• 02/08/2016

    Indígenas do Maranhão prometem manifestações por demandas da Educação Escolar Diferenciada

    Além das demarcações de terras tradicionais, os povos indígenas do país lutam para o reconhecimento de um outro direito essencial: a Educação Escolar Indígena Diferenciada. Os povos do Maranhão protocolaram o segundo abaixo-assinado listando as principais reivindicações para a área junto à Secretaria Estadual de Educação (Seduc). O primeiro, de 18 de julho deste ano, não obteve quaisquer respostas; o segundo, cobrando o primeiro e ressaltando a demanda, foi entregue dia 24 de julho. Até o momento não foram chamados para tratar do disposto nos documentos. Os povos indígenas afirmam que caso não obtenham respostas efetivas do governo realizarão manifestações no estado.

    Os documentos foram entregues também ao Ministério Público Federal (MPF), que possui uma comissão de caráter nacional apenas para tratar da Educação Escolar Indígena Diferenciada. As demandas expostas dão conta também dos quilombos, além das aldeias dos povos Krepym Kateje, Gavião, Krikati, Tenetehar/Guajajara, Gamela e Tremembé. A Resolução 05/2012 do Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica, órgão do Ministério da Educação, diz que a responsabilidade pela oferta da Educação Escolar Indígena é dos estados, podendo ser oferecida pelos miunicípios por regime de colaboração e com a anuência dos povos indígenas.

    No primeiro abaixo-assinado a desassistência é tamanha que o povo Tremembé, que deveria retomar o calendário letivo neste dia 1º de agosto, decidiu suspender as aulas até que o governo do Maranhão atenda as necessidades de funcionamento das escolas. São centenas de estudantes prejudicados. Na Terra Indígena Pindaré, do povo Tenetehar/Guajajara, os problemas se concentram na infraestrutura, além da ausência de materiais didáticos, alimentação, sobretudo garantindo os contratos de fornecimento de merenda e a contratação de merendeiras indígenas, recursos humanos (contratações e pagamento aos professores, que estão sem receber salários, em alguns casos, desde 2013) e falta de transporte escolar. Alguns povos não têm condições de retomar o calendário letivo a partir deste mês, gerando defasagem e distúrbios pedagógicos. 

    Toda a cadeia de educação nas aldeias está precarizada, conforme os documentos entregues à Seduc e ao MPF. No caso da Educação de Jovens e Adultos (EJA) não existem professores suficientes para atender a modalidade. Estes alunos, então, são encaminhados ao Ensino Médio gerando distúrbios pedagógicos e aumentando a carga horária dos professores e professoras. Vagas específicas para profissionais indígenas é outra reivindicação, tanto para a parte administrativa quanto para a pedagógica. O que vale também para o transporte escolar, hoje amiúde ofertado pelos municípios com ônibus precários e que não permanecem nas aldeias.

    De acordo com os documentos, a Seduc inclusive tem se negado a oferecer informações aos indígenas. A secretaria tem tomado decisões sem consultar os povos. “O direito à consulta está garantido pela Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho). Existe também a Lei nº 8.159/91 que todos têm direito de receber os órgãos públicos de interesse particular ou de interesse coletivo”, diz trecho do abaixo-assinado protocolado no último dia 18 de julho.

    Em nota, governo fala em ‘diálogo’

    Durante encontro da Teia, entre os dias 22 e 24 de julho, movimento que congrega povos indígenas, quilombolas, camponeses e comunidades tradicionais, os povos indígenas divulgaram uma carta/abaixo-assinado, a segunda a ser protocolada, endereçada ao governo estadual ressaltando reivindicações e desfazendo críticas da Seduc aos povos. Em nota, o governo do Maranhão diz que está em diálogo com os povos indígenas. No entanto, afirmam as lideranças indígenas, as conversas são feitas com um grupo organizado pelo próprio governo e que não passa por nenhuma instância de decisão dos povos.

    O resultado do diálogo alegado pelo governo, segundo as lideranças indígenas, joga a responsabilidade às aldeias. “Repudiamos a afirmação do governo do estado de que há inconsistências entre os números de alunos informados pelas nossas lideranças e o censo escolar, e nós jamais impedimos nenhuma equipe de educação de desenvolver suas atividades nas nossas aldeias (…) sempre buscamos diálogos e transparência, sem sucesso”, diz trecho da nota pública.

    Leia na íntegra:

    Carta ao Governo do Estado do Maranhão

    Nós, Povos indígenas Krepym Kateje, Krenyê, Gavião, Krikati, Guajajara, Gamela, Tremenbé, Moquibom reunidos no Encontro da Teia Indígena, na Créh Geralda Toco Preto, território Krepym Kateje, nos dias 22, 23 a 24 de julho de 2016, vimos a público:
    – FÓRUM INDÍGENA TIMBIRA


    1- Repudiar a posição do governo do estado do maranhão referente a luta do Povo Krepym Katejepelo Direito a Educação, Escolas Indígenas de qualidade dentro das nossas aldeias suprindo todas as necessidade de uma educação eficaz, não somos criminoso. A ação do povo foi e é lutar por Direito e não praticar crime. Esclarecemos ao governo do estado e outros orgãos públicos, o ato de convidar três pessoas da educação a ficar conosco foi porque nós estamos totalmente desassistidos e apesar de nossas cobranças quase nada foi feito nos governos anteriores e no governo atual, não temos escolas de qualidade… nossas cobranças estão amparadas na Constituição Federal;

    2- Repudiamos a afirmação do governo do estado de que há inconsistências entre os números de alunos informados pelas nossas lideranças e o censo escolar, e nós jamais impedimos nenhuma equipe de educação de desenvolver suas atividades nas nossas aldeias, que sempre buscamos diálogos e transparência, sem sucesso. Nós Krepym nunca tivemos a oportunidade de dialogar com governador atual nem os dos governos anteriores;

    3- Esclarecemos que no Brasil e no Maranhão, onde pagamos muitos impostos… as melhorias são mínimas no geral. Precisamos que governador fale com todos os povos. Por que o governo não fala com todos os Povos?

    Denunciamos que os direitos do Povo Krepym Kateje continuam sendo violados pelo governo anterior e atual, neste território as escolas continuam sucateadas e nas escolas nossas atendem até o quarto ano sem oferecer condições digna aos alunos, sem professor bilingue nem auxílio; não recebem salários porque estado fechou nossas vagas de bilingue. Precisamos de escolas de qualidade, merenda de qualidade. Foi preciso o povo se levantar e gritar: educação de qualidade é um direito e um dever de todos receber!

