• 05/01/2017

    2017: perspectivas de mudanças de cenários no Médio Solimões

                                                    Crédito da foto: Ligia Kloster Apel/Cimi-Tefé


    Por Ligia Kloster Apel, Assessoria de Comunicação – Cimi/Tefé


    A região do médio rio Solimões e afluentes apresenta uma conjuntura de ameaças aos povos indígenas que ali vivem. O projeto “Garantindo a defesa de direitos e a cidadania dos povos indígenas do médio rio Solimões e afluentes", realizado pela Cáritas de Tefé e Cimi Tefé, e apoiado pela Agência Católica para o Desenvolvimento no Exterior (CAFOD-Brasil), na Inglaterra e País de Gales, e pela União Europeia, vem realizando uma série de atividades que denunciam a situação e que buscam o fortalecimento dos indígenas e suas organizações.

    De acordo com a análise sobre conjuntura atual de ameaças aos povos indígenas do Brasil e desta região, feita pelo coordenador do Projeto, Raimundo Freitas, o governo brasileiro estabeleceu uma política de desenvolvimento econômico que tem como base a exploração dos recursos naturais para que o Brasil se torne uma potência econômica.

    "Uma série de mudanças na legislação, com elaboração de emendas e projetos de lei vêm acontecendo e, nelas, as populações indígenas não são reconhecidas e não têm seus direitos respeitados", diz Freitas.

    Vistas como potencial para exploração de minérios, extração de madeira e outros recursos naturais, as terras indígenas sofrem constantemente a ação de invasores. Um dos exemplos é o garimpo ilegal que avança na região de Jutaí. Neste município, a terra indígena do povo Katukina está diretamente afetada. Tal situação deixa a região vulnerável ao tráfico de drogas, contrabando, violência, exploração sexual, entre outras ameaças.

    Segundo os dados levantados pelo Cimi, em 2014 houve 681 conflitos envolvendo populações indígenas, principalmente o conflito pela terra, gerando 75 assassinatos de lideranças indígenas, com 181 pessoas feridas. Em 2015, houve 725 conflitos em todo país, com 54 assassinatos, 187 feridos e 12 ameaças de morte. De acordo com o levantamento de conflitos do Cimi Tefé, no Amazonas, houve duas mortes e centenas de indígenas foram ameaçadas.

    "Sabemos que existem mais casos que não são catalogados", diz Raimundo Freitas, denunciando as causas dos conflitos: "Em nosso estado, as causas de tanta violência são a exploração da madeira, da caça, a pecuária e a mineração, tanto em áreas demarcadas quanto fora delas".

    Esses dados e os casos de violações dos direitos indígenas nos municípios de Tefé, Japurá, Maraã, Itamarati e Carauari foram identificados em 2016, durante as consultas realizadas pela equipe do Cimi Tefé com a participação da assessora jurídica Chantelle Teixeira nas aldeias dos povos Kambeba, Maku Nadeb, Kanamari, Miranha, Kokama, Ticuna, Maku Nadeb, Mayoruna e Madja Kulina.

    Tal diagnóstico dá base para as ações do projeto, e permite que lideranças indígenas e suas organizações ampliem conhecimentos e possam, elas mesmas, debater e pleitear perante os órgãos competentes reparações das violações sofridas e medidas preventivas que protejam as comunidades e seus membros das ameaças que lhes incidem.


    Se 2016 foi um ano de conhecimento dos cenários, 2017 será de perspectivas de mudança deles. A Cáritas e o Cimi Tefé, unidos aos povos indígenas e parceiros, desejam a todos muita sabedoria, força e resistência para a transformação desta realidade.

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  • 28/12/2016

    Crises por dentro das crises no Brasil: reflexos para os povos indígenas



    Por Roberto Liebgott, filósofo, bacharel em Direto e Coordenador do Cimi Regional Sul

    Inicio esta avaliação referente ao ano de 2016 lembrando que o contexto sócio-político e econômico do Brasil é guiado pelo capitalismo neoliberal. Mesmo as crises e suas consequências estão, em certa medida, previstas dentro deste modelo. No Brasil, as intermináveis crises acabam sendo resolvidas dentro da racionalidade neoliberal -com impacto para o conjunto das sociedades do país. Por isso, às vezes, o que parece ser o fim do caminho é na verdade o término de um ciclo.

    Maurizio Lazzarato, em suas obras, enfatiza que os neoliberais têm, claramente, uma política social. A sociedade, com o neoliberalismo, é alvo de uma intervenção permanente. O que mudou, ao longo dos anos, foram o objeto e a finalidade dessa intervenção. Como a mola propulsora, no atual modelo, é a concorrência – estimulada como forma de relação entre setores, entre empresas, entre equipes, entre trabalhadores – não há como escapar das desigualdades. Em outras palavras, a concorrência se dá, invariavelmente, entre desiguais. Há aqueles setores, segmentos, grupos e pessoas que têm condições de se manter nesta constante concorrência e outras que se tornam residuais.

    Na racionalidade neoliberal, o Estado deve gerir-se como se fosse uma empresa, oferecendo insumos, investindo e potencializando setores produtivos, mas não pode ignorar os residuais da concorrência. O Estado deve estabelecer um estado de “igual desigualdade” e de “pleno emprego precário”. Cada indivíduo, e cada trabalhador, deve também tomar a si mesmo como uma empresa. Cada pessoa passa a valer, em função disso, pelos resultados que consegue obter, pela eficiência de seus investimentos, pelas vitórias num mundo concorrencial. Pessoas e grupos que não conseguem manter competitividade se tornam alvo de políticas públicas que, para Lazzarato, são ações de “gestão das desigualdades”.

    Esse modo de governar, gerindo as desigualdades para evitar que um grande número de pessoas fiquem em situação de total exclusão, de miséria, de falta de perspectiva, mostram sinais de esgotamento, especialmente no contexto de crise vivida no mundo capitalista, e acentuada no Brasil em 2016.

    Trago inicialmente essas discussões para poder pensar os acontecimentos políticos, jurídicos e econômicos que estão implicados em todas as dimensões das nossas vidas social, familiar, do mundo do trabalho, estudos e lutas. Penso que as crises econômica-políticas pelas quais estamos passando indicam um rearranjo no modo de exploração, que não significa ruptura com o modelo neoliberal, e sim seu refinamento. Parece que um ciclo se esgotou e, agora, novos ajustes são necessários para proteger setores lucrativos e impulsionar o crescimento (que, em termos capitalistas, se traduz em lucratividade para determinados segmentos).

    Para tanto, os mais pobres e desprotegidos, para quem se destinavam políticas sociais (na forma de gestão das desigualdades), serão os fornecedores de subsídios financeiros necessários aos ajustes. O Estado, através de seus condutores, agirá no sentido de flexibilizar os direitos que até agora pareciam consolidados.

    As crises, por dentro das crises, e o modo como elas são noticiadas, têm também o efeito de nos convencer de que os ajustes dependem de nossos sacrifícios, de que somos nós que oneram o sistema, porque vivemos demais, porque adoecemos demais, porque não investimos suficientemente em nossa educação, a partir dos sistemas privados.




    As crises

    O que mais se produziu no Brasil, ao longo do ano de 2016, foram crises, especialmente nos ambientes da política, Justiça e economia. As pessoas, em todas as camadas sociais, acabaram afetadas em interesses legítimos e direitos. Os mais pobres vivenciaram a precarização de suas condições de subsistência; a classe intermediária, amedrontada, empreendeu esforços no sentido de constituir – incentivada pela mídia hegemônica – um cenário de espetacularização das crises tendo em vista a manutenção de seu poder aquisitivo, e uma vida agradável; e os mais ricos articularam, por dentro das crises, as garantias dos privilégios historicamente constituídos, inclusive para evitar algum tipo de revés nos seus fundos de investimentos.

    As crises impactaram duramente o governabilidade do país. A presidente da República foi retirada do poder e seu partido, o PT, foi desmoralizado: o principal líder petista, o ex-presidente Lula, acabou criminalizado. Além disso, a espetacularização da crise tornou a política e os políticos sinônimos de malversação da ‘coisa’ pública. Consolidou-se a visão de que ninguém presta, “ninguém escapa”, todos são corruptos. E isso contagiou, tornou-se uma epidemia no cotidiano das pessoas. Parece não haver, no horizonte da política, nenhuma saída. Investiu-se, com auxílio midiático, em única via possível, a da Justiça, e então se criou, como efeito de todo o espetáculo, um herói previsível e seus soldados do bem: o juiz Sérgio Moro e os procuradores federais.

    Com o golpe político-jurídico, o país passou a ser governado por políticos vinculados a partidos como o PMDB, o PP, o PSDB e o PSD, que na prática sempre agiram como parasitas do Estado, estruturados para afiançar, no cotidiano das políticas, as negociatas por dentro do poder. Alimentam-se disso diuturnamente, inclusive em votações madrugada afora, e tornaram-se essenciais, porque de um lado fazem a condução do sistema – o capitalismo neoliberal – e de outro se autobeneficiam usufruindo de vantagens partidárias e financeiras.

    O PT, alijado do poder e atacado diariamente, paga o preço por ter se aliado ao que há de mais atrasado na política brasileira. Confiou em quem não deveria confiar. Fez alianças com quem não deveria fazer sob a justificativa da governabilidade. Apostou alto no agronegócio e na exportação de commodities, ao invés de investir fortemente na agricultura familiar – aquela que põe o alimento na mesa das famílias.

