• 12/10/2016

    “Nós somos Kinikinau, moço! Ki-ni-ki-nau!”

    Ruy Sposati, de Dourados (MS) | Fotos: Lídia Farias/Cimi

    Entre os dias 13 e 16 de outubro, será realizada a 3ª Assembleia do Povo Kinikinau, na aldeia Mãe Terra, no município de Miranda (MS). Na programação, dezenas de lideranças, jovens, mulheres, rezadores, professores, profissionais de saúde, indigenistas e apoiadores falarão sobre a conjuntura da luta indígena no país e no estado, terra, medicina tradicional e educação escolar indígena.

    O território onde será realizado o encontro pertence aos Terena, e isto já diz bastante coisa sobre a situação dos Kinikinau: atingidos desde o século dezenove pelas empreitadas civilizatórias na região do Pantanal, os indígenas ficaram sem suas terras tradicionais, chegando a ser considerados extintos pelo indigenismo oficial.

    E no entanto, eles seguem vivos. Os Kinikinau somam ao menos 600 pessoas, dispersas entre territórios Kadiweu e Terena. A maioria das famílias está estabelecida na aldeia São João, dentro da terra indígena Kadiweu, no município de Porto Murtinho.

    O antropólogo Giovani José da Silva conta que, em 1997, foi enviado à região para conversar com os indígenas sobre a questão pedagógica nas aldeias. A primeira aldeia visitada por ele foi justamente a São João. Em seu relato, Giovani recorda: "iniciei minha fala referindo-me à importância de se ter uma educação específica e que no caso daquela aldeia deveria ser uma escola voltada para os interesses dos Kadiweu. Foi quando vi um ar de reprovação nos rostos daqueles homens e mulheres indígenas e percebi que estava diante de uma maioria que não se reconhecia Kadiweu, embora vivessem dentro da Reserva Kadiwéu". Ao que alguém lhe responde:  "Nós somos Kinikinau, moço! Ki-ni-ki-nau!”.

    Mais antigos

    Esta é a terceira assembleia realizada pelos Kinikinau. "Essa luta não é nova", explica a liderança Kinikinau e mestre em Sustentabilidade junto a povos e terras indígenas pela Universidade de Brasília (UnB). "Desde que nós entendemos por gente, vemos os mais velhos falando de ir de volta para o nosso território".

    Leia a carta do povo Kinikinau ao Estado Brasileiro

    "Tem muitos Kinikinau entre os Terena", explica. "O problema é que a maioria se identificava como Terena, porque até a década de 90, nós éramos registrados assim. Eu mesm guardo essa lembrança, porque tenho duas certidões de nascimento indígena". Em função da leitura de antropólogos – notadamente, Roberto Cardoso – e do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e da Fundação Nacional do Índio (Funai), responsáveis pelo registro, todos os pais e mães Kinikinau registravam, até pouco mais de duas décadas atrás, os filhos como Terena.

    Rosaldo relembra as histórias contadas pelos "mais antigos" sobre o processo de dispersão e perda territorial. "O seu Leôncio, um idoso Kinikinau falecido em 2010, dizia que as famílias pegaram uma carreta de boi, colocaram tudo o que tinham dentro e saíram pela estrada. De 1910 até 1940, ficaram perambulando pelo caminho", relata.

    Foi quando o grupo mais numeroso de pessoas Kinikinau chegaram ao território Kadiweu, onde um acordo foi feito. "Os Kadiweu disseram a nós: ‘aqui é uma passagem de pessoas e de boiada. Então vocês ficam aqui na entrada, cuidando pra ninguém fazer moradia aqui’. E assim nós nos assentamos ali, ficando como protetores da região". A eles estava claro, contudo, que a terra não pertencia aos Kinikinau, embora o que fosse ali produzido fosse de uso exclusivo deles mesmos.

    Leia entrevista de Rosaldo a Tânia Pacheco (Racismo Ambiental)

    Rosaldo relata que, na década de 90, frente às pressões da expansão da fronteira agrícola e em decorrência de atritos com algumas novas lideranças Kadiweu, famílias começaram a deixar o território, e a ideia do retorno a seus territórios originários volta com mais força ao desejo coletivo dos Kinikinau, que em 2004 realizam um primeiro seminário no município de Bonito, e em 2014 e em 2015 realizam, respectivamente, a primeira e segunda assembleias do povo.

    "A saída deles de São João e a reivindicação do território tradicional é uma consequência dos erros comentidos pelo Estado", explica a missionária do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Lídia Farias de Oliveira. "O Estado cometeu o erro de tirar os Kinikinau de seus territórios, obrigá-los a assumir outra identidade para continuarem sendo indígenas… É claro que um dia esta conta chegaria. O problema é o que estado continua negligente, como cem anos atrás, quando os Kinikinau foram expulsos para liberar as terras para a produção agrícola, exatamente como aconteceu no sul do Mato Grosso do Sul com os Kaiowa e Guarani, e finge não ouvir a reivindicação dos Kinikinau", conclui.

    Incidência internacional indígena

    Em agenda internacional, a liderança Kaiowa Elizeu Lopes denunciou também a situação dos Kinikinau a parlamentares e membros da União Europeia, além de membros do governo da Inglaterra, Suiça, Suécia, Áustria e Bélgica. "A Europa precisa saber que ainda há povos sem nenhuma terra no Mato Grosso do Sul", afirmou Elizeu a deputados e ministros, desmentindo os dados do governo brasileiro sobre a demarcação de territórios indígenas.

    O encontro é realizado pelo Conselho do Povo Kinikinau, com o apoio do Aty Guasu Guarani e Kaiowa, Conselho Terena, além do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Funai e Coordenadoria Ecumêmica de Serviço (CESE), e contará com a participação de lideranças indígenas de todo o estado.