    Teia
    24 de julho de 2016

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  • 02/08/2016

    Cimi – Amazônia Ocidental: nota pública sobre situação do povo Madiha (Kulina) no alto Purus

    O Conselho Indigenista Missionário – Cimi, Regional Amazônia Ocidental, vem a público manifestar sua preocupação frente aos casos de violência e suicídios que estão ocorrendo nas aldeias Madiha (Kulina) do alto Purus.

    Desde o dia 1º de dezembro de 2015 até o dia 14 de julho de 2016 já foram registrados dez casos de suicídio ao longo das diversas aldeias nos rios Purus e Chandless, ceifando as vidas de indígenas do povo Madiha (Kulina).

    Afora os casos de suicídio, o povo Madiha (Kulina) enfrenta atualmente outras situações de violência, como o afogamento de um indígena (Bernoni Kulina) no porto da cidade de Manoel Urbano, assim como o assassinato de Francisco Kulina, também nessa cidade, cujo crime ainda segue impune e o assassino à solta. Paralelo aos casos de violência, observa-se uma crescente onda de consumo de gasolina, seja inalada ou ingerida entre jovens e mesmo alguns adultos, além das bebidas alcoólicas facilmente encontradas nos bares das cidades ou nos vizinhos da Terra Indígena.

    Em 19 de abril de 2016, o Cimi formalizou uma denúncia junto ao Ministério Público Federal com a intenção de que a Funai, Sesai e outros órgãos competentes se inteirassem da questão e propusessem políticas públicas voltadas à valorização da vida do povo Madiha (Kulina) de acordo com sua cultura e espiritualidade, mas até o momento não tomamos conhecimento de nenhuma iniciativa neste sentido.

    Manifestamos ainda nossa preocupação com o crescente aumento do número de casos e com o impedimento de nossa equipe adentrar nas aldeias para contribuir e apoiar o povo na busca de solução. Desde o início nos colocamos à disposição inclusive fornecendo auxilio de profissionais e, por isso mesmo, repudiamos toda e qualquer tentativa de impedir nossa atuação e ocultar a verdade sobre o que vem ocorrendo.

    Rio Branco, 29 de julho de 2016.

    Conselho Indigenista Missionário – Cimi Regional Amazônia Ocidental

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  • 01/08/2016

    Os Guarani e a contínua agonia e morte nas margens das rodovias

    Sem a demarcação das terras, as comunidades Guarani Mbya vivem sob as lonas e sob as rodas dos caminhões nas margens das rodovias, estaduais e federais, no Sul do país.


    Cotidianamente repetem-se nos acampamentos indígenas as situações de dor, sofrimento e morte. Desta vez foi vitimado, pelas rodas de um caminhão, Lucas Fernandes (na foto), de apenas 36 anos de idade. Homem que lutava, juntamente com sua comunidade, pela possibilidade de ter uma vida longe do asfalto e da morte prematura.

    O acidente ocorreu do Km 299 da BR-290, município de Caçapava do Sul, no acampamento que recebe o nome da Terra Indígena Irapuá (na foto abaixo). Palco de inúmeras injustiças, ameaças, expulsões, abandono e exclusão.


    Na tarde de sábado, 30 de julho, quando Lucas atravessava a rodovia com o objetivo de tomar um ônibus para visitar seus parentes, que habitam outro acampamento do povo Guarani, há 30 quilômetros do Irapuá, acabou sendo atingido por um caminhão que trafegava em alta velocidade.


    A vida de Lucas foi ceifada antes mesmo dele ter tido a possibilidade de pisar dentro da pequena área demarcada pela Funai e reconhecida pelo Ministério da Justiça como sendo terra Guarani Mbya.

    Lucas morreu porque a única opção que o Estado lhe ofereceu foi a de viver na exclusão. Exclusão da assistência em saúde, educação, saneamento básico; a possibilidade de poder beber um copo de água potável. Exclusão da terra mãe.

    Os fazendeiros, que em sua maioria são grileiros, receberam do ESTADO o direito a propriedade dentro de terras indígenas. Eles não aceitam a existência dos Guarani, não admitem a possibilidade de que tenham direitos e obrigam, através das artimanhas políticas e jurídicas, que as vidas indígenas sejam expostas às variadas formas de violências.


    Lucas morreu sobre o asfalto da rodovia e à margem do direito – não apenas da estrada. O excluíram de tudo e, apesar de ser filho da terra, não há sequer uma cova para enterrar seu corpo – levado para uma distância de trezentos quilômetros, na área Guarani do Cantagalo, município de Viamão, uma pequenina terra onde há um cemitério para as vidas que são brutalmente arrancas.


    No Rio Grande do Sul as terras indígenas, menos de 90, estão com os procedimentos de demarcação paralisados. E essa foi uma determinação do governo federal para beneficiar os políticos da bancada ruralista e por não querer enfrentar a judicialização de seus atos administrativos. No estado são ínfimos os hectares de terras regularizados e apesar disso a oposição a esse direito constitucional é intenso.




    Dos 281.730,223 km² do território do Rio Grande do Sul, menos de 0,5% são reivindicados como área indígena. Ou seja, 99,95 % das terras estão sendo destinadas a propriedade privada ou para outras finalidades. Mas, mesmo assim, é comum a utilização de expressões e argumentos de que os "índios" atrapalham o desenvolvimento econômico do Estado – esse que passa pelas estradas ceifando vidas de forma trágica.


    O líder Kaingang, já falecido, Augusto Opé da Silva costumava dizer que se um estado não consegue se desenvolver com mais 99 % de seu território, não será o 1 % de terras indígenas o responsável por sua ineficiência. Há algo de estranho nesse argumento, dizia o líder de saudosa memória.


    Lucas morreu em consequência de uma política de Estado que é racista, administrado por governos genocidas e que historicamente são acobertados ou protegidos por parlamentares e juízes igualmente racistas.


    Até quando? Esta é a pergunta que fica nas mentes e almas daqueles que vivem sob as lonas e sob os rodados de caminhões. Lucas, Guarani Mbya, perdeu a vida, mas sua trágica morte não será em vão. Será semente na luta por justiça.

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  • 01/08/2016

    Cimi obtém status consultivo na ONU: “Denúncia das violências contra os indígenas se qualifica”


    O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) obteve
    status consultivo especial no Conselho Econômico e Social (ECOSOC) da Organizações das Nações Unidas (ONU). A entidade foi informada da decisão nesta semana. Após dois anos de análise de documentos e relatórios realizado pelo Comitê de ONGs, o ECOSOC aprovou a concessão. Ao conceder o status, o organismo internacional reconhece a competência especializada e a experiência prática da entidade na temática indígena, permitindo que ela contribua nos trabalhos das Nações Unidas.

