• 26/04/2017

    Seminário em Bruxelas debate Violação de Direitos Humanos dos Povos Indígenas do Brasil


    Delegação brasileira com apoiadores internacionais para o Debate Bilateral com a União Europeia. Foto: Divulgação/Fian


    O “Seminário da Sociedade Civil União Europeia-Brasil em Direitos Humanos”, que acontece na cidade de Bruxelas, Bélgica, neste dia 26 de abril, reunirá representantes de organizações brasileiras e europeias para um diálogo sobre a situação vivida pelos povos indígenas, população privada de liberdade, migração e discriminação Racial e intolerância religiosa.

    O evento é preparatório ao Diálogo oficial entre a União Europeia e o Brasil sobre direitos humanos, que ocorre no dia 27 de abril, também em Bruxelas. Para o secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Cleber Buzatto, que representa a entidade no Seminário, “trata-se de uma importante oportunidade de fortalecer o engajamento e a articulação da sociedade civil brasileira e europeia a fim de que os direitos humanos sejam melhor protegidos e promovidos em ambas realidades geográficas”.


    As conclusões do Seminário da sociedade civil serão levadas e consideradas como parte do Diálogo Bilateral, que contará com a participação do corpo diplomático da União Europeia, representada pela Comissão Europeia, e do Brasil, representado pelo Ministério das Relações Exteriores.

    Em sua 6ª. Rodada, pela primeira vez o tema “Povos Indígenas” entrou na pauta do Diálogo Oficial bilateral EU-Brasil sobre direitos humanos.  A visibilidade internacional relativa à situação caótica enfrentada pelos povos indígenas no Brasil certamente contribuiu para a inclusão do tema na pauta do Diálogo bilateral neste ano de 2017. “Os povos indígenas, seus direitos e aliados estão sob violento e sistemático ataque por parte de setores político-econômicos vinculados ao agronegócio no Brasil. O agronegócio produz commodities e a União Europeia importa parte dessa produção", denuncia Buzatto.


    Para o missionário indigenista, "é importante que a sociedade civil e a Comissão Europeia estejam cientes das violações de direitos humanos dos povos indígenas, quilombolas, populações tradicionais e camponeses decorrentes da produção dessas commodities no Brasil e como sua importação e consumo, pelos Europeus, pode estar contribuindo nesse processo”.

    Na ocasião, serão apresentados casos concretos de violações de direitos humanos de povos indígenas no Brasil, a exemplo do que ocorre com os Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul. O massacre de camponeses em Colniza, no Mato Grosso, ocorrido no último 19 de abril, também será retratado no Seminário. Por fim, serão aportadas recomendações a serem adotadas pela União Europeia e seus Estados Membro e pelo Estado brasileiro.


    Do Brasil, além do Cimi, participam, dentre outros, representantes da Associação Nacional de Organizações Não Governamentais (Abong), Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), Movimento Nacional de População de Rua e FASE. Da Europa, dentre outros, participam representantes da Anistia Internacional, FIAN Internacional, AVSI Fundation e Povo Saami.

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  • 25/04/2017

    “Estavam atirando em nós como se fôssemos criminosos”

    Na tarde desta terça-feira (25), mais de três mil indígenas que participam do 14º Acampamento Terra Livre tomaram as ruas da Esplanada dos Ministérios, em Brasília.Depois de realizar uma espécie de grande marcha fúnebre, eles acabaram sendo reprimidos ao tentar depositar quase 200 caixões no espelho de água do Congresso. Os policiais utilizaram gás lacrimogênio e spray de pimenta contra os manifestantes. Havia mulheres, crianças e idosos no ato.

    “Essa marcha simboliza o genocídio que o governo, junto ao parlamento e a Justiça, estão fazendo com os direitos dos povos indígenas. Queremos mostrar para o Brasil e o mundo o quanto a legislação indigenista brasileira está sendo atacada”, diz Kleber Karipuna, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).


    Manifestante protege-se de ataque da polícia. Foto: Mídia Ninja / MNI

    “A nossa principal pauta é pela demarcação das Terras Indígenas. É a primeira vez que se reúnem mais de três mil indígenas em Brasília nos últimos anos”, comenta Eunice Kerexu Guarani Mbya, da TI Morro dos Cavalos.

    Saindo do acampamento, ao lado do Teatro Nacional Cláudio Santoro, a manifestação caminhou tranquilamente durante cerca de 40 minutos, quando chegou ao Congresso. A ação pacífica foi dispersada pelas polícias militar e legislativa.


    Protesto foi pacífico até intervenção da polícia. Mídia Ninja / MNI

    Angela Katxuyana, liderança indígena do norte do Pará, repudia a ação da polícia: “Cada dia a gente vem sofrendo, vem sendo massacrado, e quando a gente vem dialogar com o Estado, acontece isso. A violência contra os povos indígenas continua tanto no papel quanto aqui”, diz.

    José Uirakitã, do povo Tingui Botó (AL), testemunhou a repressão, que se seguiu por mais de 1h, coletou artefatos utilizados pela polícia: “Eles estavam atirando como se fossemos criminosos”, revela.

    De Pernambuco, Cida Atikum, uma das quase mil mulheres que participavam da ação, também se indignou: “Nós queremos o que é nosso por direito. Por isso que nós vamos mostrar que ‘pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga não assanha o formigueiro!”

    Cartucho de bomba de gás recolhido. Foto: Rafael Nakamura / MNI

    Após a primeira dispersão, os indígenas tentaram continuar em frente ao Congresso, porém foram atacados seguidamente por novas levas de bombas de gás lacrimogêneo. Com a suspeita de que algum indígena pudesse ter sido detido, diversos manifestantes permaneceram no local com seus cantos e rezas. Ao fim do ato nenhum indígena foi preso.

    Deputados da bancada do PT e do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) reuniram-se com os indígenas para manifestar sua solidariedade ao ato. Na tarde de amanhã, uma delegação de indígenas será recebida em uma sessão especial da Comissão Especial de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.


    Manifestante recolhe cápsulas de borracha atiradas pela polícia. Mídia Ninja / MNI


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  • 25/04/2017

    Protesto pacífico de indígenas é atacado pela polícia na frente do Congresso Nacional


    Crédito das fotos: Mídia Ninja/Mobilização Nacional Indígena

    Um protesto pacífico de mais de três mil indígenas foi atacado com bombas de efeito moral e gás pela policia na frente do Congresso, na tarde de hoje (25/4). Os manifestantes foram dispersados após tentarem deixar quase 200 caixões no espelho de água do Congresso. Vários manifestantes passaram mal por causa do gás. No protesto, havia centenas de crianças, idosos e mulheres.

    Um gigantesco cortejo fúnebre tomou conta da Esplanada dos Ministérios por volta das 15h. Os manifestantes saíram do acampamento onde estão, ao lado do Teatro de Nacional de Brasília, levando os caixões e um banner com a expressão “Demarcação Já”. Eles seguiram tranquilamente até o Congresso.

    Os caixões representavam líderes indígenas assassinados por causa dos conflitos de terra em todo país – 54 indígenas foram assassinados em todo o país por causa de conflitos de Terra, só em 2015, segundo Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

    “São nossos parentes assassinados pelas políticas retrógradas de parlamentares que não respeitam a Constituição Federal”, explica a liderança Sônia Guajajara, da coordenação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

    Até o fechamento desta notícia, os manifestantes seguiam cantando e dançando em frente ao Congresso. Eles prometem permanecer até um pouco mais tarde no local.

