• 23/11/2016

    Nota Pública: CRB se manifesta contra a PEC 241-55


    Crédito: Tiago Miotto/Cimi


    A Conferência dos Religiosos e das Religiosas do Brasil, que congrega mais de 35.000 Consagrados/as em todo o país, apresenta sua posição em relação à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55/2016, que tramita no Senado Federal, após aprovada na Câmara Federal.

    A CRB Nacional, cuja Missão permanente é a Opção Preferencial pelos Pobres, não pode ficar indiferente a esta Emenda Constitucional que visa o esmagamento dos mais pobres, com o corte de despesas essenciais nos direitos do cidadão e o não reajuste do salário mínimo impedindo sua valorização.

    A PEC se apresenta como fórmula para alcançar equilíbrio dos gastos públicos, congelando as despesas primárias por 20 anos que, além de não mencionar o teto para as despesas financeiras, vai sacrificar exatamente os pobres, pois incide sobre as despesas primárias do Estado, entre elas a saúde e a educação, a infraestrutura, o funcionalismo. A estagnação ou queda dos investimentos públicos nos direitos básicos do povo durante 20 anos não contribui para retomar a confiança e o crescimento do país, também não garante maior eficiência na gestão do dinheiro público.

    A CRB Nacional concorda com a CNBB, que em sua Nota classifica a PEC 241 como injusta e seletiva. Diz a Nota: “Ela elege, para pagar a conta do descontrole dos gastos, os trabalhadores e os pobres, ou seja, aqueles que mais precisam do Estado para que seus direitos constitucionais sejam garantidos. Além disso, beneficia os detentores do capital financeiro, quando não coloca teto para o pagamento de juros, não taxa grandes fortunas e não propõe auditar a dívida pública”.

    O Brasil é um país de imensuráveis riquezas naturais e industriais, mas é apontado como um dos países mais injustos do mundo, com uma distância astronômica entre os poucos ricos e os milhões de pobres. Portanto, não é dinheiro que falta ao país, mas gestão honesta e bom uso do dinheiro público.

    Por isso, a PEC é mentirosa, ao convidar a população a conter gastos para pagar a dívida pública. O engessamento dos gastos públicos penalizará somente os pobres, deixando-os ainda mais à margem da sociedade, como explorados e indesejados.

    A CRB Nacional pede ao Poder Executivo, autor da PEC, empenho em prever projetos que promovam o cidadão, que encontre saídas sem penalizar e marginalizar os pobres, que planeja erradicar a vergonhosa desigualdade social com uma justa distribuição de renda, justiça e lei para todos. Pede ainda que eleve os impostos sobre os mais ricos, o fim das desonerações fiscais e a garantia de espaço para investimentos públicos.

    A CRB Nacional acredita que é possível reverter a aprovação da PEC, com a mobilização do povo e a organização da sociedade civil, promovendo um debate amplo e democrático e diálogo com a sociedade.

    Que a Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, com sua ternura de Boa Mãe, continue abençoando o povo brasileiro. E que Deus continue sendo o nosso único Guia e Tesouro.

    Brasília, 21 de novembro de 2016

    IR. MARIA INÊS VIEIRA RIBEIRO, MAD

    Presidente da CRB Nacional

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  • 23/11/2016

    Spray de pimenta é usado contra povos e comunidades tradicionais para barrá-los à sessão da CPI da Funai/Incra 2

    A Polícia Legislativa da Câmara dos Deputados utilizou spray de pimenta contra indígenas, quilombolas, pescadores, pescadoras e quebradeiras de coco na manhã desta quarta-feira, 23, em frente ao anexo 2. O grupo negociava a entrada na Câmara no momento da ação truculenta.   

    Os povos e comunidades tradicionais queriam acompanhar a sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra a Funai e o Incra 2, marcada para começar às 11 horas (horário de Brasília). Ao tentar entrar, foram barrados pela segurança e dispersados com quantidade exagerada de spray de pimenta.  

    Crianças passaram mal e precisaram ser socorridas. Assista ao registro da ação truculenta aqui. Os povos e comunidades tradicionais seguiram em protesto em uma outra entrada da Câmara Federal, enquanto a sessão da CPI passou a acontecer sem a presença do grupo.

    Em mais uma demonstração da falta de democracia que vigora na "Casa do Povo", como é possível se constatar em outras ocasiões, os povos e comunidades tradicionais foram barrados e impedidos de acompanhar uma CPI que lhes diz respeito.  


    Os deputados ruralistas, principais interessados na retirada de direitos constitucionais ligados à demarcação territorial, além de autores tanto da primeira quando da atual CPI da Funai/Incra, dirigem os trabalhos da Comissão sem que povos indígenas e quilombolas sequer possam acompanhar as sessões.

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  • 23/11/2016

    Povos indígenas da região de Tefé (AM) exigem reparação de direitos violados e divulgam carta


    Crédito: Lígia Kloster Apel/Cimi-Tefé


    Por Lígia Kloster Apel, Assessoria de Comunicação – Cimi/Tefé

    Incentivo e aprendizado. Esses foram os dois mais importantes resultados do 1º Mutirão em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas da Região de Tefé (AM) para o Tuxaua Anilton Braz Silva, do povo Kokama, da aldeia Porto Praia de Baixo. O Mutirão aconteceu nos dias 17 e 18 de novembro, nesta região amazônica composta por dezenas de povos indígenas e direitos violados. “Para mim foi um incentivo, um aprendizado de união com toda a comunidade e sabendo que ia ter essa equipe do CIMI, órgãos comprometidos, financiadores da CAFOD e União Europeia e assessoria jurídica, a gente viu que ia ser importante pra ver que temos direitos e a gente vai lutar por eles”.

    O evento faz parte das atividades do projeto Garantindo a Defesa de Direitos e a Cidadania dos Povos Indígenas do Médio Rio Solimões e Afluentes, realizado pela Cáritas de Tefé e CIMI-Tefé, com apoio técnico e institucional da Agência Católica para o Desenvolvimento (CAFOD) e cofinanciamento da União Europeia.

    Mais de 70 indígenas participaram do Mutirão dos povos Kokama, Kambeba, Kaixana, Tikuna, Miranha e Madija, das Terras Indígenas Porto Praia, Boará/Boarazinho, Projeto Mapi e Barreira da Missão, além de representante da União dos Povos Indígenas do Médio Rio Solimões e Afluentes (UNIPI-MSA), André Cruz; da FUNAI-CTL de Tefé, Tomé Cruz; do vice-prefeito eleito de Tefé, Jean Robson Pinheiro Jacintho, e futuro secretário de produção, Antonio Nascimento; a assessora jurídica do Projeto, Chantelle Teixeira, do Cimi, além da assessora técnica Satya Caldenhoff e da representante da CAFOD, Esther Gillingham.

    O 1º Mutirão em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas da Região de Tefé se consolidou como um espaço de diálogo e esclarecimentos sobre os direitos indígenas, sobre as violações destes direitos – que são constitucionais – e que vêm acontecendo ao longo dos anos, sobre a morosidade com que o poder público trata a resolução das violações que lhe são denunciadas e sobre sua, praticamente que total, ineficiência de garantir e executar políticas específicas para os povos indígenas.

    Os trabalhos iniciaram com a apresentação dos participantes, do projeto e suas atividades e dos casos de violações de direitos indígenas apurados na 1ª Oficina de Formação Jurídico-Política em Tefé, realizada pela equipe do Cimi e sua assessoria jurídica, em setembro de 2016, na aldeia Porto Praia de Baixo, envolvendo as comunidades Porto Praia, Boará, Boará de Cima, Boarazinho e Projeto Mapi. O levantamento mostra que as violações denunciadas pelos indígenas são de toda ordem.