    Ao ser considerada uma entidade consultiva e de competências técnicas, o Cimi poderá ser requerido pelo Conselho da ONU, suas comissões ou por um de seus Estado membros que buscam informações especializadas ou pareceres sobre assuntos e situações relacionadas aos povos indígenas no Brasil.

    Para o presidente da entidade, Dom Roque Paloschi, a concessão "reconhece e qualifica nossa atuação e incidência internacional em defesa dos projetos de vida dos povos indígenas. Trata-se de uma arena estratégica para denúncias e para uma construção coletiva do conhecimento e dos interesses das comunidades indígenas de todo o Mundo, com capacidade efetiva de influenciar ações e os acordos no campo dos direitos sociais e econômicos".

    Organizações não-governamentais têm trabalhado com as Nações Unidas desde sua criação, em 1945. Atualmente, cerca de 4 mil organizações possuem status consultivo no órgão internacional. Com a entrada do Cimi, apenas 22 organizações brasileiras possuem status consultivo especial.

    O ECOSOC é o maior conselho da ONU, com 54 Estados membros. Coordena as atividades nas áreas econômicas e sociais das agências especializadas das Nações Unidas – entre elas, OIT, FAO, UNESCO e OMS -, além de comissões técnicas e regionais. Como principal fórum de deliberação sobre questões econômicas e sociais, o ECOSOC elabora recomendações práticas sobre essas questões dirigidas aos 193 Estados membros e à ONU.

    O Cimi agora poderá participar formalmente das agendas do Conselho, bem como apresentar declarações por escrito ou orais relativas a questão indígena junto a seus órgãos subsidiários – entre eles, as comissões sobre Prevenção do Crime e Justiça Penal, de Desenvolvimento Sustentável, de Desenvolvimento Social, bem como contribuir para a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). No ano passado, a CEPAL produziu um estudo sobre a situação dos povos indígenas na América Latina, aprofundando os avanços na última década e desafios pendentes para a garantia de seus direitos, bem como denunciou o que chamou de “invisibilidade” estatística dos povos indígenas, que dificultam a construção de políticas públicas eficazes e pautadas pela direito de consulta, livre, prévia e informada.


    Dom Roque defende que os mecanismos e sistemas multilaterais de proteção e garantia de direitos são uma ferramenta importante para as populações originárias no Brasil. "Para o governo e seu projeto desenvolvimentista, os povos indígenas se mostram como entraves. E assim o são, porque eles não podem aceitar um desenvolvimento que extermine suas vidas, explore seus territórios, acabe com seus modos e costumes, num genocídio que precisa ser qualificado perante as leis internacionais das quais o Brasil é signatário”, explica. "Não nos omitiremos em denunciar a incapacidade do Estado brasileiro em cumprir suas próprias leis, sua conivência com setores do agronegócio que assassinam e promovem o deslocamento forçado de populações indígenas através de milícias armadas e crimes atrozes”.



    Conselho de Direitos Humanos

    O status consultivo permitirá ao Cimi credenciar-se como observador nas sessões do Conselho de Direitos Humanos da ONU (UNHRC), podendo apresentar moções por escrito e intervenções orais. Principal órgão intergovernamental responsável por promover o respeito universal e a proteção de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, o Conselho é composto por 47 Estados membros.

    O Conselho de Direitos Humanos articula-se com os diversos mecanismos e mandatos de direitos humanos constituídos por tratados internacionais. Analisa violações flagrantes e sistemáticas, bem como promove as Revisões Periódicas Universais (UPR), quando um Estado membro é submetido a uma avaliação geral acerca do cumprimento e defesa dos Direitos Humanos. Em 2017 será inaugurado o 3º ciclo das UPR e o Brasil será um dos países examinados.

    Ano passado, durante a abertura da 30ª sessão do Conselho, o Alto Comissário das Nações Unidas para Direitos Humanos e supervisor do UNHRC, Zeid ibn Ra’ad denunciou o assassinato do indígena Guarani Kaiowá Simeão Vilharva: “Antigas disputas pela terra indígena continuam a causar sofrimento e perda de vidas no Brasil. (…) exorto as autoridades, não só para investigar esta morte, mas também a tomar medidas de longo alcance para travar novos despejos e demarcar corretamente toda a terra”.

    Entre mecanismos e mandatos estabelecidos pelo Conselho de Direitos Humanos, dois se destacam por serem específicos sobre povos indígenas: o mecanismo de peritos e a relatoria especial. O Mecanismo de Peritos é formado por 5 peritos e seu objetivo é fornecer recomendações sobre direitos dos povos indígenas ao UNHRC, sob a forma de estudos e pesquisas. Recentemente, a brasileira Erika Yamada, foi nomeada perita para o mandato de 3 anos (2016-2019).

    Já a Relatoria especial sobre direitos dos povos indígenas da ONU, tem por objetivo monitorar situações de violação e cumprimento de direitos humanos dos povos indígenas no mundo, reportando recomendações aos Estados membros e a todo sistema ONU, em especial ao UNHRC.

    Em março passado, Victoria Tauli-Corpuz, atual relatora especial, realizou visita oficial ao Brasil. Mais recentemente, condenou o assassinato do indígena Guarani Kaiowá Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza, na ação paramilitar contra civis organizada por fazendeiros em Mato Grosso do Sul, conhecida Massacre de Caarapó, onde ao menos outros dez indígenas foram baleados.

    Fórum Permanente sobre Questões Indígenas

    O Fórum Permanente sobre Questões Indígenas (UNPFII) reúne indígenas de todo o planeta e por isso, é o maior espaço de protagonismo dos povos indígenas dentro do Sistema ONU. Em sua última edição, mais de mil indígenas discutiram questões de interesse das populações originárias relacionadas ao desenvolvimento econômico, social, cultural, meio ambiente, educação, saúde e direitos humanos. Com o tema “Povos Indígenas: Conflitos, Paz e Resolução”, o UNPFII coletou em 2016 situações de conflitos envolvendo povos indígenas e seu informe pode ser acessado aqui, inclusive as recomendações ao Brasil.