    Os indígenas participam da 14ª edição do Acampamento Terra Livre, a maior mobilização indígena dos últimos anos. O evento vai até esta sexta (28/4) e protesta contra a paralisação das demarcações de Terras Indígenas, a nomeação do deputado ruralista Osmar Serraglio (PMDB-PR) com ministro da Justiça, o enfraquecimento da Fundação Nacional do Índio (Funai) e as várias propostas em tramitação no Congresso contra os direitos indígenas.

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  • 25/04/2017

    NOTA PÚBLICA PASTORAIS DO CAMPO – Omissão e impunidade geram mais um massacre

    As Pastorais do Campo do Brasil divulgam Nota Pública sobre o Massacre de Colniza em que destacam que "o assassinato destes companheiros não significa simplesmente uma violência contra cada um deles, mas também contra suas famílias, contra a comunidade de Taquaruçu e contra toda a humanidade. Um ataque direto à luta pela terra, pelos territórios, pela água, pelo trabalho, à luta por todos os direitos e pela dignidade das comunidades e dos povos do campo". A foto reproduz trecho do vídeo feito pelo Centro Popular de Audiovisual. Assista aqui.


    “Mas você não tem olhos nem coração,

    a não ser para seu lucro,

    para derramar sangue inocente

    e para praticar a opressão e a violência”.

    (Jr 22, 16-17)

    As Pastorais do Campo receberam com muita tristeza e indignação a notícia do massacre de 09 camponeses – número confirmado até o momento – na linha 15 da Gleba Taquaruçu do Norte, localizada na área rural do município de Colniza (1.065 quilômetros de Cuiabá), região noroeste do Mato Grosso, ocorrido no último dia 19 de abril, justamente na semana em que se completam 21 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, que vitimou 19 pessoas e continua impune.

    Por meio desta, solidarizamo-nos com as famílias das vítimas: Aldo Aparecido Carlini, Edison Alves Antunes, Ezequias Santos de Oliveira, Fábio Rodrigues dos Santos, Francisco Chaves da Silva, Izau Brito dos Santos, Samuel Antônio da Cunha, Sebastião Ferreira de Souza e Valmir Rangeu do Nascimento, todos trabalhadores rurais.

    Este massacre é mais um capítulo de uma longa história que se iniciou em 2004, quando 185 famílias de agricultores foram expulsas de suas posses por pretensos proprietários. Mesmo o juiz tendo concedido reintegração de posse às famílias, os conflitos continuaram. Em 2007, uma dezena de agricultores foi vítima de torturas e de cárcere privado, e meses depois três foram assassinados. Os suspeitos pelas violências eram fazendeiros em associação com uma organização de extração ilegal de madeira. O local da chacina fica em uma área de interesse para madeireiros e mineradoras. Mesmo depois da intervenção da polícia e prisão de algumas pessoas, os conflitos não cessaram. Em 2011, mais de 700 pessoas ainda estavam acampadas na entrada da Fazenda Estrela, aguardando para retornarem à sua terra. E agora este bárbaro desfecho que repudiamos com veemência.

    A chacina se deu com requintes de crueldade inimagináveis. Todos os corpos apresentavam sinais de tortura. O assassinato destes companheiros não significa simplesmente uma violência contra cada um deles, mas também contra suas famílias, contra a comunidade de Taquaruçu e contra toda a humanidade. Um ataque direto à luta pela terra, pelos territórios, pela água, pelo trabalho, à luta por todos os direitos e pela dignidade das comunidades e dos povos do campo.

    No último dia 17 de abril, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) lançou, em Brasília, sua publicação anual Conflitos no Campo Brasil 2016, que denuncia o aumento alarmante destes conflitos, com um número absurdo de 61 assassinatos em 2016 – o maior número registrado desde 2003, 11 a mais que em 2015. O ano de 2017 já começou violento, com 20 assassinatos em três meses e meio.

    Este massacre não é um fato isolado. Acontece numa região de fronteira agrícola e de muitos conflitos, com outras áreas em tensão. Em 2014, o casal de agricultores José Paulino de Castro e Ireni da Silva Castro foi assassinado na região de Guariba, Colniza, por conta das denúncias que fizeram contra a extração ilegal de madeira e vários outros crimes. A região tem infraestrutura muito precária, de difícil acesso, as pessoas vivem inseguras, estão sofrendo novas ameaças e por isso abandonando sua área.

    Este massacre acontece também num momento difícil para o Brasil, com ataques cotidianos aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, em específico os do campo, perpetrados pelo Executivo e Legislativo, com um Judiciário omisso e, em muitas situações, conivente com latifundiários, empresários e grandes corporações, que estão invadindo territórios de povos do campo, assassinando pessoas e aterrorizando comunidades.

    Se fosse somente uma pessoa assassinada já seria um absurdo, um fato inaceitável. Quanto mais 09 camponeses que estão lutando por um direito sagrado e constitucional do acesso à terra, essencial à sua vida. Não é possível ficarmos calados diante desses ataques frontais à pessoa humana e seus direitos, que atingem a todos e todas nós.

    Convocamos a todas as pessoas, organizações nacionais e internacionais, a denunciar esse crime hediondo, para que a Justiça seja feita, neste país da impunidade. E exigimos que os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário cumpram a sua obrigação de garantir os direitos dos cidadãos e cidadãs do campo, pois sua simples omissão permite o avanço da violência. Exigimos também que os responsáveis por este massacre sejam identificados e punidos exemplarmente. Estamos alertas para que outras versões do crime não venham  descaracterizar o ocorrido, inclusive e, sobretudo, quanto à responsabilidade do Estado pela omissão frente aos conflitos na região.

    Reafirmamos nosso compromisso irrenunciável de estar ao lado dos que sofrem violência e rogamos ao Deus da Vida que conceda força às famílias de Taquaruçu do Norte e coragem a todas as pessoas que lutam pelos seus direitos.

    Comissão Pastoral da Terra (CPT)

    Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP)

    Conselho Indigenista Missionário (CIMI)

    Serviço Pastoral do Migrante (SPM)

    Cáritas Brasileira

    Goiânia / Brasília, 25 de abril de 2017.

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  • 25/04/2017

    Debates movimentam o segundo dia do ATL/2017 antes de marcha pela Esplanada dos Ministérios

    O dia amanheceu movimentado no 14º Acampamento Terra Livre, em Brasília. Logo cedo, ocorreram apresentações de danças e cantos tradicionais dos mais de cem povos acampados ao lado do Teatro Nacional Claudio Santoro.

    Ontem (24), o presidente da Funai publicou o relatório de identificação e delimitação de uma Terra Indígena do povo Guarani no Rio de Janeiro e, hoje, foram publicadas outras quatro, três no Vale do Ribeira (SP), do povo Guarani Mbya, e uma do povo Pipipã, no Vale do São Francisco (PE).

    À tarde, os participantes do Acampamento Terra Livre seguem em marcha rumo ao Congresso Nacional como parte da programação que acontece em Brasília até sexta-feira (28).