    Em relação ao direito à terra demarcada, o levantamento mostra que nenhuma das comunidades têm seu território reconhecido pelo Estado brasileiro, e que a falta desta regularização territorial facilita a entrada de invasores que exploram seus recursos naturais. Madeira, peixe, caça e areia foram os recursos apontados pelos indígenas como os principais alvos dos invasores. O direito dos povos originários de permanecer em seus territórios tradicionalmente ocupados é garantido pela Constituição Federal. O direito coletivo dos povos indígenas à terra é uma forma de interpretar o direito civil à propriedade, adequando-o ao modo coletivo de vida desses povos, que está sendo violado sistematicamente pelo Estado brasileiro.

    Relataram ainda que fazem as denúncias aos órgãos competentes através de documentações, mas que dificilmente recebem informações sobre os encaminhamentos dados às reivindicações.

    Quanto aos seus direitos políticos, a Oficina mostrou que as decisões tomadas pela comunidade, as quais retratam suas necessidades específicas, são desconsideradas pelo poder público. O principal exemplo são os programas de educação que são levados às aldeias que não reconhecem a realidade local e apresentam conteúdos e metodologias alheias a elas. Em um caso recente da prefeitura de Tefé, tal violação foi comprovada. A Secretaria de Educação coibiu os professores indígenas graduados em Magistério Indígena de participarem do concurso público para professores, exigindo critérios em desacordo com a legislação nacional para a educação escolar indígena, e sequer, consultou estes povos para participarem da elaboração do edital.

    E no âmbito dos direitos sociais, a maior violação de direitos está na saúde, onde há grande carência de pessoas, infraestrutura adequada, medicamentos e transporte para o atendimento de pacientes. Na educação, a violação está na contratação de professores indígenas sob o regime de contratos temporários, o que lhes deixa sem estabilidade e reféns da política partidária dos pleitos municipais. Ainda, reivindicam a contratação de professores bilíngues para que possam resgatar suas línguas maternas. Esta situação revela a inexistência do reconhecimento da educação indígena, uma vez que não há plano de carreira para os professores indígenas dos municípios.

    Um dos relatos mostrou, inclusive, que a representante da Secretaria de Educação do município exigiu a retirada de peças artesanais produzidas pela comunidade de dentro da escola. Peças essas que fazem parte da didática dos professores que mostram e refletem sobre suas habilidades, em um total desrespeito aos conhecimentos e à cultura ancestral.

    À luz deste diagnóstico, os participantes debateram com os representantes da FUNAI e da futura gestão municipal (vice-prefeito e secretaria de produção), as formas de resolução destas violações. E, ao final, foi formalizada uma Carta Aberta que será entregue ao MPF – Procuradoria Geral da República em Tefé, MPF – Procuradoria Geral da República de Manaus, Ministério Público Estadual, Justiça Federal em Tefé, Distrito Sanitário Especial Indígena do Médio Solimões e Afluentes (DSEI-MSA), à presidência da FUNAI em Brasília, Coordenação Regional da FUNAI do Alto Rio Solimões em Tabatinga e Coordenação Técnica Local da FUNAI em Tefé, bem como para órgãos públicos locais de competência afim.

    A Carta Aberta dos povos Kokama, Kambeba, Kaixana, Tikuna, Miranha e Madija (convidado), das Terras Indígenas Porto Praia, Boará/Boarazinho, Projeto Mapi e Barreira da Missão, traz a clara compreensão que os indígenas têm de sua cidadania brasileira e de seus direitos como povos originários do território nacional. Denunciam as violações que por anos a fio vêm sofrendo e revelam o descaso, discriminação e morosidade do estado brasileiro em efetivar e garantir os direitos civis, políticos e sociais da população indígena. E, dada a urgência, exigem que as soluções aos problemas sejam rápidas e efetivas.

    O evento também lembrou que este ano, no dia 10 de dezembro de 2016, comemora-se o 68º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada pelas Nações Unidas. Os indígenas deram seus depoimentos falando da importância desta comemoração para reivindicar e defender seus direitos. “Os povos indígenas são a raiz da nação brasileira. E a sociedade brasileira nega sua raiz. O que acontece com uma árvore que nega a sua raiz?”, questiona Valtonino Gomes Pacaio, tuxaua da aldeia Boarazinho.

    Toda pessoa humana tem direito à vida e a vivê-la em plenitude. Todos os brasileiros e todas as brasileiras têm seus direitos assegurados pela Constituição Federal. Todos e todas indígenas têm seu direito originário, que está acima de todas as outras leis. Respeitá-los é dever da sociedade. Assegurá-los é dever do Estado.

    CARTA ABERTA DOS POVOS INDÍGENAS DE TEFÉ

    Nós, lideranças dos povos Kokama, Kambeba, Kaixana, Ticuna, Miranha e Madija, representantes das comunidades Porto Praia, Boara, Boarazinho, Boara de Cima, Projeto Mapi, Patauá, Kanata Aetu, Nova Esperança do Arauerí, Ramal do Tucano, Barreira de Cima, Barreira do Meio, Barreira de Baixo e Betel (as quatro últimas pertencentes à TI Barreira da Missão), localizadas nos municípios de Tefé e Uarini (Comunidade Tucano somente) no Amazonas, reunidos na  comunidade Porto Praia de Baixo, nos dias 17 e 18 de novembro, por ocasião do 1º Mutirão de Direitos da região de Tefé, ação promovida pelo Conselho Indigenista Missionário de Tefé e Cáritas de Tefé, com apoio de CAFOD e União Européia, atividade prevista no projeto Garantindo a Cidadania e a Defesa de Direitos dos Povos Indígenas do Médio Rio Solimões e Afluentes, para ampliar nossos conhecimentos sobre direitos civis, políticos, sociais e indígenas, partilhar as nossas realidades, demandas e aspirações e encaminhar soluções destas demandas em diálogo com o Poder Público (CTL da Funai em Tefé, DSEI Médio Rio Solimões e Afluentes, Gestão Municipal eleita para o período 2017-2020) na busca pela efetivação dos nossos direitos, vimos, à público, manifestar, denunciar e pedir a atenção e acompanhamento dos órgãos públicos competentes às violações de direitos que passaremos a relatar:

    Sabemos que a nossa Constituição Federal reconhece o caráter multiétnico e pluricultural do Estado brasileiro, portanto, o nosso direito ao tratamento diferenciado, na perspectiva da autonomia e autodeterminação dos nossos povos.

    Depois de analisarmos a situação dos nossos direitos e da política indigenista nacional, regional e local constatamos que continuamos a ser vítimas da discriminação, do preconceito e da intenção, explícita ou velada, de nos extinguir enquanto povos, com uma identidade diferenciada, vinculada intrinsecamente à espaços territoriais necessários para a nossa sobrevivência física e cultural, com organização social própria.

    Contudo, fazemos parte do Estado Nacional que, depois da colonização, se implantou sobre os territórios ocupados milenarmente por nossos povos e ancestrais, não respeitando o nosso modo de vida e impondo a sua maneira de viver aos nossos povos como a única correta para acessarmos direitos e sermos cidadãos deste Estado. Hoje, 516 anos depois, em pleno século XXI, tal situação de descaso e violação de nossos direitos, cidadania e vida, continua. Mas, temos convicção de que somos cidadãos e temos o direito de recuperar e manter nosso modo de vida.

    Os governos municipais, estaduais e federal têm se mostrado incapazes de conviver e oferecer tratamento diferenciado aos nossos povos. O Governo tem feito esforços significativos, mas continua submetido à pressão de interesses econômicos e políticos que sempre mandaram neste país, criando situações que acarretam a grave crise no atendimento à políticas públicas voltadas as nossas especificidades e à violência contra os povos indígenas.