    Neste jogo de poder, o Judiciário vem cumprindo papel central, pois avalizou as ações – legítimas ou ilegítimas – dando uma aparente coesão às deformações e às anomalias jurídicas, além de sustentar ações e propostas que visam a manutenção das engrenagens do sistema e dos esquemas dentro dos núcleos de poder no Estado.

    A sociedade, distinta em suas estruturas e composições (pois há ricos abastados, médios, há pobres, excluídos e aqueles que são os diferentes e divergentes culturalmente) foi, apesar das diferenças, invariavelmente convencida a assumir e a seguir as regras apresentadas como verdades absolutas por aqueles que conduzem o poder. Para a obtenção da adesão da sociedade, grandes conglomerados de mídia (tvs, jornais, rádios, sites) foram a campo. Têm veiculado (projetado), de modo quase permanente, para dentro das casas, dos trabalhos, das escolas, universidades e das mentes e vidas das pessoas notícias sob uma perspectiva única, a que consolidou o golpe que presenciamos.

    Neste contexto, aqueles segmentos, grupos sociais, comunidades, povos, pessoas ou personalidades que pensam de modo diverso do hegemônico e reagem em oposição ao sistema, contra as estruturas de dominação, são colocados sob suspeita pelo Estado. A partir dos entes públicos e da mídia foram, assim, desencadeados processos de desqualificação, perseguição, repressão e criminalização destes sujeitos. Suas lutas (através das ocupações de universidades, escolas, prédios públicos abandonados, ruas, praças, terras) acabaram sendo desqualificadas, criminalizadas, ignoradas e silenciadas – como se não existissem. Estes atores sociais, quando em luta e protestos, foram e são coibidos pelas forças opressoras do Estado, e as polícias – militar e federal – cumprem a função de modo implacável, autoritário e violento. Por outro lado, quando ações e atos são promovidos por segmentos favorecidos por este sistema, então recebem ampla repercussão, são legitimados pelos meios midiáticos, tornam-se feitos espetaculares.




    Política indigenista

    Este foi, em síntese, o contexto político, econômico e jurídico vivenciado no decorrer do ano de 2016. Retomo a análise a partir da política indigenista e das lutas dos povos e comunidades visando a defesa e garantia dos seus direitos.

    Ressalto, primeiro, que em 2016 não houve avanço no tocante à política indigenista. Período de estagnação e, ainda mais grave, de profundas incertezas quanto ao futuro. As demarcações de terras, caracterizadas como direitos fundamentais e sobre os quais estão alicerçados os demais direitos, ainda em 2013 foram paralisadas, em função da pressão dos ruralistas.

    A Fundação Nacional do Índio (Funai), órgão responsável pela condução da política, vem sendo, ao longo da última década, sucateada e desqualificada. O governo federal, de modo proposital, vem impondo restrições orçamentárias chegando-se ao ponto de não haver dinheiro sequer para o combustível das locomoções das equipes de coordenações locais e regionais. Nos últimos cinco anos, os cortes orçamentários chegam a mais de 60% do montante do que era destinado entre os anos de 2006 e 2009. Em 2016 foram liberados menos de 110 milhões de reais para todas as atividades do órgão, incluindo demarcações de terras, indenizações de benfeitorias, fiscalização das terras e proteção aos povos em situação de isolamento e risco.

    No que tange à saúde mantiveram-se as ações, através de convênios entre a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e organizações prestadoras de serviços. Há que se considerar que ocorreram, ao longo do ano, tentativas de mudanças nas regras voltadas para o controle dos recursos financeiros, pois se pretendia romper com a autonomia e administração dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas(DSEI´s) na gestão dos recursos, transferindo tudo ao ministro da Saúde e retirando, com isso, a possibilidade de previsão e utilização do dinheiro mediante um plano distrital anual.

    Há, para além disso, graves omissões no tocante às ações e serviços voltados à prevenção em saúde, formação de profissionais e agentes, controle social e saneamento básico. O resultado dessa política é o aumento de doenças e endemias que poderiam ser erradicadas, mas, na prática, afetam importantes parcelas populacionais e geram sofrimento e morte. Vale ressaltar que os recursos previstos para o ano de 2016 foram da ordem R$ 1,4 bilhão, sendo que, deste montante, cerca de 68% foram executados. Na rubrica “saneamento básico”, um dos fatores principais para a garantia da saúde, foram executados menos de 50% dos recursos previstos (conforme informações prestadas pela Sesai durante reunião da Comissão Intersetorial de Saúde Indígena, em dezembro de 2016).

    A política de educação escolar indígena manteve a frágil estrutura. Embora tenham sido criados os Territórios Etnoeducacionais, base e referência para a política, têm como executores as secretarias estaduais ou municipais de educação, que desenvolvem, cada qual a seu modo, os serviços que melhor convém aos interesses localizados. Há uma precarização nas estruturas das escolas, não se investe recursos para a construção e manutenção das escolas. Mas, pior que isso, pouco se investe na formação e preparação dos professores indígenas, que seriam, a rigor, os principais responsáveis, junto com as comunidades, pelo planejamento, gestão e execução das ações na educação escolar.

    No que concerne à política fundiária a tendência, pelo que se consegue observar, é de que haverá mudanças ainda mais severas. A lógica, segundo se anuncia, é que sejam realizadas mudanças drásticas na Constituição Federal, especialmente no que tange a demarcações de terras. Para tanto, há proposições que tramitam no âmbito do Poder Legislativo – sistematizadas todas na PEC 2015/2000 e CPI da Funai e Incra, instrumentos nos quais são forjados argumentos de que as demarcações são fraudulentas e os que as apoiam e lutam por elas são criminosos.

    No âmbito de ação do Poder Executivo, o que se planeja é mudar a sistemática dos procedimentos demarcatórios através de medidas administrativas, tomadas com base em decretos e em portarias. No âmbito do Judiciário, alimenta-se a tese do marco temporal da Constituição Federal de 1988, como sendo este o período limite e definidor para que seja estabelecido o critério da tradicionalidade da ocupação indígena.

    Enquanto estas medidas não são implementadas de modo definitivo, a Funai, através de sua coordenação de assuntos fundiários, tenta consolidar uma tendência interna de não mais demarcar terras conforme as normas constitucionais, utilizando-se, para tanto, de regras propostas no Estatuto do Índio – Lei 6001/1973 – o qual também prevê, além da demarcação, a criação de reservas indígenas. As reservas são, na prática, resquícios das políticas autoritárias e integracionistas que tinham o objetivo de confinar os povos em pequenas porções de terras, liberando as áreas tradicionais para a exploração e expansão econômica.

    Os que pretendem impor a criação de reservas como opção à demarcação justificam tal escolha afirmando que se evitará assim desgastes políticos e a judicialização dos procedimentos demarcatórios. Se houver efetivamente a imposição dessa nova sistemática, aniquilam-se os direitos constitucionais, e sequer será necessário alterar a Constituição Federal. Na prática, essa sistemática cede à lógica de que as terras devem ser concedidas (por um Estado benfeitor) e não reconhecidas (como direito que, efetivamente, os povos indígenas possuem). Haverá, pelo que se desenha, um processo negocial tendo em vista o convencimento dos indígenas a aceitarem essa sistemática para que se assegure ao menos as reservas para sobrevivência, caso contrário permanecerão sem acesso às terras, em acampamentos, em áreas ínfimas. A chantagem, em essência, é o que sustenta o argumento para a submissão de povos milenares. Além disso, reforça-se essa chantagem com a ameaça de que os povos que estiverem fora das terras demarcadas ou das áreas reservadas não mais terão acesso à assistência especial em saúde e educação, e ficarão submetidos aos entes municipais e estaduais.

    Vivemos, inegavelmente, um período de restrição e negação de direitos. A Constituição Federal vem sendo condicionada – através de interpretações ou alterações, como foi o caso da PEC 55/2016 – aos interesses de setores da economia e da política. A Lei Maior, no tocante aos povos indígenas, é negligenciada de modo sistemático, em especial no tocante ao alcance do direito à terra, condicionada à lógica da propriedade privada. Em interpretações duvidosas da lei, o direito originário sobre as terras que os povos tradicionalmente ocupam vai sendo contestado, bem como os efeitos de dispositivos constitucionais que definem esses direitos como inalienáveis, indisponíveis e o direito sobre as terras imprescritível.

    Ao analisar a atual conjuntura, há que se fazer referência a políticas constituídas no início do século XX, nas quais se promoveu a identificação de “grupos indígenas” com o objetivo de removê-los para algumas reservas, nas quais se aglomerou populações, inclusive, de povos diferentes. Faço essa alusão pois, ao que parece, esta política está sendo retomada. Naquele período, a remoção e o confinamento tinham um duplo objetivo: integrar os índios à comunhão nacional e entregar suas terras aos projetos de expansão econômica – para a construção de rodovias, ferrovias, hidrelétricas, para a instalação de mineradoras, madeireiras e a promoção da agricultura e pecuária. Hoje, ao utilizar o argumento de criação de reservas ao invés da demarcação pretende-se, mais uma vez, remover os povos indígenas de suas terras, que são pleiteadas para a implementação de projetos desenvolvimentistas e da expansão do agronegócio.

    No passado, as remoções eram feitas com uso de violência e geraram um vergonhoso quadro de atrocidades – algumas delas registradas no Relatório Figueiredo. A política assimilacionista, claramente estabelecida no Estatuto do Índio (Lei 6001/1973), teria sido superada com a promulgação da Constituição Federal de 1988. Os direitos assegurados no Capítulo VIII e nos artigos 231 e 232 são conquistas decorrentes de mobilizações que antecederam a este período, especialmente através da presença expressiva dos índios durante os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte. Mas agora, neste contexto, a retirada da população indígena de suas terras ou a negligência em relação à demarcação são evidências de que os direitos indígenas entraram na mira de interesses econômicos e se pretende incorporá-las como recursos.

