão e no assassinato de indígenas. Nestes últimos dias – de 26 a 30 de dezembro de 2015 – pelo menos cinco indígenas foram assassinados no Maranhão, Tocantins, Paraná e Santa Catarina”.

    Após esse registro, retomo a análise de uma política que é, em meu sentir, responsável por fatos como os acima relatados. A política, não fossem rastros de violências que ela deixou, poderia defini-la como um imenso vazio. Quase nada se fez, em 2015, no tocante às demarcações de terras, à exceção de sete áreas homologadas, sendo seis no estado do Amazonas, sob as quais não havia conflitos e litígios, e uma área no estado do Pará. Esta última só foi assinada porque se tratava de condicionante imposta para a construção da usina de Belo Monte. No que se refere a outros aspectos da política pode-se, igualmente, constatar a falta de ações estratégicas e de investimentos para a consolidação dos direitos indígenas.

    A política indigenista foi, evidentemente, afetada pela crise econômica, jurídica e política que se impôs no Brasil ao longo de todo o ano. As instituições públicas acabaram, em alguma medida, implicadas, uma vez que as principais autoridades do país foram colocadas sob suspeição – presidente da República e seu vice, os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Investigações da Polícia Federal e do Ministério Público dão conta da existência de um amplo esquema de corrupção, do qual participam centenas de parlamentares e servidores públicos.


    Como em anos anteriores, verificou-se em 2015 a omissão do governo federal com a questão indígena, dada a baixíssima execução orçamentária nas ações voltadas para os povos indígenas. Na ação denominada “Delimitação, Demarcação e Regularização de Terras Indígenas”, até o início do mês de novembro, dos pouco mais de R$ 18 milhões previstos no orçamento, só foram liquidados pouco mais de R$ 2 milhões e 600 mil. Não foi usado nenhum centavo dos R$ 5 milhões previstos para “Indenização aos atuais possuidores de Títulos das áreas sob Demarcação Indígena”, nem dos R$ 30 milhões previstos para “Indenização para Solução de Conflitos Indígenas”.

    A crise gerou insegurança política, jurídica, na governabilidade e afetou drasticamente a economia, impondo, especialmente aos trabalhadores e às camadas mais pobres e vulneráveis da população, a insegurança quanto ao cotidiano da vida, refletida em ameaças de desemprego, preços dos alimentos e dos vestuários em elevação, inflação crescente, o aumento de impostos, a recessão e a precariedade na assistência em educação, saúde e segurança. 

    É também a partir deste contexto que se deve avaliar a atuação do governo federal no que tange às políticas para indígenas, quilombolas e outros grupos ou comunidades tradicionais. Com a crise institucional, o governo, que já era omisso no que tange aos direitos indígenas e quilombolas, tornou-se ainda mais omisso. Em função disso, as violências praticadas contra os povos indígenas intensificaram-se em todo o país. Na ausência do poder estatal, a orientação política acabou sendo dada por aqueles setores da economia que ambicionam a exploração das terras. Terras que para os povos indígenas e quilombolas são base de sustentação física e cultural, enquanto que para esses setores são atrativas em função de suas potencialidades, tendo em vista a geração de energia hidráulica, exploração de minérios, expansão da agricultura – especialmente de soja, milho, cana-de-açúcar – e da pecuária.  

    As terras indígenas têm sido vistas como uma nova fronteira para a expansão da produção de grãos e de carne e aqueles que as habitam tradicionalmente são considerados entraves, no entendimento dos setores dominantes. Os povos indígenas são vistos como um “problema”, na medida em que atrapalham os planos de expansão produtiva e de um suposto desenvolvimento econômico.

    O governo federal, dobrando-se à concepção desenvolvimentista, tomou a decisão de paralisar as demarcações das terras reivindicadas pelos povos ainda no ano de 2013 e manteve-se, em 2015, inoperante.

    A ausência do Estado e a falta de regularização das terras são geradores de conflitos e violências, em especial nos estados do nordeste, sudeste e sul do Brasil. De acordo com o Cimi, há 1.044 terras indígenas no Brasil, dentre as quais apenas 361 estão registradas, outras 154 estão “a identificar” e 399 estão classificadas como “sem providências”. A ação política dos ruralistas motiva, fomenta e legitima as mais variadas práticas de violência contra indígenas e quilombolas. No período de 2003 a 2014, foram assassinados no Brasil 754 indígenas, sendo 390 no Mato Grosso do Sul.


