• 23/01/2017

    Autonomia ao povo Ka’apor e contra a criminalização de seus aliados


    Crédito: Madalena Borges/Cimi-MA



    “Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão”

    As entidades abaixo assinadas têm acompanhado os constantes relatos de violência contra o povo Ka’apor e seu território e, especialmente, a partir do assassinato do indígena Eusébio, ocorrido em abril de 2015.

    Em diálogo recente com o Conselho Gestor Ka’apor, viemos a público manifestar primeiramente o nosso apoio total e irrestrito ao Projeto de Vida do povo Ka’apor que vem sendo tecido/construído no território Alto Turiaçú, desde 2013, e que tem permitido a discussão e implementação de sua autonomia e organização própria, enquanto povo indígena específico e diferenciado – direitos que lhes são constitucionalmente reconhecidos e que o Estado brasileiro continua a desrespeitar sistematicamente.

    O referido Projeto de Vida Ka’apor construiu um modelo de fiscalização e proteção territorial, com guardas florestais fechando ramais deixados por madeireiros; possibilitou a criação de novas aldeias num processo de reocupação e reordenação do território; orientou os indígenas nas práticas de novas roças nos lugares degradados, garantindo alimentação saudável; avançou para a criação de um espaço de autonomia consistente no Conselho de Gestão, lugar de tomada de decisões políticas e de um acordo de convivência do povo dentro do território, na estruturação do Centro de Saberes Ka’apor, com repercussão positiva nos indicadores da educação escolar indígena na perspectiva intercultural, contando com a colaboração de aliados importantes, sem o quais tais avanços no plano da organização política não seriam possíveis.

    Percebemos como o povo Ka’apor vem construindo um modelo de resistência indígena que se destaca por se distanciar da lógica de cooptação política de lideranças, da tutela absoluta e da dependência estatal e sobretudo impedindo a consolidação da exploração madeireira no seu território.

    Constatamos que esse projeto de resistência começou a ser implantado a partir da construção desses espaços de autonomia que romperam com a realidade anterior, onde prevalecia a venda de madeira pelos próprios indígenas, a intrusão de madeireiros por todo o território, o alcoolismo, disputas internas e mendicância, dentro do contexto histórico de política públicas ineficientes.


    Graças a esse projeto político e organizacional, o povo Ka’apor recuperou sua autoestima, revitalizou práticas de produção sustentáveis, passou a valorizar com mais força suas festas tradicionais e resgatou suas formas de organização tradicionais, baseadas na liderança Tuxá e não na imposição de caciques (organização imposta pela colonização).

    Vemos com preocupação que exatamente os principais aliados desse projeto libertador estejam figurando como alvos de uma campanha de criminalização e de desqualificação que tem servido somente para fragilizar a autonomia da luta dos Ka’apor, traduzindo divergências internas de concepção de mundo por tipificação penal, abrindo espaço para uma perigosa "jurisprudência" de banimento e expulsão de colaboradores e aliados da luta indígena, que fatalmente atingirá a todos os que divergem das chamadas "razões de Estado" daqui por diante.

    Nesse sentido, exatamente os colaboradores mais próximos da luta dos Ka’apor, que irradiavam seus trabalhos a partir do Centro de Saberes Ka’apor são as vítimas mais recentes desse processo de criminalização em processos cíveis e criminais: José Mendes de Andrade, Simone Moraes Coelho, Maria Raimunda Oliveira Trindade e Eloi Filho Rocha Oliveira. Eles têm em comum coincidentemente a divergência política com a FUNAI e DSEI/SESAI dos seus métodos de gestão, mas estavam do lado dos indígenas Ka’apor quando, a partir do final de 2015, foram vítima de emboscadas, disparos de armas de fogo, invasões dos territórios por madeireiros e durante todo o acompanhamento do processo que nunca investigou satisfatoriamente a morte do líder Eusébio.

    Em diálogo recente, com o Conselho Gestor Ka’apor, confirmamos que a maioria do povo (13 das 17 aldeias) reconhece e apoia a contribuição de José Mendes de Andrade e dos outros aliados nesse projeto de construção da autonomia, ao contrário do que dá a entender a curiosa produção documental nos processos de criminalização e a campanha de desqualificação em curso.

    Diante do exposto repudiamos a tentativa de criminalização desses verdadeiros defensores dos direitos humanos indígenas, seja no bojo de processos criminais que apuram com celeridade a morte de madeireiros, seja em processos cíveis, onde os órgãos do governo federal revelam a explícita intenção de expulsar e de impedir a entrada dessas pessoas em todos os territórios indígenas do país, sem nenhum outro fundamento que não o de supostamente liderarem a ocupação de um imóvel do DSEI na cidade de Zé Doca, num ato de protesto que envolveu dezenas de indígenas, de várias aldeias, que lutavam pela melhoria do atendimento de saúde em suas comunidades..

    Nesse sentido, juntos continuaremos trabalhando para que:

    • O povo Ka’apor seja respeitado e possa resolver ele próprio e internamente seus problemas enquanto povo autônomo;

    • O Projeto de Vida do povo Ka’apor tenha continuidade com os indígenas tendo toda autonomia para tomar as decisões;

    • Seja garantido o direito de defesa a José Mendes de Andrade no processo criminal e para Simone Moraes Coelho, Maria Raimunda Oliveira Trindade e Eloi Filho Rocha Oliveira no Processo Cível, todos militantes da causa indígena do Maranhão e que até o presente momento fizeram por merecer o nosso respeito e o da grande maioria do povo Ka’apor.

    São Luís, 23 janeiro de 2017.