    A brutalidade decorrente de tal processo já se faz notar.vNo estado do Maranhão, madeireiros promovem verdadeiras caçadas aos indígenas que se opõem ao desmatamento e exploração madeireira. Foram assassinados oito pessoas do povo Guajajara. Algumas das vítimas tiveram membros arrancados e expostos pelos assassinos.

    Na Bahia, lideranças do povo Tupinambá são criminalizadas, perseguidas, agredidas, ameaçadas e assassinadas. Em Minas Gerais ocorre fato semelhante contra o povo Xakriabá. No Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná os ataques aos direitos indígenas estão somados à perseguição, criminalização e o aprisionamento de lideranças que lutam pela terra.

    Em Mato Grosso do Sul, os ataques aos Guarani-Kaiowá e Terena têm sido recorrentes, mas, especialmente em 2016, registrou-se a interdição, por parte de juízes federais, aos direitos territoriais em áreas já demarcadas ou naquelas cujos processos deveriam estar em andamento, mas acabaram obstruídos. Concomitantemente, determinam o despejo das comunidades com uso de força policial.

    Nos estados do Maranhão, Rondônia, Mato Grosso, Pará e Acre o desmatamento e a exploração dos rios e lagos são devastadores. Nunca se desmatou como em 2016, com centenas de milhares de hectares de matas dentro de terras indígenas que tombaram ou foram incendiadas criminosamente.




    O marco temporal da Constituição

    O marco temporal da Constituição de 1988 visa impor a necessidade da presença dos povos e comunidades na posse da terra à data de 05 de outubro de 1988 ou, caso nas terras não estivessem, impor a regra de que deveriam estar postulando-as judicialmente ou disputando-as fisicamente – o chamado renitente esbulho. Os povos que não atendem a estas condições, perdem o direito à demarcação da área reivindicada.

    Sobre isso, cabe pelo menos duas indagações. A primeira: como alguns povos indígenas poderiam estar em suas terras em 1988 se delas foram expulsos com o consentimento, participação ou omissão do Estado? A segunda: como os indígenas poderiam estar em litígio por suas terras em 1988 se até então eram ainda tutelados, não considerados sujeitos de direito? Nesse ponto, seus tutores que tinham o dever de defendê-los não fizeram e, se o fizeram, foi de modo insuficiente. O renitente esbulho, ao ser descolado da história de resistência dos povos e comunidades tradicionais, constitui-se numa grave contradição, pois impõe a eles uma responsabilidade que não lhes competia antes da Constituição de 1988, qual seja, a de ingressarem em juízo. Alguns povos foram expulsos há 100 anos; outros nas últimas décadas antes de 1988, mas todos foram esbulhados no decorrer do século passado. Além disso, tais povos nunca perderam a relação com as terras tradicionais e, se não retomaram antes, foi porque estavam impossibilitados.

    Sobre o marco temporal é possível elencar três elementos jurídicos que são os que causam as principais controvérsias nos julgamentos de tribunais referentes às demarcações de terras: há, nos julgados dos tribunais, insuficiente entendimento conceitual e pouca convergência sobre a sua aplicação nos processos que envolvem a demarcação de terras tradicionalmente ocupadas por indígenas; há divergências entre magistrados no tocante aos conceitos de direito indígena à terra – posse, ancestralidade, usufruto e bens da União – e posse e propriedade oriundos do direito civil; há desconhecimento quanto à aplicabilidade do direito em relação às diferenças étnicas, culturais e ao fato dos povos terem sido considerados sujeitos de direitos individuais e coletivos – plenamente capazes, portanto (Art. 232 CF/1988).




    PEC/215 e outros projetos de lei contra indígenas e quilombolas são ilegítimos

    A Proposta de Emenda à Constituição Federal (PEC) 215 pretende introduzir a possibilidade de revisão de todas demarcações de terras por decisão do Congresso Nacional, a quem também caberá a autorização das demarcações futuras por projetos de lei específicos sob análise de um caso concreto. Há, no entanto, que se dizer que o Poder Legislativo do país tornou-se um mercado livre a quem os governantes devem submeter-se. Cada projeto de lei é negociado de acordo com seu valor mercadológico. Nada passa sem que se obtenham dividendos financeiros. Não se exerce um mandato motivado ideias e plataformas políticas. Ao contrário, o eleito a qualquer das Câmaras Legislativas – estadual, municipal, federal – e ao Senado age de acordo com os dividendos a serem obtidos. As minorias e salvo raríssimos e abnegados parlamentares, que ainda defendem os povos indígenas e que exercem mandato de forma digna, acabam desprezadas com propostas rejeitadas e perseguições abjetas.

    A grande maioria dos parlamentares mais ativos no Congresso Nacional legisla em bloco, visando o benefício dos seus próprios interesses. É sabido que esses mesmos congressistas, em sua maioria, são detentores de latifúndios em nosso país. Além de serem suspeitos, porque usam o poder de legislar conforme os próprios interesses, o fazem atropelando as leis ambientais. A reforma do Código Florestal, por exmplo, na qual ignoram a principal causa: não pagar as multas por agressão ao meio ambiente, sob a falácia de que estariam com isso defendendo os pequenos agricultores, e dessa forma deturparam ou suprimiram em grande parte a legislação protetora do meio ambiente.

    Práticas que se assentam no uso indiscriminado da terra, envenenando-a com agrotóxicos poluentes e contaminando o ar, os rios e mais o cultivo dos transgênicos (estes ainda estão pendentes de pesquisas sobre seus resultados). Se expulsam delas quem nelas vivem de forma digna, saudável, ancestral e sustentável. Também não são poucos os abusos que contrariam as leis trabalhistas, sendo que são conhecidos os muitos casos de trabalho em condição análoga à escravidão.

    Diante deste quadro legislativo, os projetos, leis e emendas à Constituição Federal que são elaborados pelo parlamento com as quais pretendem aniquilar com a possibilidade de que demarcações de terras sejam realizadas, em regra, devem ser caracterizados como ilegais. Só para se ter uma ideia da articulação e da força que se volta contra os povos indígenas, tramitam hoje no Congresso Nacional mais de 100 proposições que alteram artigos concernentes aos direitos indígenas e quilombolas.




    Comissão Parlamentar de Inquérito da Funai e Incra

    As ações desencadeadas no âmbito da CPI da Funai e do Incra contra os procedimentos de demarcação de terras – indígenas e quilombolas – pretendem, essencialmente, fornecer elementos para o questionamento judicial dos atos passados e os futuros no que tange o direito à terra. Ambicionam caracterizar todos os atos administrativos de demarcação como sendo fraudulentos. O argumento é de que há interesses escusos por trás das ações que visam assegurar terras para indígenas e quilombolas. Com essa estratégia, atacam os entes do Estado e criminalizam as entidades que prestam apoio e assessoria a esses segmentos. O Cimi, por exemplo, é alvo de ataques da bancada ruralista que comanda a CPI. Esta almeja submeter a entidade a processos investigatórios pela Polícia Federal, pedido que aliás já foi aprovado em requerimento na CPI.




    Mudança na sistemática de demarcação de terras

    Se anuncia, no âmbito do governo federal, que serão alteradas, por intermédio de decreto, as regras para os procedimentos de demarcação de terras indígenas. As informações que estão sendo veiculadas pela imprensa dão conta de que o presidente da República quer rever as garantias e salvaguardas constitucionais relativas aos direitos à terra, ao seu usufruto exclusivo pelas comunidades. Além disso, se opõe à consulta prévia, livre e informada acerca de temas e questões que afetam direta ou indiretamente os povos. Pelo que se tem notícia, a intenção é a de tornar letras mortas os artigos 231 e 232 da Constituição Federal, onde expressamente se garante como direito fundamental a demarcação de todas as terras. A medida visa também transferir o usufruto de terras demarcadas, direito exclusivo dos povos e comunidades, para a iniciativa privada.

    As medidas anunciadas, se confirmadas serão ilegais e ilegítimas. Ilegais porque afrontam as convenções e normas internacionais e, mais grave, atentam contra a Constituição Federal uma vez que ela, a Carta Maior, somente pode ser modificada através de emenda constitucional. As mudanças que almejam no âmbito administrativo são também ilegítimas porque serão feitas por um governo que vem sendo considerado, por uma imensa parcela da população e por governantes de outros países, como ilegítimo do ponto de vista ético, pois é oriundo de um golpe político e jurídico, composto, em sua maioria, por pessoas sobre as quais pesam fortes e graves denúncias de corrupção.



    Concluindo

    Há, como se percebe, uma estreita sintonia entre os argumentos utilizados e propagados pelos ruralistas na Comissão Especial da PEC 215 e na CPI da Funai e Incra, com as proposições do governo quando pretende impor nova sistemática para as demarcações, inserindo nelas todas as teses anti-indígenas existentes no mercado do agronegócio e das mineradoras; da Funai, através de sua coordenadoria de assuntos fundiários, que ambiciona, em substituição ao direito à terra, criar pequenas reservas; de ministros do STF que em suas decisões contra as demarcações de terras utilizam como regra as interpretações restritivas de direito a partir do marco temporal e do renitente esbulho.