    Nos últimos anos, lideranças do movimento indígena brasileiro têm se apropriado do Fórum, consolidado alianças com povos de outros países e denunciado as situações de violência no Brasil, como na última edição em que Elizeu Lopes, Guarani Kaiowá, de Mato Grosso do Sul, denunciou o Genocídio no Estado. Na ocasião, também o Cimi pode apresentar dados nacionais sobre as violências praticadas contra os povos indígenas.



    Participação dos povos indígenas na ONU.

    Em meados da década de 70, o Cimi apoiou, em todo o país, as Grandes Assembleias indígenas, tendo por princípio que a causa indígena inspira um método que implique no protagonismo dos povos indígenas, na sua emergência política e histórica como sujeitos de seus atos, como donos de seu destino”, conforme afirma o Plano Pastoral da entidade. Portanto, cedo o Cimi entende seu papel político em promover o protagonismo dos povos indígenas e a coalizão entre eles, frente a luta por seus direitos fundamentais de sobrevivência, como a Terra, Formação, Movimento Indígena, Alianças, Políticas Públicas e Auto-sustenção.

    Para o Presidente do Cimi, o objetivo da entidade em buscar o status consultivo se insere nesta perspectiva, de apoiar fundamentalmente a autodeterminação dos povos indígenas em lugares estratégicos de seus interesses. Esta é uma perspectiva sine qua non da incidência internacional da entidade, “precisamos oportunizar que os povos indígenas brasileiros se apropriem cada vez mais e conduzam processos reivindicatórios em instâncias multilaterais. Queremos apoiá-los de maneira qualificada na superação dos desafios que dificultam a participação do movimento indígena, hora pela burocracia do sistema, hora pelo simples desconhecimento de ferramentas importantes”.

    Durante o último Fórum Permanente, Estados membros, organizações indígenas e indigenistas refletiram sobre as dificuldades de participação dos povos indígenas no Sistema das Nações Unidas. E defenderam uma mudança, pois “atualmente ainda persiste, tanto no sistema ONU, quando no sistema OEA, uma burocracia excludente, que exige critérios de “elegibilidade” não-indígena, de organizações indígenas, cujo formato organizativo e mecanismos deliberativos são diversos. Diferentes dispositivos internacionais reconhecem as formas organizativas indígenas como autenticas e legais por si só, resultado de suas particularidades e em respeito à sua autodeterminação”, explica o secretário executivo do Cimi, Cleber Buzatto (na foto acima).

    No último dia 22 de julho, representantes do Fórum Permanente entregaram o Projeto Final sobre a participação dos Povos indígenas na ONU. Trata-se do resultado de consultas e pareceres técnicos coordenados pelo Fórum e que deve servir de base para o documento final a ser aprovado pela Assembleia Geral da ONU.


    O texto propõe a criação de um novo organismo pela ONU, que reconheça e credencie através de critérios de elegibilidade específicos, as representações e instituições indígenas. Propõe ainda, que seja criado uma nova categoria de participação no Sistema, diferenciada daquelas reservadas às Organizações, através de status consultivos.

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  • 29/07/2016

    Indígena Tenetehar/Guajajara morre atropelado por caminhão madeireiro em Amarante do Maranhão

    O indígena Candide Zaraky Tenetehar/Guajajara, de 22 anos, foi atropelado e morto por um caminhão madeireiro na noite desta quinta-feira, 28, no município de Amarante, Maranhão. De acordo com testemunhas, o motorista estava visivelmente embriagado e fugiu sem prestar socorro. O jovem Tenetehar/Guajajara morreu no local.

    No final da tarde desta sexta-feira, 29, a enfermeira indígena Surama Tenetehar/Guajajara, que acompanha de perto o caso, informou que o corpo estava para ser liberado pelo Instituto Médico legal (IML) e o enterro deverá ocorrer na aldeia Tawari, Terra Indígena Arariboia, onde o jovem Tenetehar/Guajajara morava com a esposa e dois filhos pequenos.  

    Suarama explica que Candide estava em Amarante acompanhando a mãe em tratamento médico. O atendimento de saúde na aldeia é precário, então os Tenetehar/Guajajara doentes precisam percorrer diariamente 90 quilômetros até a cidade. O jovem indígena, portanto, era obrigado a fazer esse trajeto todos os dias para estar ao lado da mãe.

    No momento do atropelamento, Candide estava sobre a moto que usava para ir da aldeia até Amarante. O detalhe é que estava parado, fora da rota do caminhão. Para as testemunhas, a colisão foi provocada pelo motorista madeireiro que carregava toras de árvores. A família do Tenetehar/Guajajara registou Boletim de Ocorrência na delegacia de Amarante do Maranhão.

    O motorista ainda não foi encontrado, tampouco o proprietário do caminhão. A coordenação da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Imperatriz já foi comunicada sobre o caso, mas de acordo com os Tenetehar/Guajajara pouco pôde fazer até o momento.

    Conforme o indigenista Gilderlan Rodrigues da Silva, missionário do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Maranhão, “os indígenas estão revoltados com mais um assassinato, porque assim é que consideram, e o culpado pode ficar impune assim como os outros quatro casos que aconteceram entre abril e maio deste ano com indígenas do mesmo povo”, declara Gilderlan.


    Violência contra os Tenetehar/Guajajara da TI Arariboia

    O missionário do Cimi se refere ao assassinato, entre os dias 26 de março e 22 de abril deste ano, dos Tenetehar/Guajajara Aponuyre Guanabara, de 16 anos, Genésio Guajajara, de 30 anos, Isaías Guajajara, de 32 anos, e de Assis Guajajara, de 43 anos (primeiro plano, na foto). Todos eram da Guarda Florestal Indígena de proteção à terra indígena,e que vem causando revolta entre os madeireiros cada vez mais impedidos de derrubar árvores, e foram mortos a pauladas. 

    Até o início de novembro do ano passado, um incêndio de origem criminosa, conforme atestou o IBAMA, consumiu 45% de florestas da Terra Indígena Arariboia – do total de 413 mil hectares, 190 mil viraram cinzas. No mês anterior, o Governo do Maranhão já havia declarado situação de emergência em 11 terras indígenas no estado por conta de focos de incêndio iguais aos de Arariboia. 

    A terra indígena é um dos alvos preferenciais dos madeireiros da região. Há um histórico de invasões à terra, também ocupada por indígenas em situação voluntária de isolamento do povo Awá-Guajá. No final de 2011, madeireiros invadiram o interior da Arariboia e começaram a montar um acampamento.