    Confira a programação da Assembleia

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  • 11/10/2016

    Liderança histórica dos Xukuru-Kariri é assassinada durante II Seminário Pedagógico do povo


                                               Foto: José hélio Pereira da Silva/Cimi-NE


    Por Renato Santana, da Assessoria de Comunicação – Cimi 

    João Natalício dos Santos Xukuru-Kariri, histórica liderança dos povos indígenas do Nordeste, foi assassinado a facadas na madrugada desta terça-feira, 11, na porta da casa onde vivia, na aldeia Fazenda Canto, Terra Indígena Xukuru-Kariri, a 7 km da cidade de Palmeira dos Índios, Alagoas. Seu João, como era chamado, participou ontem da abertura do II Seminário Pedagógico: A Caminhada dos Guerreiros e Guerreiras Xukuru-Kariri, que trouxe a memória de Maninha Xukuru-Kariri, morta há dez anos. A foto acima, durante a atividade, foi o último registro de Seu João — que está de boné, camisa de botão e bermuda. 

     

    De acordo com o chefe da Coordenação Técnica Local (CTL) da Fundação Nacional do Índio (Funai), Cristóvão Marques da Silva, presente na aldeia Fazenda Canto, até o final da manhã o corpo ainda estava no local no aguardo da perícia da Polícia Civil e do Instituto Médico Legal (IML). “Eu estive na delegacia para agilizar os procedimentos e ao que parece, além das facadas, João foi atingido também por disparos de arma de fogo”, explica Silva. O apelo da morte é tamanho que indígenas de todo o território foram para a casa de Seu João.  

     

    Por volta das 4 horas da madrugada, enquanto Seu João se preparava para ir ao roçado que mantinha, dois indivíduos não identificados chamaram a liderança. O indígena saiu da casa para ver quem era. Com alguma conversa atraíram o Xukuru Kariri e desferiram os golpes de faca; também os disparos de arma de fogo, a serem confirmados pela perícia. Ao que tudo indica, os assassinos conheciam Seu João. 

     

    “A região tem um histórico de violência por conta da luta pela terra. Seu João era uma liderança antiga do povo”, afirma uma liderança Xukuru-Kariri que não identificamos por razões de segurança. O indígena explica que a aldeia Fazenda Canto é composta pelos 72 hectares demarcados em 1952, onde Seu João morava, e pela retomada realizada nos últimos anos e parte da demarcação em curso pela Funai, mas paralisada. 

     

    Integrantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) estiveram ontem com Seu João, na abertura do Seminário com a tradicional procissão do povo com a imagem de Nossa Senhora Aparecida. “É uma situação muito triste. Ele estava feliz e falando da luta do povo pela terra, relembrando com muita felicidade de Maninha Xukuru-Kariri”, diz Francisco Bispo, padre e missionário do Cimi. 

     

    Na abertura do II Seminário, Seu João fez uma fala emocionada sobre Maninha Xukuru-Kariri e dançou o Toré. Participou da procissão e de toda a programação do dia. “Cancelamos o II Seminário, que deveria acabar só amanhã. Estamos todos assustados e tristes. Não sabemos quem foram os autores desse crime. Seu João não era envolvido com nada de errado, mas alguém já antigo e respeitado pelo povo”, diz um Xukuru-Kariri.  

     

    Angelo Bueno, também missionário do Cimi, conheceu Seu João em 1992, durante uma reunião da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme). "Sempre uma  pessoa  discreta e  fiel  guerreiro  do  movimento  indígena,  ajudando  nas  ações  de  planejamento  e  avaliação  da  luta  como  também  sempre  foi  um  animador  do  Ritual, do Toré”, ressalta Bueno. 

     

    Seu João gostava de uma boa prosa. Em entrevista ao Cimi, durante a Assembleia Xukuru-Kariri de 2014, o indígena fez questão de conversar apenas depois de fazer um café, enrolar um cigarro e acomodar a todos na sala de sua casa, em cujo quintal foi morto. Nas paredes caiadas de azul, Seu João mantinha os retratos pintados de seus pais, em molduras antigas e gastas, além de instrumentos rituais do povo: cocar, maracás e arcos e flechas.

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  • 10/10/2016

    Movimentos e organizações do Campo Unitário divulgam nota de indignação e repúdio ao governo federal


    Vários movimentos e organizações do campo, das águas e das florestas integrantes do Campo Unitário divulgaram, nesta segunda (10), uma nota de indignação e repúdio ao governo federal. Os movimentos e organizações criticam a falta de comprometimento do governo federal com os compromissos assumidos em audiência realizada após a Jornada Nacional de Lutas, no início de setembro, que mobilizou milhares de militantes em pelo menos 14 estados do país. Na ocasião, os movimentos chegaram a ocupar o Ministério do Planejamento.

    Entre as pautas ignoradas pelo governo, estão a demarcação das terras indígenas e quilombolas e a manutenção do orçamento para a reforma agrária e a agricultura familiar e camponesa nos anos de 2016 e 2017, além da contratação de projetos de habitação rural e do desbloqueio de cerca de 575 mil famílias assentadas que tiveram seu cadastro suspenso pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

    “Toda a nossa indignação com esse cenário de descaso, de instabilidade e desvalorização da política agrária pelo governo federal, será convertida em luta pela defesa e efetivação de nossos direitos”, afirmam no documento.

    Leia a íntegra da nota abaixo ou clique aqui para acessar o documento em pdf:

    Nota de repúdio e indignação do Campo unitário ao Governo Federal

    Nós Movimentos e Organizações do campo, águas e florestas integrantes do Campo Unitário manifestamos nossa insatisfação com a postura do Governo Federal no tratamento à nossa pauta e aos nosso processo de mobilização durante reunião realizada nos dias 05 e 06 de outubro, em Brasília-DF.

    Esse tratamento reafirma o caráter ilegítimo e anti democrático deste governo, e deixa em evidencia que políticas conquistadas com muita luta nos últimos anos sofrem risco de extinção.