    Líderes indígenas na plenária da manhã de hoje no ATL. Foto: Mídia Ninja / MNI

    Delegações estrangeiras

    Delegações de povos indígenas da Indonésia, Guatemala, Equador e Bolívia também estiveram na tenda principal para se unir ao coro e demonstrar solidariedade. “Lutamos pelos direitos dos povos indígenas. Estou muito feliz em conhecer tantos povos diferentes no Brasil”, diz Devi Aggraini, da Organização das Mulheres Indígenas da Indonésia.

    Por volta das 10h30, foram iniciados os debates com mesas temáticas que discutiram as ameaças aos direitos indígenas nos três poderes do Estado.

    A primeira reuniu lideranças indígenas das diversas regiões do Brasil.  “Vamos escrever uma carta e entregar pessoalmente para os chefes de Estado para ver se, dessa vez, vão nos ouvir”, disse Raoni Kayapó.

    Um ponto comum nas falas de várias lideranças foi a falta de representatividade dos povos indígenas na política institucional. “O retrocesso está aí porque temos uma bancada ruralista. Cadê a bancada indígena?”, questiona Telma Marques Taurepang.


    Acampamento Terra Livre ao lado do Teatro Nacional, em Brasília. Foto: Mídia Ninja / MNI

    “Precisamos eleger nossos indígenas no Congresso Nacional. Não temos nenhum político que nos represente e que fale por nós”, diz Almerinda Tariana, da região do Alto Rio Negro (AM).

    Na visão dos debatedores, os atuais representantes nos três poderes personificam as principais ameaças sofridas pelos povos indígenas em seus territórios.

    “Cada dia estamos sendo mais encurralados por este governo”, diz Antônio da Silva Awá, da aldeia Renascer em Ubatuba, litoral de São Paulo.

    “Os deputados, senadores, governadores não nos conhecem. Eles dizem que não trabalhamos, mas só ficam dentro de uma sala escrevendo no papel leis para nos prejudicar”, completa Kuiussi Kisedje, liderança do Território Indígena do Xingu.

    “Nossas vozes indígenas, que são de muitas línguas, não podem ser ignoradas”, comenta Alvaro Tukano.

    Ataques nos três poderes

    Ao meio dia, na segunda mesa temática, participaram membros das organizações de apoio ao ATL, que falaram principalmente sobre o papel do judiciário e do legislativo nos recentes ataques aos direitos dos povos indígenas.

    “Quando o poder judiciário impõe o marco temporal de 1988 ele muda a constituição sem consultar os povos indígenas”, diz Valéria Buriti.

    Adelar Cupsinski, assessor jurídico do Conselho indigenista Missionário, avaliou que o Estado que sistematicamente ignora as constantes denúncias feitas sobre a situação povos indígenas no Brasil. “Levar a questão indígena para os organismos internacionais é uma estratégia importante no momento político que o Brasil está passando”, disse.

    Sonia Guajajara, da coordenadora da Apib, finalizou os debates fazendo um chamado à mobilização: “Estamos aqui para dizer ao Estado brasileiro que não vamos permitir o desmonte de nossos direitos. Estamos aqui para dizer que existimos”.


    Participantes do acampamento almoçam. Foto: Mídia Ninja / MNI


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  • 25/04/2017

    Relatórios lançados no ATL escancaram violação de direitos indígenas

    Na noite de ontem (24/4), a plenária de abertura do 14º Acampamento Terra Livre (ATL), maior mobilização indígena dos últimos anos, foi o espaço para o lançamento de um conjunto de documentos sobre a situação dos direitos indígenas no País.

    A Relatoria de Direitos Humanos e Povos Indígenas da Plataforma de Direitos Humanos (Dhesca Brasil) reuniu em um só documento três relatórios: o Relatório da Missão ao Brasil da Relatora Especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os direitos dos povos indígenas, o Relatório do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) sobre a situação dos povos indígenas no sul do Brasil e o Relatório da Coalizão de defesa dos Direitos Indígenas para a Revisão Periódica Universal (RPU/ONU).

    “Apesar de termos uma constituição protetiva, ela está sob ataque, tanto do Legislativo, como do Executivo e do próprio Judiciário. Esse ataque se materializa na paralisação de demarcação de terras indígenas, na impunidade com relação aos crimes e violências de todos os tipos cometidos contra povos e comunidades indígenas e na crescente criminalização das lideranças e comunidades que resistem e lutam por seus direitos”, afirma Érika Yamada, relatora da Plataforma Dhesca. Ela avalia que há um padrão de graves violações de direitos humanos que o Estado brasileiro ainda precisa reconhecer.


    Participantes da plenária de recepção do ATL. Fotos: Mídia Ninja / MNI

    Uma das questões centrais abordadas nos relatórios, todos elaborados com a participação de povos e organizações indígenas, é o forte racismo que persiste contra os indígenas no Brasil.

    “Há um racismo institucional, que impede a garantia do acesso à justiça aos povos indígenas, que faz perdurar processos de demarcação sob crescente insegurança jurídica e que deixa impune aqueles que praticam crimes contra as comunidades. Esse racismo que também está na fala de autoridades públicas, quando dizem que os índios e outros grupos não prestam, que terra não enche barriga de índio, quando dizem que o índio não pode ficar parado no tempo, ou que é inútil e preguiçoso, que não haverá terra demarcada, e claro que compara indígenas ou quilombolas a gado”, avalia a relatora.

    O cenário político do início de 2017 e as ações contrárias aos povos indígenas adotadas pelo governo Temer também são abordadas no documento, como a Portaria 80 do Ministério da Justiça, publicada em janeiro. A norma cria um Grupo Técnico Especial (GTE) na pasta para analisar os relatórios de identificação e delimitação das terras indígenas produzidos pela Fundação Nacional do Índio (Funai). A portaria foi duramente criticada por indígenas e indigenistas por criar, na prática, uma nova instância com a finalidade de dificultar as demarcações de terras.

    Além destes pontos, a publicação analisa ainda a efetivação do direito de Consulta Prévia, Livre e Informada sobre projetos que afetem os povos indígenas, as políticas de saúde, educação e serviços sociais, a atuação da Funai, o acesso dos indígenas à Justiça e o as ameaças representadas por megaprojetos econômicos.

    Segregação dos indígenas no Sul

    “A situação que encontramos nos três estados da região Sul é muito dramática. É uma situação de confinamento, na qual nem sequer os direitos sociais mínimos, como bolsa-família, estão sendo assegurados aos indígenas. Esse confinamento se dá em locais nos quais os indígenas não tem nem sequer espaço para construir casas ou enterrar os mortos”, explica Adelar Cupsinski, assessor jurídico do Cimi e coordenador do grupo de trabalho que elaborou o relatório sobre a Região Sul.

    “Esses relatórios são importantes porque são um momento em que nossa fala é mostrada, o que fortalece nossa luta. A sociedade tenta invisibilizar a nós, indígenas, todo o tempo, especialmente na região Sul, em que todo o tempo os políticos estão falando que não tem indígenas lá”, afirma Kerexu Yxatyry, liderança Guarani Mbya da Terra Indígena (TI) Morro dos Cavalos, uma das abordadas pelo relatório do CNDH.