    Em janeiro de 2012, uma expedição coordenada pelo Cimi/MA  foi ao local apontado por indígenas Tenetehar/Guajajara. Comprovou não apenas a invasão, mas que ela estava sobre uma área com indícios materiais de presença dos Awá isolados. Havia elementos suficientes para a conclusão óbvia: os madeireiros expulsaram os Awá do lugar de forma violenta, pois os indígenas deixaram para trás utensílios e outros objetos de uso pessoal.

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  • 27/07/2016

    Sem conclusão de demarcações, povos indígenas da região Sul decidem por retomadas e autodemarcações

    Sobrevivendo confinados em menos de dois hectares, as 120 famílias Kaingang da Terra Indígena Rio dos Índios, no Rio Grande do Sul, demarcada em 2005 com 715 hectares, cansaram de esperar pela conclusão do procedimento administrativo de demarcação e na manhã desta quarta-feira, 27, iniciaram a autodemarcação do território. A ação é uma decisão política dos povos da região Sul e começou ontem, com um dia inteiro de trancamento de trecho da RS-150. “São 30 anos de espera. Com esse ato a gente quer do governo federal a homologação da terra. Demarcada já está, então estamos botando os marcos e retomamos um pastoril. Queremos também que os pequenos agricultores sejam indenizados”, explica o cacique Luiz Salvador, mais conhecido como Saci.

    Homologar Rio dos Índios significa indenizar 85 agricultores ocupantes de boa-fé da terra indígena, fazer o reassentamento destas famílias e retirar do território tradicional o empreendimento Águas do Prado, um resort para turistas que conta com 380 estruturas construídas a partir de uma doação ilegal de áreas realizada pela Prefeitura Municipal de Vicente Dutra, na década de 1970. A terra indígena foi considerada devoluta depois de expulsos os Kaingang anos antes. “Na década de 1980 a Funai fez o primeiro Grupo de Trabalho para demarcar Rio dos Índios”, lembra Saci.

    Um período lembrado pelo cacique como de muitos sonhos, que persistem três décadas depois. “Quando tiraram a gente da terra, nos empurraram para a beira de um córrego em Vicente Dutra. Os velhinhos nossos sonhavam em voltar. Queriam isso pra futuras gerações, que é o meu caso. Então morreram sem ver. Agora é minha vez de lutar por nossa terra e assim garantir um futuro melhor pros piá de hoje”, afirma o cacique. Plantar e produzir a própria comida é a demanda mais urgente na medida em que o pouco espaço que possuem serve apenas às moradias.

    Exprimidos em menos de dois hectares, Saci diz que a decisão do povo é pela retomada e autodemarcação dentro dos 715 hectares definidos pelo governo federal. O cacique afirma que se houver conflito, a responsabilidade é do Estado. “Além dos marcos, estamos derrubando cercas e colocando nos limites da terra. Vivemos um dia de cada vez e por enquanto os pequenos agricultores estão entendendo. Sabem que lutamos para que sejam indenizados, não queremos fazer a injustiça que fazem com a gente. Queremos a homologação”, pontua Saci.

    Panorama: o passivo do direito à terra

    No Rio Grande do Sul, de acordo com dados do Setor de Documentação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), das 89 terras indígenas ocupadas ou reivindicadas pelos povos do estado 24 encontram-se sem quaisquer providências administrativas de demarcação pela Funai. Outras 22 estão com o procedimento de identificação em andamento e 15 estão registradas no Departamento de Patrimônio da União (DPU), ou seja, com a homologação concluída. Um passivo que leva aldeias inteiras à sobrevivência às margens de rodovias e no caso de outras 10 terras indígenas reservadas – com pouquíssimos hectares garantidos pelo Estado – como compensações ao túmulo de asfalto posto sobre vastos territórios perdidos pelos povos sem qualquer tipo de consulta.   

    Cinco terras indígenas estão declaradas pelo Ministério da Justiça: Rio dos Índios (Kaingang), Águas Brancas (Guarani Mbyá), Irapuá (Guarani Mbyá), Mato Preto (Guarani Ñandeva) e Passo Grande da Forquilha (Kaingang).  A Portaria Declaratória é a antessala da assinatura de homologado feita pela Presidência da República. Todavia, sua continuidade depende do pagamento de benfeitorias aos ocupantes de boa-fé, realojamentos agrários definidos pelo Incra e a retirada dos não-indígenas da terra demarcada. 

    “(As declaradas) são terras emblemáticas, prontas para homologação, com procedimentos avançados. E o governo parou. Tratam-se de reivindicações que se arrastam por décadas e que em 2013 pararam de vez depois que a então ministra da Casa Civil, a senadora Gleisi Hoffman (PT/PR), declarou que não existiam índios no Paraná. Ela se baseou num estudo da Embrapa e essa posição repercutiu na região Sul inteira. Passamos a ouvir que não existimos”, ressalta Douglas Kaingang.

    Integrante do Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI), o Kaingang diz que as eleições de 2014, com a constituição do atual Congresso Nacional, tornou o panorama dos povos indígenas ainda mais precário: “Os parlamentares ruralistas que lideram todas as tentativas de desfazer os nossos direitos são daqui do estado. O Alceu Moreira (PMDB/RS) e o Luiz Carlos Heinze (PP/RS) sistematicamente fazem declarações públicas de cunho racista e têm uma atuação política de boicote às leis vigentes”.

    O indígena lembra das declarações dos parlamentares durante audiência pública no município de Vicente Dutra, em dezembro de 2013, afirmando que “índios, negros e gays” são tudo o que não presta e incitando os agricultores a atos de violência contra os indígenas. “O que podemos fazer diante desse panorama? A decisão do povo Kaingang e do movimento indígena é retomar e autodemarcar. Olha, são séculos de genocídio dos nossos povos, expulsões e luta pela terra. Vamos até o fim”, declara Douglas Kaingang

    “A autodemarcação é contra o confinamento. Nossa reprodução física, social e cultural está comprometida. E essa força anti-indígena é contra a nossa existência, nossa vida. Quanto mais cresce essa força, cresce na mesma proporção o ímpeto pelas retomadas. É algo que não depende do processo de congelar o direito à terra. Somos parte da terra. Os Kaingang começaram a retomar na década de 1970, durante a ditadura militar, enfrentando o autoritarismo. Temos aí cerca de 20 retomadas no estado”, diz o Kaingang. 