    O objetivo desta reunião era obter resposta do governo federal à pauta entregue em audiência realizada no ultimo 05 de setembro, fruto de nossa Jornada Nacional de lutas que mobilizou cerca de 30 mil militantes em 14 estados do país em torno da luta pela terra, que teve como marco a ocupação do ministério do planejamento. Na ocasião a pauta foi apresentada aos ministros Eliseu Padilha da Casa Civil, Dyogo Henrique de Oliveira do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão e Bruno Áraujo da Cidades, e Gedel Viera Lima da Secretaria de Governo da Presidência, além do Presidente do INCRA e o Secretário da SEDA.

    Durante audiência do dia 5 de setembro foram firmados compromissos com a manutenção dos valores orçamentários em igual ou superiores de 2016 para 2017, para reforma agrária e agricultura familiar e camponesa; contratação dos projetos de habitação rural já apresentados e manutenção do programa em 2017; a demarcação de terras indígenas e quilombolas; atuar para o efetivo desbloqueio dos cadastros de assentados atingidos pelo acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU) e para resolução das dívidas provenientes da seca.

    No entanto nenhum destes compromissos se efetivaram, foram ignorados em reuniões e nos processos seguintes, como se explicita a baixo:

    Na Proposta de Lei de Orçamento Anual (PLOA) encaminhada ao Congresso houve uma redução drástica dos valores previstos para áreas fundamentais da política agrária, tais como a obtenção de terras, PRONERA, ATES, e programas de agroindústrialização, PAA, PNAE dentre outras.

    O ministro das Cidades, garantiu a efetivação de 35 mil unidades habitacionais rurais em 2016 . No entanto dia seguinte, em reunião afirmou que tal contratação não era possível por falta de recursos.

    O governo comprometeu-se em atuar para desbloquear as 575 mil famílias listadas, em sua maioria, erroneamente como irregulares pelo TCU. No entanto ocorreu o desbloqueio parcial e provisório, sem nenhuma garantia de solução efetiva para tais casos.

    Sobre as dívidas provenientes da seca que atingem as regiões norte e nordeste e os estados de Minas Gerais e Espírito Santo, as medidas adotadas pelo governo federal não solucionam o grave problema do endividamento. O modelo de repactuação ofertado impede que as famílias acessem a novos créditos nos próximos anos, além de que a MP 733/2016, que trata de pagamento de dívidas, não cobre todas as áreas afetadas.

    O governo também afirmou que seriam emitidos decretos para todas as terras indígenas e quilombolas que apenas dependiam disto para sua titulação. Até o momento nenhum decreto foi assinado.

    A reunião realizada em 5 e 6 de outubro onde deveriam ser apresentadas respostas concretas às reivindicações defendidas em setembro, quem indicassem o cumprimento dos compromissos já firmados, mais uma vez não se concretizou. Além disso a ausência do ministro Padilha, demonstra o desinteresse do governo federal com os povos e à pauta agrária.

    Afirmamos que toda a nossa indignação com esse cenário de descaso, de instabilidade e desvalorização da política agrária pelo governo federal, será convertida em luta pela defesa e efetivação de nossos direitos.

    Não permitiremos que políticas públicas que trouxeram dignidade aos povos do campo, das águas e florestas sejam excluídas, diminuídas ou inviabilizadas.

    Por nenhum direito há menos seguiremos mobilizados e resistindo!

    Brasília, 06 de outubro de 2016

    Assinam:

    APIB- Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
    CIMI- Conselho Indigenista Missionário
    CPT- Comissão Pastoral da Terra
    CONAQ- Coordenação Nacional dos Quilombolas
    CONTAG- Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
    CONTRAF BRASIL – Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na
    Agricultura Familiar do Brasil
    FEAB- Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil
    MAB- Movimento dos Atingidos por Barragens
    MAM- Movimento Nacional pela Soberania Popular Frente a Mineração
    MCP- Movimento Camponês Popular
    MMC- Movimento das Mulheres Camponesas
    MPP – Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais
    MPA- Movimento dos Pequenos Agricultores
    MST- Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra

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  • 10/10/2016

    TJ/MA suspende segunda decisão da Justiça Estadual contra o povo Gamela


                                                        Foto: Cimi Regional Maranhão

    Por Renato Santana, da Assessoria de Comunicação – Cimi

    O desembargador Marcelo Carvalho Silva do Tribunal de Justiça do Maranhão suspendeu, no final da semana passada, um interdito proibitório contra o povo Gamela determinado pela Justiça Estadual da Vara de Matinha. “Reconhecendo a incompetência absoluta da Justiça Comum para processar e julgar o feito”, o desembargador decidiu pela “imediata remessa” da ação original à Justiça Federal.

     
    Esta é a segunda suspensão decidida pelos desembargadores do TJ-MA envolvendo sentenças
    contra o povo Gamela do juiz Celso Serafim Júnior, da Comarca Estadual de Matinha. No último dia 04, o TJ suspendeu a reintegração de posse da aldeia Piraí, localizada entre os municípios de Viana e Matinha. O Interdito proibitório, concedido a favor da família Cutrim, seria para impedir suposta agressão por parte dos Gamela à posse privada de terras tradicionais reivindicada pelo povo.

    A ação foi parar no Tribunal de Justiça do Maranhão por força de um agravo de instrumento dos Gamela, impetrado pelo advogado Antonio Rafael Silva Júnior, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), com o apoio da assessoria jurídica do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). “O juiz estadual tinha dado duas decisões possessórias (que protegem o direito de propriedade). Uma era a reintegração e a outra o interdito. As duas caíram. O desembargador ainda decide que são ações que cabem à Justiça Federal, o que vínhamos defendendo”, explica o advogado.