    Diante deste quadro, estamos tristes e indignados, porém, dispostos a continuar reivindicando e lutando para termos garantidos os nossos direitos. Dessa forma, exigimos do Poder Público respostas e ações permanentes e estruturantes às demandas apresentadas por nós nesta carta aberta. Reafirmamos, porém, atenção especial às seguintes reivindicações e propostas.

    DESRESPEITO AO DIREITO À TERRA DEMARCADA E PROTEGIDA

    1. Demarcação e regularização de todas as terras indígenas da região do município de Tefé e Uarini (Comunidade Tucano), garantindo a sua devida desintrusão e proteção, para conter quaisquer tipos de invasões que ameaçam a integridade física e cultural dos nossos povos bem como a riqueza natural e da biodiversidade existente nos nossos territórios.

    – Nossos territórios vêm sendo, sistematicamente, explorados. Existe um grande interesse nos recursos naturais que preservamos, sobretudo, madeira, peixes dos lagos e rios (pesca de arrastão), invasão de lagos, caças e areia.

    – Comunidades não indígenas no entorno da comunidade Projeto Mapi vêm realizando barragens nos igarapés para formarem piscinas naturais em suas áreas para fins de lazer (balneários e “banhos”), estas ações prejudicam o abastecimento de água a esta comunidade, bem como a entrada de peixes nestes cursos de água.

    DESRESPEITO AO DIREITO À EDUCAÇÃO DIFERENCIADA E ESPECÍFICA PARA OS POVOS INDÍGENAS – EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA

    1. Implementação de uma política de educação escolar indígena de qualidade, bilíngue, específica e diferenciada, que garanta condições para o ensino fundamental e médio completo nas nossas comunidades. Concretamente reivindicamos:

    a) Respeito à autonomia e o direito à consulta das comunidades, para que participem da criação, implementação, monitoramento e fiscalização das políticas públicas municipais de educação escolar indígena; b) Criação do cargo de professor indígena municipal com concurso público diferenciado, plano de carreira e garantia de estabilidade funcional; c) Criação da categoria Escola Indígena Municipal, para que seja garantida a autonomia e organização própria das escolas indígenas, com Projetos Políticos Pedagógicos específicos e próprios para cada escola e realidade; Compra e repasse de merenda escolar que atenda o número de alunos de cada escola, hoje faltam alimentos nas escolas. Ainda, requeremos a regionalização da merenda escolar nas escolas indígenas e a criação do Conselho de Educação Escolar Indígena; d) Construção de prédios escolares nas comunidades onde as escolas funcionam em estruturas precárias construídas pelas próprias comunidades; e) Contratação de professores indígenas e bilíngues para as escolas indígenas;

    DESRESPEITO AO DIREITO À SAÚDE DIFERENCIADA DOS POVOS INDÍGENAS

    1. Prestação dos serviços de atendimento à saúde indígena que respeite à cultura e especificidade de cada povo, bem como se paute em um modelo de abordagem integral contemplando os aspectos de assistência à saúde, saneamento básico, nutrição, habitação, meio ambiente. Para tanto, concretamente reivindicamos:

    a) Implementação de saneamento básico às comunidades, principalmente o cuidado ao acesso de todos à água potável; b) contratação de profissionais de saúde para o atendimento nas comunidades, bem como que estes profissionais sejam capacitados para trabalhar com povos indígenas e que sejam consultadas as comunidades para a contratação destes profissionais; c) Maior investimento na infraestrutura para a prestação dos serviços de saúde indígena (construção de postos de saúde adequados, meio de transporte para a remoção de pacientes das comunidades para o Polo Base de Saúde ou município, compra de medicamentos); d) capacitação dos profissionais indígenas que trabalham na saúde – Agente Indígena de Saúde e Agente Indígena de Saneamento – última realizada na região foi em 2008; atendimento de indígenas nos postos de saúde e hospitais de referência do SUS presentes no município de Tefé, muitas vezes, temos o atendimento negado nestes centros de atendimento à saúde porque somos indígenas. Sabemos que a saúde indígena é um subsistema do Sistema Único de Saúde, que é universal e tem como obrigação constitucional o atendimento à saúde em todo o país e para qualquer cidadão brasileiro, inclusive estrangeiro.

    DESRESPEITO AO DIREITO À AUTONOMIA E AUTODETERMINAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS

    1. Respeito à autonomia e autodeterminação dos povos e comunidades indígenas. Nós temos o direito a definir nossas prioridades de desenvolvimento, participar da criação, implementação e fiscalização de planos de desenvolvimento do governo municipal, estadual e federal, bem como em sermos consultados em relação às medidas administrativas e legislativas dos governos que nos afetem diretamente. Muitas das nossas decisões e reivindicações não são atendidas pelo Poder Público, principalmente em relação à educação escolar indígena. As comunidades escolhem professores e gestores para a suas escolas, porém, a Secretaria Municipal de Educação não leva em consideração nossa vontade e impõe a contratação de professores e gestores que, muitas vezes, nem são indígenas.

    Conquistamos com muita luta nossos direitos na Constituição que este ano completou 28 anos, mas os governos municipais, estaduais e federais ainda não estão cumprindo com seu dever de torná-los realidade.

    Contra as falsas acusações de que atrapalhamos o projeto econômico em curso, afirmamos claramente que nós, povos indígenas, com base em nossas próprias histórias, valores e culturas, temos muito a contribuir com o desenvolvimento sustentável do país, na perspectiva da construção de uma sociedade justa e de um Estado verdadeiramente pluriétnico e democrático no Brasil.

    Assim, exigimos atenção, acompanhamento e ações dos órgãos públicos para que nossos direitos sejam garantidos e cessem as situações de violações acima descritas.

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  • 22/11/2016

    Indígenas, quilombolas e pescadores ocupam Palácio do Planalto contra a PEC 241-55


    Crédito das fotos: Tiago Miotto/Cimi


    Cerca de 500 lideranças indígenas (de vários povos do MA, BA, RS, SC e SP), de pescadores e pescadoras artesanais, quilombolas e quebradeiras de coco ocuparam o Palácio do Planalto, na manhã desta terça-feira, 22. A ocupação é realizada pela Articulação dos Povos e Comunidades Tradicionais.  

    Esta é a primeira ocupação do Palácio do Planalto na gestão Michel Temer. Na pauta dos movimentos está a posição contrária à PEC 241-55/16 (a PEC da Morte), à PEC 215/00 (a PEC do fim das demarcações de terras indígenas) e ao PL 4059/12, que libera a venda de terras para estrangeiros.

    Os povos e comunidades tradicionais também cobram o presidente Michel Temer sobre os recentes boatos de possíveis mudanças que o governo estaria planejando fazer nos procedimentos administrativos de demarcação das terras indígenas.

    Além disso, os povos manifestam-se pela retomada das demarcações das terras indígenas, quilombolas e reconhecimento e regularização dos territórios pesqueiros. Os povos e comunidades tradicionais divulgam ainda uma nota sobre a ocupação.

    Leia na íntegra:

    Nenhum direito a menos! Contra as propostas de morte aos povos indígenas, quilombolas e pescadores e pescadoras artesanais!

    Nós povos indígenas originários, comunidades tradicionais pesqueiras, comunidades quilombolas, e quebradeiras de coco babaçu,  estamos em mobilização nacional denunciando  o programa neoliberal dos governos, com apoio e aval do poder legislativo e judiciário e  nos colocamos contra todo e qualquer retrocesso nos nossos direitos já conquistados, com muita luta e sangue derramado.