    Sul Maravilha: não para os indígenas

    Sul Maravilha. Assim é chamada a região com os melhores índices de desenvolvimento humano, econômico e social do país. Não para os povos indígenas, quilombolas, camponeses e comunidades tradicionais. Essas populações são alvos constantes de uma proposta de desenvolvimento que não as considera, ao contrário: as têm como entraves. A ‘locomotiva do desenvolvimento’ então apita e atropela quem a ela se contrapõe. No Paraná, por exemplo, a Justiça é responsável pelos silvos anti-indígenas revogando demarcações e relegando à morosidade judicial uma solução definitiva.

    Em cumprimento à decisão da Justiça Federal de Guarapuava, o ministro da Justiça Alexandre Moraes declarou no último dia 4 de julho nula a Portaria Declaratória – de 31 de outubro de 2007 – da Terra Indígena Boa Vista, no município de Laranjeiras do Sul, à área de 100 hectares do fazendeiro Silvestre Churuscinske. Cerca de 115 famílias não-indígenas permanecem nos demais pontos da terra tradicional, além da existência de 30 latifúndios – grandes propriedades. Dos 7.286 hectares da Portaria Declaratória, os Kaingang vivem em menos de 50 hectares.

    O secretário executivo do Cimi, Cléber Buzatto, considera a decisão fora de contexto: “Algumas propriedades incidentes na terra indígena já foram indenizadas, mas seguem ocupando quase 90% da área demarcada. Os Kaingang tiveram a aldeia principal destruída, foram expulsos. Vivem em pequenos pedaços de terra, uma situação que ataca todos os direitos humanos e à terra”. A nulidade da portaria declarada pelo ministro da Justiça, para o secretário executivo do Cimi, não afeta só a área respectiva à decisão judicial, mas repercute em toda a ocupação Kaingang da terra indígena. A Serra da Pitanga, localizada no interior da Terra Indígena Boa Vista, é cobiçada pelo governo do Paraná para a exploração de gás.

    No Paraná, os povos indígenas ocupam ou reivindicam 48 terras tradicionais (Cimi, 2016). Destas, 12 estão registradas no DPU, duas estão declaradas pelo Ministério da Justiça – considerando a Terra Indígena Boa Vista -, duas são áreas reservadas (compensações por impactos de grandes obras), 10 sem nenhum processo administrativo de demarcação em andamento, quatro dominiais, três identificadas e outras 15 em processo de identificação pela Funai – 12 delas estão no oeste do Paraná, entre os municípios de Terra Roxa e Guaíra.

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  • 27/07/2016

    Sesai recomenda suspensão de exonerações e nomeações ao DSEI/MS após ocupação Guarani Kaiowá e Terena

    Após ocupação de caciques e lideranças dos povos Terena e Guarani e Kaiowá no Ministério da Saúde, em Brasília (DF), o secretário Especial de Saúde Indígena Rodrigo Sérgio Garcia Rodrigues recomendou nesta quarta-feira, 27, ao Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Mato Grosso do Sul a suspensão temporária de exonerações, nomeações e indicações no âmbito do distrito.

    Na segunda-feira, 25, os povos indígenas do estado foram surpreendidos pela exoneração de Lindomar Terena do DSEI de Campo Grande. Edson Canale foi nomeado para o cargo do Terena sem nenhuma consulta às instâncias de decisão dos povos – as mesmas que definiram a indicação de Lindomar à coordenação do DSEI depois de dias de discussões entre os indígenas.

    De acordo com as lideranças, Canale possui relações estreitas com a deputada estadual ruralista Mara Caseiro (PSDB). “Estávamos vindo para Brasília na verdade para apresentar nossas demandas e protestar contra a proposta de municipalização da saúde indígena quando fomos pegos de surpresa pela notícia de que estavam tirando o Lindomar”, explica Getulio Juca Guarani e Kaiowá, da Reserva Indígena de Dourados.

    A recomendação do gestor da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) visa desfazer a decisão pela exoneração tomada, segundo o próprio secretário, sem consultá-lo. No documento, o gestor destaca que é preciso “preservar a harmonia social do DSEI”. Para os indígenas, isso significa manter Lindomar Terena na coordenação do DSEI de Campo Grande, arquivar a criação do Instituto Nacional de Saúde Indígena (INSI), cujo Projeto de Lei tramita na Câmara Federal, e não municipalizar a saúde indígena.

    "A população indígena é totalmente contrária a essa ideia da municipalização, pois nós não somos bem atendidos pelos municípios onde vivemos. Eles dizem que quem cuida de índio é a Funai, então, não vão cuidar da saúde, ter a capacidade de gerenciar isso”, destaca o cacique Genivaldo Terena. A pauta também esteve entre as demandas apresentadas ao Ministério da Saúde durante a ocupação.

    Não houve reféns

    Os caciques e lideranças Terena e Guarani Kaiowá estranharam notícias veiculadas por alguns veículos da grande imprensa que afirmaram que funcionários da Sesai foram feitos reféns durante a ocupação desta segunda. “O próprio Ministério da Saúde e a Sesai ressaltaram, inclusive isso está numa das notícias, que nenhum servidor foi feito refém. Nós também não fizemos nenhum. Então se tratou de notícia inverídica e que só alimenta o preconceito contra a gente”, afirma Lindomar Terena.

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  • 26/07/2016

    Teia realiza encontro para articular luta por terra e território no Maranhão

    A Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão realizou no último final de semana seu primeiro encontro, na aldeia Geralda Toco Preto, do povo Krepym Katejê, município de Itaipava do Grajaú. A mensagem foi direta: "Esses projetos que conhecemos com os nomes de Programa Grande Carajás e Plano de Desenvolvimento Agropecuário do MATOPIBA integram o modelo de desenvolvimento capitalista”.

    O encontro foi permeado pela construção de estratégias comuns entre os povos e comunidades tradicionais para o enfrentamento àquilo chamado de dor da Mãe Terra. "Por isso, estamos retomando nossos territórios, revitalizando a nossa cultura, nossos rituais, nossas próprias organizações com a transmissão da sabedoria dos anciãos e anciãs às novas gerações”, diz trecho na Carta Final do encontro. Leia na íntegra:

    Nossos Territórios, nossa Vida!

    Nós, Povos Krepym Katejê, Krenyê, Pyhcop (Gavião), Tentehar/Guajajara, Gamela, Tremembé e Krikati  e Comunidades Quilombolas, CIMI, Pastoral Indigenista, CPT, MOQUIBOM realizamos o I Encontro da Teia de Povos Indígenas, no Crêh (aldeia) Geralda Toco Preto do Povo Krepym Katejê, município Itaipava do Grajaú – MA, nos dias 22 a 24 de julho de 2016.