    Conselho Indigenista Missionário – Regional Maranhão

    Sociedade Maranhense de Direitos Humanos

    Comissão Pastoral da Terra – Regional Maranhão

    Cáritas Brasileira – Regional Maranhão

    Pastoral da Criança – MA

    Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu- MIQCB

    Centro de Estudos Bíblicos do Maranhão – CEBI-MA

    Rede Mandioca

    Jornal Vias de Fato

    Justiça Global

    Núcleo de Pesquisa em Direito e Diversidade da UFMA- NUPEDD/UFMA

    Laboratório de Estudos sobre Espaço Agrário e Campesinato – LEPEC

    Teia de Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão

    Grupo Tortura Nunca Mais da Bahia

    Articulação parceira para o Monitoramento dos DH no Brasil (MNDH; PAD e Parceiros de Misereor no Brasil)

    Movimento Quilombola do Maranhão – Moquibom


    Read More
  • 23/01/2017

    Em nota coletiva, organizações repudiam portaria que altera demarcações de Terras Indígenas


    Crédito: Tiago Miotto/Cimi


    As organizações abaixo-assinadas vêm manifestar seu repúdio à Portaria n.º 80/2017, expedida pelo ministro da Justiça, dado seu nítido caráter de fazer prevalecer decisões de natureza política sobre conclusões eminentemente técnicas que fundamentam o Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação de terras indígenas, elaborado no âmbito da Fundação Nacional do Índio (Funai).

    A medida segue na linha do enfraquecimento do órgão indigenista federal, atualmente com o pior orçamento de sua história, e consiste numa forte concessão do Governo Michel Temer a bancadas parlamentares anti-indígenas, em contraposição aos direitos ligados à vida dos povos indígenas do Brasil, notadamente o direito originário às suas terras tradicionais.

    Repudiamos, ainda, a ausência de diálogo com o Conselho Nacional de Política Indigenista – CNPI (ligado ao próprio Ministério da Justiça), o descumprimento do direito à consulta livre, prévia e informada, bem como a orquestração de tentativas de impor graves retrocessos à legislação que rege o procedimento de demarcação de Terras Indígenas, mantida em vigor há mais de 20 anos, como a minuta de Decreto divulgada pela imprensa em dezembro de 2016 e a Portaria n.º 68/2017, recentemente revogada após manifestações contrárias do movimento indígena, de especialistas e do Ministério Público Federal.

    Todas estas medidas têm o claro objetivo de retardar ou impedir a conclusão dos processos de demarcação, revelando o propósito do atual governo no sentido de enterrar políticas de demarcação de terras indígenas e outras pautas de regularização fundiária, o que só contribui para a ampliação e perpetuação dos conflitos existentes.

    Diante desse cenário, as organizações signatárias exigem a imediata revogação da Portaria nº 80/2017, bem como pugnam pela atuação do Governo Federal no sentido de fortalecer a Funai para o cumprimento de sua missão institucional e pela retomada urgente dos processos de demarcação de terras indígenas.

    Assinam conjuntamente:

    Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB

    Centro de Trabalho Indigenista – CTI

    Conselho Indigenista Missionário – CIMI

    Greenpeace Brasil

    Instituto de Estudos Socioeconômicos – INESC

    Instituto Internacional de Educação do Brasil – IEB

    Instituto Socioambiental – ISA

    Operação Amazônia Nativa – OPAN

    Plataforma DHesca/Relatoria de Direitos Humanos e Povos Indígenas


    Read More
  • 19/01/2017

    Nota de Repúdio contra a Portaria Nº 68 que muda os procedimentos de demarcação

    A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) atendendo o clamor de suas bases manifesta publicamente a sua indignação e repúdio à decisão do governo de facto de Michel Temer de publicar por meio do seu Ministro da Justiça e Cidadania, Alexandre de Moraes, a Portaria Nº 68, de 14 de janeiro de 2017,  através da qual, pretende mudar os procedimentos de demarcação das terras indígenas estabelecidos pelo Decreto 1775 / 96.

    O governo, com essa medida, rasga de cara o texto constitucional que reconhece os direitos indígenas e o Decreto 1775 que embasa a demarcação das terras indígenas.

    A Constituição afirma: “São reconhecidos aos índios, sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos seus bens”. A carta magna não diz que os povos indígenas só tem direitos a partir da promulgação da mesma, em 1988. No entanto, os inimigos dos povos indígenas fazem de tudo para negar os direitos originários dos povos indígenas às terras que não só tradicionalmente mas milenarmente lhes pertence mesmo não sendo todas as que possuíam no momento da invasão colonial.

    A publicação da Portaria Nº 68, – primeira norma explícita de mudanças nos procedimentos de demarcação das terras indígenas-, como foi no caso das indicações do Presidente e de diretores para a Funai, sob pressão do Partido Social Cristão (PSC) é só mais um indicativo de que o Governo Temer é mesmo subserviente do poder econômico vinculado ao agronegócio e de seus porta-vozes agrupados na bancada ruralista do Congresso Nacional. Nesse sentido, após ter negado a existência de um novo decreto que altera o procedimento de demarcação, publica uma portaria recheada de propostas contidas na minuta desse instrumento vazada pela imprensa a finais de 2016, todas absolutamente inconstitucionais e violadoras dos direitos originários dos povos indígenas.