    Nesse sentido denunciamos:

    • 1- Marco temporal: constitui-se num grave atentado contra o direito originário dos povos indígenas à demarcação de suas terras e contra o direito dos quilombolas de terem suas terras devidamente tituladas. Viola a Constituição Brasileira  e os tratados internacionais, ao mesmo tempo que legitima a violência e o esbulho territorial cometida contra os povos até 1988;

     

    • 2- A tramitação da PEC 215/00, da PEC 68, PL 1610/96, PL 4059/12 que libera a venda de Terras para estrangeiros, por entendermos que são mecanismos criados para expropriação dos territórios tradicionais para implantação de grandes projetos do agro – hidronegócio, mineração, produção de energia e monocultivos;

    • 3- A PEC 241-5516 representa a intensificação do processo de sucateamento de políticas públicas para efetivação de direitos fundamentais. É a PEC da morte;

    • 4- A atuação do poder judiciário na concessão de medidas liminares de reintegração de posse nas áreas de retomada dentro dos territórios tradicionais;

    • 5- A criminalização de lideranças de comunidades indígenas, pescadores e quilombolas por parte do ICMBio nas áreas de sobreposição de unidades de conservação de proteção integral sobre territórios tradicionais.

    Exigimos do Estado Brasileiro:

    • 1- Aceleração dos processos de demarcação, desintrusão e proteção de terras indígenas e quilombolas, sem mudanças nos procedimentos de demarcação das terras indígenas;

    • 2- Reconhecimento e regularização dos territórios tradicionais pesqueiros;

    • 3- Liberação e aumento de recursos financeiros e pessoal para  órgãos como INCRA, FUNAI, SPU  e outros para execução  de processos demarcatórios de territórios de povos e comunidades tradicionais;

    • 4- Autonomia e protagonismo das comunidades nos processos de gestão e fiscalização dos territórios e das áreas de preservação;

    • 5- Revogação do Decreto 8424 e 8425  por violarem os direitos das pescadoras e pescadores artesanais;

    • 6- Retorno do Ministério do Desenvolvimento Agrário para o atendimento das  demandas das comunidades tradicionais e da agricultura familiar.

    Brasília, Novembro de 2016.

    Articulação dos Povos e Comunidades Tradicionais


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  • 21/11/2016

    Missão do Sagrado Coração: Convivência junto aos povos indígenas do MS



    O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. (Jo 10,10)

    “Para que sejam respeitados os povos indígenas, ameaçados na sua identidade e na sua própria existência”. Essa foi a prece que o papa Francisco fez em favor dos indígenas que historicamente são maltratados, excluídos, desprezados, massacrados, mortos. O Espírito Santo que conduz a história rumo a cristificação do universo e distribui os dons e carismas conforme a vontade do Pai e as necessidades da humanidade jamais deixou que os primeiros habitantes da tão sofrida América viessem a desaparecer, sendo que em meio a tanta opressão surgiram sempre vozes que se levantaram para os defender. Mesmo que por vezes parece que a busca pela ‘Terra sem males’ torna-se cada vez mais distante, a esperança de sua realização jamais se afastou do coração e dos ideais dos povos indígenas deste nosso imenso país.


    Na certeza de que Deus está a encaminhar os nossos corações, em abril de 2016 nos é apresentado a proposta de viver com os povos indígenas do Mato Grosso do Sul pelo período de aproximadamente 15 dias. Tal proposta foi acolhida com abertura e alegria, sem muitas pretensões mas apenas o desejo de estar e viver com tal realidade que por vezes nos é apresentado tão distante e em extinção.

    Sendo assim, após 14 horas de viagem chegamos a Campo Grande (MS), onde somos recebidos pelos missionários do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), e pelas Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora Aparecida. Com uma fraterna acolhida e um profundo espírito missionários nos é apresentado um panorama geral e histórico da situação da população indígena no Mato Grosso do Sul. Pelo engajamento e pela emoção com que os envolvidos falaram, logo percebe-se que pela situação complicada, desafiadora e degradante há um profundo apelo evangélico que clama por libertação. Índios desaparecidos, muitos assassinados, famílias despejadas, crianças morrendo em consequência ao uso de agrotóxicos, um verdadeiro genocídio. Uma militarização formada por deputados, fazendeiros, meios de comunicação, força militar, guardas (jagunços) contratados por fazendeiros para “proteger as terras” e que matam os indígenas indiscriminadamente. Logo percebe-se que seria uma experiência inesquecível.  

    Ao longo dos 11 dias, na medida em que se vive a experiência de conhecimento da cultura indígena, há um processo de desconstrução dos conceitos prévios que recebemos, uma abertura para uma compreensão humanizadora e a construção de um grande amor. Rapidamente se percebe que ali há um grande tesouro, por que vale a pena gastar a vida, na luta pela justiça, lado a lado com esse povo.  

    Na região de Dourados vivem cerca de 45 mil indígenas, sendo que em sua maioria Guarani e Kaiowá, constituindo assim a segunda maior população indígena do país. No processo histórico os Guarani e Kaiowá foram expulsos seus tekoha (seu habitat natural, o que faz o Guarani ser o que ele é, é parte de sua identidade, é onde se vive e se comunica com o transcendente). Este processo de expulsão, mesmo tendo acontecido há décadas atrás, está fortemente registrado em suas memórias, transmitidas pela tradição oral. Foi um despejo muito traumático pela violência aplicada, sendo relatados do caminhão vir buscar e os que se recusavam a ir embora eram quebrados o calcanhar para não conseguirem mais caminhar. Expulsos de seus tekoha são obrigados a viver em reservas, como que ilhas cercadas por grandes fazendas que formam como que um mar de soja e cana de açúcar, que avança a cada dia diminuindo ainda mais seu território, e com o rápido crescimento demográfico torna-se pequeno para ter uma vida digna com seus ritos e cultura.

    Os Guarani e Kaiowá pela situação a que foram obrigados viver, são sentenciados a morrer gradativamente esmagados pela ganância capitalista, do agrobanditismo, disfarçado de agronegócio. Como último suspiro de alguém que está prestes a morrer, e ainda existe uma chama de esperança que está fumegando, no ano de 2013 em uma reunião, os Guarani e Kaiowá decidem a morrerem retomando sua terra, inicia-se assim os processos de retomadas de seus tekoha, que continua até hoje lutando pacificamente pelo que lhes é de direito, mesmo que sejam assassinados em massa, como está acontecendo.

    As retomadas vão muito além de voltar a sua terra ancestral. Retomar seu tekoha é reviver a cultura, os hábitos, as crenças, em um ambiente que lhes propicie viver e ser aquilo que são.  A consequência de estar fora de seu tekoha é a perda de identidade, perda de sentido para a vida, perca de perspectivas futuras.  Esses são os principais motivos que acorrem no uso de drogas, alcoolismo e o suicídio especialmente entre os jovens indígenas de 10 a 18 anos.  

    Diante de tal realidade é impossível se fazer indiferente, pois vai além da capacidade de entender como pessoas que se dizem cristãos, dão tão pouco ou nenhum valor a vida, dom de Deus dado a todos, independente da raça, cultura ou da fé de cada um, uma vida é uma vida, e nada nem ninguém tem o direito de tirá-la.

    Pergunta-se que desenvolvimento é esse que na busca pelo progresso de alguns, em benefício da nação de poucos, dá ao agronegócio o direito de matar, mutilar e destruir milhares de vidas dentre ela os Guarani e Kaiowá? Vidas tão preciosas, quanto a minha ou a sua, aos olhos do Pai Criador de tudo. Durante os diversos dias que estivemos em área, a situação mais desumana é de dona Damiana, uma senhora de 74 anos, viúva, que cuida de um neto. Com alguns parentes foi despejada de seu tekoha de três hectares, onde está o cemitério de sua família coberto pela cana.  Uma cena revoltante para quem acompanhou o despejo.