    Caso os Gamela retomassem áreas dentro da suposta propriedade da família Cutrim, o juiz estadual determinou uma multa de R$ 100 mil a ser paga “por alguma associação civil a qual eles estejam vinculados".  O desembargador citou os incisos I e XI do artigo 109 da Constituição Federal para argumentar que compete à Justiça Federal processar e julgar as causas em que a União está presente, o que, conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), envolve controvérsias relacionadas aos direitos indígenas. Citou ainda jurisprudências do Supremo Tribunal Federal (STF).

    Plano para assassinatos


    Os Gamela divulgaram na semana passada uma nota pública (leia aqui) denunciando os planos de fazendeiros para matar lideranças do povo. Os indígenas gravaram as ameaças realizadas pelo fazendeiro José Manoel Penha, incluindo o relato dos planos de assassinatos. Conhecido como Castelo, Penha revelou uma reunião realizada entre fazendeiros, na cidade de Viana, para tratar das “invasões” realizadas pelos Gamela. Segundo Penha, na nota divulgada pelos indígenas, a solução seria matar “uns quatro cabeças”. Outros planos dão conta do assassinato de um padre da Igreja Católica, que apoia os Gamela.

    “Em 15 de fevereiro, estas ameaças foram apresentadas ao Secretário Estadual de Segurança Pública e ao Superintendente de Polícia Civil do Interior, bem como foram entregues as gravações. Também foram registradas na Superintendência da Policia Federal, no Maranhão (SIC)”, diz trecho da nota dos Gamela. Nenhuma investigação foi realizada pelas autoridades públicas competentes. “No dia 21 de agosto, pistoleiros (…) invadiram a nossa aldeia, dispararam tiros de uma pistola .40 e ainda prometeram um banho de sangue”, segue a nota. A aldeia em questão é a Piraí, alvo da reintegração de posse indeferida pelo TJ/MA e com a incidência da propriedade de Tenack Serra Costa Júnior, também conhecido como Júnior da Cerâmica.

    As lideranças ameaçadas e citadas pelos fazendeiros são Antonio de Marcírio, Jaleco, Inaldo, Jaldo, Kaw, Mandioca, Foboca, Zé Oscar, ‘Seu’ Duca e Carrinho. Na invasão de pistoleiros em 21 de agosto, três homens armados e trajando coletes à prova de bala invadiram a retomada realizada pelo povo Gamela. Conforme os indígenas, os homens chegaram numa caminhonete branca, se identificaram como policiais e chamaram pelas lideranças do povo. Procurando pelas lideranças, os indivíduos ameaçaram os indígenas e estavam em uma caminhonete cuja placa está registrada no nome da Ostensiva Segurança Privada LTDA., com sede em São José do Ribamar (MA) – conforme apuração na Secretaria Estadual de Segurança Pública.

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  • 10/10/2016

    MPF/MS denuncia piloto que aplicou agrotóxicos sobre aldeia indígena

    O Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul (MPF/MS) denunciou um piloto de avião agrícola à Justiça pelo crime de aspersão de agrotóxicos sobre a aldeia indígena Guyra Kambi’y, na região de Dourados, sul do estado. Perícia realizada pelo MPF comprovou que o piloto não respeitou os 500 metros de distância mínima para habitações, especificada em lei. O Laudo de Exame Local, produzido pelo setor de antropologia do MPF/MS, constatou que a aplicação ocorreu pelo menos a 12 metros da área habitada pelos índios da etnia guarani-kaiowá. Após a aplicação da substância na plantação (assista aqui), crianças e adultos da comunidade apresentaram dores de cabeça e garganta, diarreia e febre.

    A conduta criminosa é especificada pelo artigo 15 da Lei nº 7802/89: “Aquele que produzir, comercializar, transportar, aplicar, prestar serviço, der destinação a resíduos e embalagens vazias de agrotóxicos, seus componentes e afins, em descumprimento às exigências estabelecidas na legislação pertinente, estará sujeito à pena de reclusão, de dois a quatro anos, além de multa”. O crime foi cometido em 6 de janeiro de 2015. Os índios produziram vídeos pelo celular, onde é possível observar o avião dando voos rasantes, borrifando veneno na plantação de soja e suspendendo a aspersão quando se aproximava das primeiras casas localizadas na estrada limite entre a fazenda e a área indígena.

    De acordo com o artigo 10 da Instrução Normativa n° 02, de 03 de janeiro de 2008, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, não é permitida a aplicação aérea de agrotóxicos em áreas situadas a uma distância mínima de quinhentos metros de povoações.

    Referência processual na Justiça Federal de Dourados: 0004118-74.2016.4.03.6002

    Audiência Pública

    O Ministério Público Federal é um dos organizadores da Audiência Pública "Pulverização Aérea de Agrotóxicos", que será realizada em 4 de novembro, às 14h, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul.

    Serviço

    Audiência pública: Pulverização aérea de agrotóxicos

    Data: 4/11/2016

    Horário: 14:00 horas

    Local: Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul

    Realização: MPF, MPT, MPE-MS, Assembleia Legislativa e Comissão de Combate aos Impactos de Agrotóxicos no MS

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  • 10/10/2016

    Atendendo a pedido da Justiça Federal, Cimi/MA entrega relatório sobre a saúde indígena do povo Awá Guajá


                                                     Foto: Cimi Regional Maranhão

    Por Renato Santana, Assessoria de Comunicação – Cimi

    Quando o Ministério Público Federal (MPF) firma um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com algum órgão do governo federal concede prazos para a execução de demandas não atendidas. Em 2005, o MPF celebrou um TAC sobre a saúde indígena no Maranhão. Não atendido, um novo TAC foi firmado em 2011. Onze anos se passaram desde o primeiro termo e a 4ª Vara da Justiça Federal no estado solicitou ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi), durante audiência pública ocorrida no dia 28 do mês passado (na foto), um relatório para saber quais determinações destes ajustes de condutas foram atendidas; e quais ainda seguem pendentes depois de uma década.