    A portaria manifesta de início preocupação pela desconstituição do “domínio privado” em decorrência das demarcações; deturpa o texto constitucional na tentativa deslegitimar as demandas territoriais dos povos indígenas; manipula o teor do decreto 1775 e da Declaração da ONU sobre os direitos dos povos indígenas, redunda em procedimentos, como o princípio do contraditório já assegurado desde os inícios do processo de demarcação, e institui um  Grupo de Trabalho que terá o  propósito de “avaliar” os processos de demarcação das terras indígenas, possibilitando que decisão de natureza política prevaleça sobre as conclusões de estudos técnicos e multidisciplinares da Funai; abre as possibilidade da realização de diligências, audiências públicas e meios de participação das  “partes interessadas”; e propõe a observância de  uma    “jurisprudência do STF sobre a demarcação de Terras Indígenas” que não existe.

    Contrariamente ao propósito de “conciliar celeridade e segurança jurídica”, o governo Temer cria mais entraves à conclusão dos procedimentos de demarcação, ou seja, quer inviabilizar a demarcação das terras indígenas, o que faz mediante a criação de uma instancia política no âmbito do ministério da justiça para subsidiar a tomada de decisão sobre os processos de demarcação, enfraquecendo, assim, a já fragilizada Funai e seus análises de mérito sobre o direito territorial dos povos indígenas. Em suma, o governo baixa uma portaria para emperrar ou inviabilizar a demarcação das terras indígenas em favor dos invasores desses territórios.

    Mais uma vez esse governo desrespeita a legislação que garante a participação dos povos indígenas na tomada de decisões que os afeta e avança nos seus propósitos de desconstruir os direitos indígenas assegurados pela Constituição e tratados internacionais assinados pelo Brasil, como a Convenção 169 de Organização Internacional do Trabalho.

    Se quiser mesmo dar celeridade às demarcações das terras indígenas e seguridade jurídica aos povos indígenas, o governo Temer, por meio de seu ministro da justiça, deve revogar imediatamente a Portaria 68, a qual constitui notoriamente mais um ataque frontal, flagrante violação aos direitos humanos fundamentais dos povos indígenas que vem sendo denunciada reiteradamente por esses povos e seus aliados, inclusive em foros internacionais.

    A APIB e suas organizações não se calarão diante de tamanhas atrocidades, repudiam integralmente o conteúdo da Portaria 68, que constitui mais uma afronta aos povos indígenas, exigem a sua revogação imediata e convocam as suas bases para a primeira mobilização nacional contra essas ameaças. Que a partir da primeira semana de fevereiro estejamos todos juntos e firmes mobilizados na luta nas distintas regiões e na capital federal. Pela garantia dos direitos dos nossos povos.

    Brasília – DF, 19 de janeiro de 2017.

    Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB


    Read More
  • 18/01/2017

    Fome entre os Guarani e Kaiowá: “Criança chora, não aguenta mais. Sofrimento mesmo. Quase comendo terra”


           Tekoha Kurusu Ambá: terras tradicionais onde os índios são proibidos de plantar. Crédito: Ruy Sposati/Cimi


    Por Renato Santana, da Assessoria de Comunicação – Cimi  


    Sem a terra tradicional, resta a fome para ao menos 40 comunidades Guarani e Kaiowá do Mato Grosso do Sul. Em acampamentos improvisados, às margens de rodovias, estradas de terra ou entre lavouras de cana e soja, nas retomadas – áreas não regularizadas e sob conflito – os indígenas não recebem cestas de alimentos desde novembro.

    "Criança chora, não aguenta mais. Sofrimento mesmo. Tão fraco mesmo. Quase comendo terra. Precisamos de um apoio. Vou sair pra ver o que consigo porque vai morrer aqui. É desespero, não vai aguentar", desabafa Gilmar Guarani e Kaiowá, morador da retomada de uma área localizada na Fazenda Madama, em Kurusu Ambá. Por ali vivem cerca de 80 crianças.

    Até dezembro de 2014, cerca de 14 mil cestas eram levadas às comunidades por força de um Acordo de Cooperação Técnica do governo federal. Com a não renovação do acordo, desde 2015 o número despencou para no máximo 2 mil. "100% das famílias indígenas do Cone Sul eram atendidas. Não é mais assim", explica Silvio Raimundo da Silva, agente indigenista da Funai de Dourados.

    Hoje se trata de uma ação emergencial tocada pela Conab. "As cestas, na verdade, deveriam ser substituídas por políticas públicas estruturantes. Agricultura, mercado de trabalho, geração de renda. Acontece que a redução das cestas ocorreu, mas não foi acompanhada por outras políticas. Houve um descompasso", analisa o indigenista.    

    As lideranças indígenas apontam que este descompasso se dá pela paralisação das demarcações. "Tamo debaixo de lona, entre fazendas de soja, cana e gado. Só o espaço pros barracos. Plantar fica difícil. Dividimos aquilo que conseguimos e quando a fome aperta nas crianças, o jeito é botar pra dormir", explica Elizeu Guarani e Kaiowá.

    Fome e Insegurança Alimentar

    Elizeu é membro da Aty Guasu, principal organização política do povo, e mora no tekoha – lugar onde se é – Kurusu Ambá. A comunidade compõe os estudos do relatório Direito Humano à Alimentação Adequada e à Nutrição Guarani e Kaiowá (2016). A pesquisa é da Fian-Brasil com o Cimi e abrange ainda os tekoha Guaiviry e Ypo’i.  

    "Pedaços de terras que as comunidades ocupam dentro de seus territórios tradicionais estão dominados por monoculturas das fazendas, cujo cultivo demanda o uso excessivo de agrotóxicos (…) risco à saúde, à vida, representando também uma violação ao direito humano à alimentação, nutrição e água", diz trecho do estudo.