    No âmbito do Congresso Nacional estão sendo propostos projetos de lei e de emendas à Constituição Federal com o claro objetivo de inviabilizar as demarcações e de possibilitar a exploração dos recursos naturais das áreas homologadas. Só para se ter uma ideia da articulação e da força que se volta contra os povos indígenas no âmbito Legislativo, tramitam na Câmara dos Deputados e Senado Federal mais de 100 proposições que visam alterar artigos concernentes aos direitos indígenas na Constituição Federal.

    Dentre as propostas legislativas mais perigosas encontra-se o Projeta de Emenda à Constituição (PEC) 215/2000 que visa alterar o texto constitucional para colocar sob responsabilidade do Poder Legislativo as demarcações de terras indígenas no país. O projeto prevê a autorização da esfera legislativa para se promover qualquer demarcação de terra, restringindo a ação administrativa do Poder Executivo. Com isso, todas as demarcações de terras indígenas e quilombolas passariam pelo crivo e aval dos parlamentares e cada demarcação exigiria a aprovação de uma lei específica. Os direitos indígenas, assegurados na Lei Maior do país, estariam suscetíveis aos interesses políticos de ocasião.

    Além disso, terras demarcadas ao longo de décadas poderiam ser revisadas, caso a PEC fosse aprovada. A proposta aprovada na Comissão Especial, que segue para o Plenário da Câmara dos Deputados, inclui dispositivos que viabilizariam o arrendamento das terras indígenas – que são bens da União – possibilitando a terceiros a exploração e a obtenção de lucros. Inclui-se ainda outro dispositivo que rompe com a autonomia e o protagonismo dos povos ao restituir a categorização de distintos “estágios de desenvolvimento” e ao apregoar a gradativa inserção dos “índios” na sociedade nacional. Tal dispositivo colide com o disposto no Artigo 231 da Carta Magna, que reconhece aos povos indígenas suas organizações sociais, seus costumes, línguas, crenças e tradições. A proposição sinaliza um retrocesso nas formas como se estabelecem as relações do Estado brasileiro para com os povos indígenas.

    Não bastassem os dispositivos inconstitucionais inseridos na PEC 215/2000, há ainda a incorporação das 19 condicionantes que o Supremo Tribunal Federal estabeleceu por ocasião do julgamento da  ação popular que pretendia impugnar o procedimento de demarcação da terra Raposa Serra do Sol, em Roraima, o que, na prática, se constitui num grosseiro equívoco, uma vez que aquela decisão se restringiu à constitucionalidade da demarcação daquela terra e, portanto, não se vincularia aos procedimentos demarcatórios futuros, nem deveria ser generalizada e aplicada a outras.

    A PEC 215/2000 também incorpora o que vem sendo denominado, no âmbito do Poder Judiciário, de marco temporal, tese sustentada no julgamento do caso Raposa Serra do Sol. Isso significa dizer que, se os povos ou comunidades indígenas não estivessem na posse da terra em 1988 ou não estivessem postulando a terra judicialmente ou em disputa física – o chamado renitente esbulho – eles perdem o direito à demarcação de áreas atualmente reivindicadas.


    Esta interpretação é mais uma afronta aos direitos originários dos povos indígenas, pois ao impor esta tese descolada da história de resistência dos povos e comunidades indígenas, constitui-se uma grave contradição, impondo aos indígenas uma responsabilidade que não lhes competia antes da Constituição de 1988, qual seja, a de ingressarem em juízo, uma vez que eles eram tutelados pelo Estado. Atualmente, com o fim da tutela expressamente estabelecido em nossa lei maior, o Poder Judiciário não procede ao chamamento dos povos, quando da discussão de processos que lhes dizem respeito. Por isso, é necessário reafirmar que o entendimento dos ministros sobre o tema (renitente esbulho), no contexto da terra Raposa Serra do Sol, serviu para legitimar a demarcação, assegurando a posse indígena sobre terras onde se constituíram fazendas desde o início do século passado.

    Muitos julgadores, desde aqueles de primeira instância, têm dificuldade em interpretar adequadamente as garantias expressas na Constituição Federal acerca das diferenças étnicas e culturais. Alguns juízes desconhecem concepções e modos de ser dos povos indígenas, bem como as formas como eles se relacionam com os “bens” materiais, culturais, imemoriais, históricos e com a terra. Os povos estabelecem vinculações ancestrais com seus espaços, são orientados por valores coletivos, pelo pertencimento étnico, pelas distintas religiosidades, ontologias e cosmologias. Por não entenderem estas diferenças, algumas decisões são equivocadas e podem restringir o direito à terra e, consequentemente, comprometer a qualidade de vida destes povos.

