• 12/08/2016

    Incêndio na TI Arariboia começou há mais de 30 dias e apenas 18 Guajajara o combatem: “O Ibama não apareceu, estamos sozinhos”



    O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou mais de 53 mil focos de queimadas e incêndios florestais no país até a última sexta-feira, 5, e alguns destes focos aparecem no mapa como pequenas ilhas na área central do Maranhão. Estas ilhas de fogo queimam mais uma vez a Terra Indígena (TI) Arariboia, dos povos Tenetehar/Guajajara e Awá-Gujá em situação de isolamento voluntário. Os Guajajaras se dividem em brigadas, contando até com crianças, para impedir o avanço das chamas que há cerca de 30 dias consomem o território. 

    "Até o início dessa semana estávamos com 30 Guajajara na brigada, agora temos só 18. Trabalhamos desde muito cedo. O Ibama não apareceu, estamos sozinhos. Outras autoridades responsáveis também não apareceram", explica Zezico Guajajara. O indígena está no combate ao fogo há um mês. Ele explica que as chamas correm para a região de perambulação dos Awá livres, mas também para as aldeias Tenetehar/Guajajara.

    "Tá repetindo o ano passado. Apenas não dá pra dizer ainda que é criminoso, precisa investigar. Ano passado foi criminoso. O Ibama mesmo disse. O importante agora é o Ibama chegar aqui e não deixar ficar grande. Estamos numa luta aqui e pedimos ajuda", diz Zezico. De acordo com o Guajajara, os focos de incêndio estão concentrados na região de Angico Torto e Zutiua, na TI Arariboia.  
     

    Em outubro de 2015, conforme monitoramento do Greenpeace, o incêndio florestal já tinha consumido cerca de 190 mil (45%) dos 413 mil hectares que constituem a TI Arariboia. Um drama revivido pelos Tenetehar/Guajajara e também pelos povos isolados, que tiveram sua opção de vida livre em risco pela Funai. O Inpe informa que o tempo seguirá seco. A informação é particularmente ruim para o combate aos focos de incêndio naquela região. 
     

    Uma campanha de pedido de socorro à Arariboia foi colocada em andamento pelos indígenas nas redes sociais.Conforme os Guajajara têm divulgado em comunicados nas redes sociais, até o momento os indígenas contam apenas com a brigada do PrevFogo, composta pelos próprios indígenas, e que é insuficiente para combater as chamas que avançam. "As queimadas já duram mais de 30 dias e até agora nenhum autoridade na região para tentar combater mais essa enorme queimada que já está chegando onde os indígenas Awá isolados vivem (..) portanto, correm risco de vida”, diz trecho de um dos informes.


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  • 11/08/2016

    Indígenas, quilombolas e pescadores pedem à Alemanha que não importe produtos de quem agride suas vidas e territórios


    Povos indígenas, quilombolas, pescadores e pescadoras e extrativistas realizaram uma caminhada na Avenida das Nações, em Brasília, na manhã desta quinta (11), denunciando aos países importadores de commodities produzidas pelo agronegócio no Brasil as violações e agressões promovidas por esse setor contra seus direitos, seus territórios e suas vidas. Ao fim da caminhada, uma comissão de representantes dos povos e comunidades tradicionais foi recebida na Embaixada da Alemanha, onde um documento com denúncias e reivindicações foi entregue.

    “Os territórios indígenas continuam sem ser demarcados, grilados por fazendeiros, e isso vem criando um transtorno e uma tristeza muito grande. Há muitos assassinatos em muitas comunidades, muitos estão morrendo por não ter sua alimentação garantida”, afirmou Nailton Pataxó Hã Hã Hãe, um dos representantes das lideranças indígenas que participou da reunião na embaixada, enquanto cerca de 200 lideranças dos povos Pataxó Hã Hã Hã, Tupinambá, Kaingang, Guarani M´bya, Gavião, Gamela, Krikati, Macuxi, Mura, Kambeba, Maraguá, quilombolas e pescadores e pescadoras artesanais manifestavam-se do lado de fora do prédio.

    No documento, os povos e comunidades tradicionais ligam os ataques violentos que têm sofrido à constante incitação ao ódio e à violência feita por parlamentares da bancada ruralista, a maior do Congresso Nacional, e solicitam que a embaixada leve as denúncias às demais autoridades do país e ajude a promover uma “mudança de postura e atuação desses setores exportadores em relação aos nossos direitos, aos nossos povos e às nossas lideranças”.

    “Observamos que existe uma organização muito bem estabelecida na condução desses ataques. O Massacre de Caarapó não resulta de uma iniciativa isolada de alguns fazendeiros loucos do interior do estado do Mato Grosso do Sul”, afirmam os povos no ofício.

    Leia a carta entregue à embaixada da Alemanha

    “Consideramos que existem fortes interesses políticos e econômicos na raiz e no corpo destes ataques contra nossos povos e nossos direitos”, segue afirmando a carta. “Os responsáveis e os beneficiários diretos desse ataque são os mesmos sujeitos que nos atacam e matam nossas lideranças recorrentemente em nossos territórios originários. Esses grupos são vinculados e defensores do modelo de exploração e produção fundamentalmente voltado à exportação de commodities agrícolas e minerais”.

    Agronegócio e violência no campo

    No final da semana passada, o assassinato do camponês Luís Jorge de Araújo, de 56 anos, da comunidade Boqueirão, no município de Wanderlândia (TO), fez subir para 39 o número de vítimas fatais da violência no campo em 2016, até aqui, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Em todo o ano de 2015, também segundo a CPT, foram 50 assassinatos por conta de conflitos fundiários e da luta pela terra em todo o Brasil – o maior número contabilizado em 12 anos.

    No caso dos povos indígenas, apenas no ano de 2014, último com dados disponíveis, foram 138 assassinatos. Desde agosto de 2015, já foram registrados ao menos 30 ataques paramilitares – com o uso de armas pesadas ou agentes químicos – contra acampamentos do povo Guarani e Kaiowá, apenas no Mato Grosso do Sul.

    Em busca de expansão para sua produção e seus lucros, o agronegócio voltado à exportação de commodities agrícolas – artigos como soja, café e cana-de-açúcar, produzidos em grandes monoculturas e que têm seu valor negociado em bolsas de valores – acaba pressionando os territórios de povos indígenas, quilombolas e demais comunidades tradicionais e atropelando seus modos de vida e de produção.

    “Os grandes empreendimentos tem como foco expandir em forma de capital, mas não tem como foco o respeito à vida, ao nosso bem-viver, aos nossos territórios. E com essa política de expansão, o Estado brasileiro fez uma opção por um modelo de desenvolvimento que impacta as comunidades tradicionais, que destrói nossos territórios e compromete nossa fauna e nossa flora”, afirmou na reunião Fátima de Barros, liderança da Articulação Nacional de Quilombos (ANQ). 

    “Toda essa pressão passa por uma mão que financia, e essa é a mão dos grandes produtores, que têm interesse nos nossos territórios para continuar a expansão agrícola. Nós ficamos sem voz, somos pessoas excluídas dentro do nosso país. Nossas lideranças são ameaçadas, caçadas e assassinadas pelo latifúndio do Brasil”, complementa a quilombola.

    Fátima, que veio do Tocantins, também citou ao ministro da Embaixada da Alemanha o programa Matopiba, frente de expansão da fronteira agrícola na região do Cerrado, como uma nova fonte de risco para os povos, para o meio ambiente e para as águas.