    Somos parte da Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão que reúne Povos Originários, Comunidades Quilombolas, Pescadores Artesanais, Ribeirinhos, Quebradeiras de Coco, Gerazeiros e Sertanejos para compartilhar as experiências de cuidados com os nossos territórios, nossos cantos, nossas danças, cores, sabores, saberes e nossa autonomia na construção do Bem Viver.

    Nestes dias reafirmamos nossa decisão de continuar unidos para resistir e defender nosso Direito de Viver livres e com autonomia em nossos Territórios frente às ameaças do Estado e dos projetos de morte do capital.

    O alinhamento de interesses do Estado brasileiro – Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário – com o capital é responsável pela não demarcação e homologação de nossos territórios; pelas propostas de leis em tramitação no Congresso Nacional com o objetivo de desmontar os direitos garantidos na Constituição Federal e em Tratados Internacionais; o sucateamento da FUNAI e os constantes cortes orçamentários na política indigenista; os assassinatos, as ameaças, e a criminalização dos povos que se insurgem contra o genocídio.

    Sentimos a dor da Mãe Terra agredida pelo monocultivo do eucalipto, da cana-de-açúcar e da soja, pela mineração, pela barragem dos rios, pela destruição das florestas, expansão da pecuária, construção de ferrovias, portos e linhas de transmissão de energia. Esses projetos que conhecemos com os nomes de Programa Grande Carajás e Plano de Desenvolvimento Agropecuário do MATOPIBA integram o modelo de desenvolvimento capitalista.

    Apesar desses projetos de morte continuamos a resistência e a insurgência na defesa da Mãe Terra e dos nossos povos. Por isso, estamos retomando nossos territórios, revitalizando a nossa cultura, nossos rituais, nossas próprias organizações com a transmissão da sabedoria dos anciãos e anciãs às novas gerações.

    Reafirmamos o compromisso de continuar tecendo a Teia com nossas cores, nossas pinturas, com o som dos nossos Maracás, com o ritmo dos nossos pés em dança, a agilidade das nossas mãos e o calor dos nossos abraços. Neste espaço, com fios de esperanças, somos tecedores e tecedoras de territórios livres.

    Territórios Livres, Tecendo o Bem Viver!

    24 de julho de 2016

    Território Geralda Toco Preto – Povo Krepym Katejê

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  • 26/07/2016

    Kaingang bloqueiam rodovia no RS exigindo homologação de território tradicional

    Indígenas do povo Kaingang bloquearam nesta terça (26) a rodovia RS 150, no Rio Grande do Sul, exigindo a homologação imediata da Terra Indígena (TI) Rio dos Índios, no município de Vicente Dutra. Há décadas, os indígenas de Rio dos Índios – Kanhgág Ag Goj, em Kaingang – lutam pela demarcação de seu território tradicional.


    Atualmente, 46 famílias indígenas vivem num reduzido espaço do território, em apenas 2 dos 715 hectares já declarados pelo Ministério da Justiça como de ocupação tradicional do povo Kaingang. Confinada, a comunidade de cerca de 200 pessoas enfrenta grande preconceito na região e sofre com pouco espaço para as crianças viverem e com a impossibilidade de plantar e coletar material para artesanato e lenha.

    Os indígenas afirmam que o bloqueio só será suspenso quando suas reivindicações forem ouvidas e o governo der um retorno sobre a homologação do território e a indenização das benfeitorias das cerca de 85 famílias de pequenos agricultores cujas propriedades, loteadas pelo Estado à revelia dos indígenas, incidem sobre o território tradicional.
    Diversas lideranças Kaingang da região do Alto Uruguai participam da mobilização, em apoio aos parentes que vivem espremidos na TI Rio dos Índios, vítimas da omissão do Estado brasileiro em corrigir seus próprios erros.

    Bem viver em Kanhgág Ag Goj

    Junto com a mobilização iniciada nesta manhã, os Kaingang divulgaram um documento com o título “Pelo Bem Viver: Homologação JÁ” (clique aqui para ler na íntegra). Na carta, enviada também à Fundação Nacional do Índio (Funai) e ao Ministério Público Federal (MPF), afirmam sua luta por “Vida, terra, justiça e demarcação”.

    “Nossa postura é pelo bem viver: categoria que vem sendo adotada pelos povos indígenas em diferentes contextos latinoamericanos para expressar sua posição ética frente à sociedade, à natureza e à sobrenatureza, traduzida nos seus modos próprios de pensar, viver, sentir”, afirma o documento.

    “Nesse sentido, imediatamente ressaltamos que o presente ato e postura socioambiental segue no horizonte da autodeterminação indígena, da sua organização social, ética, ambiental e política como movimento social”, diz a nota. “Esta parcela territorial é constitutiva da humanidade Kaingang desde tempos imemoriais e a postura pela retomada se insere num universo simbólico mais amplo que compõe a memória coletiva do nosso povo que atualmente lutam para reconstituir nosso território”.


    Os que “não prestam”

    Ao longo das décadas de luta dos Kaingang da TI Rio dos Índios pela demarcação de seu território tradicional, foram diversos os casos de conflitos, violência e ameaças sofridas pelos indígenas na região. Na avaliação do cacique de Rio dos Índios, Luís Salvador, os conflitos são motivados pela atuação de políticos locais e deputados federais.

    “Quem quer nos ver brigar com os pequenos agricultores são alguns políticos, locais e federais. Não há conflito com o município, mas tem conflito com o poder político da região”, afirma Luís Salvador. “Há mobilização de deputados como Heinze [PP], Alceu Moreira [PMDB], para que aumente o conflito na região. Eles não querem resolver o problema, querem que os dois [indígenas e pequenos agricultores] se matem”.

    Vicente Dutra foi o palco das famosas declarações racistas e homofóbicas do deputado ruralista Luís Carlos Heinze (PP-RS), quando, em 29 de novembro de 2013, ele afirmou que “quilombolas, índios, gays e lésbicas” são “tudo o que não presta”. A afirmação, documentada em vídeo, ocorreu durante uma audiência com produtores rurais, da qual participaram também os ruralistas Vilson Covatti (PP-RS) e Alceu Moreira (PMDB-RS).

    Na ocasião, Moreira – que preside atualmente a CPI da Funai e do Incra na Câmara dos Deputados – disse que os agricultores não deveriam permitir que nenhum “vigarista” ocupasse suas propriedades, e incitou: “reúnam verdadeiras multidões e expulsem [os indígenas] do jeito que for necessário”.