    Exemplo da situação enfrentada por vários povos indígenas do Brasil, os Guarani Mbya lutam pela demarcação de da TI Morro dos Cavalos há 24 anos. Desde 2008, os indígenas aguardam a homologação da TI, última etapa formal de reconhecimento de uma terra indígena.

    “A não demarcação atrapalha todo o modo de vida Guarani, principalmente na questão do plantio, da caça e do acesso à matéria-prima para fazer nossas casas e artesanatos. De 1988 hectares, ocupamos menos de um quarto da terra indígena, um espaço bem pequeno. A maioria das casas dos indígenas estão concentradas próximas da rodovia BR-101 e as partes melhores ainda estão ocupadas por posseiros”, explica a indígena.

    Recomendações ignoradas e direitos não efetivados

    No relatório divulgado em setembro de 2016 a respeito de sua visita ao Brasil, ocorrida meses antes, a relatora especial da ONU sobre os direitos dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, caracterizou a situação dos povos indígenas no Brasil como a mais grave desde a adoção da Constituição Federal de 1988.

    Tauli-Corpuz apresentou uma série de recomendações ao Estado brasileiro para superar a grave situação que a relatora da ONU verificou durante sua passagem pelo Brasil. Um ano depois de sua visita, entretanto, nenhuma das recomendações foi cumprida, conforme denunciaram ao Alto Comissariado da ONU a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e outras 30 organizações no início de abril.

    “O Brasil será sabatinado no dia 5 de maio na ONU. Como agora ele é membro do Conselho de Direitos Humanos, isso deveria forçá-lo a arcar de forma mais firme com esses compromissos. Depois da sabatina, espera-se que o governo faça uma apresentação das recomendações recebidas”, afirma Yamada.

    “Olhando para o cenário político, eu vejo um cenário desesperador. É um trator passando por cima de todo o Brasil, especialmente dos indígenas. Mas, por outro lado, vejo que hoje os indígenas tomaram posse dessa questão da luta pelos direitos, como foi na década dos anos 1980 pela Constituinte. Infelizmente, hoje deveríamos estar usufruindo daquela luta do passado, mas estamos lutando para garantir que permaneçam esses direitos”, conclui Kerexu Yxatyry.


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  • 25/04/2017

    Lideranças indígenas se reúnem com Lula

    Atendendo a convite feito pelo Instituto Lula, lideranças indígenas de diversas regiões do país se reuniram com o ex-presidente Lula, na noite desta segunda-feira (24). Os indígenas falaram sobre demandas que estão sendo discutidas no Acampamento Terra Livre 2017, que vai até esta sexta (28), em Brasília. Foto: Alan Azevedo/MNI

    A conversa aconteceu no Centro Internacional de Convenções do Brasil, em Brasília, durante agenda do ex-presidente no seminário “Estratégias para Economia Brasileira”.

    Sônia Guajajara, da coordenação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), afirmou que a demarcação das terras indígenas durante os governos do PT foi insatisfatória, mas avaliou que a situação piorou com o governo Temer.

    “O mais grave agora é que o relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, Osmar Serraglio, foi nomeado ministro da Justiça. Agora não é só mais uma ameaça de retrocesso, mas já é o retrocesso em execução”, afirmou Sônia. A PEC tramita na Câmara e transfere do governo federal para o Congresso a última palavra sobre as demarcações. Se o projeto for aprovado, as demarcações devem ser paralisadas definitivamente.

    O cacique Babau Tupinambá chamou atenção para as poucas demarcações na região nordeste e o aumento da criminalização das lideranças indígenas. Eliseu Lopes, do Conselho Aty Guasu, relatou a situação de luta pela terra vivida pelo povo Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do sul, onde enfrentam inúmeras violências. O cacique Marcos Xukuru ressaltou que é preciso participação indígena na política.

    Lula fez diversas perguntas às lideranças em relação às suas demandas e participação em programas como Prouni. Destacou a importância de se fazer articulações nos Estados para eleger pessoas alinhadas com os movimentos indígenas no sentido de fortalecer a luta por seus direitos com adesão entre vereadores e deputados.

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  • 25/04/2017

    Mobilizados pela Sobrevivência


    Crédito das fotos: Egon Heck/Cimi


    Por Renato Santana, jornalista do Cimi, Especial para o Le Monde Diplomatique


    Um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) voltou a tramitar na Câmara Federal. Entre os mais de 100 envolvendo a questão indígena, a matéria em destaque pretende sustar a demarcação da Terra Indígena (TI) Taego Ãwa, do povo Avá-Canoeiro do Araguaia (TO). A Portaria Declaratória do Ministério da Justiça, publicada em 11 de maio de 2016, garantiu a posse do território ao povo impedido de forma violenta, na década de 1970, a manter a sua escolha pela condição de livre. Depois de retirados à força da Mata Azul, os indígenas foram enjaulados, expostos para visitação pública, boa parte morreu de doenças alheias à vida longe da sociedade branca e os remanescentes acabaram entregues aos Javaé – ocupantes de uma terra vizinha ao território Avá-Canoeiro. Tutawa Ãwa, ancião capturado ainda jovem pela frente de atração da Fundação Nacional do Índio (Funai), morreu em 2015 sem ao menos ter o direito de ser enterrado no último refúgio de seu povo antes do trágico contato: o Capão de Areia.

    Na ocasião da demarcação da TI Taego Ãwa, ocorria o 13º Acampamento Terra Livre (ATL), em Brasília (DF), organizado pela Articulação Nacional dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), e a mesma Câmara Federal ia ao voto prometendo livrar o país da corrupção e da crise econômica com o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Quase um ano depois, além das dezenas de políticos envolvidos em corrupção que se instalaram em ministérios, na máquina e correias de transmissão do governo na estrutura do Estado, o povo Avá-Canoeiro pode ser destacado como um símbolo do que se tornou a ofensiva contra o direito à terra dos povos indígenas no país; não basta apenas impedir as demarcações, mas reverter as realizadas pelos governos anteriores. Por coincidência típica na forma do Estado brasileiro tratar os povos indígenas, o PDL contra a demarcação da TI Taego Ãwa ocorre às vésperas da 14ª edição do ATL, que esta semana levará centenas de povos indígenas à Capital Federal.

    “Reverter a Portaria Declaratória agora seria um retrocesso inominável depois de todo o esforço que foi feito para que a Funai revisse a grande injustiça e violência feitas contra os Avá-Canoeiro. Depois de mais de 40 anos, a FUNAI reconheceu que a necessidade de uma reparação histórica mínima ao grande erro cometido com a captura de sobreviventes do grupo em 1973, os quais foram transferidos para a terra de seus antigos adversários históricos, onde vivem até hoje. A portaria declaratória foi o mais importante passo até agora de reparação e justiça por parte do Estado Brasileiro em relação aos Avá-Canoeiro, que foram vítimas de uma tentativa de genocídio pela sociedade nacional. Revê-la agora seria dar continuidade a esse processo histórico e violento de genocídio”, afirma a antropóloga Patrícia de Mendonça Rodrigues. O alerta da cientista reverbera o que está em jogo na edição do ATL/2017.