    Relações comerciais

    “Ao importar esses produtos oriundos do agronegócio do Brasil, a Alemanha está contribuindo para fortalecer esse setor agressivo e violento contra nossos direitos, nossas lideranças, nossas vidas”, afirma o documento entregue pelas lideranças à embaixada.

    “Eu concordo cem por cento com o que vocês disseram, que é importante proteger o ambiente no qual os diferentes povos e a humanidade vivem, e concordo que o caminho também passa por pensar nos consumidores finais e nos importadores dos mercados europeus”, afirmou o ministro da Embaixada da Alemanha, Christoph Bundscherer, acrescentando que a consciência entre os europeus em relação ao consumo de alimentos saudáveis não agressivos ao meio ambiente e aos direitos humanos vem aumentando.

    A Alemanha é uma das principais importadoras de commodities do agronegócio brasileiro. Segundo dados do Ministério da Agricultura, em julho de 2016, a União Europeia foi a segunda principal importadora do agronegócio brasileiro, representando o destino de 18,2% das exportações do país.

    De forma individual, a Alemanha foi, neste mesmo mês, a nona principal importadora do agronegócio do Brasil: dos 7,8 bilhões de dólares em vendas externas, 164,5 milhões foram oriundos apenas de compras da Alemanha, o que totaliza uma participação de 2,2% no total de vendas internacionais do agronegócio brasileiro.

    No ano de 2015, ainda segundo o Ministério da Agricultura, o total das relações comerciais do setor agrícola no Brasil com a Alemanha chegou a 2,47 bilhões de dólares. Neste mesmo ano, a Alemanha foi o quinto principal país comprador de soja produzida no Brasil.

    Enquanto o agronegócio conta com grandes subsídios do Estado e domina a pauta de exportações do Brasil, ao lado das commodities minerais e com produtos como soja, carne, celulose, cana de açúcar e café produzidos em grandes propriedades, a agricultura familiar e camponesa, com recursos públicos muito menores, é responsável por 70% dos alimentos consumidos pelas famílias brasileiras, segundo dados do extinto Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

    “Esse diálogo entre produtores, governo, parlamento, embaixadas, e vocês, representantes dos povos diferentes, pescadores, indígenas, quilombolas, é muito importante. Estamos sempre à disposição”, acrescentou o ministro alemão Bundscherer, antes de assinar o documento entregue pelos representantes de povos indígenas, quilombolas e pescadores.

    Semana de lutas

    A caminhada na avenida das Nações foi o último grande ato das cerca de 200 lideranças indígenas, quilombolas, pescadoras e de outras comunidades tradicionais que vieram de diversas regiões do Brasil, especialmente Bahia, Maranhão e Rio Grande do Sul, para lutar por seus direitos em Brasília.

    Em sintonia com as mobilizações ocorridas em todo o país, os povos originários e comunidades tradicionais ocuparam na terça (9), Dia Internacional dos Povos Indígenas, um auditório da Câmara dos Deputados, em luta pela rejeição da Proposta de Emenda Consittucional (PEC) 215 e pelo fim da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra a Funai e o Incra – ambas iniciativas da bancada ruralista, cuja pauta agressiva para 2016-2017, sintetizada pela Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) e pelo Instituto Pensar Agro (IPA), foi também citada como fonte de ataques na carta entregue à embaixada da Alemanha.

    Obtiveram, em reunião realizada na quarta-feira (10), o compromisso do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), de que ele não prorrogaria a CPI unilateralmente e nem colocaria a PEC 215 para votação enquanto estiver à frente da presidência – seu mandato vai até fevereiro de 2017.

    A ação na embaixada da Alemanha deu sequência a outra mobilização ocorrida em julho, quando outras 200 lideranças indígenas realizaram uma manifestação na Avenida das Nações e entregaram denúncias às embaixadas de Portugal, Rússia, Estados Unidos, Países Baixos, Canadá, França e China.

    “A soja que plantam, com aquele que nós chamamos de passarinho grande [avião], que larga aquele pó em cima e cai na nossa água, isso já envenena a gente. Eu trabalho com meus chás, meus remédios. Eles nos curam, mas não curam o veneno”, resumiu, na embaixada da Alemanha, a liderança Iracema Kaingang, da Terra Indígena Borboleta, no Rio Grande do Sul (foto abaixo). “Então, para vocês, que são conhecidos desses aí, fazemos um apelo por nossa vida. A gente gosta muito de viver. A gente luta pelos nossos filhos”.

    texto e fotos: Tiago Miotto/assessoria de comunicação do Cimi

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  • 11/08/2016

    Um ritual Mamaindê contra a PEC 215 e pelos direitos indígenas, quilombolas e de comunidades tradicionais

    Os pajés e as pajés do povo Mamaindê se reuniram na aldeia Central, Mato Grosso, durante terça, 9, e quarta, 10, desta semana, para um ritual contra Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215 e em defesa dos direitos e da vida dos povos indígenas do Brasil. “Invocamos os espíritos de todos os guerreiros e guerreiras para formar uma grande corrente com os demais povos do país”, explica a pajé Elizabete Mamaindê (na foto abaixo). Brasil afora mobilizações em defesa dos direitos indígenas ocorreram nos últimos dias em posição contrária à PEC 215.

    As demarcações de terras indígenas e quilombolas, o respeito aos territórios dos pescadores e pescadoras artesanais, além de solidariedade especial ao povo Guarani e Kaiowá foram outras demandas presentes nos dois dias de rituais no terreiro da aldeia Central. “Nosso ritual é também para sensibilizar o Estado para garantir melhores condições de saúde e educação. Somos contra a municipalização delas”, acrescenta a pajé.

    “Nós, povo Mamaindê, somos os donos verdadeiros desta terra. Foi Deus mesmo que deixou pra nós, não comprada com dinheiro. A terra é nossa mãe e nós vamos defender a nossa mãe. Vocês governantes fazem um monte de leis e coloca no papel; não serve pra nada. Vocês não cumprem o que vocês mesmo fazem. Ninguém vai comer dinheiro, a gente precisa d aterra pra poder alimentar nossos filhos”, diz a pajé Elizabete.

    Para a pajé, os brancos derrubam toda a floresta, matam a água e o rio. Por não pensar que a terra precisa de cuidados, a Mamaindê afirma que os brancos prejudicarão todo o mundo. E não é apenas a terra que os Mamaindê apontam que vem sendo destruída. Seus defensores também, por isso o ritual lembrou dos assassinatos de lideranças indígenas, camponesas e populares. Invasões de terras indígenas e as commodities exportadas pelo agronegócio violando direitos humanos e praticando violências também foram mencionadas durante o ritual.

    “O descaso dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) com os povos indígenas chegou num limite. Ano a ano temos nossos territórios sagrados violados e invadidos, sem que seja tomada alguma providência. Não vamos desistir da luta. Temos pajés fortes, que combatem conosco e se juntam com outros pajés em defesa da terra”, declara a liderança Manoel Mamaindê. O indígena cita o Marco Temporal. A tese defendida por ruralistas foi anexada à PEC 215. Nela a demarcação de terras indígenas estaria submetida à promulgação da Constituição Federal 5 de outubro de 1988, ou seja, territórios só podem ser demarcados caso nessa data os povos que os reivindicam comprovem presença física nas áreas ou disputa judicial por elas.