    Mais de 60 policiais armados, apoiados por máquinas retroescavadeira e tratores, que destruíram e feriram não só os barracos mas história, a memória, o coração e a esperança de uma família que pela quinta vez é despejada. Tiram à força de sua terra, e são jogados na beira da estrada com seus poucos móveis encharcados com a chuva, pelas lágrimas do próprio Deus. É uma situação desoladora e revoltante. Como pode a ganância humana chegar a esse ponto?  A coragem da cacique  Damiana, faz de sua pequena estatura uma  gigante para todos que conhecem sua história de vida, esperança e luta. Como ela mesma diz “Eu só quero voltar para o meu tekoha, lá está toda minha família. Não importa que me matem, aqui fora do meu tekoha já estou morta, eu não posso sair daqui, eu pertenço a esse tekoha.

    Nós, os Karai (homem branco), temos muito que aprender com os Guaranis e Kaiowá, que mesmo em meios a tantas injustiças, massacres, genocídio continuam com coragem e esperança de voltar a viver no seu tekoha e o sonho de encontrar a “Terra sem males” que já buscam a mais de 500 anos.

    Ao concluir uma missão como esta, e voltar a nossas missão cotidianas é impossível se fazer indiferente a causa indígena, de não voltar o nosso coração, oração, e lágrimas a dor que este povo, nosso povo continua a sofrer. Que as preces de nosso Papa Francisco sejam ouvidas por Ñanderú Guasu, Criador do céu e da terra que nunca abandona o seu povo sofrido e escuta o gemido de seus amados filhos. Que nós como sociedade civil e como Igreja não tapemos os nosso olhos e não fechemos os nossos ouvidos a esta súplica. Deus dos pobres vem nos libertar desta escravidão! O desejo que permanece é de voltar e festejar no mba’e marangatu tomando chicha em meio a cânticos e danças.

    Missionários do Sagrado Coração,

    Adilson Gomes Teixeira, msc;

    Eugenio Luedke, msc ;

    Lucas Fonseca Machowsky, msc.


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  • 21/11/2016

    Comunidades educacionais do sul da Bahia realizam etapa local da II Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena



    Apesar de chuvas torrenciais que se abateram sobre o sul da Bahia, as comunidades educacionais dos povos Pataxó Hã-hã-hãe e Tupinambá de Olivença realizaram a etapa local em preparação à II Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena (CONEEI) – a ser realizada até o mês de agosto de 2017.  

    Mais de 150 representantes participaram, entre educadores e educadoras, estudantes, funcionários(as), lideranças dos dois povos. Participaram também representantes de instituições e autarquias governamentais e não governamentais: Núcleo Regional de Educação (NRE-5), Conselho Municipal de Educação de Ilhéus, Secretaria de Educação do Município de Ilhéus, Secretaria de Educação do Estado, União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação (Uncme), Instituto Federal da Bahia (IFBA), Coordenação de Educação Escolar Indígena da Bahia, Fundação Nacional do  Índio (Funai)/Sul da Bahia, e da entidade de apoio Conselho Indigenista Missionário (Cimi)/Equipe sul da Bahia. O encontro realizou-se nos dias 15 e 16 de novembro de 2016, no Centro de Recreação Cristã, no quilômetro 30 da Rodovia Ilhéus – Una.

    O tema motivador do evento “O Sistema Nacional da Educação e a Educação Escolar Indígena: Regime de Colaboração, participação e autonomia dos Povos Indígenas” foi abordado pela professora Gilvânia Nascimento, presidenta da Uncme. O professor José Carlos Tupinambá falou um pouco sobre os 05 eixos: I- “Organização e Gestão da Educação Escolar Indígena”; II – “Práticas Pedagógicas Diferenciadas na Educação Escolar Indígena”; III – “Formação e Valorização dos Professores Indígenas”; IV – “Políticas de Atendimento à Educação Escolar Indígena na Educação Básica”; V – “Ensino Superior e Povos Indígenas”. Estes foram os eixos que motivaram os trabalhos em grupos e que duraram toda o dia 16. Ao final das reflexões, foram apresentadas uma série de propostas que serão levadas para a Etapa Regional da II CONEEI. Essas propostas – organizadas pelos respectivos eixos – encontram-se no documento final da Conferência.

    Foram escolhidos 24 delegados das 30 vagas reservadas às comunidades educacionais, faltando a apresentação os delegados das comunidades Serra do Padeiro/Tupinambá (5) e Nova Vida/Pataxó Hã-hã-hãe (1). O critério de escolhas foi por municípios, ficando assim definido: Ilhéus e Buerarema = 19, (Sapucaeira – 9; Acuípe de Baixo – 5; Serra do Padeiro -5). Camacan, Pau Brasil e Itajú do Colônia = 10; Camamu = 01 (Nova Vida).

    Vale ressaltar o esforço e esmero da comunidade do Acuípe de Baixo, anfitriã do evento, e da Comissão Organizadora que não mediu esforços para garantir, uma excelente infraestrutura, acolhida, alimentação de qualidade, envolvimento da comunidade local, e uma maravilhosa decoração dos locais de trabalho.

    O evento foi muito propositivo e extremamente positivo. Apesar das chuvas, a representatividade foi importante para garantir reflexões fundamentais para o fortalecimento das comunidades educacionais dos povos presentes.

    As reflexões não se fecharam só no tema da Educação, mas foram bem mais amplas, fazendo links com a luta pela terra, a espiritualidade dos povos, a criminalização das lutas e das lideranças. Foram também discutidas as ameaças que pairam sobre as comunidades indígenas de todo o Brasil e quais as relações que as mesmas têm com a Educação Escolar Indígenas. A PEC 55, antiga PEC 241, foi a mais abordada em todos os grupos de trabalhos, e motivo de muita indignação e votos de repúdio. Ao mesmo tempo havia muita disposição e vontade de construir ações e atividades que não só venham a fortalecer e consolidar uma educação diferenciada e de qualidade para as comunidades, mas que também contribuam na construção de projeto de vida dos povos Pataxó Hã-Hã-Hãe e Tupinambá.

    Todas estas reflexões podem ser constatadas na “Carta do Acuípe”, instrumento político onde está sintetizada a riqueza do evento.

    Na educação, nenhum direito a menos!

    Leia a carta do Acuípe na íntegra:

    CARTA DO ACUÍPE

    Nós, cerca de 150 representantes das comunidades educacionais (Professores (as), Estudantes, Funcionários (as), Lideranças) dos Povos Pataxó HãHãHãe e Tupinambá de Olivença e mais representantes de Instituições governamentais e Entidades parceiras durante os dias 15 e 16 de novembro de 2016, no Centro de Recreação Cristã -CECRE, localizado no quilômetro 30 da Rodovia Ilhéus x Una, realizamos a etapa local da II Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena (II CONEEI), com  o tema: “O Sistema Nacional da Educação e a Educação Escolar Indígena: Regime de Colaboração, participação e autonomia dos Povos Indígenas”.

    Após as reflexões das mesas nos organizamos em grupos e a partir da reflexão dos 05 eixos: I- “Organização e Gestão da Educação Escolar Indígena”; II – “Práticas Pedagógicas Diferenciadas na Educação Escolar Indígena”; III – “Formação e Valorização dos Professores Indígenas”; IV – “Políticas de Atendimento à Educação Escolar Indígena na Educação Básica”; V – “Ensino Superior e Povos Indígenas”. Percebemos que vivenciamos no Brasil um momento extremamente delicado e ainda mais perigoso para as nossas comunidades, se antes em um dito governo democrático e eleito por nós a realidade da educação pública, já estava de modo geral, sendo motivo de ampla insatisfação, por parte de alunos, pais e educadores, e quando o assunto era a educação escolar indígena, a situação é expressivamente mais grave, o quadro agora pode piorar.