    Pouco antes, naquele mesmo mês, cerca de 500 pessoas haviam se dirigido até a entrada da aldeia Kaingang de Rio dos Índios e tentado expulsar os indígenas da área, numa situação bastante tensa. O atrito teve origem em um ataque a tiros contra os Kaingang feito por um segurança do empreendimento turístico Águas do Prado, cujos cerca de 200 hectares fazem parte do território tradicional Kaingang e foram retirados da posse dos indígenas no ano de 1981, por meio de um decreto municipal.

    Em 2014, um professor Kaingang foi assassinado em Vicente Dutra (RS), esfaqueado pelas costas.

    Os deputados foram representados na Justiça por suas falas preconceituosas e de incitação ao ódio e à violência em Vicente Dutra, mas nenhum deles foi punido e as declarações se repetiram em outras ocasiões – recentemente, organizações indígenas da Bahia também entraram com ação contra novas declarações preconceituosas de Luis Carlos Heinze.


    30 anos de espera

    A realidade dos Kaingang de Rio dos Índios é exemplar da situação vivenciada por grande parte dos povos indígenas da região sul do Brasil: famílias vivendo às margens de rodovias, acampadas ou confinadas em pequenas áreas em situação precária, aguardando a demarcação de pequenos territórios.

    Além da atuação criminosa de deputados ruralistas, os conflitos são acirrados pela morosidade do Estado brasileiro em demarcar os territórios tradicionais dos povos indígenas. A demarcação de Rio dos Indíos, reivindicada formalmente desde a década de 1990, só iniciou em 2000, com a formação do Grupo de Trabalho (GT) da Funai. O relatório de identificação e delimitação da área foi publicado em 2003 e a portaria que declarava a tradicionalidade da terra indígena, em 2004. Desde então, os indígenas aguardam a desintrusão e a homologação da área.

    Recentemente, a TI Rio dos Índios foi incluída na lista “Assina, Dilma!”, quando o movimento indígena reivindicou ao governo de Dilma Rousseff a publicação das homologações e portarias declaratórias de vinte e duas terras cujos processos demarcatórios estavam prontos, sem nenhum impedimento jurídico, aguardando apenas a assinatura do governo federal.

    Segundo Luís Salvador, os indígenas acreditam que os pequenos agricultores não são culpados pela política equivocada do Estado e, por isso, lutam também pela indenização das benfeitorias “de boa fé” incidentes sobre a terra indígena, conforme estabelece o artigo 231 da Constituição Federal.

    “Tem que trabalhar em cima da Constituição. Ela estabelece que nós temos direito a nossas terras tradicionais e que os ocupantes de boa fé têm direito à indenização das benfeitorias. Já esperamos demais, são 30 anos de luta. Estamos reivindicando que o governo faça a homologação do nosso território e proceda com a indenização dos pequenos agricultores”, acrescenta Salvador. “Nossas terras são tradicionais, e não aguentamos mais esperar. Vamos bloquear a rodovia até o governo sinalizar com alguma solução”, conclui o cacique.

    No documento divulgado nesta terça, os Kaingang afirmam que a mobilização cobra “a dívida histórica do Estado brasileiro” com os povos que resistiram e ainda resistem “aos processos violentos de colonização e desterritorialização”. “Exigimos a imediata homologação da Terra Indígena Kanhgáng Ag Goj e indenização dos proprietários de boa fé para o uso exclusivo do Povo Kaingang, para que possamos novamente por em diálogo corpo, pensamento e território Kaingang”, finaliza a nota.

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  • 26/07/2016

    Juventude Kaiowa e Guarani: entre o rap, a reza e a retomada

    No maior encontro de juventude Kaiowa e Guarani que se tem registro, cerca de 300 indígenas se reuniram entre os dias 21 e 24 e julho no tekoha Takuaraty/Yvykuarusu, em Paranhos (MS), fronteira com o Paraguai, para realizar a Retomada da Aty Jovem (RAJ).

    Batizada assim por um coletivo de jovens indígenas, a RAJ nasce das grandes assembleias do Aty Guasu Guarani e Kaiowa, e vem ao encontro das últimas mobilizações indígenas na ocupação de seus territórios tradicionais.

    Para os não-indígenas, a Aty Jovem parecia uma grande incógnita: 90% das falas foram feitas em Guarani, como de costume nas reuniões do Aty Guasu. Assim, era possível observar, enquanto se aguardava uma síntese em português dos debates, uma harmonia interessante na composição do encontro: rezadoras e rezadores muito velhos – o mais idoso ali tinha 93 anos -, lideranças mais experientes e os jovens todos.

    Também era visível que, entre os participantes, estavam filhos, netos e sobrinhos das lideranças assassinadas no contexto da luta pela terra – como, por exemplo, os netos de Nízio Gomes, morto em 2011.

    Estavam, também, jovens que redigem as cartas públicas escritas pelas comunidades – como a antológica carta de resistência de Pyelito Kue, de 2012: o jovem que sofreu na pele o que estava ali descrito, e que ajudou a comunidade a detalhar em um pedaço de papel que correu o mundo, estava li reunido.

    Os jovens vivem profundamente a "zona de transição" interétnica entre os Guarani e Kaiowa e os não-indígenas: vão à escola na cidade, trabalham em fazendas e frigoríficos, consomem no comércio local, vão ao banco, hospital, universidade; são professores, agentes de saúde,

    Enfrentam o preconceito cotidiano e estrutural, fazem rap, aprendem a rezar para ser ñanderu e ñandesy. Mantém-se umbilicalmente ligados ao fermento Kaiowa e Guarani: a retomada dos tekoha, os lugares sagrados onde vivem seus antepassados. Este era o tom do encontro: a terra é uma necessidade.

    E isto está estampado em fatos trágicos: entre as quase vinte pessoas baleadas nos últimos dois meses, no contexto da luta pela terra, metade eram indígenas com idade entre 12 e 20 anos. As novas retomadas na região de Caarapó são majoritariamente compostas de jovens que, impulsionados por rezadores e parantes antigos, constróem tendas de madeira e resistem ali, mirando a demarcação territorial. Aliás, Clodiodi de Souza, assassinado a tiros por fazendeiros no Massacre de Caarapó, era jovem, como lembra a carta final do encontro da RAJ. Eram estes – os filhos daquelas pessoas, os filhos mais novos das terras desejadas – que, reunidos em Paranhos retomaram o movimento de juventude Kaiowa e Guarani do Aty Guasu.

    Leia a carta final do encontro da Retomada da Aty Jovem (RAJ).

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