    Fotos: Volmir Bovareseo

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  • 11/08/2016

    Morte anunciada no Tocantins: CPT denuncia mais um caso de assassinato no campo

    “Se eu me calar quem os defenderá?”

    A ofensiva de grileiros contra famílias camponesas fez mais uma vítima no Tocantins. Na última sexta-feira (5), Luís Jorge de Araújo, pai de família com 56 anos, membro da comunidade Boqueirão, foi executado em seu barraco, no município de Wanderlândia (TO). Testemunhas que presenciaram o momento do crime disseram que quatro homens armados chegaram ao local no início da tarde e efetuaram o disparo à queima roupa contra o trabalhador.

    Em julho deste ano, a Comissão Pastoral da Terra Araguaia-Tocantins (CPT) denunciou na imprensa regional e em audiência com a Ouvidoria Agrária Nacional (OAN) a onda de violência que assola o campo, com o acirramento das agressões dirigidas contra famílias em luta por terra nesta região norte do estado.

    Desde o início de 2016, já havia sido registrado cinco casos de ataques a diferentes comunidades por pistoleiros a mando de grileiros. Dentre eles, o assassinato de uma liderança da ocupação Gurgueia, no município de Araguaína, enquanto dormia em seu barraco, e um jovem baleado na mão, na ocupação rural denominada Capela, também em Wanderlândia.

    Mesmo com a ampla divulgação do alastramento dos conflitos e da tensão que envolve a região, os órgãos competentes não conseguiram evitar esta morte já anunciada. Já circula na região uma lista apontando sete pessoas marcadas para morrer, entre lideranças comunitárias e representantes sindicais.

    A fazenda Boqueirão trata-se de uma terra que pertence ao patrimônio da União. A destinação prioritária de tais áreas públicas deveria, constitucionalmente, ser o atendimento às necessidades das famílias que precisam de terra para produzir seu sustento, o que implicaria uma ação firme dos órgãos públicos competentes.

    Comprometida com a defesa intransigente do direito e da vida, especialmente dos mais necessitados, a CPT esteve em visita nesta terça-feira (9) à comunidade juntamente com o bispo da Diocese de Tocantinópolis, Dom Giovane, e o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Wanderlândia. Na ocasião, Dom Giovane expressou solidariedade em nome dos bispos do Tocantins às famílias acampadas e aos parentes do Sr. Luís.

    O agravamento dos conflitos e das violências no campo já resultou em 39 mortos este ano no Brasil, de acordo com dados parciais registrados pela CPT – em 2015 foram 50 assassinatos em todo o país. Diante deste cenário, vimos a público cobrar uma atuação imediata e firme por parte do Incra, do Programa Terra Legal, da Ouvidoria Agrária Regional e Nacional, da Delegacia Estadual de Repressão a Conflitos Agrários, do Ministério Público e dos demais órgãos competentes, para que as áreas em disputa sejam regularizadas e que os mandantes e executores do assassinato do Sr. Luís sejam identificados e punidos conforme previsto em lei.

    Lamentando mais essa morte, matada pela ganância, a CPT e a Diocese de Tocantinópolis apresentam aos familiares do Sr. Luís e à sofrida comunidade de Wanderlândia – a primeira comunidade pastoreada por Padre Josimo – seus pêsames bem como votos de fé e firmeza em sua luta por Justiça.

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  • 11/08/2016

    Uma nova investida pela PEC 215, mais uma batalha vencida pelos povos indígenas com mobilizações em todo país

    As informações davam conta de que a bancada ruralista confabulava, com o início do mandato de Rodrigo Maia (DEM) na presidência da Câmara Federal, pela votação entre os parlamentares da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215. Poderia ocorrer essa semana, e até mesmo no Dia Internacional dos Povos Indígenas, passado no último dia 9 e lembrado pelo Papa Francisco como um dia de defesa dos direitos indígenas. A resposta aos ruralistas foi imediata. Mobilizações país afora demonstraram o poder que a PEC 215 possui de unir os povos indígenas em um objetivo comum: a defesa do território tradicional.

    O resultado foi um acordo travado pela delegação de lideranças indígenas que durante esta semana ocupou dependerias da Câmara Federal e o presidente Rodrigo Maia. O deputado prometeu que não colocará a PEC 215 em votação, ao menos até fevereiro de 2017, e não irá prorrogar os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as demarcações de terras indígenas e quilombolas feitas pela Funai e pelo Incra. A única postura truculenta contra os protestos ocorreu no Amazonas: o povo Mura bloqueou um trecho da AM-254 que liga o município de Autazes a Manaus. Sem esperar o termino das negociações, a Polícia Militar desocupou a via à força. 

    Todavia, mais uma batalha vencida numa guerra iniciada em 2011 na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal, ano em que os ruralistas afirmaram terem vencido os sem terras com o novo Código Florestal e dali por diante enfrentariam os indígenas e quilombolas com a PEC 215. Em contrapartida, os povos indígenas têm denunciado as violações dos direitos indígenas e as violências realizadas pelo agronegócio no plano internacional. “Na prática nós já enfrentamos a paralisação das demarcações há alguns anos. Sem a PEC 215 já está ruim, imagine com ela. A Funai está sucateada, e a CPI da Funai/Incra ainda tenta desfazer o pouco que o órgão fez”, Oziel Jacinto Kaingang, da Aldeia Nova, município de Iraí, Rio Grande do Sul.

    Aldeia Nova, Iraí, Rio dos Índios e Rio da Várzea foram as terras indígenas que bloquearam durante esta quarta-feira, 10, trecho da BR-386, entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O trancamento teve início às 8 horas. Ao meio-dia, o trecho foi aberto e novamente fechado às 14 horas; pouco depois das 16 horas os cerca de 600 Kaingang deixaram o local. “Não protestamos apenas contra a PEC 215 e a CPI da Funai/Incra, mas também pelas demarcações. A principal nossa aqui da região é Rio dos Índios, em Vicente Dutra, que está com portaria declamatória desde 2005 e agora em processos e autodemarcação”, explica Oziel Kaingang.

    A liderança explica que no Sul do país é comum encontrar aldeias com dezenas de famílias vivendo em pouquíssimos hectares e com reivindicações territoriais paralisadas. Em Rio dos Índios, por exemplo, mais de 100 famílias Kaingang viviam em menos de 2 hectares a autodemarcação, iniciada no final do último mês de julho. “Em Aldeia Nova somos 30 famílias e vivíamos em poucos hectares, mas agora estamos em 48 de uma demanda total de 2.600”, diz Oziel. Os Kaingang de Aldeia Nova conseguiram os 48 hectares porque a Universidade Federal de Santa Maria liberou a área, que pertencia ao antigo Instituto Agrícola, reconhecimento a ocupação tradicional dos Kaingang.

    Se todas as terras indígenas do Rio Grande do Sul fossem demarcadas, aponta o coordenador do Cimi Regional Sul, Roberto Liebgott, ocupariam cerca de 0,5% do território total do estado. No Rio Grande do Sul, de acordo com dados do Setor de Documentação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), das 89 terras indígenas ocupadas ou reivindicadas pelos povos do estado 24 encontram-se sem quaisquer providências administrativas de demarcação pela Funai. Outras 22 estão com o procedimento de identificação em andamento e 15 estão registradas no Departamento de Patrimônio da União (DPU), ou seja, com a homologação concluída. Um passivo que leva aldeias inteiras à sobrevivência às margens de rodovias e no caso de outras 10 terras indígenas reservadas – com pouquíssimos hectares garantidos pelo Estado – como compensações ao túmulo de asfalto posto sobre vastos territórios perdidos pelos povos sem qualquer tipo de consulta.