    Apesar de uma ampla legislação, nacional e internacional, que nos garantem o direito a uma educação específica, diferenciada, intercultural e bilíngue, as nossas comunidades não veem estes direitos implementados na prática.

    Alguns dos principais problemas que constatamos são: a péssima estrutura física dos prédios (mal construídos, sem manutenção, com problemas estruturais, em total desacordo com os padrões culturais dos povos); a situação de interinidade dos professores, que trabalham, muitas vezes, sem receber remuneração; o desrespeito às diferenças e especificidades culturais e sociais dos povos; e a falta de material pedagógico didático e paradidáticos específicos; além de problemas em relação à alimentação e ao transporte escolar. Estes são apenas alguns dentre os muitos que conseguimos abordar.  Nós sugerimos e exigimos um sistema próprio para a educação escolar indígena, no qual haja autonomia financeira, curricular, administrativa e política. Porque hoje o que o governo apresenta para a gente é um modelo de sistema que não serve para nós. Pois ele está totalmente construído para as escolas não indígenas e vem sendo imposta para que as nossas comunidades trabalhem dentro do mesmo sistema

    Neste sentido queremos referendar e cobrar a implementação imediata das resoluções e encaminhamentos definidos durante a realização da I CONEEI, ainda em 2009, até hoje não concretizadas.  Continuaremos lutando por uma educação, pelo direito aos nossos territórios tradicionais, pela garantia de uma sobrevivência justa, sem conflitos. Apresentamos uma série de propostas visando superar todos estes desafios, as mesmas se encontram detalhadas no documento final da nossa Conferência.

    Repudiamos todas as formas de exclusão dos direitos já conquistados e garantidos nas legislações deste País com intuito de violar e retirar os direitos fundamentais do ser humano (PEC 55), em especial os direitos dos povos indígenas tão duramente conquistados (PEC 215, Portaria 303, Interpretação do Marco Temporal, entre outros). Repudiamos a criminalização das nossas lideranças, legítimos defensores dos direitos indígenas, assim como repudiamos a judicialização das nossas lutas, pois lutar pela sobrevivência é a única opção que nos restou frente à violência colonial que abate e confina os nossos povos ameríndios nestes 516 anos. A voz dos conquistadores se faz ouvir diariamente em todas as práticas e legislações injustas em todas as esferas do poder: Legislativo, Executivo e Judiciário.

    Por fim, ressaltamos que qualquer reforma administrativa e política que venha retirar direitos conquistados pelos nossos antepassados e lideranças contribui para o massacre que nosso povo sofre diariamente, não será aceita por nós, educadoras e educadores e lideranças indígenas. Aproveitamos para repudiar mais uma vez a PEC 241, agora transformada em PEC 55. Convidamos e solicitamos o apoio da sociedade brasileira e internacional a se somar nesta nossa justa e longa luta por garantia de nossos direitos, que já duram 516 anos.

    Com a força dos nossos encantados e com o barulho de nossos maracás, ousamos dizer: Iandê Eparabyky Guarînî (Vamos trabalhar Guerreiros -as)

    Território Tupinambá

    Acuípe do Baixo/Ilhéus, 16 de novembro de 2016.


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  • 21/11/2016

    Nota de repúdio às declarações do deputado Jair Bolsonaro feitas durante visita ao estado de Roraima

    O Conselho Indígena de Roraima – CIR, organização indígena criada há mais de 40 anos para defender os direitos e interesses dos povos indígenas de Roraima veementemente repudia as declarações do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) no que diz respeito ao processo de demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, bem como repudia as manifestações absurdas sobre a vivência dos povos indígenas locais, conforme vídeo publicado em sua rede social Facebook, na última quinta-feira, 17, durante a sua visita ao estado de Roraima.

    Um vídeo gravado na sede da organização Sociedade de Defesa dos Índios Unidos de Roraima (SODIUR) é só mais um retrato da antiga reação contrária ao processo de demarcação das terras indígenas, em especial, a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, conquistada com luta e resistência pelos povos indígenas de Roraima e do Brasil. E essa conquista, é um fato irreversível, garantido como cláusula pétrea na Constituição Federal Brasileira de 1988, na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e demais instâncias internacionais sobre o direito dos povos indígenas e direitos humanos.

    A Terra Indígena Raposa Serra do Sol é um caso efetivado pelo Supremo Tribunal Federal – STF, por meio do Decreto 15 de Abril de 2005, uma conquista dos povos originários, Macuxi, Wapichana, Patamona, Taurenpag e Ingaricó, que lutaram sempre de forma pacífica, sem responder aos inúmeros atos de violência, ameaças e destruições causadas pelos invasores que tentaram se apossar das terras indígenas. Então, essa proposta absurda do deputado de “desmarcar” a TI Raposa Serra do Sol, trata – se de mais uma manobra política de tentar causar instabilidade e insegurança as comunidades indígenas, assim como promover mais um ataque social, político e cultural aos povos indígenas locais.

      

    Os invasores que estiveram por longos anos na Terra Indígena Raposa Serra do Sol e demais terras indígenas é fruto da histórica invasão e a tentativa de colonização do Brasil e em Roraima, não foi diferente. Mas os povos indígenas resistiram e graças, a essa luta e resistência, hoje, as comunidades indígenas estão livre desses invasores que em nome do agronegócio, capitalismo e do interesse próprio, ainda tentam de todas as formas, promover a insegurança quanto ao nosso direito já está garantido.

    Em relação à proposta de construção da hidrelétrica na Cachoeira do Tamanduá na TI Raposa Serra do Sol (PDL 2540/2006), também é um fato já negado pela justiça, inclusive, pela Comissão de Constituição e Justiça Cidadania que, em março de 2015, deu parecer pela INCONSTITUCIONALIDADE da proposta de construção da hidrelétrica. Justamente, por não respeitar os procedimentos legais da Constituição Brasileira, principalmente, o direito de consulta às comunidades indígenas.

    Por outro lado, os povos indígenas da Raposa Serra do Sol sabem do potencial energético existente na região. A prova disso é o Projeto Cruviana, uma parceria entre esta organização indígena, o Instituto Socioambiental (ISA) e a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) que atendeu e vem atendendo todas as formas legais da Constituição, principalmente, o direito de consulta às comunidades indígenas. Um projeto que serve de exemplo, não só aos povos indígenas de Roraima, mas do Brasil que veem no projeto Curviana, uma forma saudável de gerar energia e de atender a população, sem agredir e nem destruir o meio ambiente, nem destruir o futuro das novas gerações.

    Quanto às declarações dos membros da SODIUR, uma organização indígena criada por influências do Governo e políticos locais, sempre tratou a questão indígena com resistência e jamais admitiu a constitucionalidade do processo de demarcação em área contínua a Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Por isso, não nos impressiona, a recepção feita ao deputado Jair Bolsonaro, bem como as colocações feitas a respeito do processo de demarcação, a vivência das comunidades indígenas, assim como a atuação desta organização indígena.

    O CIR, organização indígena criada de forma legítima, transparente e de renome local, regional, nacional e internacional, nos últimos anos têm desenvolvido projetos voltados ao desenvolvimento sustentável das comunidades indígenas, fortalecendo o potencial agrícola, bovina, piscicultura e demais formas de cultura sustentáveis existentes nas terras indígenas, seja nas terras demarcadas em áreas contínuas e áreas demarcadas em ilhas. A exemplo, existem sete Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) em Roraima, alguns já implementados nas Terras Indígenas Boqueirão, Mangueira, na região do Tabaio, nas Terras Indígenas Aningal e Vida Nova, na região do Amajari e na Terra indígena Jacamim, na região da Serra da Lua.