    Pretende-se, a partir daquilo que já se fez ao longo do ano de 2016, com o que anunciam, numa conjunção de esforços políticos, jurídicos e administrativos, impor a revisão completa do direito dos povos indígenas à terra. Em consonância com as novas necessidades do capitalismo neoliberal, o interesse é liberar e destinar os espaços territoriais indígenas à iniciativa privada.

    Os direitos assegurados na Constituição ainda tinham alguma sustentação política, dentro da lógica de gestão das desigualdades, ou seja, de proteção daqueles sujeitos e coletividades sem os recursos necessários para concorrer. Assim, se resguardavam alguns recursos para manter as populações indígenas, e outros segmentos sociais, em condições mínimas de sobrevivência. Esgotadas as possibilidades de lucratividade, se coloca a urgência de manter o ritmo desenvolvimentista abastecido por recursos que antes eram previstos para políticas sociais.


    Dentro desta nova racionalidade, o governo congela recursos, obstrui as vias legais para a demarcação das terras, criminaliza as lutas. Além disso, busca adesão da população a estas medidas e o aval de cada um e cada uma nesta empreitada contra as garantias constitucionais e a construção de um consenso em torno de medidas antissociais. Não obtendo, o caminho mais ágil será a repressão e a criminalização.

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  • 20/12/2016

    Povos Tupinambá e Pataxó ocupam estruturas da Sesai por saúde de qualidade e contra mudanças nas demarcações



    Lideranças dos povos Pataxó no extremo sul e os Tupinambá no sul da Bahia se manifestam nesta terça-feira, 20, contra a situação de descaso em relação à saúde indígena e medidas que visam desconstruir os direitos indígenas, casos como os da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215 e um decreto do presidente Michel Temer, elaborado na surdina, para mudar o procedimento demarcatório.

    Desde o último dia 13, representantes de várias comunidades Tupinambá de Olivença ocuparam o Pólo Base da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), em Ilhéus, solicitando providências com relação à saúde indígena. O descaso da coordenação do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) na Bahia foi total, mesmo como denúncias junto ao Ministério Público Federal (MPF).

    Os Tupinambá e Pataxó reivindicam a imediata contratação de uma empresa idônea para prestar assistência na questão do transporte, já que a atual empresa simplesmente suspendeu o serviço e não apresentou nenhuma perspectiva de continuidade – deixando toda comunidade ainda mais desguarnecida no setor de transporte dos enfermos.

    Exigem ainda a imediata contratação de médicos que possam atender a demanda de todo o território Tupinambá. Nesse sentido, se faz necessária a conclusão das obras de saneamento que estão inacabadas dentro das comunidades. Como até esta segunda-feira, 19, a coordenadora da Sesai na Bahia, Mônica Marapara, não se fez presente tampouco atendeu as reivindicações dos indígenas, as lideranças definiram por uma ida a Salvador.

    Ocupação em Porto Seguro

    Os Pataxó ocuparam o Pólo Base de Porto Seguro, no extremo sul da Bahia, com as mesmas reivindicações. Cerca de 500 indígenas também bloquearam a BR-101, na entrada do Monte Pascoal, durante dois dias – 13 e 14 últimos. No caso destes trancamentos, o encerramento de contratos de transporte de forma abrupta e sem comunicado prévio, prejudicando o atendimento à saúde do povo, foi a principal pauta. Os Pataxó afirmam que o problema é que os contratos não foram substituídos por outros, gerando uma vacância de prestação do serviço público.

    Segundo as lideranças, “o encerramento do contrato sem a perspectiva de uma continuidade já tem nos prejudicado. Desde o dia 12 que temos parentes com doenças crônicas e outros em processo de tratamento e sem o transporte eles não podem chegar nas unidades de saúde. São mais de 400 indígenas que estão sendo diretamente afetados por esta situação, e nós não podemos aceitar”.

    Tantos os Tupinambá de Olivença que ocupam o Pólo Base de Ilhéus, como os Pataxó que ocupam o Pólo Base de Porto Seguro, tal como aqueles que interditam a BR-101, em Itamarajú, se manifestam contra a PEC 215 e contra a possível publicação do decreto presidencial que tenta modificar as regras no processo de demarcação das terras indígenas.

    Leia na íntegra o documento dos Tupinambá:

    ALDEIA TUPINAMBÁ DE OLIVENÇA

    Ilhéus, 19 de dezembro de 2016

    Para:

    • MPF – Ministério Público Federal de Ilhéus;

    • DSEI  – Distrito Sanitário Especial de Saúde Indígena;

    • SESAI – Secretária Especial de Saúde Indígena;

    • MS – Ministério da Saúde.

    Estamos por meio desta informando a todos que a Comunidade Tupinambá de Olivença, representada com suas comunidades, caciques, anciões e lideranças, ocupou o Polo Base de Ilhéus durante uma semana, esperando a chegada da Coordenadora de Saúde Indígena da Bahia a Sra: Mônica Marapara, a fim de resolver em conjunto, várias situações e problemas graves nas áreas de saúde do povo Tupinambá de Olivença: Saneamento, atenção básica, prestação de serviço da empresa de transporte que atende a comunidade com  veículos locados, para fazer com que aconteça o trabalho das equipes multidisciplinar de saúde, serviço de referência e contra referência do polo base de ilhéus.

    Diante do descaso da coordenadora da SESAI a Sra: Mônica Marapara, que não veio nos atender durante a ocupação do Polo base de Ilhéus. A comunidade Tupinambá formou uma Comissão de caciques, lideranças, anciões e membros do Conselho Local e Distrital de saúde a fim de fazer o controle social e encaminhar vários documentos para o MPF de ilhéus, informando a real situação que se encontra o Polo Base de ilhéus. Segue também a real necessidade que o polo base de ilhéus precisa para funcionar regularmente.

    • TRANSPORTE: 20 veículos para  atender a demanda das equipes médicas e serviço de referência. Baixa nos veículos oficiais que se encontram no Polo Base de Ilhéus e sem utilidades e que sejam substituídos por outros que funcionem (veículos com tração).

    • Contrato e reposição de funcionários médicos e enfermeiros pela SESAI;

    • Conclusão e continuação das obras de saneamento para a instalação do sistema de abastecimento de água nas comunidades: Acuípe do Meio I, Campo São Pedro, Olhos D’água e Itapoã, e a continuação do serviço de georeferênciamento nas comunidades que se encontra dentro do território Tupinambá de Olivença pela SESAI, que consta no plano distrital de saúde indígena da Bahia;

    • Construção, reforma e reestruturação dos postos de saúde, ou pontos de apoio que se encontra dentro das comunidades do povo Tupinambá de Olivença;

    • Descentralização de recursos por parte do Ministério da Saúde/SESAI, para atender as demandas do Polo Base de Ilhéus;

    • Quitação por parte da empresa aos funcionários da IT ALIMENTOS (décimo, salário, rescisão contratual), empresa responsável que prestava serviço atual.

    Informamos que todas as demandas do Polo Base de ilhéus já se encontra no Plano Distrital de Saúde Indígena da Bahia – PDSI.

          

    Assinam caciques e lideranças Tupinambá.

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  • 20/12/2016

    Encontro de Pajés: “Nossa resistência e nossa história são mantidas pela espiritualidade”


    Crédito da foto: Haroldo Heleno/Cimi Regional Leste


    Era noite de lua cheia quando os maracás começaram a tocar na Terra Indígena Caramuru Catarina Paraguaçu, no sul da Bahia, no último dia 12 de dezembro. A cabana do cacique Nailton Pataxó Hã-hã-hãe estava tomada por 30 representantes Pataxó e Tupinambá de Olivença, além indígenas do próprio povo do cacique. Por lá chegaram ainda os Xakriabá do oeste da Bahia (Coco) e do norte de Minas (São João das Missões). Com eles apareceram ainda os Mongóio-Kamakã de Vitória da Conquista. Após as boas vindas do anfitrião, por volta das 19h30, teve início um grande ritual que perdurou por toda a noite parando apenas às 24 horas.

    Foi assim a abertura do Encontro de Pajés que teve como tema: “Nossa Resistência e nossa História são mantidas pela nossa espiritualidade”. A atividade correu até o dia 14, mantendo sempre a tônica das celebrações e da valorização da espiritualidade indígena. Previsto para 70 indígenas e indigenistas, o encontro reuniu 150. Com destaque para a espiritualidade, seus desafios, seus avanços e o que esperavam a partir deste encontro o segundo dia do encontro transcorreu em um ambiente de profunda reflexão e interação com os Encantados.

    Ficou claro no depoimento de todas as comunidades a necessidade de se retomar com mais força a espiritualidade tradicional e a valorização das suas culturas, em especial diante do avanço de outras denominações religiosas. Muitas das vezes elas chegam desconhecendo e desconsiderando que as comunidades já têm e praticam suas ritualidades. Em especial os mais velhos foram enfáticos ao afirmar que é preciso barrar tal avanço que agride e desvaloriza costumes e tradições. Resistir a tais invasões deve ser feito com o fortalecimento dos rituais, com a articulação e valorização dentro das comunidades e no relacionamento com outras.

    Foram citados vários fatos atuais onde a presença e a força dos “encantados” atuaram em favor da causa indígena, destacando a ocupação ao Congresso Nacional no dia 16 de abril de 2013, quando se percebe que nenhuma força humana conseguiria furar o forte bloqueio que impedia que os indígenas chegassem ao Plenário Ulysses Guimarães, da Câmara Federal. Os parlamentares se organizavam para criação de uma comissão que iria votar a PEC 215. Durante todo um dia de intensos rituais, no final da tarde, guiados por forças superiores, os indígenas ocupam e conseguem suspender a sessão do Câmara. Para Saulo Feitosa, membro do Cimi Nordeste, só existia uma explicação para o acontecimento: “Esta ação foi a força dos encantados, dos Seres de Luzes dos Povos Indígenas”.