    Desde a nomeação do deputado federal ruralista Osmar Serraglio (PMDB/SC) para a cadeira de ministro da Justiça, a pauta anti-indígena oriunda da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, do Marco Temporal, dos ataques racistas de incitação à violência e ao ódio contra os povos indígenas, além da liquidez orquestrada de direitos constitucionais, tornou-se um projeto de governo sem intermediários e de ordem narrativa direta. “Vamos parar com essa discussão sobre terras. Terra enche a barriga de alguém?”, afirmou Serraglio em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo no último dia 10 de março. O ministro ruralista não trabalha sem o aval de Michel Temer, que o autorizou a demitir no dia 19, o Dia do Índio, o atual presidente da Funai, Antônio Costa. As razões ratificam a radicalidade dos ruralistas na atual conjuntura visando uma solução definitiva contra a permanência dos povos indígenas sobre os territórios sagrados – o que até o momento tem enfrentado épica resistência dos indígenas.

    Conforme reportou o site Congresso em Foco: “A demissão foi exigida pelo líder do governo no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE), porque o presidente da entidade responsável pela gestão das terras indígenas não aceitou nomear 25 pessoas indicadas por ele desde que a nova direção da Funai tomou posse”. Costa assumiu a presidência do órgão indigenista estatal depois do loteamento realizado por Temer como forma de quitar débitos pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. O PSC, cujo presidente é o Pastor Everaldo, pediu a Funai. São multifacetados os interesses do PSC, um partido com DNA evangélico, na questão indígena; envolve a gestão da saúde indígena à conversão de indígenas ao segmento religioso que cresce de forma perniciosa na política institucional. No entanto, a postura de Costa contra a total usurpação da Funai aos inimigos declarados dos povos indígenas o colocou em rota de colisão não apenas com o PSC, mas sobretudo com o avalista do cargo: o PMDB. O deputado Carlos Marun (PMDB/MS), mesmo partido de Serraglio, também pressionou para a contratação dos 25 assessores especiais da Funai, de acordo com o site.

    “Esperamos o maior Acampamento Terra Livre de todos os tempos. O momento é sombrio, precisamos chegar forte para combater os ataques sistemáticos que se impõem contra a vida dos povos indígenas. Precisamos da maior unidade possível para combater os retrocessos”, declarou a integrante da coordenação da Apib, Sônia Bone Guajajara. Entre as organizações indígenas e indigenistas, as análises dão conta de que o ATL/2017 será um dos maiores dos últimos tempos – contando com cerca de 3.500 indígenas, de acordo com as últimas confirmações de delegações – e o que possibilitará um ambiente de unidade diante da amplitude do ataque contra os povos; passa pelo desmonte da Funai, paralisação das demarcações, tentativas de reverter portarias declaratórias, ofensiva contra terras indígenas no Supremo Tribunal Federal (STF), reintegrações de posse e impactos diretos na vida das aldeias com a Reforma da Previdência e Trabalhista. Deste modo, a pauta do ATL deverá fortalecer demandas também da sociedade que os envolve – caso da Greve Geral do próximo dia 28.

    Para o cacique Jailson Kariri Xocó de Paulo Afonso, presente em Brasília levando a demanda territorial de seu povo, habitante das margens do Rio São Francisco, na divisa entre Pernambuco e Bahia, a postura do governo demonstra o desejo de acabar com os povos indígenas fazendo-os viver como miseráveis nos centros urbanos, servindo de mão de obra barata, e nas terras tradicionais erguer empreendimentos imobiliários, vendê-las para estrangeiros e acomodar o agronegócio. “Saímos há quase um ano dessa experiência na periferia da para uma terra tradicional, repleta de nossa ciência e perto da Cachoeira Sagrada de Paulo Afonso – que a barragem silenciou. O lugar, uma área da União, estava abandonado há 30 anos e logo que chegamos apareceu dono com escritura. A Justiça Federal pouco se importou com isso. Concedeu uma reintegração alegando a posse de um construtora”, diz o cacique.

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    Kretã Kaingang, integrante da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (ArpinSul), afirma que o imposto aos povos indígenas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul pode ser considerado uma das principais tentativas de genocídio do mundo. “O Serraglio é de lá. O bando dele trata os indígenas como inimigos, com altos índices de racismo e preconceito. Quando vieram pra cá, continuaram sendo italianos, alemães, mas não querem que sejamos Kaingang, Guarani, Kaiowá, Xokleng. Isso é muito grave, porque a questão do território tradicional é vital para os povos indígenas e é isso que eles atacam: dizem que não precisamos de terras. Então a gente percebe que o projeto que tá forte agora é o mesmo que a ditadura militar já teve e outros governos que nos massacraram tiveram”, afirma Kretã sob a tenda principal do ATL/2017.

    Depois de quase cinco meses de detenção, os indígenas Kaingang Marcelina da Silva, Adamor Franco, Ereni Adimo Franco, Laerte Franco, Davi  Feixe, Elias da Silva e Elizeu dos Santos foram soltos no dia 30 de março. Na madrugada de 23 de novembro de 2016, uma operação de guerra acordou a comunidade da Terra Indígena Passo Grande do Rio Forquilha, em Sananduva (RS). Despachados pela Justiça Estadual, mandados de prisão foram cumpridos pela Polícia Federal sob a acusação de que o grupo Kaingang incendiou lavouras privadas e ameaçou cometer o mesmo crime contra a população local (assista aqui). Em carta dirigida ao Programa Nacional de Proteção do Defensores e Defensoras dos Direitos Humanos, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) denunciou um grande esquema de arrendamentos de terras indígenas; os Kaingang que se negam a ceder áreas, acabam criminalizados e violentados. Não por coincidência, na Câmara Federal uma PEC pretende liberar territórios tradicionais para o exercício de tal prática. Em ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal (MPF), a Justiça Federal condenou os réus Gentil Belino, Ubiratan de Souza Maia, Júlio Cesar Inácio e a empresa JM Consultoria Ambiental LTDA a indenizar a comunidade da Terra Indígena Xapecó pela prática ilegal de arrendamento de suas terras, nos municípios de Ipuaçu e Entre Rios. O deputado federal ruralista Luiz Carlos Heinze (PP/RS) indicou Ubiratan de Souza Maia para ocupar um cargo de relevo na Funai, em Brasília. Na Esplanada dos Ministérios, enquanto as delegações chegam para o ATL, as discussões falam de tais perigos.

    “Existem diversas investigações em curso contra as organizações do agronegócio ou os sindicatos rurais filiados a estas organizações. Mas os ruralistas acabaram impondo a CPI da Funai/incra como se as irregularidades deste conflito fundiário estivessem na garantia de nossos direitos. Os povos indígenas nunca questionaram aquilo que está como direito para quem precisa ser indenizado, reassentado. Quando se trata dos nossos direitos, é como se eles não existissem. Quando, às vezes, eles são respeitados acusam ilegalidades, armam CPI”, explica Dinamã Tuxá, da Bahia. A cacique Keretxu Guarani, da Terra Indígena Morro dos Cavalos (SC), cita o exemplo da luta em sua aldeia: “A gente vem há anos lutando pela demarcação da Terra Indígena Morro dos Cavalos. Dizem que somos do Paraguai, que não é terra indígena. Passamos por vários processos e vencemos. O último correu no STF. Existe uma tentativa de esconder a história do Brasil porque assim fica mais simples de negar o direito à terra e entregar tudo para o agronegócio”.