    “O que vemos são prazos extensos para o governo federal não atender as demandas. Enquanto isso os indígenas passam por todo o tipo de privação e dificuldades, levando muitos a morrer sem atendimento ou a apresentar doenças sem nenhuma diagnóstico porque não há exames detalhados, médicos”, afirma a coordenadora do Cimi Regional Maranhão, Rosana Diniz. Mudanças estruturais ocorreram no âmbito da saúde indígena, desde 2005; o primeiro TAC foi firmado com a antiga Funasa, e depois refeito já com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Por conta das indefinições que se arrastam por uma década, o TAC foi extrajudicializado.

    De acordo com o relatório apresentado pelo Cimi, a criação da Sesai, com Polos Bases e os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI’s), não garantiu aos povos indígenas do Maranhão, com destaque para os Awá Guajá e Ka’apor, melhorias consideráveis no atendimento e acesso à saúde diferenciada. Na Terra Indígena Caru e Awá, do povo Awá Guajá, por exemplo, a construção de postos de saúde em duas aldeias é uma demanda que há anos é cobrada. Mesmo criada por força dos povos indígenas e com um orçamento bilionário, a Sesai tem esbarrado em gestões incompetentes e pouco comprometidas com a saúde diferenciada. 

    “As equipes multidisciplinares de saúde não contemplam os povos. Faltam médicos e outros profissionais. O mesmo vale para o saneamento básico, inexistente e fonte de doenças, sobretudo entre as crianças. A saúde diferenciada, que está no TAC, não foi garantida como deve ser”, explica Rosana. A entidade atua há 16 anos junto aos Awá e em 2010 o Cimi propôs aos indígenas um audiência na Procuradoria Geral da República (PGR), em Brasília. A delegação enviada apresentou o histórico problemático da saúde indígena no estado.

    O MPF então elaborou um novo TAC no ano seguinte, em 2011. Como a situação nas aldeias Ka’apor era ainda mais grave, uma Ação Civil Pública foi montada para que de forma imediata a Sesai atendesse os indígenas. A assessora técnica Vera Lopes dos Santos, do Departamento de Atenção à Saúde, da Sesai, se deslocou para o Maranhão “A Secretaria Especial de Saúde Indígena em conjunto com o DSEI Maranhão enviou uma equipe para realizar o diagnóstico da atenção à saúde dos Awá Guajá, do Polo Base de Santa Inês e formular as recomendações para serem implantadas nestas aldeias. A visita ocorreu entre os dias 3 e 12 de fevereiro de 2011”.

    No entanto, conforme o relatório do Cimi, as informações técnicas do Relatório estão descritos em 20 pontos, todos na escuta e perspectiva dos profissionais da saúde. “Não há sequer um ponto que trata da escuta ou perspectiva dos indígenas, vítimas e sujeitos denunciantes das condições desumanas”, diz trecho do relatório elaborado pelo Cimi a pedido da Justiça Federal. na última sexta-feira, dia 7, representantes do Cimi se reuniram com procuradores do MPF para saber quais as providências serão tomadas quanto a outras questões não atendidas pelo TAC: caso dos portadores de deficiências, a documentação básica dos indígenas e um convênio com a mineradora Vale.


                                                            Foto: Laila Menezes/Cimi


    Quando o direito vira mitigação
     

    Chamou a atenção da equipe do Cimi as parcerias firmadas pela Sesai para a construção de postos de saúde. "Interessa saber por que os postos foram construídos em parceria com a Vale, tempo em que a mineradora amplia a sua Estrada de Ferro Carajás e a Funai não esconde que media um processo de negociação entre a mineradora e os indígenas, sob o argumento do órgão de que a “Vale é nossa parceira”. Tempo também em que os Awá, inclusive por meio de documentos, se manifestaram contra a ampliação da EFC Carajás, para a qual não foram consultados conforme leis vigentes (SIC)“, destaca trecho do relatório.

    No documento, a equipe do Cimi ressalta que o valor das obras foi informado, mas não quanto do recurso veio da Vale; o Ministério da Saúde havia destinado recursos para a construção das estruturas. "A construção dos postos saiu como uma benesse/vantagem da Vale às comunidades Awá atingidas (pela ferrovia), numa espécie de mitigação, ou mesmo como um ‘acordo’ conseguido pelos indígenas”, afirma o relatório em outro trecho. "É visível a transferência de responsabilidade da SESAI/DSEI/FUNAI quanto aos direitos às políticas públicas de saúde, o que (…) confunde os indígenas sobre as competências e as responsabilidades do Estado nas ações de saúde”, critica o relatório.

    Todavia, a construção dos postos não garante o atendimento adequado à saúde. Além da falta de médicos e outros profissionais, o TAC determinou que a Sesai deveria "contratar para as aldeias Awá e Tiracambu, até o final de 2011, um Agente Indígena de Saúde e um Agente Indígena de Saneamento, os quais deverão receber treinamento básico da equipe do DSEI e do Polo Base para iniciar suas atividades”. Tais contratos nunca foram firmados, bem como formação específica no campo do controle social: o conselho de saúde dos Awá, por exemplo, nunca se efetivou. 


    Soros, médicos, cosmovisão e documentação
      

    A contratação de um médico, com carga horária de 40 horas semanais para atender todo o Polo Base de Santa Inês, também está no TAC. No entanto, quem atendeu a demanda foi o Programa Mais Médicos, com o envio de dois médicos cubanos às três aldeias Awá e Tenetehar/Guajajara. Ambos já se retiraram das aldeias com o fim do Programa. “Sem médicos, os doentes são levados para consultas em hospitais de Alto Alegre e Santa Inês. O agravante é a falta de transporte, outra questão presente no TAC e não resolvida”, destaca Rosana, coordenadora do Cimi/MA.