    Outro fato bastante citado foi o ocorrido no final e 2014, quando o perigo volta a rondar os direitos dos povos indígenas. No fechamento dos trabalhos parlamentares, a bancada ruralista e seus aliados tentam votar a PEC 215. Para um dos aliados dos povos que ali se manifestavam, Egon Heck, missionário do Cimi, ocorreu:  “Algo jamais visto: quanto mais as forças policiais se multiplicavam em número, os rituais cresciam em força, em ânimo, entusiasmo e em respostas que para muitos parecem casualidades, mas que para os povos são providências dos encantados. Como, por exemplo, na primeira noite em que prenderam algumas lideranças indígenas, a chuva foi tão forte que o Congresso, não por acaso, foi invadido por lama e alguns parlamentares ficaram, por horas, ilhados naquele mar de lama”.  

    Encantos na luta

    Os indígenas debateram ainda como as forças encantadas podem ajudar a enfrentar a conjuntura desfavorável aos povos indígenas. O missionário indigenista Haroldo Heleno, do Cimi Regional Leste, apresentou uma rápida análise destacando os vários instrumentos que visam suprimir os direitos indígenas duramente conquistados, em especial a PEC 215 e o PL 1610. A grande ameaça, no entanto, surge na forma de um decreto do presidente Michel Temer, elaborado na surdina, que modifica os procedimentos de demarcação de terras indígenas.

    O decreto afetaria a demarcação de aproximadamente 600 terras indígenas em diferentes estágios do procedimento demarcatório. Entre os vários dispositivos graves previstos pelo decreto está a incorporação do “marco temporal”, uma interpretação restritiva do artigo 231 da Constituição Federal que, na avaliação das entidades e movimentos, serviria somente para “legitimar situações de esbulhos de terras indígenas, posses ilegítimas, irregulares e ilegais e, consequentemente, outras violações de direitos humanos dos povos indígenas”.

    Haroldo Heleno recorreu a uma passagem bíblica para motivar a plenária. A História de Davi e Golias, já que muita gente gosta de citar o fato, sempre que temos um grande desafio pela frente, se usa a expressão: “Isto é uma luta de Davi contra Golias”. E se usa para dizer que é uma luta desigual, e alguns para dizer que não tem jeito. Heleno lembrou e fez questão de destacar que quem venceu a luta não foi o gigante, mas sim o pequeno Davi, que nem guerreiro era, e não usou nenhuma arma poderosa, usou apenas uma “boladeira”, mas Davi tinha dois elementos extremamente importantes para derrotar o gigante: a fé em Deus e a clareza de onde tinha que acertar a pedra, na testa do gigante, ou seja, ele tinha claro o seu objetivo.

    Cacique Nailton afirmou: “É nestes momentos que precisamos ter uma certeza, devemos dedicar aos nossos rituais 50% de nossos tempos, para nos fortalecermos cada vez mais. Para enfrentar esta dura realidade os outros 50% a gente dedica ao restante: articulação, organização”. Nailton usou esta expressão em vários outros momentos do encontro, sempre no sentido de chamar a atenção para a valorização dos rituais. A noite em volta de uma enorme fogueira, e iluminados pela lua cheia, as conversas da tarde ainda borbulhavam nas mentes de todos, e um forte e intenso ritual nos acalmou com a presença de muitos encantados.  

    Mensagem encantada

    Uma mensagem aos Pataxó e aos Tupinambá chegou por intermédio de um Encantado: “Algumas coisas não precisavam ser ditas, eles sabiam o que ia acontecer. Outras coisas não iam ser reveladas agora, mas que eram importantes e, portanto, todos deviam estar preparados”.  Numa segunda manifestação, mais geral para todos os povos presentes: “Em alguns momentos teremos que perceber as coisas mesmo sem as ver, temos certezas que algumas existem, mas não a vemos, mas temos que nos preparar para enfrentar grandes desafios”.

    Fortalecer os rituais em cada comunidade: esse foi o principal encaminhamento do encontro. O compromisso de todas as comunidades presentes na realização de rituais nas noites de lua cheia. Realizar pequenos encontros de lideranças religiosas nas regiões e mobilização desde agora para a realização do Encontro de Pajé de 2017.


    O encontro teve como objetivo fortalecer a espiritualidade entre os povos da Bahia e convidados, além de promover o intercâmbio entre as comunidades e rituais. Para o cacique Nailton Pataxó Hã-hã-hãe o evento superou todas as expectativas, tanto na quantidade de pessoas que se esperava como nos objetivos propostos. “Já firmei o compromisso com as lideranças que aqui estavam que o encontro de 2017 vai ser aqui na cabana de novo, pois este foi apenas um tira gosto, e até lá vou visitar e incentivar outras lideranças que não puderam vir neste para se fazer presente no próximo”. O cacique afirmou que os encantados ficaram satisfeitos.

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  • 20/12/2016

    Pacote de despejos da Justiça Federal leva tensão a aldeias Guarani e Kaiowá no Mato Grosso do Sul


    Crédito das fotos: Rafael de Abreu



    Por Renato Santana, da Assessoria de Comunicação – Cimi

    A 2ª Vara da Justiça Federal de Dourados (MS) determinou o despejo de três tekoha – lugar onde se é – Guarani e Kaiowá da demarcação Dourados Amambai Peguá I. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) suspendeu no último final de semana a reintegração do tekoha Kunumi Vera, também conhecido como Toro Paso, mas as decisões pela retirada das famílias indígenas dos tekoha Ñamoy Guavira’y e Jeroky Guasu ainda estão mantidas e aguardam recurso da Fundação Nacional do Índio (Funai). As terras ficam entre os municípios de Caarapó e Dourados.

    Os pedidos de reintegração foram impetrados por proprietários de fazendas incidentes nas áreas de ocupação tradicional dos Guarani e Kaiowá. Nas decisões de primeira de instância, a Justiça Federal obriga a Funai a retirar os indígenas dos tekoha em um prazo de cinco dias. Caso o órgão indigenista estatal não consiga realizar o despejo, está autorizado o uso de força policial. "Todo mundo tá nervoso porque vem mais violência. Nossa terra é ali e não tem mais pra onde ir. Nosso povo tem o direito e quer viver em paz", explica Otoniel Ricardo Guarani e Kaiowá.


    No caso do tekoha Kunumi Vera, onde o agente de saúde Guarani e Kaiowá Clodiodi Aquileu de Souza, de 26 anos, foi assassinado em 14 de junho deste ano, foi a segunda tentativa de despejo nos últimos seis meses. O Ministério Público Federal (MPF) pediu em agosto a prisão preventiva dos fazendeiros envolvidos no assassinato em ataque paramilitar ao Kunumi Vera que deixou outros seis feridos a tiros. Como os nomes dos detidos foram omitidos por força de segredo de justiça, não é possível saber se os fazendeiros que pediram as reintegrações estão envolvidos na investigação.




    “A gente retomou os tekoha que tão com despejo porque deles que nossos pais e avós foram retirados. Tiraram e colocaram a gente do Tey’Kue. Estamos confinados ali. Funai começou a demarcar, comprovou que é nossas terras tradicionais os tekoha”, explica Otoniel. Entre a primeira e a segunda metade do século 20, as políticas estatais tratavam de retirar à força os Guarani e Kaiowá das aldeias para confina-los em reservas. Uma delas foi Tey’Kue, vizinha ao Tekoha Guasu, como os indígenas chamam a demarcação Dourados Amambai Peguá I.    

    No interior da Dourados Amambai Peguá I estão diversos tekoha retomados pelos Guarani e Kaiowá nas últimas décadas – Paí Tavy Terã, Ñandeva, Ñamoy Guavira’y, Jeroky Guasu, Tey’Jusu, Kunumi Vera, Guapo’y, Pindo Roky e Itagua. Sem a conclusão do procedimento demarcatório, os indígenas sofrem sucessivos ataques de pistoleiros e fazendeiros, além de despejos judiciais. “Decidimos pela autodemarcação porque o governo federal não demarca. Isso gera a violência e as reintegrações”, diz Eliseu Guarani e Kaiowá.

    Integrante da Aty Guasu, Grande Assembleia Guarani e Kaiowá, o indígena é integrante do Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI) e representando seu povo esteve na Organização das Nações Unidas (ONU) e no Parlamento Europeu denunciando assassinatos, retiradas forçadas e a não garantia dos direitos indígenas regidos pela Constituição Federal e Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). “Neste ano a gente conseguiu mostrar para o mundo o que acontece com o povo indígena no Brasil”, diz Eliseu.   

    A Relatora da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, esteve em visita aos Guarani e Kaiowá em março. No dia em que seguiu viagem para visitar o povo Tupinambá, na Bahia, o tekoha Kurusu Ambá, por onde passou, foi atacado por pistoleiros e fazendeiros. Durante Assembleia da ONU, em outubro, apresentou um relatório recomendando ao governo brasileiro que demarque as terras tradicionais dos Guarani e Kaiowá, além de preocupações com os despejos, suicídios e violência de toda ordem.