    Parece-me haver três elementos jurídicos que têm gerado controvérsias nos julgamentos de tribunais referentes às demarcações e que tomam como base o marco temporal: há, nos julgados dos tribunais, insuficiente entendimento conceitual acerca da aplicação do marco temporal nos processos que envolvem a demarcação de terras tradicionalmente ocupadas por indígenas; há divergências entre os magistrados no tocante aos conceitos de direito indígena à terra – posse, ancestralidade, usufruto e bens da União – em relação a  posse e propriedade oriundos do direito civil; há desconhecimento quanto à aplicabilidade do direito em relação às diferenças étnicas, culturais e ao fato dos povos indígenas terem sido considerados sujeitos de direitos individuais e coletivos – plenamente capazes (Art. 232 CF/1988).

    Infelizmente, no contexto de adversidades econômicas e de crise política, vivida ao longo de 2015 em âmbito nacional, os setores conservadores ligados especialmente ao latifúndio, às mineradoras e ao agronegócio encontraram espaço profícuo para a promoção de uma intensa campanha contra os direitos indígenas e quilombolas. Como resultado, se pode acompanhar uma série de ações violentas contra as comunidades indígenas, suas lideranças e contra os bens indígenas, que são patrimônio da União. Em Mato Grosso do Sul, foi imposta por fazendeiros e parlamentares uma brutal ofensiva –especialmente difundida em meios de comunicação – contra as demarcações de terras. Como consequência, muitas pessoas foram espancadas, ameaçadas, baleadas, assassinadas e comunidades inteiras acabaram submetidas à tortura e perseguição, como ocorreu nas áreas de Kurusu Ambá, Pyelito Kue, Serro Marangatu, Tey Kue, Tey Jusu, Potrero Guassu. No Maranhão, além das violências contra as comunidades e suas lideranças, os madeireiros protagonizaram ações de depredação e crimes ambientais, atendo fogo nas matas da terra indígena Awá Guajá, incêndio que consumiu centenas de milhares de hectares de floresta. Também no Maranhão, na divisa com o estado do Pará, madeireiros sequestraram e torturam dezenas de pessoas do povo Ka’apor e feriram à bala várias lideranças que se opunham à exploração madeireira.

    Outra estratégia dos setores contrários aos direitos às demarcações de terras foi o da criminalização dos defensores e apoiadores dos povos indígenas. Em Mato Grosso do Sul parlamentares criaram uma CPI para investigar a atuação do Cimi e promoveram uma intensa campanha de perseguição aos missionários e seus familiares. Em âmbito nacional, foi criada uma CPI para investigar a Funai e o Incra, órgãos responsáveis pela demarcação de terras indígenas e quilombolas. A intenção das bancadas ruralistas – em âmbito estadual e federal – é desqualificar os direitos indígenas e quilombolas e intimidar todos aqueles que lutam pela sua defesa.

    Diante desse contexto, como dar segmento às lutas pela garantia dos direitos povos originários e as comunidades tradicionais? Como enfrentar as adversidades, numa conjuntura absolutamente desfavorável à grande maioria da população pobre e excluída de nosso país?

    Certamente estes povos e comunidades deverão manter um processo de mobilização pela garantia de seus direitos e convocar os demais setores da sociedade que sofrem a violência da discriminação, da falta de segurança, da falta de políticas que lhes assegurem moradia, saúde, educação, terra e emprego a somarem forças contra o projeto capitalista desenvolvimentista posto em curso em nosso país.

    A lógica desenvolvimentista vai de encontro à ideia do bem viver indígena. A primeira apregoa que tudo deve se converter em recurso – ambiental, territorial, humano – e a segunda prioriza a vida. A lógica desenvolvimentista baseia-se na concorrência e incentiva as pessoas a gerir suas vidas como se estivessem gerindo uma empresa, a lógica do bem viver indígena fundamenta-se numa visão de compartilhamento de espaços e de solidariedade entre as pessoas. A lógica desenvolvimentista faz com que vejamos em um rio um potencial de exploração hídrica, enquanto que a lógica do bem viver indígena põe no foco do olhar as possibilidades de interação com o rio e com tudo o que nele habita (incluindo os seres que não podemos ver).

    A garantia dos direitos sociais passa necessariamente pela transformação do modelo de sociedade em que vivemos – marcadamente competitiva, individualista e consumista – pois neste modelo dificilmente ganham relevância as lutas mais amplas e nele os coletivos que não regem suas vidas pela lucratividade são vistos como obsoletos. O imediatismo e o individualismo degeneram as condições de vida compartilhada, e nos coloca, a todos, numa condição de insegurança e de instabilidade permanente.