    Além disso, o CIR também tem atuando na articulação e execução de projetos que promovam a autogestão das terras indígenas, principalmente, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, onde já existem dois escritórios regionais, na região do Baixo Cotingo e Raposa, construídos para atender a demanda regional, sobretudo, a demanda de elaboração e execução de projetos sustentáveis. Em outras regiões os escritórios estão em fase de construção e a meta é que em todas as oito regiões tenham essa estrutura, cujo objetivo é fortalecer a autonomia das comunidades na gestão dos seus territórios tradicionais.

    Por fim, diante das falsas acusações e declarações absurdas de um político de baixa credibilidade nacional, cuja postura descumpre o bom senso da ética e da moral, esta organização indígena criada por lideranças indígenas sérias, comprometidas verdadeiramente com o bem estar coletivo das comunidades indígenas e comprometidas com a defesa dos direitos e interesses dos povos indígenas, não se intimidará a mais esse ataque, reafirmando assim, uma luta coletiva pelos direitos dos povos indígenas de Roraima e do Brasil.

    Boa Vista, 21 de novembro de 2016.

    Conselho Indígena de Roraima


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  • 21/11/2016

    MPF cobra União por ação policial que lesionou e matou indígenas no Pará


    foto: Adonias Cabá/divulgação

    O Ministério Público Federal (MPF) entrou com ação na Justiça para cobrar da União R$ 10 milhões em indenização a indígenas vítimas de operação policial de 2012 que resultou na morte de um índio e em lesões permanentes a vários outros na aldeia Teles Pires, na Terra Indígena Kayabi, em Jacareacanga, no sudoeste do Pará.

    Para o MPF, o resultado desastroso da operação Eldorado, que tinha o objetivo de combater garimpos ilegais, foi provocado por despreparo e precipitação dos seus organizadores. A operação foi executada pela Polícia Federal com apoio da Força Nacional de Segurança Pública, Fundação Nacional do Índio (Funai) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).

    De acordo com as investigações, apesar de ter sido realizada reunião entre policiais e indígenas para buscar entendimento sobre como seria feita a destruição de balsas com dragas de garimpo, antes da concordância dos indígenas um grupo de agentes foi à aldeia para a destruição de uma das balsas ancoradas no rio Teles Pires.

    Ao tomarem conhecimento que a operação policial iria ser feita, alguns indígenas tentaram retirar do interior da balsa a ser destruída bens que poderiam ser aproveitados pela comunidade, como geladeira, fogão e freezer.

    Essa iniciativa ocasionou desentendimento entre os policiais e os indígenas, que acabaram sendo atacados a tiros, com bombas de gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral. Vários indígenas ficaram feridos – alguns com sequelas permanentes – e o índio Adenilson Kirixi Munduruku foi assassinado.

    Violência também psicológica – Os indígenas relataram ao MPF que, após o ataque policial, os Munduruku que não foram conduzidos a delegacia, levados ao hospital ou que não fugiram para a mata, permaneceram na aldeia sob poder policial com restrição de acesso à comida e água por, pelo menos, sete horas seguidas.

    Depois das agressões físicas sofridas, a comunidade teve suas casas invadidas pela equipe da operação, e, segundo os relatos indígenas, das casas foram retirados utensílios próprios para agricultura, caça e pesca.

    Denúncias feitas ao MPF também apontam que os indígenas conduzidos a delegacia foram coagidos a direcionar os depoimentos para incriminar a liderança Munduruku que estava no local do conflito e eximir qualquer responsabilidade dos agentes federais.

    “Além do sofrimento físico daqueles que suportaram diretamente as lesões corporais, a comunidade indígena Munduruku que vivenciou o episódio ainda mantém vivo os dias de terror na memória”, informa na ação proposta pelo Ministério Público Federal.

    “Além dos parentes diretos dos indígenas afetados, toda a comunidade que presenciou a ação policial, que se deu através de incursão aérea e por terra, com a utilização de grande número de policias portando armas pesadas e com o disparo de armas de fogo, ainda narram o acontecimento de forma assustada e com tristeza a morte de seu parente”, registra a ação.

    Caso tivesse havido o planejamento apurado e analítico que a situação de crise demandava, com a coleta das informações necessárias, inclusive com representantes dos indígenas, seus conselhos representativos, quanto ao número de pessoas na área, armamentos disponíveis, ânimos dos resistentes, extensão da área, o conflito não demandaria o uso de forças tão contundentes e desproporcionais, defende o MPF.

    De acordo com a ação, o valor da indenização solicitada na Justiça deverá ser aplicado em políticas públicas educacionais e de saúde em benefício dos indígenas, sob a coordenação da Fundação Nacional do Índio, a partir de definições das próprias comunidades.

    Clique aqui para acessar a íntegra da ação.

    Assista abaixo ao vídeo com depoimentos dos indígenas que viveram e testemunharam a Operação Eldorado:

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  • 21/11/2016

    Eu acuso! Carta de Pretinha Truká aos detratores da Educação Escolar Indígena Diferenciada



    Eu, Edilene Bezerra Pajeú, Pretinha Truká, venho a público manifestar meus  agradecimentos e compartilhar com minha família, amigos e aliados minha indignação pelas agressões, ofensas e assédio moral pelos quais fui bombardeada covardemente nesses últimos dias. Todavia, não tomo isso como ataque pessoal, pois estou convicta que o intuito dos meus detratores foi atingir o movimento indígena em Pernambuco, no Nordeste e no Brasil.

    Os ataques foram deflagrados no último dia 04 de novembro do corrente ano, quando na Veja online foi publicada uma matéria caluniosa, fazendo interpretações tendenciosas e distorcendo imagens, numa  tentativa clara de desqualificar todo o trabalho realizado pelo nosso coletivo de professoras e professores indígenas de Pernambuco. Na sequência, alguns jornalistas desinformados acabaram reproduzindo as inverdades ali contidas. Até mesmo o Ministro da Educação, numa demonstração clara de seu total desconhecimento sobre educação escolar indígena, teceu comentários totalmente descontextualizados, reproduzindo o preconceito do senso comum.  

    Aproveito a oportunidade para me dirigir a esses senhores e lhes informar que todas as atividades que desenvolvemos têm como objetivo despertar o senso crítico e valorizar a sabedoria das nossas crianças, que já entram nas nossas escolas com saberes prévios e nós professoras e professores ampliamos, corrigimos, sistematizamos oportunizando assim, a produção de novos saberes.

    A tal Pretinha Truká, a qual o autor do primeiro texto se refere, não é uma jornalista, tão pouco “blogueira”, mas uma ativista política, conhecida pelos lutadores e lutadoras de todo território nacional e respeitada pelo movimento indígena do nosso país. Esse respeito por mim conquistado é resultado do meu compromisso e engajamento nas lutas sociais. Sou educadora por natureza e militante da causa indígena, uma mulher simples e de origem humilde, por isso mesmo, profundamente comprometida com minhas raízes indígenas e consciente de meu papel e do meu lugar no mundo. Fui uma criança indígena que desde cedo aprendeu com os ensinamentos dos mais velhos como funciona a sociedade indígena e a sociedade dos brancos. E é assim que acontece com todas crianças das nossas comunidades.

    Por esse motivo, causa-nos estranheza as acusações de que elas são usadas como “estandartes e escudos humanos”. Tal absurdo só se justifica pela ignorância sobre a cultura dos nossos povos. Nossas filhas e nossos filhos pensam, constroem, produzem e são importantes em nossos processos de lutas. Desde cedo nossas crianças são preparadas para serem defensoras de seus direitos, contribuírem com as lutas de seus povos a se defenderem de seus agressores e das pessoas de caráter duvidoso.