    Tupinambá mobilizados contra a PEC 215 e a CPI da Funai/Incra


    Cerca de 600 representantes das aldeias Tupinambá de Olivença se manifestaram em diversos pontos do município de Ilhéus, no sul da Bahia. Iniciaram com a caminhada de protesto na praia do Maramata e encerraram as atividades em frente à Catedral de São Sebastião de Ilhéus.  A primeira parada se deu na ponte Lomanto Júnior (ponte do Pontal), que liga o centro da cidade à zona sul.

    Em seguida os indígenas fizeram outro momento de manifestação na Praça Cairu, no centro de Ilhéus, ocupando toda a praça com manifestações ritualísticas. Na sequência percorreram todo centro comercial da cidade, chamando a atenção da população e distribuindo panfletos explicando a ação. Ficaram por cerca de uma hora em frente ao Palácio Paranaguá, onde em rituais e falas mostraram as razões do protesto. “A manifestação de hoje é pedindo, sobretudo, para a sociedade regional que nos apoie na nossa justa e digna luta pela garantia de nossa cidadania e nossos projetos de vida, que se resume à reconquista e garantia de nosso território, nada mais que um direito garantido pela Constituição Federal. Aproveitamos também para denunciar os ataques que as comunidades indígenas em todo o Brasil vêm sofrendo, por parte dos ruralistas e até mesmo do governo brasileiro”, explicou o cacique Ramon Ytajiba.

    Os caciques Gildo e Valdenilson Tupinambá denunciaram uma série de violências cometidas contra as comunidades indígenas: “Destacamos e pedimos o imediato arquivamento da PEC 215, a imediata suspensão da CPI da Funai/Incra, que é uma armadilha para retirar ainda mais nossos direitos”. O cacique Sival Magalhães pede ainda que o Supremo Tribunal Federal (STF) não aceite a compreensão de alguns ministros sobre o Marco Temporal.

    A cacica Jamapoty falou sobre o equivocado parecer do Mandado de Segurança imposto ao território Tupinambá de Olivença pelo desembargador Napoleão Maia do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O embargo impede o Ministério da Justiça e publicar a portaria declaratória da terra indígena. As lideranças chamaram a atenção da população sobre o PL 4059, que abre ainda mais as portas para o capital estrangeiro na aquisição de terras. "Não só nas terras indígenas, mas em todas as terras, é a porta aberta para mais invasões. Estamos alertando para algo grave não só para os povos indígenas, mas para toda a sociedade brasileira”, destacou Jamapoty.

    Presentes em todas as mobilizações Tupinambá, os jovens também demonstraram seus interesses na mobilização. “Neste Dia Internacional dos Povos Indígenas, em todo o Brasil, mais do que simplesmente comemorar a ocasião de uma data e prestar homenagens simbólicas, estamos convocando a população a apoiar a nossa agenda de lutas e reivindicações para garantir que os índios do Brasil e do mundo não tenham os seus direitos básicos violentados e continuem sendo usurpados pelos nossos inimigos históricos”, declarou a jovem Juliana Tupinambá.

    Como se diz Fora Temer! em Macuxi?: V Marcha dos Povos Indígenas de Roraima


    Em Roraima os povos indígenas se mobilizaram na capital Boa Vista. O movimento indígena de Roraima realizou a V Marcha dos Povos Indígenas de Roraima em alusão ao Dia Internacional dos Povos Indígenas. A Marcha iniciou pela manhã, na Praça do Centro Cívico e percorreu as principais vias da cidade. A Marcha reuniu aproximadamente 500 pessoas, entre indígenas das aldeias, indígenas na cidade, representantes das organizações indígenas, dos movimentos sociais e demais entidades parceiras do movimento indígena.

    Pela manhã, houve a abertura tradicional e em seguida a entrega da Carta da Marcha (leia abaixo) no Palácio do Governo e Secretaria Estadual de Educação. À tarde, o movimento recebeu representantes de instituições públicas, como a Distrito Sanitário Especial Indígena do Leste de Roraima (DSEI-Leste), Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y), Ministério Público Estadual (MPE) e Ministério Público Federal(MPF).

    O protesto foi contra a PEC 215, CPI da Funai/Incra e pelas demarcações das terras indígenas, atém de sua proteção pelo Estado Nacional, teve ainda os indígenas pedindo Fora Temer! na língua Macuxi. Apesar do Norte ser a região do país com mais terras indígenas demarcadas, os povos são constantemente acossados por madeireiros, grileiros, caçadores, grandes empreendimentos estatais e expansão das fronteiras agropecuárias.

    A partir das 15h, o movimento indígena participou da Audiência Pública na Assembleia Legislativa do Estado de Roraima e após, como forma de apoio e fortalecimento do único órgão indigenista, o encerramento ocorreu na sede da Fundação Nacional do Índio (Funai/RR).

    Confira a Carta da V Marcha dos Povos Indígenas de Roraima, assinada pelas organizações indígenas participantes do movimento.
     
     
    V MARCHA DOS POVOS INDÍGENAS DE RORAIMA PELO DIA INTERNACIONAL DOS POVOS INDÍGENAS

    “Direitos Socioculturais Sem Corrupção”

    Os Povos Indígenas de Roraima e suas organizações indígenas, com apoio e solidariedade do Movimento Social em Roraima, em reafirmação dos direitos dos Povos Indígenas e considerando a situação de vulnerabilidade e instabilidade dos direitos humanos dos povos indígenas, vimos nesta data de 09 de Agosto de 2016, considerado Dia Internacional dos Povos Indígenas, reivindicar a atenção e medidas necessárias das autoridades públicas para as seguintes situações:

    1.    Afirmamos que a terra é o centro de nossos direitos. A partir da garantia de nossos territórios poderemos exercer nossos direitos socioculturais. Porém Povos Indígenas sempre são excluídos da lista de prioridades no planejamento governamental. Saúde, Educação, Justiça, Alimentação, Vida, Segurança e demais direitos são fundamentais e indispensáveis para ter um mínimo de dignidade e igualdade;

    2.    Queremos rechaçar a insistência de projetos anti-indígenas como a PEC 215. Não a PEC 215 porque é inconstitucional e visa o interesse individual, econômico e politiqueiro;

    3.    Saúde e Educação, sem nenhuma discriminação – A crise sobre a saúde e educação ameaçam a organização social, usos e costumes indígenas. A situação da Educação escolar indígena é precária. Há 1 ano atrás foi aprovado o Plano Estadual de Educação com garantias importantes para a educação escolar indígena. O Estado de Roraima se comprometeu atender demandas urgentes e necessárias para as comunidades indígenas, mas não foram cumpridas totalmente. Queremos efetividade e seriedade aos direitos.