    O desmonte em curso da Funai reforça o argumento. O presidente Michel Temer e os ministro da Justiça, Osmar Serraglio, e Planejamento, Dyogo de Oliveira, publicaram no dia 24 de março o Decreto 9010/17 que extinguiu 87 cargos comissionados, de 770 então existentes no órgão indigenista, quase 12% do total – de acordo com apuração do Instituto Socioambiental (ISA). Os escritórios regionais, o departamento das demarcações e análise do licenciamento ambiental de obras foram os mais atingidos. No total, 51 cargos de Coordenação Técnica Local (CTL) deixaram de existir. No Rio Grande do Norte e Piauí, a Funai deixou de existir com o decreto. Os povos Potiguara, Tapuia e Tapuia Paiacú ocuparam em Natal (RN) a sede da CTL, dias após a medida do governo. Antes de 2011, ano em que a Funai passou atender com um escritório os povos do estado, nenhum procedimento demarcatório estava em curso. Os indígenas não eram atendidos pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e tampouco tinham Educação Escolar Indígena Diferenciada. Com a chegada da CTL, um Grupo de Trabalho está em curso para a identificação da Terra Indígena Sagi-Trabanda/Baía Formosa, do povo Potiguara, e outros quatro territórios já estão com relatórios de qualificação de demanda prontos. “Depois que a Funai chegou, veio a Sesai e um articulação de parcerias para o etnodesenvolvimento das aldeias e educação diferenciada”, explica Tayse Potiguara.

    No Ceará, o escritório da Funai em Fortaleza também foi ocupado. “Esse decreto fere o direito de consulta prévia dos povos indígenas sempre que uma medida do governo nos afete diretamente. Está determinado esse direito pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT)”, defende Weibe Tapeba. Outras cinco Frentes de Proteção Etnoambiental dos Povos Indígenas Isolados também tiveram os trabalhos encerrados. “(…) coloca todos os povos indígenas da região do Rio Purus em completo abandono e desassistência”, diz trecho de nota da Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus (Focimp), do Amazonas. O que até o final do ano passado eram ameaças, com Serraglio à frente do Ministério da Justiça se tornou uma triste realidade.

    No ano passado, orçamento executado foi de R$ 531 milhões, segundo dados obtidos através de apuração da Procuradoria-Geral da República (PGR); em 2015, R$ 534 milhões. Para este ano, o corte chega a 38% com relação aos valores totais de 2016. Para se ter uma ideia do quão baixo são estes valores diante da demanda dos povos indígenas, o total liquidado pela Funai com demarcações de terras em 2016 chegou a pouco mais de R$ 3 milhões (Siop, 2017). Já sete deputados e deputadas ruralistas que compõem a linha de frente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Funai e do Incra 2, instalada em outubro para investigar os procedimentos demarcatórios, gastaram no mesmo período perto de R$ 3,5 milhões em cotas parlamentares (Câmara Federal, 2017).

    “A Funai já estava com vários cortes. O governo só piorou ainda mais. Se antes já não estavam conseguindo fazer o trabalho de demarcação e proteção, imagina agora com todos esses servidores indo embora?”, questiona Elizeu Guarani e Kaiowá, integrante da Aty Guasu – Grande Assembleia Guarani e Kaiowá – e membro do Conselho nacional de Política Indigenista (CNPI). Conforme a própria Funai, 72 terras indígenas estão com a portaria declaratória aguardando a homologação – abrangendo um tempo de espera anterior ao impeachment. O Setor de Documentação de Terras do Cimi de 1.116 áreas em alguma fase do processo demarcatório. A maioria, 352, estão em seu pior momento: aguardam quaisquer procedimento do Estado.

    Leia na íntegra e acompanhe a programação do ATL/2017 aqui.

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  • 25/04/2017

    Em Cuiabá, Encontro Pan-Amazônico discute a defesa dos povos indígenas em condição de isolamento


    Crédito da foto: Gleilson Miranda/Funai


    O primeiro Encontro Pan-Amazônico em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas Isolados ocorreu entre os dias 3 e 5 de abril, em Cuiabá (MT). Indígenas, organizações indigenistas de todo continente, antropólogos e antropólogas, Ministério Público Federal (MPF) do Brasil, além de especialistas indigenistas na área jurídica, discutiram formas de garantir os direitos fundamentais destas populações de livres.

    A Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) organizou o encontro baseada em situações de vulnerabilidade crescente apresentada por estes povos no contexto da América Latina nas faixas da Floresta Amazônica. Entre os países envolvidos, são mais de 145 registros de presenças de povos em situação de isolamento voluntário – em muitos casos, tratam-se de grupos que circulam entre as fronteiras.

    "Estes povos encontram-se sob graves ameaças. Os governos precisam garantir a proteção porque não se trata de apenas da escolha de um estilo de vida, mas de direitos humanos fundamentais", diz trecho da carta final do encontro.

    Leia na íntegra:     

    PUEBLOS INDÍGENAS EN AISLAMIENTO VOLUNTARIO LOS MÁS VULNERABLES: VÍCTIMAS DE LA VIOLENCIA, TESTIMONIOS DE RESISTENCIA

    “La desaparición de una cultura puede ser tanto o más grave que la desaparición de una especia animal o vegetal” (Carta Encíclica Laudato Si’, Nº145)

    En la ciudad de Cuiabá (Mato Grosso-Brasil), durante los días 03 al 05 de abril del año 2017, se realizó el primer Encuentro Pan-Amazónico en defensa de los derechos humanos de los Pueblos Indígenas en Aislamiento Voluntario. Estuvieron reunidas 35 personas de distintas instituciones: Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Centro Amazónico de Antropología y Aplicación Práctica (CAAAP), el obispo del Vicariato de Puerto Maldonado-Perú, Secretaría Ejecutiva y representantes de las comisiones de Derechos Humanos y de Pueblos Indígenas de la REPAM, Ministerio Público Federal de Mato Grosso; representantes de pueblos indígenas de contacto inicial de la región de Mato Grosso: Enawene Nawe, Myky, Kayabi Kawaiwete, y especialistas en las áreas antropológica, pastoral y jurídica. El diálogo se dio sobre la situación de alta vulnerabilidad que viven los Pueblos Indígenas en Aislamiento Voluntario en el territorio pan-amazónico, la violación de sus derechos humanos, y las perspectivas de articulación hacia dentro y fuera de la Iglesia, para la mayor protección de su existencia e identidad cultural, y para la defensa y exigibilidad de sus derechos en el marco del Sistema Universal de DDHH.

    La Red Eclesial Pan-Amazónica (REPAM) es el resultado de un largo proceso de acción territorial, de múltiples expresiones de acompañamiento de las poblaciones y territorios más vulnerados en la Pan-Amazonía, y como necesidad de articular esfuerzos firmes, más integrados y mejor organizados frente a los múltiples impactos que generan los procesos de explotación extractiva, y como consecuencia de esto, la afectación o desplazamiento de territorios y poblaciones en este vasto, rico y frágil territorio. La Red tiene como prioridad en su caminar, el diálogo y la escucha a los pueblos indígenas de la Pan-Amazonía, para fortalecer un camino conjunto en favor del cuidado de la vida. A partir de los diálogos con pueblos indígenas mantenidos en algunas cuencas hidrográficas, se identificó la necesidad de articular los Ejes de Pueblos Indígenas y Derechos Humanos, para construir una estrategia de defensa integral de los derechos de los Pueblos Indígenas en Aislamiento Voluntario (PIAV). Es urgente asumir una mirada y opción especial por la defensa de estos pueblos.