    O relatório do Cimi enviado à Justiça Federal destaca a permanente falta de soro antiofídico nas aldeias, um pedido dos indígenas dado o aumento do número de picadas de cobra, e casos de mortes ocorridas pela falta de atendimento adequado de saúde. Duas mortes foram destacadas: "A indígena Ajrua e a morte de um menino de cinco anos, que fraturou o fêmur. O menino, segundo os Awá, teria desaparecido do hospital, em Santa Inês. Mais tarde se soube que o pai do menino, que fala pouco português, pediu carona a alguém para voltar com o filho para a aldeia Awá, pois estava cansado de ficar no hospital há mais de três dias sem atendimento para o filho”.

    Tal como em vários povos, o nascimento de uma criança para os Awá deve respeitar uma cosmovisão específica e diferenciada. Se uma criança nasce pelas mãos do Sistema único de Saúde (SUS), nenhuma prática tradicional é respeitada: os familiares não podem entrar. "Com Awá recém nascido não se faz assim! Quando a mulher Awá tem seu filho, é a irmã dela que dá banho na criança ao nascer. É assim que Awá faz!”, diz Warixa’a Awa Guajá. Os indígenas também não concordam como os médicos examinam os pacientes, pedindo que os acompanhantes se retirem e adotando metodologias não explicadas aos Awá. Em muitos casos, por falta de documentação, os indígenas são impedidos de entrar no hospital.

    Sobre as crianças nascidas com algum tipo de deficiência, o relatório revela a intervenção desastrada de integrantes da Sesai: "Em 2015, ouvimos queixas dos Awá relacionadas a possíveis comentários de que o pessoal da saúde estaria atribuindo má formação ou deficiências das crianças por eles casarem entre irmãos. Isso gerou uma revolta grande internamente. Segundo eles mesmos, desautoriza as mulheres/mães mais velhas que sabem com quem os filhos devem casar. De fato, alguns casamentos foram modificados por isso. Aqui se percebe a influência dos técnicos de saúde na cultura, e a dispensa dos conhecimentos de nossa medicina para ajudar”, relata o Cimi à Justiça Federal.

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  • 07/10/2016

    Desrespeito aos direitos dos povos indígenas é retratado no minidocumentário “Guerra Sem Fim”


    Tortura, perseguição, massacre e desrespeito. Essas foram as palavras que marcaram os relatos dos indígenas registrados no minidocumentário “Guerra sem fim: resistência e luta do povo Krenak”. A produção da Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais (6ª CCR) do Ministério Público Federal (MPF), em parceria com a Associação Nacional dos Procuradores da República e a produtora Unnova, foi exibida na Procuradoria-Geral da República (PGR) nessa quarta-feira, 5 de outubro, seguida de debate.

    O minidocumentário exibiu relatos de indígenas, antropólogos e membros do Ministério Público Federal sobre as ações de posseiros e militares que retiraram os Krenak do território em que viviam, na região do Rio Doce, em Minas Gerais, mediante prisão e forte repressão da cultura da etnia.

    Hoje, apenas 25 indígenas da etnia ocupam uma reduzida área reconquistada com grandes dificuldades. Para os membros do MPF, a produção cinematográfica é uma forma de retratação simbólica aos indígenas pelo sofrimento e pelas violações sofridas.


    Debate – O representante da etnia, Douglas Krenak, tocou uma flauta típica usada em manifestações culturais do seu povo para a plateia que assistia ao debate no auditório do Conselho Superior e agradeceu a presença de todos por prestigiar a narrativa dos Krenak.

    Ele destacou o momento propício de lançamento do documentário para os povos indígenas e elogiou a iniciativa do MPF. “Esse documentário chegou em um momento em que nosso povo está lutando por muitas coisas como a demarcação do nosso território – que até hoje não existe. Esse trabalho chegou em um momento que o nosso povo sofre com a construção de hidrelétricas, com a invasão do nosso território sagrado. Com iniciativas assim, vemos que fora da nossa vivência existem pessoas que têm coração e reconhecem o outro como ser humano”, ressaltou o representante dos Krenak.

    O coordenador da 6ª CCR, subprocurador-geral da República Luciano Mariz, classificou o minidocumentário como um fator motivador e enriquecedor para a atuação do MPF. Esse documentário tem a capacidade de empoderar o titular de direito. É a voz dos Krenak que se faz ouvir. Ao mesmo tempo, ele traz imagens históricas de violação dramaticamente constatadas. Ou seja, um discurso de qualquer um de nós não consegue se equiparar ao poder da palavra da vítima de violação”, citou o subprocurador.

    Massacre Indígena – A procuradora regional da República Eliana Torelly apresentou números do relatório final da Comissão Nacional da Verdade que apontam para 434 brasileiros não indígenas mortos durante a ditadura. Durante o mesmo período, o números de indígenas assassinados é de mais de 8.350. “Com base nesse relatório, concluímos que os indígenas foram as maiores vítimas do regime militar e o povo Krenak é a prova viva disso”, lembrou.

    Para o subprocurador-geral da República Mario Bonsaglia, coordenador da Câmara do Controle Externo da Atividade Policial e Sistema Prisional (7ª CCR), a iniciativa deve ser amplamente divulgada para que outras produções sejam realizadas no âmbito do MPF e, assim, traduzam as vicissitudes sofridas por outras etnias.

    Fonte: Secretaria de Comunicação Social
    Procuradoria-Geral da República

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  • 06/10/2016

    Povos Indígenas, eleições e o Bem Viver


    “Um povo que não sabe de onde vem,
     jamais saberá para onde ir.
    Um povo sem consciência histórica,
    jamais terá consciência ideológica”
    (Conselho Mundial dos Povos Indígenas, 1980)

    Quando começa a baixar a poeira das urnas eletrônicas, digitais ou não, é hora de um lento e atento olhar para os rumos e roncos das urnas. Nesse turbilhão de olhares, talvez em sua maioria descrentes ou decepcionados no caminho, emergem os povos indígenas.