    Já os eurodeputados estiveram no Mato Grosso do Sul no início deste mês depois do Parlamento Europeu ter emitido uma Resolução Urgente, em novembro, recomendando aos países membros que insiram em suas políticas comerciais com o Brasil o respeito aos direitos humanos e territoriais dos povos indígenas. “É urgente dar prioridade à conclusão da demarcação de todos os territórios reivindicados pelos Guarani e Kaiowá. Muitos dos assassinatos se devem a represálias no contexto da reocupação de terras ancestrais”, diz a resolução.

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  • 15/12/2016

    Jovens guerreiros pela resistência da Terra Indígena Tupinambá de Olivença


    Crédito da foto: Haroldo Heleno/Cimi Regional Leste


    A aldeia Serra do Padeiro, Terra Indígena Tupinambá de Olivença, recebeu entre os dias 8 e 11 de dezembro cerca de 150 jovens, oriundos de diversas aldeias, para reflexões, discussões e planejamento de ações sob o tema: “Jovens Guerreiros pela resistência do território Tupinambá”. O encontro contou com a participação e o apoio de representantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Associação de Advogados dos Trabalhadores Rurais (AATR).   

    O encontro foi fruto de encaminhamentos tirados no grande encontro realizado entre os dias 03 a 05 de junho de 2016, também na Serra do Padeiro, quando os jovens definiram pela realização de pequenos encontros – ao término, finalizados com uma grande reunião. Após o encontro de junho, a Comissão Organizadora da Juventude Tupinambá promoveu reuniões nas comunidades, contando com as celebrações dos rituais nas noites de lua cheia. O intuito foi envolver aldeias com pouca participação.

    Para a Comissão Organizadora do evento, o desafio foi o de estimular as reflexões dos jovens sobre o território tradicional localizado em uma região de grandes disputas econômicas e sociais. Justamente por isso, a estratégia foi a de promover interações entre as diferentes gerações e provocar a troca de conhecimentos, gerando vivências e oferecendo aos jovens presentes quais foram os caminhos até agora percorridos pelos seus antepassados e quais os passos ainda são necessários.  

    Este encontro mais uma vez foi marcado por intensos processos de rituais e uma atenta e participativa plenária que durante os três dias discutiram assuntos como: “Demarcação de Terras Indígenas e seus Processos”; “Autodemarcação, como fazer?”; "Diferentes processos: Terras tradicionalmente ocupadas e Reservas propostas pelo governo”. Tiveram a oportunidade de ver a situação quantitativa das reservas e terras demarcadas e em processos de demarcação colocando as dificuldades. Outros temas abordados: “Direitos constitucionais e outros direitos dos Povos Indígenas”; “Criminalização e Genocídio”; “Educação e Saúde diferenciada como direito e não como um presente ou favor”; “Organização interna”; “Comunicação interna e externa  como instrumento de Luta” e “Protagonismo juvenil”.

    Todas as discussões se pautaram por mesas de conversas, debates, exibição de filmes, momentos de descontração e muita responsabilidade dos jovens, além de uma participação propositiva e positiva dos caciques Babau e Luciano, que deram todo o apoio aos jovens. Cacique Luciano já garantiu a realização do Encontrão de 2017 na aldeia Tamandaré, o que foi comemorado pelos jovens.

    Leia a Carta Aberta do encontro na íntegra:

    Carta Aberta “Jovens Guerreiros pela resistência do Território Indígena Tupinambá”

    Nos dias 08 a 11 de dezembro de 2016, nós juventude Indígena Tupinambá de Olivença, representado pelas comunidades, Serra do Padeiro, Serra das Trempes, Mamão, Acuipe do Meio, Acuipe de Baixo, Lagoa do Mabaço, Olivença, Aldeia Itapoã, Parque de Olivença, Aldeia Tucum, Aldeia Tamandaré, viemos por meio desta, apresentar para o Território indígena Tupinambá de Olivença, e a sociedade brasileira, os interesses comuns da juventude bem como da comunidade, levantados e abordados durante todo o evento.

    Durante os dias de trabalhos e rituais, falamos e debatemos sobre Demarcação e seus Processos, Auto demarcação e os processos as suas diferenças com; terras tradicionalmente ocupadas e Reservas propostas pelo governo, situação quantitativa das reservas e terras demarcadas e em processos de demarcação colocando as dificuldades, bem como, os direitos constitucionais, Educação diferenciada, saúde diferenciada, criminalização e genocídio, organização interna, comunicação interna e externa e protagonismo juvenil.

    A partir dessas realidades refletidas, percebemos que nós Indígenas Tupinambá somos criadores de uma grande potência em termos culturais, políticos e ambientais, plena de vitalidade. Segundo dados oficiais somos cerca de 7 mil guerreiros e guerreiras que marcam sua presença com uma pisada forte do litoral ao interior da T.I Tupinambá de Olivença, dentro e fora das aldeias.

    Apesar de compormos um conjunto extremamente heterogêneo, possuímos em comum o fato de estarmos situados numas das primeiras áreas colonizada pelos europeus. Devido a este longo histórico de contato marcado por opressões e resistências, nós Tupinambá estamos inseridos em um contexto particular de desigualdade e preconceito em relação a outros povos indígenas e não indígenas. A primeira característica marcante é a situação de extrema invisibilidade: boa parte da população brasileira, incluindo o meio acadêmico, ignora a existência de indígenas no nordeste, onde somos um dos mais preconizados, o que contrasta com a enérgica escalada das lutas indígenas na região, sobretudo nos últimos 30 anos.

    A força da retórica de que nós Tupinambá teríamos sido, “extintos” cria diversas dificuldades  para nossas lutas na construção de novas formas de vida e cultura num país onde as alternativas ao modelo de desenvolvimento atual – que destrói ambientes e aprofunda opressões – muitas vezes parecem escassas.

    Ao longo da história foi sendo construída uma narrativa segundo a qual os europeus teriam civilizado o nosso Povo de maneira irreversível e que as comunidades indígenas, aqui, teriam sido absolutamente “aculturadas” pelo processo colonizador, gerando, o que se convencionou chamar: povos misturados – e que portanto já não seriam mais povos indígenas.

    As religiões, a igreja católica teve um papel forte no passado com essa ideia de extinção das nossas práticas religiosas e “aculturação” e atualmente as igrejas evangélicas, criminalizam e preconiza, as práticas tradicionais de culto dos nossos encantados e das diversas formas e expressões de fortalecer nosso espírito e nossa fé.   

    Nesse sentido, as retomadas manifestam de forma singular para a defesa de nossas práticas tradicionais, bem como, produção das novas etnopolíticas que fizeram e fazem parte da contínua á difícil escolha de criar outros mundos – outras humanidades e ecologias – para além e contra aqueles da (neo)colonização e da exploração da natureza e dos homens a partir da acumulação privatista.

    Buscamos, através deste evento o fortalecimento e aproximação da juventude das diversas aldeias nas 23 comunidades tradicionais, com formação, através das mesas de debates e rodas de conversa que alimentaram a juventude presente, escutando caciques, anciões e lideranças da T.I Tupinambá de Olivença, bem como, discutindo e debatendo questões específicas de nossa luta, nas suas diversas frentes de resistência. No nosso processo de construção do mesmo identificamos que a juventude soma e são frentes nas retomadas, mas percebemos também que existem ainda v,arias formas de somar.

    Com o objetivo de continuarmos organizando a juventude e prevendo a construção do próximo Encontro geral da Juventude que acontecerá na Aldeia Tamandaré, aproximando e fortalecendo a luta, vamos criar duas (2) frentes geral da juventude uma executiva e outra representativa, para propor novas formas de reunir e juntar a juventude Tupinambá.  

    Juventude Tupinambá


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  • 15/12/2016

    Mais de 120 organizações e movimentos repudiam decreto do governo Temer que inviabiliza demarcações de terras


    foto: Tiago Miotto

    Diversas organizações e movimentos sociais divulgaram, nesta quinta (15), uma nota repudiando o decreto do governo Temer que pretende modificar os procedimentos para a demarcação de terras indígenas no Brasil. Por meio da imprensa, uma minuta do decreto veio a público na segunda-feira (12) e provocou a reação do movimento indígena, de organizações indigenistas, entidades apoiadoras da causa e defensores dos direitos humanos.

    As organizações ressaltam que a minuta foi elaborada sem qualquer diálogo com o Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI) nem consulta prévia aos povos indígenas, conforme determina a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), além de contrariar a legislação vigente e impossibilitar a resolução dos conflitos atuais envolvendo a demarcação de territórios indígenas.

    A versão da minuta que se tornou pública trazia como data o ano de 2016, o que pode indicar que o governo pretendia publicá-la com um “canetada” ao final do ano, para dificultar a mobilização dos povos indígenas contra a medida.

    Em consonância com nota já divulgada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) nesta terça (13), as entidades listam dez itens do decreto que consideram graves violações aos direitos constitucionais dos povos indígenas no Brasil, apontando que ele contraria as recomendações da Organização das Nações Unidas (ONU) ao Brasil e “atende aos interesses de setores que pressionam pela aniquilação da existência dos povos indígenas enquanto povos autônomos e culturalmente diferenciados”.

    O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), uma das entidades que assina a nota, avalia que o decreto, se publicado, afetaria a demarcação de aproximadamente 600 terras indígenas em diferentes estágios do procedimento demarcatório.

    Entre os vários dispositivos graves previstos pelo decreto está a incorporação do “marco temporal”, uma interpretação restritiva do artigo 231 da Constituição Federal que, na avaliação das entidades e movimentos, serviria somente para “legitimar situações de esbulhos de terras indígenas, posses ilegítimas, irregulares e ilegais e, consequentemente, outras violações de direitos humanos dos povos indígenas”.