    Como REPAM, queremos hacer un comunicado público referente al tema que viven nuestros hermanos de los Pueblos Indígenas en Aislamiento Voluntario:

    1. VER: SITUACIÓN DE GRAVE AMENAZA

    Los Pueblos Indígenas en Aislamiento Voluntario son pueblos o segmentos de pueblos indígenas que no mantienen contactos regulares o relaciones sistemáticas con otros grupos de la población, y que además suelen rehuir de todo tipo contacto con personas ajenas a su grupo. Estos pueblos se encuentran en una grave situación de permanente vulnerabilidad y amenaza por parte de mega-proyectos extractivos y productivos que explotan los recursos naturales que se encuentran dentro de sus territorios ancestrales, respecto de los cuales ellos tienen una íntima vinculación espiritual, material y humana, de la cual depende directamente su misma subsistencia. Su manera de vivir ha sido fruto de la resistencia ante las situaciones de explotación dadas en sus territorios, bajo el modelo de desarrollo vigente.

    La vulneración del derecho a la autodeterminación e identidad cultural de los PIAV considerada como un conjunto de referencias culturales por medio del cual se reconocen a sí mismos como tales, sin consideración de fronteras y con la libertad de elegir identificarse, o no, en esa condición, sin ser obligados a establecer contacto contra su voluntad. Los Estados tienen la obligación de respetar y hacer respetar esa elección en el marco de las normas consagradas en los tratados internacionales de derechos humanos.

    La Pan-Amazonía es la región del mundo con más Pueblos Indígenas en Aislamiento Voluntario. Existen alrededor de 145 referencias de la presencia de estos pueblos1 . Quienes convivimos en esta región, y en el mundo entero, debemos ser conscientes de la responsabilidad que implica precautelar la existencia e identidad de estos pueblos, por la riqueza cultural y la importancia en el cuidado del bioma amazónico, a través de un estilo de vida que cuida la armonía con el entorno. Este estilo de vida no essolo una opción, es el ejercicio pleno de sus derechos humanos, los cuales ya han sido visibilizados por el Alto Comisionado de las Naciones Unidas en sus directrices de protección2 , así como también ha sido asunto de preocupación de la Relatoría de los Derechos Humanos de los Pueblos Indígenas de las NNUU y de la Relatoría de Pueblos Indígenas de la Comisión Interamericana de Derechos Humanos, cuyo informe temático3 integra los avances del Sistema Universal de protección de derechos humanos. Frente a los derechos humanos de los Pueblos en Aislamiento Voluntario se resalta el principio de la autodeterminación que es la base para el desarrollo de demás derechos colectivos como el derecho al territorio, a su identidad cultural, el derecho a la consulta previa, libre e informada, el derecho al autogobierno, entre otros, todo ello bajo el pleno respeto al principio de no-contacto. Estos derechos humanos de los Pueblos Indígenas en Aislamiento Voluntario son irrenunciables y deben ser respetados, exigidos y defendidos en el marco de las normas consagradas en los tratados internacionales, en la jurisprudencia acumulada por los órganos competentes de las Naciones Unidas, en las buenas prácticas y los estándares universales.

    Los Estados de los países amazónicos han generado marcos jurídicos en su legislación nacional en concordancia con tratados internacionales de derechos humanos para la protección de los derechos de estos pueblos indígenas, como el Convenio 169 de la OIT; sin embargo, la mayor parte de países que conforman la región amazónica no han ratificado otros instrumentos internacionales, como el Protocolo Facultativo del Pacto Internacional de Derechos Económicos, Sociales y Culturales (Pacto DESC) de las ONU, que hoy en día facultan la exigibilidad de los derechos de estos pueblos y el acceso a otros mecanismos de las Naciones Unidas, como el proceso de peticiones frente al Comité DESC; En este sentido expresamos nuestra preocupación a los Estados de Brasil, Colombia, Perú, Venezuela, Surinam y las Guyanas, por no haber firmado aún y en otros casos por no haber ratificado este protocolo. Estos son mecanismos que deben ser utilizados en favor de quienes por su condición de vulnerabilidad no pueden hacer respetar sus propios derechos, como los PIAV.

    2. JUZGAR: DEFENSA INTEGRAL DE LA VIDA DE LOS PIAV

    Denunciamos la situación de grave amenaza a la que son sometidos los Pueblos Indígenas en Aislamiento Voluntario, y anunciamos la acción conjunta de la Iglesia en la Amazonía por la defensa integral de los derechos de los PIAV.

    “Muchas formas altamente concentradas de explotación y degradación del medio ambiente no sólo pueden acabar con los recursos de subsistencia locales, sino también con capacidades sociales que han permitido un modo de vida que durante mucho tiempo ha otorgado identidad cultural y un sentido de la existencia y de la convivencia. La desaparición de una cultura puede ser tanto o más grave que la desaparición de una especie animal o vegetal. La imposición de un estilo hegemónico de vida ligado a un modo de producción puede ser tan dañina como la alteración de los ecosistemas” (Carta Encíclica Laudato Si’, N°145)

    Reconocemos las limitaciones y los aciertos que nuestra Iglesia ha tenido en su historia y en su relación con los pueblos indígenas. Sin embargo, vemos con esperanza la presencia de una Iglesia misionera, defensora de la vida, “compañera; cultural y espiritualmente enraizada; localmente territorializada; no establecida verticalmente o de espaldas a la Amazonía y sus pueblos (como hace la sociedad nacional); Iglesia transgresora del orden opresor; Iglesia no solamente para defender a los pueblos indígenas, sino para comprenderlos, convivir, aprender y compartir con ellos” 4 . La Iglesia está presente en el territorio amazónico como defensora de la vida de quienes habitan en ella, de quienes son más vulnerables, y promueve la resistencia frente a todo lo que atenta contra este frágil equilibrio.

    Reivindicamos el derecho de los PIAV a la autodeterminación y a su identidad cultural. Ellos representan un aporte sustancial a la vida de nuestros países y de nuestra región, a la diversidad cultural y a la relación armónica que mantienen con el territorio. Para nosotros son prioritarios los principios de vulnerabilidad y precaución. Eso quiere decir que ante todo debe prevalecer la protección de quienes son más vulnerables. En caso de haber indicios de la presencia de PIAV en el territorio, se debe impedir que cualquier iniciativa extractiva que pueda poner en riesgo la vida de estos pueblos. Es necesario diferenciar a los Pueblos Indígenas en Aislamiento Voluntario de aquellos pueblos indígenas de contacto inicial, tanto para considerar el apoyo que estos últimos pueden dar a los PIAV respetando el principio de no-contacto, para evitar situaciones de conflicto en sus territorios y garantizar la protección y prohibición del contacto forzado, garantizando de mejor manera la exigencia y defensa de los derechos humanos de los PIAV.