    Como nas últimas décadas, não foi difícil contar o número dos indígenas eleitos, prefeitos ou vereadores. A percentagem é pequena. Porém, podemos garimpar alguns números e resultados expressivos. Os Terena, do Mato Grosso do Sul, comemoraram o fato de passarem de um para cinco vereadores. No Acre, pela primeira vez na história, os povos indígenas elegeram um prefeito. Os povos indígenas do Alto Rio Negro elegeram parentes para ocupar os cargos de prefeito e vice-prefeito em São Gabriel da Cachoeira. Eles já haviam eleito Pedro Tariano no final do século passado.  Os Xakriabá, em Minas Gerais, reelegeram o prefeito de São João das Missões. E assim poderíamos continuar pontuando alguns resultados positivos para os povos indígenas.

    Nas redes sociais, os indígenas eleitos agradecem os eleitores ou são gratificados pelos resultados obtidos. Outros manifestam seu desejo de continuar suas lutas pelos seus direitos nesses novos espaços. Neste sentido, vale lembrar a articulação dos parlamentares (vereadores indígenas) do Mato Grosso do Sul, por iniciativa do indigenista, professor Antonio Brand (in memoriam), através de encontros e debates sobre as possibilidades e limites de cada um em seus municípios e em conjunto enquanto indígenas.


    O grande desafio colocado, não apenas aos vereadores e prefeitos, mas ao movimento indígena é conseguir efetivamente fazer um bom trabalho numa conjuntura que é cada vez mais adversa aos direitos dos povos originários. Por outro lado, temos uma política partidária confusa, marcada pela forte corrupção, gerando um descrédito e descontentamento cada vez maior na sociedade e movimentos sociais e populares, bem como nos povos e comunidades tradicionais.

    Nos três poderes vemos avançar iniciativas contrárias aos direitos dos povos indígenas, com ênfase no Legislativo com a tropa de choque anti-indígena encastelada na bancada ruralista. Já reconstituíram a CPI da Funai e do Incra e deixaram a PEC 215 na marca do pênalti. E nessas investidas contra os direitos indígenas certamente estarão contando com o novo governo que deixou a Funai sem norte, e ainda mais pobre e subserviente. Ao movimento indígena e seus representantes eleitos, só resta a continuidade da mobilização permanente, desde as aldeias até Brasília. O importante é consolidar o movimento indígena, ampliar as alianças e fortalecer a resistência. Só assim talvez consigam se livrar das armadilhas e das trilhas da corrupção e cooptação a que estarão permanentemente submetidos.


    Nas trilhas do Bem Viver

    Nessa conjuntura de retrocessos no país e no continente, são preciosas as lutas vitoriosas e as conquistas de reconhecimento de direitos e os avanços constitucionais e na prática em países como Equador e Bolívia. O reconhecimento da plurinacionalidade, dos direitos da Mãe Terra, do Bem Viver, da interculturalidade e da justiça indígena, são indiscutivelmente avanços e referências para os movimentos indígenas no continente e no mundo.

    “O Bem Viver é eminentemente subversivo. Propõem saídas descolonizadoras em todos os âmbitos da vida Humana. O Bem Viver não é um simples conceito. É uma vivência” (Alberto Acosta).

    O Bem Viver, a partir das lutas dos povos por seus territórios, é a alma da resistência e o novo horizonte a nos iluminar o caminho. É antes de mais nada a contestação cabal do sistema capitalista, onde não há espaço para os povos indígenas, nem para aqueles que sonham e lutam por um país melhor para todos.

    Egon Heck
    Cimi – Secretariado Nacional

    Brasília, primavera de 2016

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  • 06/10/2016

    Estudo chega a 25 defensores de Direitos Humanos assassinados no Maranhão entre 2015 e 2016

    O Estado do Maranhão já soma 25 defensores de Direitos Humanos assassinados nos anos de 2015 e 2016. Os números incluem assassinatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais, ambientalistas além de representantes quilombolas e indígenas.

    Também incluem o estudo, os homicídios de lideranças comunitárias pela ação coordenada por traficantes de drogas e o assassinato de blogueiros em virtude de denúncias de corrupção.

    Uma delegação da União Europeia esteve em São Luís reunida com representantes da SMDH, da Comissão Pastoral da Terra (CPT Nacional) e da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Estado do Maranhão (FETAEMA) para discutir a situação dos defensores e defensoras de direitos humanos no Estado do Maranhão.

    Confira o documento produzido pela SMDH que detalha os casos aqui.

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  • 06/10/2016

    MST: Campanha pela liberdade dos presos da reforma agrária em Goiás

     

    Prezado companheiro

    Prezada companheira

    Paz, Justiça e muito Amor para toda a humanidade!

     

    Estamos lançando a Campanha Nacional e Internacional de Liberdade dos presos da Reforma Agrária do estado de Goiás, conforme subsídio, no anexo.

     

    Pedimos a sua solidariedade manifestando-se junto a algumas autoridades brasileiras, conforme texto-sugestão também no anexo. Caso você queira, pode fazer alterações; o que enviamos é apenas uma sugestão. Em nosso entender, no momento, é importante que tal manifestação seja dirigida às três autoridades indicadas no texto anexo, enviando cópia para o nosso Comitê.

     

    Contamos com dupla contribuição de sua parte: enviar a manifestação aos destinatários e divulgar essa Campanha ao máximo. Caso você tenha contatos fora do Brasil, utilize as versões apropriadas que seguem abaixo e no anexo.

     

    Agradecemos a você e a sua entidade por mais este gesto de solidariedade, no desejo de construirmos Justiça e Paz.

     

    Abraços.