    São mais de 100 domicílios nos três tekoha pesquisados – 46% dos moradores e moradores tinham menos de 15 anos. No momento em que os pesquisadores realizaram as entrevistas (2013), em 75 destas casas os jovens residentes dependiam da família para se alimentar.

    De acordo com critérios internacionais de Direito Humano à Alimentação e Nutrição Adequadas (Dhana), 13,3% dos domicílios (10) apresentaram insegurança alimentar leve; 58,7% (44) insegurança alimentar moderada e 28% (21) insegurança alimentar grave. Conforme o PNAD/IBGE (2013), em domicílios menos de 18 anos a insegurança alimentar grave atinge 4,8% das famílias brasileiras.   

    "A fome é resultado da expulsão das terras e de outros fatores que são causados pela violência gerada pelo atual modelo de produção de alimentos, enquanto a má nutrição resulta da fome, da baixa qualidade, da redução da diversidade e da contaminação dos alimentos, da inadequação das condições de saneamento", diz trecho do diagnóstico.

    "Não pode plantar" e um TAC do MPF

    Gilmar Guarani e Kaiowá explica que a Funai e o Ministério Público Federal (MPF) tentam intermediar um acordo com os proprietários da Fazenda Madama, incidente sobre o território indígena, para que permitam a plantação dos indígenas. "Não pode plantar. Outros lugares não pode pegar água no açude. É assim", diz o indígena.

    "Com a redução no número das cestas de alimentos passamos a indicar como prioridade os lugares com mais vulnerabilidade: as áreas retomadas. Como a recuperação de territórios segue ocorrendo, e a quantidade de cestas diminuindo, tem uma defasagem", salienta o coordenador da Funai em Dourados, Vander Nishijima.

    A distribuição da Conab de cestas ocorre em seis etapas, com um intervalo médio de 60 dias. Com uma quantidade muito menor de cestas, 60 dias viram 120 para a fome de quem está com a barriga vazia. "Existe o entendimento do MPF e nosso, da Funai, de que o estado tem programas para contribuir com a alimentação", diz Nishijima.

    Um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) foi celebrado entre o MPF, a Funai e o Governo Estadual do Mato Grosso do Sul, no ano passado. A Secretaria de Assistência Social se comprometeu a pavimentar caminhos para o auxílio e levantar famílias indígenas que já participam do Programa Vale Renda.

    Aos não-indígenas, o programa oferece uma ajuda em dinheiro. Para os indígenas, em alimentos. No TAC, a Secretaria se comprometeu a até este mês de janeiro ter tudo detalhado para seguir com o cronograma. "Hoje temos algo temporário, o governo estadual tem condições de levar alimentos de modo permanente", conclui Nishijima.

    Bloqueio de estrada e Consea    

    Em Naviraí, os Guarani e kaiowá bloquearam por três dias, no final do ano passado, a BR-163. Na pauta a questão da falta de comida e a fome. "A Polícia Federal nos ligou perguntando se tínhamos como levar alimentação. O Cimi e outras entidades arrecadam de forma permanente", explica Matias Benno, missionário do Cimi.

    O indigenista explica que os casos de desnutrição são sistemáticos: "Em Pyelito Kue quase todas as crianças já receberam algum tipo de tratamento envolvendo as consequências da desnutrição. Já houve óbitos. As áreas não regularizadas são disparadas as que mais concentram casos".

    Não há nada de novo ao governo federal. O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) fez dez recomendações aos poderes públicos referentes ao quadro dos Guarani e Kaiowá. As propostas foram elaboradas e aprovadas como resultados da missão ao MS realizada entre agosto e setembro.

    “As áreas de retomada e acampamentos estão em situação de maior vulnerabilidade e insegurança alimentar e nutricional grave que as demais da região, visto que as terras não estão demarcadas, não acessam as políticas públicas que dependem da regularização e que não são autorizadas a cultivar plantio de alimentos", diz o Consea.

    Há poucos metros da sala da Presidência da República, no Palácio do Planalto, o Consea abordou o acesso dos Guarani e Kaiowá aos alimentos, os impactos de programas sociais, qualidade, quantidade e regularidade das cestas básicas, o acesso à água, documentação e questões relacionadas à demarcação das terras.

    Mobilizações artísticas, políticas e doações de alimentos

    Priscila Anzoategui é jornalista, advogada, militante, mãe e integrante do Coletivo Terra Vermelha (CTV), organização de Campo Grande (MS). Ativista da causa indígena, a militante percorreu todas as comunidades Guarani e Kaiowá em situação de fome e insegurança alimentar. Percorreu, inclusive, levando carros e carros com doações.

    Não se trata, porém, de assistencialismo. "Lá no Tey’i Jusu, Guaiviry, e outros, a gente sabe que os Guarani e Kaiowá querem plantar e estão fazendo de tudo pra voltar a ter essa independência, mas enquanto fazem essa transição precisam das cestas", explica Priscila. O diálogo com caciques e lideranças é constante.

    "Agora em Kurusu Amba, em especial no acampamento do Gilmar, toda vez que a gente vai é essa situação de miséria. No ano passado quando fui levar os alimentos tava bem frio e as crianças descalças. O CTV leva roupas também, e já ajudamos com material escolar", afirma.

    Para conseguir as doações, de um modo geral, o Coletivo articula apresentações artísticas em Campo Grande, faz intervenções políticas e conta com apoios diversos. "As lideranças entram em contato com a gente e tentamos fazer tudo rápido. Uma arte da campanha, escolhe um ponto de arrecadação e começa a difundir".