    Exigindo que a minuta que veio a público à revelia do governo Temer seja arquivada e comparando-a ao “tempo das inaceitáveis políticas de confinamento territorial e de assimilação cultural, que podem levar ao extermínio sociocultural ou etnocídio dos povos indígenas”, as organizações concluem: “Sem legitimidade ou justificativa para criar novos procedimentos de demarcação, a proposta minutada não oferece soluções para os conflitos existentes, cria novos entraves e aprofunda as violações e violências contra os povos indígenas no país”.

    Clique aqui para ler a íntegra da nota.


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  • 15/12/2016

    MPF/MG | Justiça Federal obriga Funai a delimitar Terra Indígena Krenak no prazo de um ano



    O Ministério Público Federal (MPF) obteve tutela antecipada na Ação Civil Pública nº 64483-95.2015.4.01.3800, obrigando a Fundação Nacional do Índio (Funai) a concluir, no prazo de um ano, o processo de Identificação e Delimitação da Terra Indígena Krenak de Sete Salões, adjacente ao atual território da etnia localizado na região leste do estado de Minas Gerais.

    A ação, ajuizada em dezembro do ano passado, pede que o Estado brasileiro reconheça as graves violações de direitos cometidas contra o povo indígena Krenak durante a ditadura militar, adotando medidas de reparação em favor de sua cultura.

    Para o procurador regional dos Direitos do Cidadão, Edmundo Antônio Dias, “a decisão reveste-se de especial importância num momento em que os povos indígenas se veem sob  crescente ameaça de retrocesso quanto ao reconhecimento de seus territórios. A Justiça Federal demonstrou grande sensibilidade à necessidade de reparação aos povos indígenas pelas graves violações que sofreram durante o regime militar. O relatório final da Comissão Nacional da Verdade estima que pelo menos 8.350 índios tenham sido mortos em todo o país no período investigado, além de descrever inúmeros outros abusos, como os que foram narrados nesta ação”.

    Os Krenak ocupavam terras situadas no município de Resplendor, à margem esquerda do rio Doce. Durante a ditadura militar, a Ruralminas, uma fundação pública do estado, outorgou as terras dos indígenas a fazendeiros, que foram se apropriando indevidamente de glebas naquela região.

    Na ação, o MPF narrou, com profusão de detalhes, três episódios principais ocorridos durante aquele período: a criação da Guarda Rural Indígena (GRIN), a instalação de um presídio chamado de “Reformatório Krenak”, e o deslocamento forçado para a fazenda Guarani, no município de Carmésia/MG, que também funcionou como centro de detenção arbitrária de indígenas.

    Nesses locais, vigorou um ambiente de exceção, com trabalhos forçados, tortura, remoção compulsória e intensa desagregação social impostos ao povo Krenak.

    Para o Reformatório Krenak, foram enviados indígenas de mais de 15 etnias, oriundos de ao menos 11 estados das cinco regiões do país.

    Segundo Edmundo Antônio Dias, “o reformatório era um presídio sem previsão legal, destinado a confinar indígenas em razão de condutas valoradas segundo critérios inteiramente subjetivos. Ali funcionou uma verdadeira polícia de costumes. As condutas em geral sequer eram previstas pela legislação penal e os índios não eram submetidos a julgamento. Os índios não podiam viver sua própria cultura, praticar seus rituais, nem mesmo conversar na língua materna. Crianças, mulheres e idosos eram vítimas dos atos de arbítrio, além de serem obrigados a executar tarefas para os policiais, sendo castigados quando não as realizassem. Também há  relatos de abusos sexuais cometidos contra as mulheres Krenak pelos policiais militares que faziam a guarda do reformatório”.

    Outra situação que ilustra o ambiente da época aconteceu na solenidade de formatura da 1ª turma da Guarda Rural Indígena (GRIN), um grupamento composto por indígenas de várias etnias sob o comando de um delegado da Polícia Militar de Minas Gerais. No evento, que contou com a presença do então governador de Minas Gerais, Israel Pinheiro, do seu secretário estadual de Educação, José Maria Alkmin – que fora vice-presidente da República entre 1964 e 1967 – e de outras altas autoridades federais, houve um desfile durante o qual foi exibido um índio dependurado em um pau de arara. A cena, filmada, é a única registrada no Brasil que mostra, em um evento oficial, um ato de tortura.

    Em 1972, o povo Krenak foi retirado à força de suas terras e levado para a Fazenda Guarani, situada no município de Carmésia, a 343 km de distância. O objetivo real do deslocamento forçado foi o de liberar as terras para fazendeiros que, no ano anterior, haviam perdido uma ação de reintegração de posse.

    Os Krenak referem-se ao episódio do exílio com profundo sofrimento, devido à distância do rio Doce, que era o centro de sua vida cultural e espiritual. Por oito anos, eles suportaram as péssimas condições de vida na Fazenda Guarani, que  funcionou como uma continuação do Reformatório Krenak.

    Somente em 1983, a Funai ajuizou uma ação ordinária de nulidade dos títulos concedidos pelo Estado de Minas Gerais e pela Ruralminas aos fazendeiros. Dez anos depois, em 1993, o STF julgou declarou a nulidade dos títulos de propriedade.

    Mas, apesar dessa decisão proferida há 23 anos, até hoje o processo de Identificação e Delimitação de todo o território Krenak não foi concluído pela Funai.

    Resgate cultural

    Na ação, o MPF também pediu que os réus implementem várias ações para resgatar e preservar a cultura e a língua Krenak e promovam a tradução da Constituição Brasileira, da Convenção nº 169 da OIT e do texto temático do relatório final da Comissão Nacional da Verdade.

    Ao deferir o pedido, o juízo federal registrou que, diante da especificidade da língua indígena e a escassez de pessoal habilitado, deve ser constituído um grupo de trabalho formado pela comunidade Krenak, Funai e outras instituições relacionadas à temática indígena, para o estabelecimento de uma agenda de encontros, os quais devem ter início em até 180 dias.

    Outra medida deferida na decisão judicial foi a de obrigar a Funai e o Estado de Minas Gerais, através da Secretaria de Estado da Educação, a estenderem aos indígenas, após consulta à comunidade, oficinas de trabalho linguístico como forma de resgatar e preservar a língua Krenak.

    Memória

    O MPF também pediu que a União, através do Arquivo Nacional, fosse obrigada a reunir, sistematizar e publicar toda a documentação relativa às violações de direitos humanos sofridas pelos povos indígenas durante o período da ditadura militar, disponibilizando-as na rede mundial de computadores.

    A magistrada da 14ª Vara Federal de Belo Horizonte deferiu o pedido, dando prazo de um ano para cumprimento da medida.

    No prazo de 180 dias, Funai, União, Ruralminas e Estado de Minas Gerais também “deverão entregar ao povo indígena Krenak cópia de todos os documentos governamentais, mantidos sob qualquer meio impresso, digital ou audiovisual, produzidos no período da ditadura militar, especialmente os pertinentes ao Reformatório Krenak e à transferência compulsória desse povo à Fazenda Guarani”.

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  • 15/12/2016

    Com uma dezena de despejos em 2016, Pataxó ataca marco temporal: “Nega violência sofrida pelos indígenas”

    Por Renato Santana, da Assessoria de Comunicação – Cimi

    No início deste mês, 30 famílias Pataxó da aldeia Aratikum, no extremo sul baiano, retornaram para a área tradicional de onde foram expulsas em outubro. Estavam às margens da BR-367 com crianças e anciãos até a nova retomada. A decisão da Justiça Federal de Eunápolis pelo despejo atendeu o pedido da proprietária, que vive entre Curitiba (PR) e os Estados Unidos. Os Pataxó estão presentes na região desde a invasão portuguesa, em 1500.

    O episódio ilustra de forma precisa um ano com ao menos uma dezena de reintegrações de posse contra os Pataxó – ao menos cinco acabaram executadas. Em carta divulgada nesta quarta-feira, 14, ao conjunto da sociedade, os Pataxó denunciam a "situação de vulnerabilidade social em que se encontram os mais de 20.000 índios no entorno do Monte Pascoal. Estamos em mobilização nacional denunciando o programa neoliberal dos governos, com apoio e aval dos poderes Legislativo e Judiciário".

    Se 2016 para os Pataxó e os demais povos indígenas do país se tratou de um ano de intensa violência e racismo institucional, nada indica que será diferente em 2017. "A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55 representa a intensificação do processo de sucateamento de políticas públicas para efetivação de direitos fundamentais", diz trecho da nota dos Pataxó. A Fundação Nacional do Índio (Funai) terá no próximo ano o pior orçamento em 14 anos, e só deverá piorar pelas duas décadas adiante.

    Diante da conjuntura envolvendo ainda um decreto trabalhado pelo governo na surdina – que pode impedir a demarcação de 80% das terras indígenas em processo, com a adoção do marco temporal – os Pataxó atacam: "Presente nas 19 condicionantes do caso da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, o marco temporal vem sendo usado para inviabilizar a demarcação e revisão de limites de territórios indígenas, violando a Constituição e os tratados internacionais, ao mesmo tempo que nega a violência sofrida pelos povos e comunidades tradicionais no processo de esbulho de suas terras".

    No que tange as demarcações, a preocupação entre os Pataxó é grande porque já convivem com a ausência delas na região. "O assédio imobiliário existe na região, atrativa pro turismo. Agora nós entendemos que a morosidade do governo em demarcar as terras permite essa instabilidade jurídica", explica o presidente da Federação Indígena das Nações Pataxó e Tupinambá do Extremo Sul da Bahia, cacique Aruã Pataxó.