     

    Coordenação do Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduino

    comitedhdomtomasbalduino@gmail.com

     

     

    | PROPOSTA DE CARTA  A SER ENVIADA  POR CORREIO ELETRÔNICA ÀS TRÊS AUTORIDADES | 

     

    V. Exa. Marconi Perillo

    Governador de Goiás

    gabinete.particular@palacio.go.gov.br;

     

    V. Exa. Dra. Laurita Vaz

    Presidente do Superior Tribunal de Justiça

    presidencia@stj.jus.br

     

    V. Exa Dr. Leobino Valente Chaves

    Presidente Tribunal de Justiça de Goiás

    secexepres@tjgo.jus.br

     

    Com cópia para

    comitedhdomtomasbalduino@gmail.com

     

     

    Viemos, por meio desta, apresentar nossa grande preocupação com a recente escalada da repressão aos Movimentos Sociais no Brasil, especialmente no estado de Goiás. É de nosso conhecimento que lideranças e militantes do MST no referido estado estão presos e sendo perseguidos. Luiz Batista Borges encontra-se preso desde o dia 14 de abril de 2016, José Valdir Misnerovicz, liderança de renome internacional, encontra-se preso desde o dia 31 de maio e Lázaro Pereira da Luz, desde o dia 15 de junho último. Outros dois militantes encontram-se exilados.

     

    É extremamente grave que pessoas como eles, comprometidos com a justiça social e com a Reforma Agrária, estejam sendo criminalizadas pela única razão de lutarem para que terras griladas, improdutivas ou devedoras sejam convertidas em áreas de produção de alimentos para milhares de pequenos agricultores Sem Terra.

     

    Tais medidas repressivas são inaceitáveis e entendendo que os Direitos Humanos são uma demanda internacional, nos manifestamos pela imediata libertação dos presos políticos do MST em Goiás e pelo fim da criminalização da luta por reforma agrária no Brasil.

     

    Atenciosamente

     

    Data:

     

    Nome:

     

    Cargo/função:

     

    Entidade:

     

    NOTA SOBRE A CRIMINALIZAÇÃO DO MST

     

    – subsídio para a Campanha Internacional de

    Liberdade aos presos da Reforma Agrária – 2016 –

     

    22 de setembro de 2016.

     

    Está em curso uma grave e perigosa estratégia de criminalização do MST no estado de Goiás, a qual entendemos ser um atentando aos direitos humanos e um potencial risco para a luta popular não apenas no estado, mas em todo o país. Embora ainda circunscrita ao estado goiano, as ferramentas deste processo de criminalização e de estabelecimento de estado policial poderão ser utilizadas em qualquer outro estado brasileiro ou mesmo em âmbito federal, principalmente neste período de ruptura democrática.

     

    No dia 12 de abril, os juízes Thiago Brandão Boghi, Rui Carlos de Faria e Vitor Umbelino, das Comarcas de Santa Helena, Mineiros e Rio Verde, respectivamente, decretaram a prisão preventiva de quatro militantes do MST, que, apesar de não terem cometido nenhum crime, são acusado de fazerem parte de uma Organização Criminosa. O agricultor Luiz Batista Borges, integrante do acampamento Pe. Josimo Tavares, foi preso ao se apresentar na delegacia de Rio Verde, Goiás, no dia 14 de abril. No dia 31 de maio o militante José Valdir Misnerovicz, reconhecido nacional e internacionalmente como lutador pela reforma agrária, foi preso em uma ação articulada entre as polícias de Goiás e do Rio Grande do Sul, onde se encontrava Valdir. Já, Lázaro Pereira da Luz foi preso dia 15 de junho último, em Itapaci, Goiás.Os militantes Natalino de Jesus e Diessyka Lorena estão exilados.

     

    Esta é a primeira vez no Brasil que o MST é criminalizado com base na lei 12.850/2013, que diz respeito às organizações criminosas. Esta lei, supostamente criada para atuar contra lavagem de dinheiro e tráfico, pode ser considerada a legitimação de um verdadeiro Estado de Exceção. Com base nela, os inquéritos correm de forma sigilosa e podem automaticamente contar com delação premiada, infiltração de agentes, quebra de sigilo fiscal, bancário e telefônico, escuta ambiente e outras arbitrariedades.

     

    Diferente do enquadramento Formação de Quadrilha, acusação que historicamente os juízes reacionários tentavam imputar ao MST e que nunca foi acatada pelos tribunais superiores, a Organização Criminosa pressupõe a teoria do Domínio dos Fatos. Ou seja, a rigor, entendendo o MST como organização criminosa, qualquer militante pode ser acusado em qualquer inquérito que seja iniciado. É a tentativa absurda de colocar na ilegalidade um movimento democrático, que luta pela reforma agrária no Brasil.

     

    Toda essa ofensiva é fruto de um avanço das forças conservadoras em nível estadual e em nível nacional. Nos últimos três anos e meio a luta pela terra em Goiás passou por uma intensa massificação, saltando de 600 famílias acampadas em 2013 para 6.500 famílias em 2016. Nesse período ocorreu a ocupação Dom Tomás Balduíno, no complexo Santa Mônica, latifúndio improdutivo de propriedade de um senador brasileiro e fruto da expropriação de camponeses, e da Usina Santa Helena, latifúndio canavieiro que deve cerca de 1,1 bilhão de reais a trabalhadores e à União.

     

    Diante desse crescimento, o agronegócio, articulado com o poder judiciário local e estadual, com o legislativo federal e com o executivo estadual, desencadeou esse processo de repressão, com perspectiva de inviabilizar a luta pela terra no estado.

     

    Em nível federal, o golpe em curso tem fortes vínculos com o agronegócio e com as forças conservadoras do judiciário e do legislativo. A iniciativa de enquadrar o MST como organização criminosa, apesar de ter iniciado em Goiás, já é defendida pela Bancada Ruralista do Congresso Federal e por figuras políticas que estão à frente do golpe.

     

    Coordenação do Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduino

    comitedhdomtomasbalduino@gmail.com

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