    Se temos a oportunidade de vislumbrar um futuro diferente, é porque existem lutas coletivas – de indígenas, de quilombolas, de grupos sociais vinculados na defesa de direitos das comunidades tradicionais, das crianças, das mulheres, dos homossexuais, dos negros, dos chamados “deficientes”. Esses coletivos de luta vislumbram um mundo melhor, acreditam que é possível construirmos uma sociedade na qual se resguardem os direitos de todos.

    O bem viver (para todos nós) não pode ser conquistado sem que haja uma radical mudança nas concepções e políticas destes tempos em que vivemos. Precisamos, então, permitir que as concepções indígenas permeiem e reconfigurem as prioridades que temos assumido e as formas como temos lidado com o ser humano, com a terra, lugar comum sem o qual não temos futuro, nem esperança.

    Porto Alegre, RS, 06 de janeiro de 2016

    Roberto Antonio Liebgott / Cimi Sul – Equipe Porto Alegre.

    Fotos: Marcello Casal/Agência Brasil

    Tiago Miotto/Cimi

    Fábio Nascimento/Mobilização Nacional Indígena

     

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  • 07/01/2016

    Sem atendimento, mais uma criança morre em Kurusu Ambá, no MS

    No dia em que o assassinato do menino Kaingang Vítor Pinto, em Imbituba (SC), completava uma semana, outra criança indígena foi vitimada, no Mato Grosso do Sul (MS), não pela via direta da violência, mas pela via indireta da omissão. O bebê Guarani e Kaiowá Jadson Lopes, de apenas um ano e seis meses, filho de Denis Lopes e Adersiria Batista, faleceu ontem (6) pela manhã na tekohá – lugar onde se é – Kurusu Ambá.

    Segundo relato dos indígenas, a criança começou a vomitar ainda na madrugada e, em seguida, os indígenas contataram a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) para que fosse atendê-lo urgentemente. Ainda segundo o relato, a Sesai teria dito que não tinha autorização para entrar na área e, sem atendimento, o bebê veio a falecer às 7:50.

    “Tem estrada, tem como chegar, mas quando é urgente, eles falam que não tem autorização para entrar, ou que as estradas são ruins. Mas precisam autorização de quem?”, questiona Eliseu Guarani e Kaiowá, liderança da tekoha Kurusu Ambá.
    Segundo Eliseu, todas as quintas-feiras, a comunidade é atendida por uma equipe da Sesai, o que não justificaria a desculpa de que as estradas estão ruins. Por situações como esta, Eliseu afirma que a comunidade vai requisitar que a Sesai disponibilize um veículo para Kurusu Ambá, para evitar que situações de urgência, como a que a matou Jadson, continuem causando mortes desnecessárias.

    A situação de descaso e de violência que os indígenas acampados no interior da tekoha Kurusu Ambá enfrentam cotidianamente são extremamente cruéis e responsáveis por um amplo histórico de óbitos infantis. Segundo Eliseu, desde 2007 até hoje, dez crianças já morreram em Kurusu Ambá por falta de atendimento.

    Eliseu também explica que são comuns na tekoha casos de diarréia, vômito e desnutrição, principalmente entre crianças, pois os indígenas vivem cercados por plantações de soja e o veneno utilizado pelo agronegócio provoca uma série de problemas de saúde.

    “Como em nenhum dos acampamentos tem poço artesiano, nós não temos água potável. O pessoal está bebendo de uma nascente, e as plantações de soja ficam perto do rio. Então, tem muito caso de vômito, de diarreia e de intoxicação”, afirma.

    Como os Guarani e Kaiowá de Kurusu Ambá vivem confinados em pequenas áreas de seu território, cercados pelo monocultivo, também não conseguem plantar para desenvolver sua autonomia alimentar e dependem de cestas básicas fornecidas pela Fundação Nacional do Índio (Funai). As cestas chegam de 30 em 30 dias, o que, segundo Eliseu, não é suficiente para as famílias e faz com que muitas crianças acabem desnutridas.


    Um histórico de descaso e violência

    A violência, decorrente da ação de fazendeiros e da morosidade na demarcação do território já identificado como tradicional, tem sido uma constante em Kurusu Ambá. Em dez anos, sete lideranças foram assassinadas, entre elas a rezadora Xurite Lopes, de 70 anos, morta por pistoleiros em 2007.