    3. ACTUAR: TODOS SOMOS RESPONSABLES

    Una responsabilidad de los Estados es avanzar en la garantía de los derechos de estos pueblos: respetar tanto los marcos legales internos, como los convenios y protocolos internacionales; y, para los países que todavía no firman y ratifican, hacerlo con la mayor urgencia. El diálogo fraterno entre los Estados de la Pan-Amazonía permitirá que la conflictividad en las fronteras, que afecta a los PIAV y a otras poblaciones, tenga las mejores soluciones.

    “En este sentido, es indispensable prestar especial atención a las comunidades aborígenes con sus tradiciones culturales. No son una simple minoría entre otras, sino que deben convertirse en los principales interlocutores, sobre todo a la hora de avanzar en grandes proyectos que afecten a sus espacios. Para ellos, la tierra no es un bien económico, sino don de Dios y de los antepasados que descansan en ella, un espacio sagrado con el cual necesitan interactuar para sostener su identidad y sus valores. Cuando permanecen en sus territorios, son precisamente ellos quienes mejor los cuidan. Sin embargo, en diversas partes del mundo, son objeto de presiones para que abandonen sus tierras a fin de dejarlas libres para proyectos extractivos y agropecuarios que no prestan atención a la degradación de la naturaleza y de la cultura.” (Carta Encíclica Laudato Si’, N°146)

    Invitamos a toda la Iglesia, en particular a la que está presente en la Amazonía, a unirse a este llamado especial por la protección de la vida de quienes son más vulnerables dentro del territorio, desde el acompañamiento integral y la comprensión de esta realidad. La Iglesia ha de hacer una fuerte opción preferencial por quienes son los más vulnerables de un sistema injusto y desigual:

    "La primera tarea es poner la economía al servicio de los Pueblos: Los seres humanos y la naturaleza no deben estar al servicio del dinero. Digamos NO a una economía de exclusión e inequidad donde el dinero reina en lugar de servir. Esa economía mata. Esa economía excluye. Esa economía destruye la Madre Tierra" -Papa Francisco a los Movimientos Populares. Santa Cruz, Bolivia. 9-Julio-2015

    La REPAM asume una a vocación para seguir tendiendo puentes y propiciar esta unión. También invitamos a las organizaciones sociales y organizaciones indígenas para que juntos caminemos hacia la defensa integral de los Pueblos Indígenas en Aislamiento Voluntario que viven y dan vida a la Pan-Amazonía. Por último, valoramos los innumerables esfuerzos de la comunidad internacional en favor de estos pueblos, y los invitamos a sumarse a esta opción por la vida, por la diversidad cultural y por la biodiversidad, para que esta región siga siendo fuente de vida para todo el planeta.

    “Los pueblos indígenas son bibliotecas vivas. Son los guardianes, cuidadores y jardineros de la Amazonía y del Planeta. Cada vez que un pueblo indígena es exterminado y desaparece, un rostro de Tupaña (Dios) muere. El cosmos, el planeta y toda la humanidad se empobrece.” (Bernardo Satere Mawe, líder indígena)

    Notas de rodapé:

    1 – Brasil tiene 114 referencias de PIAV

    2 – Oficina del Alto Comisionado de Naciones Unidas para los Derechos Humanos. “Directrices de Protección para los Pueblos Indígenas en Aislamiento Y en Contacto Inicial de la región amazónica, el Gran Chaco y la región oriental de Paraguay”. Ginebra, 2012.www.oas.org/es/cidh/…/docs/…/informe-pueblos-indigenas-aislamiento-voluntario.pdf

    3 – CIDH, Pueblos en Aislamiento Voluntario y contacto inicial en las Américas, Grupo de Trabajo sobre Asuntos Indígenas (IWGIA), 2013 http://www.oas.org/es/cidh/indigenas/docs/pdf/Informe-Pueblos-Indigenas-Aislamiento-Voluntario.pdf

    4 – Encuentros de REPAM con Pueblos Indígenas. Tabatinga (Brasil) y Puyo (Ecuador) en 2016.

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  • 25/04/2017

    Mais de 100 povos indígenas participam da PLenária de Abertura do ATL/2017

    Crédito das fotos: Mídia Ninja/Mobilização Nacional Indígena

    Começou nesta segunda-feira (24/4) a 14ª edição do Acampamento Terra Livre, que já reúne cerca de 3 mil indígenas, de cem povos diferentes e de todas as regiões do país, na capital federal, para uma agenda de protestos, atos públicos, audiências com autoridades, debates e atividades culturais que durará toda a semana.

    O acampamento começou tomar forma pela manhã, ocupando o gramado ao lado do Teatro Nacional de Brasília. Durante a tarde e o início da noite, representantes e delegações indígenas de todas as regiões do Brasil tomaram o local por completo.

    Às 20h, os indígenas começaram a se reunir na tenda principal do acampamento para a abertura oficial da mobilização, com a recepção das delegações, precedida de uma apresentação do povo Kayapó. Ainda no início da noite, também foi exibido o documentário Preconstituinte, do cineasta Celso Maldos. A obra retrata a primeira grande mobilização indígena em Brasília, em 1984 – quatro anos antes da promulgação da Constituição.

    Na manhã de amanhã (25) é esperada a plenária oficial de abertura e outras apresentações das delegações, que continuam chegando a Brasília

    “Ninguém vai lutar por nós”

    Sonia Guajajara iniciou a plenária acolhendo as delegações e convidando os representantes das organizações indígenas que compõem a Articulação dos Povos Indígenas no Brasil (Apib): “Está em nossas mãos evitar o retrocesso, a perda desses direitos que foram duramente conquistados”.

    Falaram na plenária Marcílio Guarani, da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul); Dinaman Tuxã, da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espirito Santo (Apoinme); Eliseu Lopes, do Conselho da Aty Guasu (MS); Nara Baré, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB); Yakari Kuikuro, da Associação Terra Indígena Xingu (Atix); Paulo Tupinikim, da Apoinme; Paulo Karai, da Comissão Guarani Yvyrupa (CGY); Arildo Terena, do Conselho do Povo Terena (MS); Eloy Terena, da assessoria jurídica da APIB e outros.

    “Esse governo está passando com a máquina, triturando a população indígena. E nós não podemos deixar, porque a terra é nossa. A mata é nossa!”, disse Cacique Daran Tupi Guarani, da Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste (Arpinsudeste). Já Bemoro Kayapó, da Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Mato Grosso (Fepoimt), informou a vinda de mais de 40 povos de seu estado para o ATL: “Nós não podemos abaixar a cabeça para esses governantes. Ninguém vai lutar por nós”.

    Durante a plenária também houve apresentações das delegações do Território Indígena do Xingu (MT), dos Kayapó que vivem no Mato Grosso e dos povos Guarani Kaiowá e Guarani Ñandeva, de Mato Grosso do Sul.

    A convite de APIB também chegaram hoje ao acampamento oito lideranças indígenas da Indonésia, da Aliansi Masyarakat Adat Nusantara (Aman), da América Central, pela Aliança Mesoamericana de Povos e Bosques (AMPB) e da Panamazônia, pela Coordinadora de las Organizaciones Indígenas de la Cuenca Amazónica (COICA).

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