    Pretinha Truká durante ocupação à sede da Seduc/PE. Crédito: Renato Santana/Cimi

    Procedimento asqueroso é apenas da parte daqueles que querem escravizar as mentes humanas e coagir a voz da liberdade. Molestamento ideológico quem pratica são os colunistas de má fé, quando sentam nas madrugadas para tramar contra a vida de pessoas de bem. Doutrinação foi o que os colonizadores fizeram com os nossos antepassados, quando não conseguindo exterminar todos através de seus ataques genocidas recorreram ao etnocídio como forma de dizimar nossas culturas.

    Recomendo aos senhores que cuidem das suas crianças, são milhares delas a passar fome pelas ruas das cidades, sendo aliciadas por traficantes, submetidas à violência sexual e assassinadas cotidianamente. Dos direitos das nossas crianças cuidamos nós, povos indígenas. Não se utilizem de nossas crianças para se promoverem, não se apropriem de imagens, vídeos e escritos de nossas crianças sem a devida autorização legal como o fizeram. Tudo isso é propriedade intelectual coletiva dos nossos povos. Não façam deboche de nosso trabalho sério. Nós não deixaremos ninguém usurpar o direito de nossas crianças opinarem e de se expressarem livremente.

    A Constituição Federal de 1988 nos permite a liberdade de expressão, o direito de divergência de opiniões, seja em qualquer idade. São direitos fundamentais e, por isso, não é crime, nem doutrinação, tão pouco molestamento.

    Temos muitos espaços de aprendizagens nas nossas comunidades e as nossas escolas são apenas alguns desses espaços. Nos nossos costumes e tradições as crianças são valorizadas e reconhecidas por suas sabedorias, assim como nossos anciãos, que são a nossa memória viva. Elas são acolhidas e cuidadas por todos na Aldeia e sempre são informadas das ameaças a seus direitos.

    Sabemos que estamos vivendo um tempo de exceção que reprime opiniões, o direito de questionar e de fazer debates, posicionar-se contrário à política de base golpista, seguindo a lógica do movimento “Escola Sem Partido”. Mas isso não nos intimida.


    Aproveitamos ainda esta oportunidade para deixar claro que não fazemos de nossas escolas comitês políticos, muitos menos espaços de proselitismo de qualquer ordem. Levamos a sério o compromisso que assumimos junto aos nossos povos de poder compartilhar conhecimentos numa perspectiva crítica descolonial. Por isso, mesmo estando com meus contratos rescindidos desde o dia 20 julho do corrente ano, sem nenhum vínculo com o poder público, participo ativamente dos eventos do meu povo, porque sou membro da comunidade, liderança da educação em meu povo, e por ser mãe de estudantes das nossas escolas com muito orgulho.

    O fato de ter me tornado candidata a vereadora em meu município foi uma decisão da comunidade. Foi o povo Truká que entendeu que seria importante ter uma mulher indígena na Câmara Municipal de Cabrobó. Nosso povo sabe que eu jamais usaria a minha posição para fazer intriguinhas políticas partidárias. Não perderia meu tempo que é tão precioso, tenho muitas responsabilidades como mãe, militante e liderança. Sou contra a PEC 241/55 não porque sou esquerdista muito menos direitista, é porque ela, assim como tantas outras medidas que esse governo vem realizando, ameaça os direitos dos povos indígenas no nosso país, principalmente os direitos fundamentais e sociais de nossas crianças, pois se hoje sofremos da precariedade do atendimento da saúde e educação, já imaginamos o que ocorrerá no transcurso dos 20 anos de recursos reduzidos.

    O governo ilegítimo propôs a PEC 241/55 para reduzir os gastos públicos, mas se esqueceu, e quero lembrá-lo, de que na proposta de emenda, não há redução dos gastos privados, o que, aliás, não são poucos a começar pelos altíssimos salários dos deputados, senadores, juízes que contribuíram com a usurpação do poder central por esse governo ilegítimo.  Esqueceu ainda, de diminuir o índice da violência, de miséria, do desemprego, a centralização de recursos nas mãos de poderosos políticos, empresários e ruralistas, como também de reduzir a corrupção que está impregnada no seu governo e afeta diretamente a população vulnerável do nosso país, alguém pode me dizer em que parte da PEC esses males vão ser sanados e/ou reduzidos?


    Senhores detratores, peço-lhes que antes de difamar qualquer pessoa procurem se informar sobre o que estão falando, não deturpem o trabalho sério de pessoas honestas para conseguir leitores para seus blogs.

    Por fim, encerro agradecendo a todas e todos que como eu demonstraram indignação e manifestaram repúdio às acusações que me foram injustamente imputadas. Sigamos junto e em lutas. Nossa resistência é a nossa Esperança. Não recuaremos nunca.

    Não à PEC 241/55! Nenhum direito a menos!

    Atenciosamente,

    Pretinha Truká.

    Ilha da Assunção, Território Sagrado do Povo Truká

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  • 21/11/2016

    MPF recomenda que Norte Energia pague em dez dias a verba de apoio aos ribeirinhos removidos por Belo Monte


    Ribeirinhos e indígenas durante audiência acompanhada pelo ex-presidente do Cimi, Dom Erwin Krautler. Crédito: Lilo Clareto/MPF-PA


    O Ministério Público Federal (MPF) deu prazo de dez dias para que a Norte Energia S.A regularize o pagamento da verba de apoio para os ribeirinhos removidos por Belo Monte. A verba é uma obrigação determinada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) desde 2015, quando uma investigação mostrou que os grupos beiradeiros do Xingu estavam sendo removidos compulsoriamente e privados de seus meios de produção e reprodução do modo de vida.

    A partir da constatação das irregularidades, o Ibama incluiu no licenciamento que fosse garantida a recomposição do modo de vida tradicional de todos os ribeirinhos e o pagamento imediato de verbas mensais de apoio durante todo o período em que as famílias tivessem que viver longe do rio, de onde tiram o sustento. “Esse recurso é devido a todos ribeirinhos que foram impactados pela remoção compulsória da usina de Belo Monte, independentemente do tratamento conferido ou da qualificação que a empresa definiu para retorno ao rio”, diz a recomendação assinada pela procuradora da República Thais Santi.

    O Ibama já se manifestou várias vezes sobre a questão da verba de apoio aos ribeirinhos. “Em junho de 2016, afirmou a necessidade de “disponibilização de verba de manutenção para aquelas [famílias] que, embora tenham sido atingidas ainda não foram objeto de tratamento finalizado”. Em agosto de 2016 reiterou a determinação de “imediato pagamento da verba de manutenção”. Em setembro de 2016 solicitou o encaminhamento do panorama do andamento do pagamento das “verbas (transição de manutenção) pagas e cronograma de pagamento”, enumera a recomendação do MPF.

    A própria Norte Energia S.A já fez compromisso público de que pagaria essa verba. Comunicou, em fevereiro de 2016, ao MPF, Ibama, Presidência da República e ribeirinhos que elaboraria um documento de declaração de intenção de retorno ao rio e iniciaria o pagamento. Mesmo assim, na audiência pública que discutiu a situação dos ribeirinhos expulsos por Belo Monte no último dia 11 de novembro, em Altamira, novamente os atingidos denunciaram a Norte Energia por não pagar a verba.


    A recomendação do MPF é para que o pagamento seja iniciado no prazo máximo de 10 dias, mediante assinatura apenas de um termo de declaração de intenção de retorno ao rio para recomposição da vida ribeirinha, independente de como a empresa classifique o atingido. A recomendação é o primeiro de muitos encaminhamentos feitos pelo MPF durante a audiência pública do dia 11 de novembro.

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