    No próximo sábado, 21, por exemplo, o Sesc da capital sul-mato-grossense receberá o espetáculo infantil "Kikio" do Grupo Guavira de Teatro de Bonecos. O artista e integrante do CTV Jorge de Barros, cujo ateliê confecciona os bonecos, traz histórias indígenas na peça. Quem quiser conferir e ajudar os Guarani e Kaiowá, pode levar alimentos para doar.

    Read More
  • 17/01/2017

    Desaparecimento de comerciante reacende tensão no sul do Amazonas




    O Conselho Indigenista Missionário – Cimi, Regional Norte I (AM/RR|), vem, publicamente, manifestar preocupação quanto ao clima de tensão e ameaças que pairam sobre o povo indígena Pirahã após o desaparecimento da comerciante Aldelena Carril dos Santos, conhecida na localidade como Alda Alecrim.

    O desaparecimento da referida cidadã em circunstâncias ainda não esclarecidas e a dor dos familiares causa a todos profunda comoção.

    Igualmente, causa-nos apreensão algumas manifestações exacerbadas de preconceito e vingança. O fato aconteceu na área rural do município de Humaitá (AM), no final de dezembro de 2016. A Polícia Civil de Humaitá está investigando o desaparecimento da comerciante. Servidores da  Fundação Nacional do Índio (Funai) já estiveram na área mas se espera do órgão presença mais  atuante no acompanhamento  das investigações.

    Na cidade de Humaitá, em dezembro de 2013, instalações de órgãos públicos de assistência aos indígenas foram depredadas e incendiadas por moradores  depois do desaparecimento e morte de três pessoas. A reação violenta de alguns setores da sociedade humaitaense foi alimentada durante semanas por pessoas influentes na cidade e declaradamente anti-indígenas.

    Neste contexto é imperativo a presença das autoridades na área onde ocorreu o fato para evitar atos de violência de pseudo justiceiros, alimentados pelo preconceito e pela morosidade da investigação.

    Episódios como aquele, de incitamento à violência e condenação pública sem a devida apuração rigorosa dos fatos, devem fazer parte do passado para que outros inocentes não sejam penalizados.

    O Cimi Norte I defende a rigorosa investigação desse fato e espera das autoridades uma condução transparente e imparcial, bem como espera dos formadores de opinião do município de Humaitá a devida prudência na divulgação dos fatos para que a população não seja uma vez mais induzida a atos  de preconceito, vandalismo e violência.

    Manaus (AM), 17 de janeiro de 2017.

    Conselho Indigenista Missionário – CIMI

    Regional Norte I (AM-RR)


    Read More
  • 17/01/2017

    Equador: índios Shuar são expulsos para dar lugar a uma mina chinesa


    foto: Confederação de Nacionalidades Indígenas da Amazônia Equatoriana (CONFENIAE)

    Adaptado de reportagem publicada por Servizio di Informazione Religiosa (SIR), em 14-01-2017, e traduzida por Moisés Sbardelotto

    Um novo apelo em favor do povo indígena Shuar do Equador chega da Repam, a Rede Eclesial Panamazônica, que, na última sexta-feira, emitiu um detalhado comunicado de imprensa para manifestar a sua “preocupação e firme denúncia dos acontecimentos recentes com relação ao povo Shuar do Equador, na província de Morona Santiago, especificamente com respeito ao desalojamento dos povoadores, indígenas e agricultores, da comunidade Nankints, em favor dos interesses da empresa de mineração chinesa Ecuacorrientes S.A.”.

    De acordo com a Repam, o que está acontecendo está relacionado com “a política de super-exploração dos bens naturais que foi imposta na região amazônica com a concessão de direitos a grupos privados, vulnerabilizando gravemente os direitos humanos e a proteção dos ecossistemas”.

    A declaração continua: “Entendemos a vocação para o desenvolvimento social das mulheres e dos homens do Equador, mas a saída não pode se limitar a continuar extraindo os recursos naturais nos espaços mais frágeis e vulneráveis, porque a pobreza que se quer combater momentaneamente chegará igualmente e de forma mais dramática para esses territórios”.

    Daí, também em referência às palavras proferidas pelo Papa Francisco na sua visita ao Equador, o pedido de respeito pelos direitos das populações e, em particular, de consulta prévia e livre, de diálogo e de não repetir atos de força e violência.

    No dia 4 de janeiro, o Conselho de Governo do Povo Shuar Arutam divulgou uma carta ao país e ao mundo, na qual afirmam: “Nossa selva se tingiu com lágrimas, angústia e sangue, e as trilhas e caminhos pelos quais antes transitávamos em paz, agora se tornaram inseguros e perigosos. Se passaram quase trinta anos desde que os equatorianos falaram de nós como os guerreiros do Cenepa, defensores do Equador, ao qual pertencemos. Mas agora é necessário que por nossa própria voz conheçam quem somos nós, porque ninguém nos perguntou, mas têm falado em nosso nome: o governo, dirigentes sociais e políticos mal ou bem intencionados”.

    “Por que se metem em nossas casas? Por que não nos deixam viver em paz?”, questiona o documento, no qual os indígenas ainda asseguram: “Não vamos permitir sob nenhum conceito ou argumento que a violência e a força do Governo termine por destruir nossa casa, tua casa, a casa do mundo”.

    Clique aqui para ler o comunicado da Repam em espanhol.

    Clique aqui para ler a Carta ao país e ao mundo do povo Shuar Arutam, também em espanhol.