    4.    A saúde indígena é uma especialidade é assim deveria ser considerada pelo Governo Federal que insiste em manter com a esfera estadual colapsada o atendimento de média e alta complexidade dos indígenas. Nos últimos dez anos aumentaram muitas vezes de forma diretamente proporcional os gastos com a saúde e a piora da atenção aos indígenas. A saúde indígena vem sendo desmontada ano a ano e a influência crescente política nos órgãos gestores beneficia somente as empresas prestadoras de serviços que comprometida com essa máfia política levam a maior parte do bolo orçamentário. Formar médicos e outros profissionais indígenas, equipar melhor os distritos sanitários especiais indígenas e fomentar a estruturação de serviços especializados para atendimento que respeite as culturas dos povos indígenas são algumas soluções para diminuir um pouco a desigualdade e minimizar a mortalidade precoce que enfraquece os povos indígenas. Da mesma forma, somos contra a intenção do governo Temer de fazer novamente a municipalização da saúde indígena.

    5.    Os programas e serviços sociais devem ser desenvolvidos em cooperação com os Povos Indígenas. O governo deve criar linhas específicas de apoio às atividades econômicas sustentáveis dos povos indígenas, apoio à implementação dos planos de gestão territorial e ambiental das terras indígenas já construídos pelas comunidades indígenas e não implantar projetos de qualquer jeito; 

    6.    Justiça e proteção aos direitos humanos como salvaguardas essenciais – A impunidade dos crimes cometidos contra os povos indígenas contribui para novas práticas de crimes e abusos. Queremos uma defensoria pública especializada para atender os povos indígenas e ver a legislação indigenista ser aplicada no judiciário;

    7.    Manifestamos nossa preocupação ao tratamento dado ao único Órgão Indigenista Federal – Funai.  Apoiamos o fortalecimento institucional da FUNAI e somos contra os cortes orçamentários, redução do já precário quadro de servidores; e a supressão da FUNAI da estrutura administrativa do Ministério da Justiça.

     
    8.    Que o Estado Brasileiro não negocie os direitos indígenas por acordos políticos e favorecidas ao agronegócio. E as demarcações das terras indígenas devem ser priorizadas e concluídas para garantir a vida dos povos indígenas.

    Abaixo assinamos

    Boa Vista-RR, 09 de agosto de 2016.

    Conselho Indígena de Roraima – CIR, Conselho do Povo Indígena Ingarikó – COPING, Hutukara Associação Yanomami – HAY, Associação dos Povos Indígenas da Terra São Marcos – APITSM, Associação dos Povos Indígenas de Roraima – APIRR, Associação dos Povos Indígenas Wai-Wai – APIW, Associação do Povo Ye’kuana do Brasil – APYB, Organização das Mulheres Indígenas de Roraima – OMIR, Organização dos Professores Indígenas de Roraima – OPIR, Organização dos Índios na Cidade – ODIC, TWM.

    *Com informações do Cimi Regional Leste, Pastoral Indigenista de Roraima e fotos dos povos indígenas

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  • 10/08/2016

    Povos e comunidades tradicionais ocupam auditório da Câmara e presidente Rodrigo Maia afirma que não colocará PEC 215 para votação


    Em reunião com lideranças de povos indígenas, quilombolas e pescadores e pescadoras artesanais na manhã desta quarta-feira (10), o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que não pretende colocar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215 em votação e comprometeu-se a não prorrogar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra a Funai e do Incra.

    A reunião foi parte do acordo para a desocupação do auditório Nereu Ramos, no anexo II da Câmara, que foi ocupado na noite de terça (9), ao término da audiência em homenagem ao Dia Internacional dos Povos Indígenas, por cerca de 200 lideranças e representantes de povos e comunidades tradicionais.

    Parlamentares aliados dos povos indígenas e o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM), Padre João (PT-MG), acompanharam a reunião. Além de cobrarem a posição do presidente da casa em relação à PEC 215, que pretende inviabilizar as demarcações de terras indígenas, e à CPI contra a Funai e o Incra, os povos e comunidades tradicionais entregaram a Maia um documento contendo reivindicações acerca de projetos que tramitam na Câmara e dizem respeito aos seus direitos.

    “Quando disputei a presidência da Câmara, eu me comprometi a não pautar projetos polêmicos”, afirmou o deputado Rodrigo Maia (DEM). “O meu compromisso é ter uma casa com mais harmonia. Isso também se refere à PEC 215, que tem muita gente que defende, mas ela certamente gera um ambiente de radicalismo na casa. A minha pretensão nesses meses, até fevereiro, é que esse projetos não cheguem ao plenário, para que possamos ter uma pauta consensual”.


    CPI sem prorrogação

    Outra ação da bancada ruralista na Câmara dos Deputados que preocupa os povos originários e comunidades tradicionais é a prorrogação ao infinito da CPI contra a Funai e o Incra, que já se arrasta por dez meses.

    Questionado, o presidente da Câmara também afirmou às lideranças que não prorrogará nenhuma CPI, pois esta é uma decisão que cabe ao plenário da casa. “Me comprometi que eu não tomaria nunca mais uma decisão de prorrogação de CPI sozinho”, disse Maia. “Não haverá, por parte do presidente, nessa e nas outras CPIs, uma decisão monocrática, que eu acho que é um poder muito grande e acho que não é o correto. O correto é que o plenário decida”.

    O presidente anterior da Câmara, Eduardo Cunha, prorrogou a CPI da Funai e do Incra “ad referendum”, ou seja, sem a decisão do plenário, o que fere o regimento da casa. Além dela, outras duas comissões parlamentares de inquérito estão chegando ao seu prazo final e sua prorrogação deve ser colocada em breve na pauta do plenário, onde os deputados financiados pelas grandes empresas do agronegócio são maioria.

    Além de comprometer-se com as lideranças e assinar o documento que lhe foi entregue com reivindicações, Rodrigo Maia afirmou que foi importante ouvir o “outro lado”. “Para mim é muito importante ter essa oportunidade de conhecer melhor a realidade de nosso país, de conflitos. Quando vocês quiserem, a Casa está aberta para que todos possam dar a sua opinião, debater e discutir todos os temas de interesse da sociedade brasileira”, concluiu.

    Maia assumiu a presidência da Câmara após a renúncia de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ao cargo, em julho, em mais uma das manobras do parlamentar para salvar o seu mandato. Em maio, Cunha havia sido afastado do mandato e da presidência da casa por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), após sucessivas manobras para evitar o andamento de um processo contra ele no Conselho de Ética – o qual, em junho, acabou aprovando um relatório recomendando sua cassação, que ainda aguarda votação do plenário.

    Os compromissos assumidos por Maia com os povos indígenas, quilombolas e demais comunidades tradicionais devem valer até fevereiro de 2017, quando ocorrerão novas eleições para a mesa diretora da casa.


    Ritual na Câmara

    “Hoje esse auditório Nereu Ramos virou uma cabana de ritual”, afirmou o cacique Nailton Pataxó Hã Hã Hãe, anunciando a ocupação do auditório no encerramento da audiência promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados.

    Vindos de Maranhão, Bahia, Rio Grande do Sul, Pará, Tocantins, entre outros, participaram da audiência indígenas dos povos Gavião, Krikati, Gamela, Guajajara, Kaingang, Guarani Mbya, Pataxó Hã Hã Hãe, Macuxi e Tupinambá, quilombolas, pescadores e pescadoras artesanais e comunidades extrativistas.

    Assim que a ocupação foi anunciada, todos os acessos ao auditório Nereu Ramos foram fechados pela segurança legislativa. Povos indígenas e comunidades tradicionais ficaram isolados e até o acesso aos banheiros foi restrito. Apesar da pressão, indígenas e quilombolas realizaram rituais com cantos, danças e rezas durante as cerca de três horas que a ocupação durou.