    Atualmente, cerca de 150 famílias vivem divididas em três acampamentos pequenos que se distribuem pelo interior da tekoha Kurusu Ambá, localizada entre os municípios de Coronel Sapucaia e Amambaí, no MS. Os Guarani e Kaiowá reivindicam a terra sagrada de Kurusu Ambá como território tradicional de ocupação imemorial de seu povo e, desde 2007, vêm realizando sucessivas retomadas de partes de seu território, sobre o qual estão sobrepostas algumas fazendas.

    Após serem expulsos três vezes das áreas retomadas, sempre com muita violência e ataques de pistoleiros, e terem vivido durante anos sob lonas à beira da estrada, uma decisão do Tribunal Regional Federal (TRF) 3 garantiu sua permanência em uma faixa de mato nos limites da reserva legal da fazenda Maria Auxiliadora, uma das que incidem sobre o território indígena.

    Em 2008, um Grupo de Trabalho (GT) da Funai foi aberto com a finalidade de iniciar os estudos para identificação e demarcação do território.

    Em 22 de junho de 2015, os Guarani e Kaiowá retomaram mais uma área de seu território tradicional, desta vez, na fazenda Madama, que também incide sobre a tekoha. Na ocasião, os indígenas sofreram um intenso ataque de fazendeiros e pistoleiros e duas crianças ficaram desaparecidas por mais de uma semana.

    Os ataques de pistoleiros se intensificaram no final de 2015 e os jagunços têm atacado cotidianamente os acampamentos, atirando contra os indígenas e seus barracos de lona (clique aqui para saber mais). Enquanto isso, o processo de demarcação segue paralisado, aguardando a publicação do relatório – já concluído – da Funai.

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  • 06/01/2016

    Em Chapecó e Imbituba (SC), indígenas manifestaram-se após assassinato de menino Kaingang e cobraram justiça

    Hoje (6) à tarde, cerca de 600 pessoas, entre indígenas dos povos Guarani Mbyá e Kaingang e não-indígenas, participaram de atos em protesto pela morte do menino Kaingang Vítor Pinto, de dois anos, assassinado há uma semana na rodoviária de Imbituba (SC) enquanto era alimentado no colo de sua mãe.

    Em Imbituba, o ato ocorreu em frente à própria rodoviária e teve a participação de aproximadamente 100 pessoas, que utilizaram lenços vermelhos no pescoço em referência ao local onde a criança foi esfaqueada. Em seguida, os manifestantes dirigiram-se à delegacia da Polícia Civil, que fica logo atrás do local onde o crime ocorreu, para cobrar esclarecimentos sobre a investigação da morte da criança.

    No local onde o crime aconteceu, os indígenas fizeram uma inscrição no chão, com os dizeres: “Vítor Kaingang, você vive em nós”.

    Em Chapecó, cidade na qual fica a Aldeia Kondá, onde vive a família de Vítor, outro ato reuniu cerca de 500 pessoas, em sua grande parte indígenas das comunidades locais. Os indígenas realizaram danças e, após algumas falas, fizeram uma caminhada pelo centro da cidade.

    Os pais de Vítor, como muitos outros indígenas costumam fazer nesta época do ano, haviam saído da Terra Indígena Aldeia Kondá para comercializar artesanato no litoral catarinense, onde pretendiam permanecer até o fim do carnaval junto com ele e seus outros dois filhos, um de seis e outro de doze anos.

    Ao meio-dia, na quarta-feira passada (30/12), na antevéspera do Ano Novo, Vítor foi esfaqueado no pescoço por um desconhecido que se aproximou enquanto ele se alimentava no colo de sua mãe.
    Vítor faleceu em um local que a família Kaingang imaginava ser seguro. As rodoviárias são espaços frequentemente escolhidos pelos Kaingang para descansar, quando estes se deslocam das aldeias para buscar locais de comercialização de seus produtos.

    “Esperamos que haja justiça, que exista respeito e menos discriminação contra o nosso povo”, afirmou Idalino Kaingang, liderança da aldeia Toldo Chimbangue, que fica também em Chapecó. Idalino afirma que existe muito preconceito com os Kaingang que vendem seus artesanatos nas cidades e que, inclusive, já foram expulsos diversas vezes da rodoviária de Chapecó. “Mas eu acho que o direito de ir e vir ninguém pode tirar. O artesanato é algo que é cultural, é histórico do nosso povo. Construíram a cidade em cima da nossa terra e agora querem nos dizer onde podemos ou não podemos ficar”, afirma.

    Fotos: Jacson Santana e Marina Oliveira (Cimi – Regional Sul)

    Atualizado 07/01/2016, às17:01

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