    Read More
  • 17/01/2017

    O ano mal começou


    E promete. Temer é temerário. Até prova em contrário, o Estado brasileiro continuará se movimentando no sentido de suprimir direitos e conquistas indígenas e de outros segmentos sociais, como os povos e comunidades tradicionais. Já ficou manifesta a intenção do governo e do presidente da República de limpar do caminho os possíveis obstáculos, como os povos indígenas, para a implementação de grandes projetos. A nomeação do trigésimo quinto presidente da Funai vem nessa direção. A mineração em terras indígenas será outro flanco de luta. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215 e o Projeto de Lei (PL) 1610 continuarão sendo o “cavalo de Tróia” que segue tentando avançar em outros espaços, como a tentativa de implementar o “marco temporal” e a segunda edição da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Funai e do Incra.

    No jogo de xadrez dos interesses anti-indígenas, colocaram um general na frente. Não como presidente do órgão indigenista, mas numa área estratégica para avançar na direção do saque dos recursos naturais nas terras indígenas, principalmente a madeira e os minérios. O general Franklimberg foi nomeado como diretor de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável da Fundação Nacional do Índio (Funai). Ou seja, coerente com o pensamento de que o índio não pode ser um ônus para a nação e muito menos obstáculo ao avanço do progresso do país. Será uma reedição do general Demócrito na direção do “Departamento Geral de Patrimônio Indígena”, o famigerado DGPI da década de 1970.


    A resistência ativa

    Se por um lado vemos com apreensão a retomada das iniciativas anti-indígenas do Estado, particularmente no que tange aos intentos de retirada de direitos indígenas garantidos pela Constituição, por outro é visível e manifesta a disposição do movimento indígena e seus aliados de lutar para que nenhum direito seja suprimido. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) já manifestou sua preocupação com as primeiras manobras do governo e da bancada ruralista nesse início de ano, através da sorrateira manobra para militarizar a Funai e quebrar a resistência dos povos indígenas.

    Nos primeiros dias deste ano já se fez presente em Brasília, uma delegação dos povos indígenas do Rio Grande do Norte, que até pouco tempo era considerado um estado sem população indígena. Vieram dizer que não apenas existem, mas que somarão forças com os demais povos indígenas do país para a garantia dos direitos, exigindo o fortalecimento e ação efetiva da Funai na salvaguarda dos direitos dos povos indígenas. Denunciaram uma série de violências de que foram vítimas nos últimos anos. Se colocaram à disposição da luta pelos direitos dos povos indígenas no país, exigindo o cumprimento da Constituição e, principalmente, da demarcação das terras indígenas.

    Se nos últimos anos a presença de delegações indígenas em Brasília foi intensa, é possível se vislumbrar não apenas a continuidade dessa prática, mas até uma presença quase permanente e continuada nos espaços do poder. Além disso, é possível prever a continuidade e ampliação dos mecanismos de pressão, como as retomadas dos territórios tradicionais e autodemarcação das terras, bem como as denúncias e pedidos de socorro em nível nacional e internacional.

    Kaiowá Guarani: violência e fome

    Lideranças de alguns acampamentos Kaiowá Guarani denunciam que as comunidades estão passando fome, pois dependem de doações e de cestas básicas, que se encontram atrasadas. É lamentável o estado de dependência e vulnerabilidade em que se encontram, principalmente pela não demarcação de suas terras.

    Além disso, estão anunciadas reintegrações de posse de pequenas áreas retomadas, no entorno da terra indígena de Dourados. Áreas essas que, conforme a Funai e Ministério Público, são parte desse território indígena que foram tomadas dos índios com o decorrer do tempo.

    Os Kaiowá Guarani estão submetidos a um processo de genocídio e violência, denunciado nas últimas décadas em vários organismos nacionais e internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização dos Estados Americanos (OEA) e o Parlamento Europeu. Além disso, um relatório foi entregueao Papa Francisco e várias delegações nacionais e internacionais de direitos humanos estiveram em Mato Grosso do Sul.

    Apesar de tudo, estão com grande disposição de fazer avançar os processos de reconhecimento e demarcação de suas terras. Contam com o apoio e solidariedade de todas as pessoas de boa vontade, lutadores pela justiça e pela paz.

    A não aprovação da PEC 215 e a inconclusão do relatório da CPI da Funai e Incra 2 deixaram um gosto amargo na boca do agronegócio e setores anti-indígenas. Tudo indica buscarão revanche nesse início de um novo ano. Os povos indígenas e seus aliados estão atentos e mobilizados para eventuais cenários adversos. Mas a primeira cutucada no agronegócio e suas políticas destrutivas veio donde menos se esperava – da escola de Samba da Imperatriz Leopoldinense. Parabéns e boa sorte aos bravos sambistas.

    Egon Heck
    Cimi Secretariado Nacional
    Brasília, 16 de janeiro de 2017

    Read More
  • 16/01/2017

    Apib presta solidariedade e agradece à Imperatriz Leopoldinense

    A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) manifesta por meio da presente nota pública os seus agradecimentos, parabéns e solidariedade à escola carioca Imperatriz Leopoldinense em razão da sábia e corajosa decisão de produzir e levar para a Marquês de Sapucaí o samba-enredo “Xingu: O Clamor que vem da floresta”.

    Representantes do agronegócio, especialmente membros da bancada ruralista, engenheiros agrônomos e profissionais de uma imprensa subserviente, que se sentiram aludidos, reagiram indignados e iniciaram uma campanha difamatória, de desqualificação e ofensas do samba, de críticas injustas à Imperatriz Leopoldinense, e uma sequência de ataques preconceituosos, racistas e estigmatizantes contra os povos indígenas do Brasil. Tanta revolta porquê?