    Além do fim da CPI da Funai e do Incra e da rejeição da PEC 215, os povos manifestaram-se contra o marco temporal e pela demarcação e titulação de seus territórios tradicionais. Os indígenas também rejeitam de forma veemente a nomeação de militares para a presidência da Funai, como vem sendo cogitado pelo governo interino.

    Pescadores e pescadoras artesanais também reivindicam a regularização de seus territórios pesqueiros, o restabelecimento dos registros de pescadores que foram cancelados recentemente e o respeito a seus direitos previdenciários.

    Em um dia de forte repressão no Congresso Nacional, os povos indígenas e comunidades tradicionais também manifestaram sua solidariedade aos movimentos populares que foram barrados e agredidos na Câmara e no Senado e sua postura em defesa da democracia.


    Contra os projetos de morte

    No documento entregue ao presidente da Câmara, os indígenas, quilombolas, pescadores e extrativistas pedem a rejeição da PEC 215, que pretende transferir a competência das demarcações e titulações de terras indígenas e quilombolas do Executivo para o Congresso Nacional. Os povos afirmam que, além de ser inconstitucional, a PEC “agride frontalmente nosso direito originário sobre as terras que tradicionalmente ocupamos, pois abre margem para que terceiros possam vir a explorá-las”.

    Os povos ainda afirmam, em seu documento, que a CPI da Funai e do Incra, na prática, “vem servindo para estimular, nas mais diversas regiões do Brasil, ações políticas e a prática de violências contra nossos povos e comunidades”.

    Além destas duas questões, os povos e comunidades tradicionais também manifestaram-se contra a aprovação do Projeto de Lei (PL) 4059/2012, que tramita em regime de urgência e pretende avalizar a compra de terras, inclusive as públicas, por empresas estrangeiras. “Esse projeto constitui-se numa violação à soberania de nosso país”, afirmam no documento, pedindo a retirada da urgência na tramitação do PL 4059.


    Os fazendeiros contam a PEC 215

    A audiência pública em homenagem ao Dia Internacional dos Povos Indígenas realizada pela CDHM no auditório Nereu Ramos ocupou praticamente toda a manhã e tarde da terça-feira. À mesa, representantes de povos indígenas, quilombolas, pescadores e extrativistas revezaram-se falando sobre as diversas situações que enfrentam Brasil adentro.
    Esta mesma indignação foi apresentada ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pelas lideranças que participaram da reunião ocorrida na manhã desta quarta (10).

    “Eu entrei na liderança em 1975, tenho 70 anos de vida e 41 de liderança e te garanto que o pior tempo que estou atravessando, dentro de nossas comunidades, na nossa caminhada, é esse de hoje”, afirmou Nailton Pataxó Hã Hã Hãe, cacique da Terra Indígena Terra Indígena Caramuru-Paraguassu, na Bahia.

    “A PEC 215 é uma PEC que apareceu há 16 anos na vida dos índios, e já foi engavetada diversas vezes. Os fazendeiros da região contam com a aprovação da PEC para dar continuidade à expulsão dos índios. Eles têm os seus matadores de aluguel para insultar e assassinar o nosso povo”, relatou Nailton.

    Proposta por Almir Sá no ano de 2000, a PEC 215 foi aprovada em outubro de 2015 na Comissão Especial criada para analisá-la na Câmara dos Deputados e, agora, estaria pronta para ir à votação no plenário, onde os ruralistas – principais inimigos dos direitos dos povos indígenas, quilombolas e demais comunidades tradicionais – detêm a maior bancada. Se já era inconstitucional, por ferir a separação entre os poderes da República, a PEC ficou ainda mais agressiva no relatório do ruralista Osmar Serraglio (PMDB-PR) que foi aprovado na comissão em 2015. Como foi aprovada, a PEC inviabiliza novas demarcações e titulações de terras e cria insegurança para as áreas já demarcadas e tituladas.

    A liderança Pataxó Hã Hã Hãe também citou os ataques que têm ocorrido contra os Guarani e Kaiowá no Mato Grosso do Sul, “às claras do dia”, explicando que as iniciativas da bancada ruralista no Congresso Nacional acabam respaldando e incitando à violência contra os povos indígenas. “Hoje, todas as comunidades indígenas do Brasil clamam pelo fim dessa situação sangrenta que está acontecendo contra nosso povo”, concluiu Nailton.

    Fátima Barros, da Articulação Nacional de Quilombos, criticou a invisibilidade dos povos e comunidades tradicionais e a instabilidade que foi recentemente instaurada em relação ao processo de titulação dos territórios quilombolas – cuja competência, com o afastamento de Dilma Rousseff e o início do governo interino, chegou a ser transferida para o Ministério da Educação e Cultura, em seguida para Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário e finalmente para a Casa Civil.

    “Nós somos cerca de cinco mil territórios quilombolas e temos apenas 158 que são titulados. Só esse ano, na mudança do governo interino, nós tivemos três mudanças em relação à titulação das nossas terras. Isso cria uma barreira, inclusive, de diálogo entre as comunidades e esse setor de demarcação territorial. Cada vez são colocadas mais barreiras para que esses territórios não sejam devolvidos para nós”, afirmou Fátima.

    “Trazemos aqui a nossa indignação, e não estou falando de uma indignação de hoje, mas de séculos de exclusão. Não aceitamos essa invisibilidade em que colocam nossas comunidades. O legislativo nos trata de forma diferente, quando dificulta nosso acesso a esta casa. Reconhecemos a importância desse momento, de poder dialogar minimamente. Mas, é mínimo, porque concretamente, não temos avançado. Nossos direitos originários estão sendo negados, e isso nós vamos exigir sempre”, concluiu a liderança quilombola.


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  • 08/08/2016

    Pesquisa sobre realidade socioeconômica e nutricional do povo Guarani e Kaiowá será lançada em Brasília


    Se em todo o país o índice de insegurança alimentar, que mede a dificuldade de acesso a alimentos em quantidade e qualidade adequadas, é de 22,6%, em três comunidades Guarani e Kaiowá pesquisadas pela FIAN Brasil esse índice é de 100%. A informação consta no documento “O Direito Humano à Alimentação Adequada e à Nutrição do povo Guarani e Kaiowá – um enfoque holístico”, cujo Resumo Executivo será lançado no dia 16 de agosto, às 14 horas, no auditório 1 da Faculdade de Ciências da Saúde, da UnB, em Brasília.

    O documento traz a análise das violações de direitos e suas diferentes causas, que são responsáveis pela situação de insegurança alimentar e nutricional dos Guarani e Kaiowá no Mato Grosso do Sul. Iniciada em 2013, a pesquisa socioeconômica e nutricional, com abordagem em direitos humanos, foi realizada em 96 domicílios de três comunidades indígenas: Kurusu Ambá, Ypo’i e Guaiviry.

    A pesquisa e a releitura levaram cerca de três anos para serem concluídas, resultando em um trabalho extenso. O Resumo Executivo é uma forma mais amigável de apresentar os principais resultados deste trabalho.

    Uma das constatações da pesquisa é a realidade alimentar de crianças e jovens Guarani e Kaiowá. Em 76% dos domicílios a pessoa entrevistada afirmou que, no mês anterior a setembro de 2013, houve ocasião em que crianças e jovens da casa passaram um dia todo sem comer e foram dormir com fome, porque não havia comida na casa. Já em 82% dos domicílios havia a afirmação de que esse grupo comeu menos quantidade de comida do que julgava ser necessário, porque não dispunham de recursos para obter alimentos.