    Reintegrações: parte da estratégia

    Conforme os Pataxó, a possibilidade de um decreto nocivo às demarcações e as medidas legislativas contra o direito territorial, caso desses últimos anos em que a PEC 215 teve centralidade no ataque da bancada ruralista contra os indígenas, fazem parte de uma estratégia que envolve o Judiciário com a enxurrada de pedidos de reintegração de posse.

    Denunciam, portanto, "a atuação do Poder Judiciário na concessão de medidas liminares de reintegração de posse nas áreas de retomada dentro dos territórios tradicionais". E associam aos despejos a "criminalização de lideranças de comunidades indígenas, pescadores e quilombolas por parte do ICMBIO nas áreas de sobreposição de unidades de conservação de proteção integral sobre territórios tradicionais".

    Somente na Terra Indígena Comexatiba, antiga Cahy-Pequi, foram três reintegrações de posse determinadas pela Justiça Federal contra os Pataxó. Todas a pedido do Instituto Chico Mendes de Conservação Ambiental (ICMBio), administrador do Parque Nacional do Descobrimento (PND), incidente sobre a terra indígena. Em 2015, foram outros dois pedidos de despejo do ICMBio. Instâncias superiores derrubaram as liminares.





    A mesma situação de conflito com o órgão governamental repete-se na Terra Indígena Barra Velha. Esta outra área Pataxó, em cujo território incide o Parque Nacional Monte Pascoal, passa por um processo de revisão de limites. Por isso, no final do mês de fevereiro, entre as diversas atividades em Brasília, os Pataxó participaram de uma reunião no Ministério do Meio Ambiente para dialogar com o governo uma solução ao conflito.

    Se o governo não resolve questões internas a ele, com terceiros envolvidos a situação segue em aberto. “Era uma terra improdutiva quando retomamos, em 2013. Essa mulher e o marido, um norte-americano, que não vivem aqui, se dizem donos. Fizemos uma escola, casas e nossas roças. O artesanato complementa a renda das famílias”, disse o cacique José Ailton durante o despejo da Aratikum. No último mês de julho, uma delegação Pataxó esteve em Brasília para reivindicar a efetivação da aquisição pela Funai da Aldeia Aratikum.

    O diálogo esperado, envolvendo a demarcação das terras, ficou longe de acontecer – tanto no governo da presidente Dilma Rousseff quanto no de seu algoz, Michel Temer. Novas reintegrações foram baixadas pela Justiça Federal de Eunápolis, inclusive com o uso de força policial para retirar 500 famílias das aldeias Morapé 1 e 2, Nova Coroa, Tapororoca, Txica Mayruá e Novos. As seis aldeias ocupam 3 mil hectares dos 5 mil reivindicados pelo povo Pataxó como parte da revisão de limites da Terra Indígena Coroa Vermelha.

    Conforme o Banco de Terras do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), na Bahia existem 34 terras indígenas: dez encontram-se com o procedimento demarcatório inconcluso, parado em alguma etapa, e sete estão sem nenhuma providência administrativa de demarcação. Outras dez estão registradas, última etapa do processo, seis reservadas (adquiridas pelo governo) e uma dominial.


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  • 14/12/2016

    Indígenas protestam na Seduc/MA, secretário se nega a recebê-los e envia PM para intimidá-los

                    Povos em ritual na frente da sede da Seduc/MA: Crédito das fotos: Yratowy Ka’apor


    Por Renato Santana, da Assessoria de Comunicação – Cimi


    Quando o ano letivo de 2017 começar nas aldeias Krepym Katejê, Ka’apor, Krenyê, Tenetehar/Guajajara, Kanela e Gamela, 2016 ainda não terá se encerrado. A Secretaria de Educação do Maranhão ainda não resolveu pendências fundamentais ao funcionamento da Educação Escolar Diferenciada – reivindicadas há meses pelos povos. "Estamos na porta da Seduc e não saímos daqui enquanto o governo não der uma resposta", explica Itahu Ka’apor. A Polícia Militar, conforme os indígenas, foi chamada ao local e chegou a usar de violência contra os indígenas para retirá-los de uma das portarias da Seduc .

    Ao lado de Itahu, ao menos 100 indígenas estão desde o início da tarde desta quarta-feira, 14, na capital São Luís pedindo uma audiência com o secretário Felipe Costa Camarão. Até o fechamento desta matéria, não havia nenhum retorno da Seduc. Ao contrário: conforme os indígenas, seis carros e oito motos da Polícia Militar, além de um pelotão com 30 homens, estão no local para intimidar a manifestação pacífica dos povos. Ontem, a polícia parou o ônibus Ka’apor na ida para São Luís: os policiais enfileiraram e revistaram os indígenas (na foto abaixo). "Como se a gente fosse bandido", diz Itahu.



     


    "Nunca foi resolvido nada e por isso saímos das aldeias. A gente prefere ficar lá do que em São Luís. Em agosto foi o último momento em que estivemos aqui e nada caminhou. A Seduc nos deu prazos de 15 dias para resolver algumas situações, mas não cumpriu", explica Fábio Krepym Katejê. O envio de recursos para a merenda, contratação e pagamento de professores, além da construção de novas estruturas são as principais demandas – comuns entre os povos presentes.

    Para a liderança Krepym Katejê, "o estado fechou todas as portas, não quer nos atender e bota a polícia na porta pra nos intimidar". O indígena e seu parente Itahu Ka’apor afirmam que o ano letivo foi prejudicado. "A escola é uma parte da educação diferenciada, que envolve o calendário e as lutas do povo. Então é um prejuízo pra gente. A gente tá na disposição de dormir aqui mesmo na porta da Seduc", diz Itahu.

    Os Krepym Katejê presentes na Seduc são da Terra Indígena Geralda do Toco Preto. As aldeias Sibirino e Toco Preto possuem escolas. Na aldeia Sibirino, a escola tem apenas uma sala: nela amontoam-se alunos e alunas do primeiro ao quarto ano. Não há banheiro, cozinha, espaços pedagógicos ou salas de professores e direção. Na aldeia Toco Preto é um pouco melhor: tem uma sala a mais para as mesmas classes.





    Existe uma escola em cada aldeia e uma média de 50 alunos e alunas entre ambas. Bilíngues, os Krepym Katejê são falantes da língua Timbira – comum ao tronco linguístico Macro-Jê, no Maranhão, com exceção dos Gamela. Em nenhum mês deste ano o dinheiro da Seduc para a merenda caiu na conta das escolas, conforme Fábio Krepym Katejê. No ano passado, o recurso chegou a cada três meses ou mais.

    Os indígenas reivindicam ainda o compromisso do governo de contratar seis professores para as classes de quinto ao nono ano, dois zeladores, duas merendeiras e toda sorte de equipamentos para as escolas: 80 carteiras escolares, bebedouros, panelas, pratos, freezers, ar-condicionado. Os Krepym Katejê possuem 50 alunos. "Temos limitações no uso pleno da terra indígena por conta de invasores. Precisamos dos recursos para oferecer nossa educação escolar", conclui Fábio Krepym Katejê.

    Contratações e promessas não cumpridas  

    "Prometeram as coisas pra nós na educação, mas não está fazendo. Passamos necessidades, dificuldades.Mandamos vários documentos e a Seduc nem responde", salienta Itahu Ka’apor. O Conselho de Gestão Ka’apor organiza a educação escolar entre o povo. Na manifestação desta quarta na Seduc/MA, o Conselho enviou um documento com as reivindicações ainda não atendidas pelo governo.  

    Os Ka’apor exigem a posse imediata dos "professores indígenas contratados Putyr Ka’apor, Tuahu Ka’apor, Luis Ka’apor e Luis Carlos Ka’apor e professores formadores do Ensino de Jovens e Adultos (EJA) Ka’apor e Formação Continuada de nossos professores indígenas", diz trecho do documento. Os indígenas pedem que o governo respeite a alimentação indígena, priorizando a compra de produtos da agricultura familiar das próprias aldeias.


     

    "O que chega de pouca merenda nas aldeias vem tudo estragado e podre. Esse ano passamos muitas dificuldades. As aulas estavam com muita dificuldade. Liberaram a merenda, mas no fim do ano letivo. Não estão respeitando a nossa educação diferenciada", enfatiza Raimundo Krenyê. "Existe recurso pra isso. Por que não vai pras aldeias? Estamos pedindo socorro, as crianças estão crescendo e precisam da formação pelas nossas escolas", destaca a liderança Krenyê.

    Segundo os Ka’apor, a Seduc prometeu a efetivação de Mariuza Ka’apor e Yratowy kaapor como gestores indígenas para a realização de matrículas, censo escolar, documentações dos alunos e professores, além de articular a merenda escolar a partir da agricultura familiar. Também o "pagamento da indenização dos professores formadores colaboradores da EJA Ka’apor pelos dias trabalhados e correção dos salários segundo a formação dos professores indígenas e não-indígenas".  


    A reforma e a ampliação das escolas Ximborenda, Xiepihurenda e Parakuyrenda são outras demandas Ka’apor, além da construção imediata da Escola do Centro de Formação Saberes Ka’apor e escolas nas aldeias Waxiguirenda, Zé Gurupi, Bacurizeiro, Piquizeiro, Capitão Mirá, Turizinho, Jaxi Puxi Renda, Ypahurenda, Ywyãhurenda, Inajatyrenda e Eirhurenda.

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