    Para a Imperatriz Leopoldinense, o samba-enredo, a partir de um compromisso com o social e o desenvolvimento sustentável, “celebra a diversidade”,  ressalta  “a rica contribuição dos povos indígenas do Xingu à cultura brasileira” e constitui “uma mensagem de preservação e respeito à natureza e à biodiversidade”, considerando que “a produção muitas vezes sem controle, as derrubadas, as queimadas e outros feitos desenfreados em nome do progresso e do desenvolvimento afetam de forma drástica o meio ambiente e comprometem o futuro de gerações vindouras”, com resultados devastadores, impactos imensuráveis, “na maioria das vezes irreversíveis”, como os provocados pela Hidrelétrica de Belo Monte (o “monstro”).

    Em efeito, o samba-enredo faz um alerta sobre a destruição em curso da mãe Natureza, e no seu compromisso em dar voz à diversidade, visibiliza os povos indígenas, e denuncia o atual Estado nacional, dominado por uma classe hegemônica que insiste em se enxergar como a única responsável pela formação social brasileira, ignorando a diversidade étnica e sociocultural que compõe o país.

    Para a Apib, a letra do enredo não inventa a história, faz apenas justiça ao tornar pública a verdade de que até hoje os invasores roubam de fato as terras dos povos originários e praticam esbulho e destruição, devoram mesmo, através dos grandes empreendimentos (como Belo Monte) os bens naturais, matam as matas e secam os rios, pensando apenas nos seus lucros, por isso que não pouparam esforços para ajustar a seus interesses o Código Florestal e outros instrumentos jurídicos que visam dar legalidade a suas atrocidades contra os povos e a Natureza.

    Os representantes do agronegócio reiteram as campanhas veiculadas pela mídia corporativa, ressaltando que ele é responsável por 30% dos empregos, 40% das exportações e 22% do PIB e que as terras indígenas não produzem nada, não contribuem com o PIB e não geram emprego.

    No entanto estudos do Instituto de Pesquisa da Amazônia –  IPAM e da Universidade de Brasília – UNB, afirmam que as Terras Indígenas são áreas que comprovadamente apresentam baixas taxas de desmatamento dentro de seus limites e ainda possuem um efeito inibidor do desmatamento em um raio de 10km em seu entorno – isso significa que, além de preservar as florestas e ecossistemas dos seus territórios, os povos indígenas ainda garantem que o seu entorno também seja menos destruído, o que tem salvo o Brasil de uma maior catástrofe ambiental. Em 2016, ano que o desmatamento na Amazônia cresceu 28,7% em relação ao ano anterior, as maiores taxas foram observadas em áreas privadas (35,4%), enquanto a taxa de derrubada em Terras Indígenas foi de apenas 1,28%, configurando-se como a categoria fundiária com as menores taxas de desmatamento.

    Ainda de acordo com os estudos, por causa do desmatamento, a região da Bacia do Xingu sofreu com um aumento de temperatura regional de cerca de 5°C no período de 2002 a 2010. Apenas nas áreas que mantiveram a floresta, no Parque Indígena do Xingu e entorno, a temperatura permaneceu estável. Enquanto a temperatura nas áreas de floresta permaneceu na média de 25°C a 28°C, em áreas desmatadas a temperatura chegou à média de 33°C.

    Por tudo isso, a APIB reitera os seus agradecimentos e solidariedade à escola Imperatriz Leopoldinense para que continue determinada a marcar presença na Sapucaí, para ecoar o samba-enredo “O Clamor que vem da floresta”. A sua arte certamente contribui para tirar os povos indígenas do esquecimento e da invisibilidade, além de reforçar a decisão deles de jamais se curvarem à cobiça, o racismo e discriminação dos sucessivos dominadores, que hoje eles próprios se revelam como os verdadeiros vilões do meio ambiente e do desmatamento no Brasil.

    Por fim, a assessoria jurídica da Apib estuda as medidas judiciais cabíveis para conter a onda de ataques racistas, injúrias e incentivos à violência intensificados contra os povos indígenas por parte de setores do poder econômico, donos ou representantes do agronegócio.

    Pelo direito de viver!

    Brasília – DF, 16 de janeiro de 2017.

    Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB

    Mobilização Nacional Indígena


    Read More
  • 16/01/2017

    NOTA PÚBLICA: “Recuar jamais na defesa dos direitos conquistados”, diz Apib sobre indicações à Funai

    Recuar jamais na defesa dos direitos conquistados


    A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB, diante das indicações à presidência e cargos de diretoria na Funai, preenchidas como parte da cota do Partido Social Cristão (PSC) decorrente das articulações do golpe parlamentar que levou Temer à Presidência da República, reafirma publicamente anteriores manifestações nas quais a entidade repudia as tentativas de militarizar e desmontar o órgão indigenista, com a nomeação de militares para presidi-lo, a redução drástica do orçamento e do quadro de servidores, a paralisação das demarcações das terras indígenas, as mudanças por meio de iniciativas legislativas ou medidas administrativas do procedimento de demarcação, a crescente criminalização de lideranças indígenas.

    A decisão da Casa Civil de efetivar indicações do PSC não poderia ser diferente, pois esse é o perfil e a cara do ilegítimo Governo Temer, alavancado pelas bancadas ruralista, evangélica, da mineração, do boi, da bala, e assim por diante. Contrariando o entendimento do movimento indígena e de seus aliados, apoiado por amplos setores da opinião pública nacional e internacional, o governo manteve a decisão confrontar os povos indígenas, nomeando para compor a equipe da Funai  um diretor militar, o general Franklinberg, rotundamente contestado pelas mobilizações indígenas quando pretendia ser presidente do órgão.