    Ainda, outro dado aponta que as famílias procuram proteger suas crianças desta terrível situação: em cerca de 80% das residências a pessoa entrevistada afirma ter comido menos para deixar comida para as crianças.

    As causas das violações identificadas na pesquisa estão assentadas, além da negação do direito ao território e as disputas que daí decorrem, na discriminação que o povo Guarani e Kaiowá sofre. “Geralmente, as violações de direitos dos povos indígenas acontecem em razão de sua identidade cultural. Esta violação abre portas para negação de outros direitos, incluindo o direito à alimentação e à nutrição adequadas. Estas violações são históricas, estão associadas ao processo de exploração econômica do Estado e são de responsabilidade das três funções do Estado brasileiro, como procuramos evidenciar no documento”, ressalta a secretária geral da FIAN Brasil, Valéria Burity.

    O lançamento da publicação é realizado pela FIAN Brasil e pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e contará com a presença de lideranças Guarani e Kaiowá, de pesquisadores da UNICAMP, do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição (OPSAN/UnB) e da FIAN Internacional.

    Clique aqui para acompanhar o evento no facebook.

    Lançamento do Documento: “O Direito Humano à Alimentação Adequada e à Nutrição do povo Guarani e Kaiowá – um enfoque holístico”

    Quando: 16 de agosto – terça-feira
    Horário: 14 horas
    Local: Auditório 1 da Faculdade de Ciências da Saúde na Universidade de Brasília (UnB)

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  • 08/08/2016

    Nota Pública: Relatos de uma tragédia anunciada no Pará



    Na manhã desta quinta-feira, 04 de agosto de 2016, Ronair José de Lima (41 anos), presidente da Associação Terra Nossa, foi morto em uma emboscada ocorrida no interior do Complexo Divino Pai Eterno, zona rural de São Félix do Xingu, no Pará. Mesmo ferido ele conseguiu evadir-se do local, recebendo, posteriormente, o apoio de outro trabalhador rural, também residente no Acampamento. Após atendimento breve prestado pelo posto de saúde da Vila Sudoeste, a vítima foi encaminhada por aeronave para melhor atendimento na sede do município. Em razão dos ferimentos que atingiram a região do tórax, Ronair faleceu por volta das 15hs, deixando viúva a esposa e dois filhos.

    Conforme denunciado frequentemente pela Comissão Pastoral da Terra, esse não é o primeiro atentado praticado contra Ronair. Desde que assumiu o cargo de presidente da Associação, a liderança foi constantemente ameaçada pelos fazendeiros que se dizem proprietários do Complexo e seus pistoleiros. Além das inúmeras ameaças, Ronair já havia sido vítima de tentativa de homicídio praticada contra sua pessoa no dia 27 de fevereiro do corrente ano.

    Durante os mais de 10 [dez] anos de ocupação, sem que haja uma solução definitiva para o conflito ali instalado, o Complexo Divino Pai Eterno tem sido palco dos mais diversos crimes praticados contra trabalhadores/as rurais e suas lideranças, dentre os quais relacionamos: ameaças de morte, lesão corporal, tentativas de homicídio e homicídios consumados. No contexto deste conflito fundiário, os grileiros que se intitulam proprietários de terras – que na verdade são públicas federais – são considerados mandantes dos crimes de pistolagem ocorridos na área e continuam impunes reincidindo em ações cada vez mais violentas e escandalosas.

    Esses são relatos de uma tragédia anunciada, onde mais uma vez os órgãos públicos com poderes para tanto, não agiram no intuito de evitá-la. O nome de Ronair José de Lima soma-se então aos mais de 530 trabalhadores/as rurais assassinados em decorrência dos conflitos agrários ocorridos no sul e sudeste paraense.

    Manifestamos, por fim, nossa absoluta revolta e indignação diante do grave estado de violência instalado no campo paraense, sobretudo em relação à precariedade das investigações policiais e o alto índice de impunidade verificado, exigindo que haja a devida punição aos mandantes e executores dos crimes ocorridos no Complexo Divino Pai Eterno.

    Assinam a nota:

    Comissão Pastoral da Terra Regional Pará – CPT

    Federação dos Trabalhadores/as Rurais na Agricultura – FETAGRI

    Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST

    Acampamento Novo Oeste e Associação Terra Nossa, SFX/PA

    Conselho Indigenista Missionário Regional Norte 2 – CIMI

    Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos – SDDH

    Terra de Direitos

    Laboratório de Justiça Global e Educação em Direitos Humanos na Amazônia – LAJUSA

    Comissão de Direitos Humanos da OAB Pará

    Comissão de Direitos Humanos da OAB Xinguara/PA

    Instituto Paulo Fonteles


    MPF se pronuncia sobre o assassinato


    A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), do Ministério Público Federal, lançou nota pública de pesar pela morte do trabalhador rural e presidente da Associação Terra Nossa Nossa, Ronair José de Lima – assassinado ontem (4/8), por arma de fogo, em emboscada no Complexo Divino Pai Eterno, município de São Félix do Xingu, no Pará.

    A PFDC destaca que esse é mais um episódio da violência contra trabalhadores e trabalhadoras no campo – fenômeno que tem se intensificado em razão de uma rede social e simbólica que se sustenta na articulação entre três pilares: impunidade, paralisia da reforma agrária e criminalização dos movimentos sociais. "Combinados entre si, esse elementos potencializam a violência no campo, na medida em que sugerem um certo endosso a ações como a recém-ocorrida", destaca a procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat.

    No texto, a PFDC defende que crimes cometidos contra trabalhadores rurais necessitam de resposta penal pronta e adequada e que a morte de Ronair José de Lima deve ser objeto de rápida investigação e punição dos culpados.

    Para a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, o direito à moradia digna é de natureza fundamental, sendo imperativa a agilidade na implementação de políticas efetivas de reforma agrária. A PFDC destaca ainda que a criminalização dos movimentos sociais atenta contra os direitos fundamentais de liberdade de associação e alerta para a aplicação desvirtuada da Lei 12.850/ 2013, que trata de organizações criminosas.


    Leia a nota na íntegra:

    A Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão vem manifestar o seu pesar e a sua indignação diante do falecimento de Ronair José de Lima, trabalhador rural e presidente da Associação Terra Nossa, atingido por arma de fogo em emboscada no último dia 4, no Complexo Divino Pai Eterno, Município de São Félix do Xingu/PA.


    Desde que assumiu o cargo de presidente da associação referida, Ronair vinha sofrendo ameaças constantes por parte daqueles que se diziam proprietários do Complexo, além de ter sido vítima de tentativa de homicídio em 27 de fevereiro do ano em curso. O episódio, longe de estar isolado na luta pela terra, vem se reproduzindo ao longo do tempo contra trabalhadores e trabalhadoras rurais, e ganha intensidade em data mais recente, por conta do que se poderia chamar de uma rede sociossimbólica, que se sustenta na articulação entre três pilares: impunidade/paralisia da reforma agrária/criminalização dos movimentos sociais.