    O movimento indígena não pode esquecer que o PSC é parte do batalhão de parlamentares que perseguem suprimir os direitos constitucionais dos povos indígenas: votou a favor da PEC 215, compõe a CPI da Funai / Incra por meio do deputado Bolsonaro filho, e é postulador do projeto de lei do infanticídio voltado a criminalizar os povos indígenas. Ou seja, trata-se de um partido anti-indígena. Será que o novo presidente, Antonio Costa, vai conseguir reerguer a Funai, se contrapondo às diretrizes do seu partido, assegurando a implementação de todas as reivindicações publicamente conhecidas dos povos e organizações indígenas?

    A APIB chama a suas bases a estarem vigilantes, fortemente unidos, e a não recuarem jamais na defesa de seus direitos conquistados.  

    Brasília – DF, 13 de janeiro de 2017.

    Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB

    Mobilização Nacional Indígena


    Read More
  • 13/01/2017

    Missionários da Consolata na América definem opções de trabalho para projeto continental



    Definir um Projeto Continental para os missionários da Consolata na América. Este é o objetivo da Assembleia Continental Pré-capitular do Instituto Missões Consolata (IMC) que acontece ao longo desta semana, dias 8 a 14, em Bogotá na Colômbia.

    O documento final do encontro será a contribuição dos missionários que atuam na Argentina, Brasil, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, México, Canadá e Estados Unidos, para compor o instrumento de trabalho do XIII Capítulo Geral, a ser realizado em Roma ainda no primeiro semestre deste ano.

    Conduzidos pelos moderadores, o padre Leonel Narváez Gómez e a engenheira Diana Sosa, especialistas em metodologia, os principais esforços dos 23 participantes no encontro, nos últimos dias, se concentraram na escolha das opções e serviços que os missionários desejam assumir nas seis regiões da América. Seguindo o documento de estudo preparado por uma Comissão especial, a Assembleia reafirmou como opções: os povos indígenas, pastoral Afro, periferias urbanas, Amazônia e juventudes. Ao fazer uma opção pelos jovens, os missionários reafirmam que eles são um sujeito ad gentes e ao mesmo tempo, uma riqueza para a Igreja e o Instituto que precisam de seu vitalidade para a missão. Foram escolhidos também como prioritário, os serviços da Animação Missionária Vocacional, comunicação e formação. Além disso, um bom tempo foi dedicado à reflexão sobre uma economia para a missão e seus desafios.

    “Queremos dar especial atenção aos novos rostos da missão e ir ao encontro das periferias existenciais”, explica o padre queniano Venanzio Mwangi, coordenador do Secretariado Pastoral Afroamericana e caribenha (SEPAC/CELAM). “Que o Espírito Santo continue a nos iluminar para ouvir, interpretar e estar atentos aos gritos de cada um desses rostos”, conclui o padre.

    Com a finalidade de produzir um texto mais conciso, com propostas operativas e metas para cada uma das opções e serviços, foram realizados vários trabalhos em grupos. Ao mesmo tempo, em mutirão, foram esclarecidos alguns conceitos chaves.

    O Superior Geral, padre Stefano Camerlengo, e três conselheiros também estão presentes na reunião. “Estou feliz porque o clima é muito sereno e familiar, também com os leigos. O empenho de cada um é muito bom, estão convencidos e trabalham com responsabilidade”, avalia. O padre Geral sublinha que “o documento é muito rico e a metodologia é particular por que trabalha não somente as palavras chaves, mas os valores e a finalidade”. Padre Stefano complementa: “estamos fazendo um bom caminho desejosos de pensar algo novo para o Continente e para todo o Instituto. Estou otimista, mas um pouco preocupado em harmonizar o Instituto em geral. Este será o trabalho final, em preparação ao Capítulo Geral”.

    Na opinião do responsável pela Região IMC da Aregentina, padre Maurício Guevara, com relação à programação “estamos no caminho certo”. O missionário destaca o trabalho realizado pela comissão especial que se reuniu em Buenos Aires para redigir o documento de estudo, texto revisado pelos superiores. “O trabalho desta Assembleia é propor linhas operativas e enriquecer os pontos mais fracos como a organização e a economia. Vejo que estamos seguinto a metodologia proposta”, reforça padre Maurício.

    Os Leigos Missionários da Consolata (LMC) reunidos nestes dias em Bogotá, apresentaram sua visão e missão no Continente, documento que será integrado ao texto final da Assembleia. Um grupo de Irmãs missionárias da Consolata que trabalha com os povos indígenas e coordenam as circunscrições da Argentina e Bolívia, também marcou presença saudando a Assembleia.

    Todos os dias, pela manhã, as reflexões são iluminadas com a Leitura Orante da Palavra sobre textos relacionados com a Igreja de Antioquia descrita nos Atos dos Apóstolos e cartas de Paulo. O exercício é orientado pelo biblista César Augusto Baratto Abelo, que faz uma leitura popular da Bíblia. A dinâmica tem por finalidade inspirar propostas concretas para os desafios da missão hoje.

    Participam da Assembleia 23 missionários sendo seis superiores provinciais e 17 delegados ao Capítulo Geral além da Direção Geral. O evento que acontece na casa regional da congregação em Bogotá, conta com dois moderadores, dois secretários e uma equipe de comunicação.

    Leia também: Missionários da Consolata realizam Assembleia Continental

    Read More
Page 354 of 1202