    Esses elementos, combinados entre si, potencializam a violência no campo, na medida em que sugerem um certo endosso a ações como essa recém ocorrida. Para fazer face ao quadro de violência crescente no campo, essa Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão entende que: (i) a morte de Ronair José de Lima deve ser objeto de rápida investigação e punição dos culpados, e os crimes cometidos contra os trabalhadores e as trabalhadoras rurais têm que ter a resposta penal pronta e adequada; (ii) o direito à moradia digna é de natureza fundamental, razão por que é imperativo que a reforma agrária prossiga com agilidade, até que haja uma distribuição de terras que garanta a cada qual o seu quinhão. Eventuais distorções da política devem ser apuradas, mas sem que tal implique a sua descontinuidade; (iii) a criminalização dos movimentos sociais atenta contra os direitos fundamentais de liberdade de associação e de reunião.


    A imputação a seus integrantes de integrarem "organização criminosa", pelo simples fato de pertencerem ou dirigirem algum movimento, é um desvirtuamento e uma falsificação da Lei 12.850, de 2 de agosto de 2013, além de afronta ao princípio democrático, cuja vitalidade reside exatamente na possibilidade de contestação e resistência aos atos e práticas governamentais.


    Brasília, 5 de agosto de 2016 Deborah Duprat Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão

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  • 08/08/2016

    Cimi Regional MT reflete sobre os povos indígenas em contextos urbanos durante 42ª Assembleia



    O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Mato Grosso realizou sua 42ª Assembleia Geral na última semana. Em abril deste ano, o Cimi completou 44 anos de fundação. Um dos regionais mais antigos da entidade segue reafirmando sua atuação junto aos povos indígenas e neste encontro tratou do tema: “Indígenas em Contextos Urbanos e a Urbanização nas Aldeias”.


    A 42ª Assembleia aconteceu logo após a Romaria dos Mártires da Caminhada, em Ribeirão Cascalheira (MT). Ocorrida a cada cinco anos, a Romaria faz memória aos indígenas, camponeses, quilombolas e demais lideranças populares assassinadas na luta pela Terra Sem Males. Sob esta ótica os missionários e missionárias refletiram sobre o tema da Assembleia.


    Esse processo desencadeia violência que atinge os povos originários. Sua história é “apagada” pela superposição de uma cultura que se julga superior. Entretanto, a cidade continua sendo seu território, hoje invadido. Nesse espaço, porém, sofrem toda sorte de discriminação. O acesso aos direitos básicos como saúde, educação e moradia é dificultado”, diz trecho do documento final da Assembleia. Leia na íntegra:


    Documento final da 42ª Assembleia do Cimi Regional Mato Grosso


    Nós, missionários e missionárias do Cimi Regional Mato Grosso, realizamos a 42ª. Assembleia após a Romaria dos Mártires da Caminhada, de Ribeirão Cascalheira. Nesta Romaria fomos convocados a sermos Profetas e Profetizas do Reino. Inspirados por este apelo, refletimos sobre o tema “Indígenas em Contextos Urbanos e a Urbanização nas Aldeias”. Esta problemática constitui-se em um processo histórico que remonta ao início da colonização portuguesa. Vilas e cidades se formaram em locais de aldeias, sobrepondo-se à presença indígena.


    Com o decorrer do tempo, territórios indígenas foram cortados por ferrovias e estradas e importantes áreas de ocupação imemorial ficaram fora das demarcações físicas. Territórios indígenas já garantidos foram titulados pelo Estado para terceiros. Grandes projetos financiados com dinheiro público como hidrelétricas, hidrovias e mineração impactam o meio ambiente e ameaçam a vida dos povos indígenas, tal como ocorre com a usina de Belo Monte.


    Em Mato Grosso, a partir da década de setenta, o fluxo migratório se intensificou e as aldeias passaram a ser cada vez mais cercadas por extensas fazendas de gado e, mais recentemente, de monocultura de soja, milho, cana e algodão e pelo surgimento de inúmeras cidades. Esse processo desencadeia violência que atinge os povos originários. Sua história é “apagada” pela superposição de uma cultura que se julga superior. Entretanto, a cidade continua sendo seu território, hoje invadido. Nesse espaço, porém, sofrem toda sorte de discriminação. O acesso aos direitos básicos como saúde, educação e moradia é dificultado.


    No atual momento político, essas adversidades estão passando por um recrudescimento, com o aumento do preconceito e discriminação. Os direitos indígenas arduamente conquistados na Constituição de 1988 estão seriamente ameaçados. A criminalização de lideranças indígenas, os despejos e expulsões violentos, os massacres, promovidos por ruralistas e outros grupos econômicos, têm provocado muita dor, com um grande número de mortos e feridos, inclusive crianças. Famílias são desalojadas de suas terras tradicionais, causando mais sofrimento e desolação. O Estado se mostra omisso e conivente com esta gritante situação.


    No Congresso Nacional tramitam vários projetos de lei e propostas de emendas constitucionais que visam transformar em legalidade esta situação de opressão imposta por uma economia de morte que destrói as pessoas, a natureza e põe em risco a vida.


    Neste ano da Misericórdia para o qual fomos convocados pelo Papa Francisco e no espírito da Laudato Si, não podemos ficar indiferentes a este clamor. Por isso, denunciamos esta situação e conclamamos os cristãos e todos os que estão comprometidos com a construção de uma sociedade justa e solidária a se unirem à luta dos povos indígenas, visto que essa ameaça que pesa sobre eles, pesa também sobre nós e sobre a vida em nosso planeta.


    Neste momento em que sistemas econômicos e políticos ameaçam a humanidade, o modo de vida dos povos indígenas aponta para uma convivência respeitosa com a Mãe Terra e com todos os seres vivos. Precisamos estar atentos e dispostos a aprender com a sabedoria deles e, assim, restaurar a harmonia, a esperança e a alegria de viver, de acordo com o projeto de Deus Pai Criador.

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  • 05/08/2016

    Cimi presta solidariedade aos Tenetehar/Guajajara pela morte prematura de duas jovens de 15 anos por afogamento

    O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) se solidariza com o povo Tenetehar/Guajajara da Terra Indígena Pindaré pela morte trágica e prematura de duas jovens indígenas de 15 anos, da aldeia Januária, em razão de afogamento. Os corpos das meninas foram encontrados nesta sexta-feira, 5, pelos próprios indígenas pouco mais de 24 horas depois de ambas desaparecerem num rio que corta o território.

    As indígenas estavam sendo preparadas para o Moqueado, em setembro, o ritual de passagem da Menina Moça – momento de grande importância na vida das Tenetehar/Guajajara e esperado por toda a aldeia. Justamente por essa razão a tristeza do povo é ainda mais acentuada, e nesse momento o Cimi oferece toda oração e sentimentos.

    Flauberth Tenetehar/Guajajara, primo das indígenas mortas, explica que a notícia do afogamento das meninas chegou logo após o retorno dos pouco mais de 60 indígenas que na quarta-feira, 3, passaram o dia acampados na frente do Palácio dos Leões, se do governo do Maranhão, na capital São Luís, protestando por melhorias na Educação Escolar Indígena Diferenciada, que atende jovens da idade das indígenas agora mortas.

    Por informações dos indígenas, a equipe do Cimi Regional Maranhão tomou contato com  o desespero e a dor do povo; e se coloca à disposição para o que for necessário. Desse modo, a entidade espera que os Tenetehar/Guajajara consigam superar esse momento com a mesma força que lutam por seus direitos, passando pelo luto necessário e próprio dos Tenetehar/Guajajara. 

    Brasília e Maranhão, 05 de agosto de 2016

    Conselho Indigenista Missionário (Cimi)

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