• 22/06/2017

    CNBB se solidariza com povos indígenas e Conselho Indigenista Missionário (CIMI)

    Chamado aos jornalistas e interessados na Palavra Oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para Entrevista Coletiva, nesta quinta-feira, 22 de junho, as 14h30, na sede da Conferência.

     

    ENTREVISTA COLETIVA

    Presidência da CNBB

    Nota Oficial da CNBB em defesa dos Direitos dos indígenas e do Conselho Indigenista Missionário (CIMI)

    Bispos se manifestam a respeito do processo e dos resultados da Comissão Parlamentar de Inquérito denominada CPI da Funai e Incra, encerrada no último mês de maio. Sobre o processo, a CNBB considera que não houve suficiente participação e não foram ouvidas as partes de modo que o trabalho dos parlamentares se tornou parcial, unilateral e antidemocrático. A Nota contou com a aprovação da maioria dos membros do Conselho Permanente reunido no período de 20 a 22 de junho, na sede nacional da Conferência, em Brasília (DF).

    Temas da Reunião Ordinária do Conselho

    Além da apresentação da Nota Oficial, a Presidência da CNBB ainda apresentará os resultados da reunião do Conselho que trataram de ampla pauta. Entre os assuntos tratados estão: Preparação para a próxima assembleia geral dos Bispos em Aparecida (SP); Texto de acolhida, no Brasil da Exortação Apostólica do papa Francisco “Amoris Leatitia”; Início de trabalhos a respeito da questão do solo urbano e da presença da Igreja nas cidades.

    Editais para concursos nacionais para cartaz e hino da CF 2018

    Os bispos ainda tratarão do lançamento dos editais para os concursos nacionais da escolha do cartaz e do hino para a Campanha da Fraternidade de 2018 que vai tratar da superação da violência.

     

    Serviço
    Entrevista Coletiva – Presidência da CNBB
    Presenças
    : Cardeal Sergio da Rocha (presidente), Dom Murilo Krieger (Vice-Presidente) e dom Leonardo Steiner (Secretário-Geral)
    Data: 22 de junho – Hora: 14h30
    Local: Setor de Embaixadas Sul 801 Conjunto B, St. de Embaixadas Sul – Brasília, DF

    Contato: Assessoria de Imprensa (Pe. Rafael, Bruno, Larissa, Willian e Luiz)
    Fone: 061 2103 8300
    E-mail: imprensa@cnbb.org.br

    Read More
  • 21/06/2017

    Divulgada lista de segunda chamada para curso de extensão em Histórias e Culturas Indígenas


    A lista com os nomes selecionados na segunda chamada do curso de extensão em Histórias e Culturas Indígenas foi divulgada hoje e pode ser conferida abaixo. Os selecionados devem confirmar suas inscrições até o dia 25 de junho, próximo domingo, pelo e-mail curso.indigenismo@cimi.org.br. Caso não confirmada, a vaga será remanejada.

    Os cursistas que desejarem acomodações no Centro de Formação Vicente Cañas, local do curso, devem reservar no e-mail que valida a participação. Para os que solicitarem, será cobrado um valor de contribuição de setecentos (R$ 700) reais  referente a hospedagem e alimentação. O valor é para os 18 dias. O curso acontecerá entre os dias 10 a 28 de julho no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia (GO), localizada a 60 quilômetros de Brasília. Haverá transporte para levar os participantes até o Centro onde acontecerá o curso, partindo da rodoviária e do aeroporto.

    O curso, promovido pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e Universidade de Integração Latino Americana (Unila) terá carga horária  de 188h horas, sendo 140 horas de aulas presenciais e 48 horas de atividades complementares. Mais informações com Cimi (61) 99696 4843 ou UNILA: (45) 99807 ­6716.

    Confira a lista de segunda chamada abaixo:

    1    Daniel Gonçalves de Oliveira
    2    Flávio Gonçalves
    3    Camila Dias Cavalcanti
    4    Zilda Oliveira de Farias
    5    Maria Cristina Morales
    6    Mariana Soares Leme
    7    Ademir Kaba Munduruku
    8    Rosiana Freitas da Silva
    9    Elaine Rodrigues da Silva Guajajara
    10    Veruska Francisconi Moura
    11    Elizete Ferreira da Silva
    12    Ellen Ribeiro Veloso
    13    Geralda Chaves Soares
    14    Willians de Matos Rodrigues
    15    Gessival Akay Munduruku
    16    Joao de Deus Kaba Munduruku
    17    Julia D’Avlis Rodrigues Mendes
    18    Leosmar Tsimi’udo Tseretsu
    19    Letícia Rodrigues de Almeida
    20    Liliana Vignoli de Salvo Souza
    21    Stella Maris Brasil Santos
    22    Ana Rosária Borges de Faria
    23    Rafael Dias Barros
    24    Cleymenne Cerqueira Barbos
    25    Deborah Louise Araújo Freire
    26    Eliana Fernandes Veras Abadio
    27    Heitor Antonio paladim Junior
    28    Milena Chaves
    29    Anderson Rodrigo dos Santos
    30    Rafael William Barbosa
    31    Felipe Rocha de Borba Braz
    32    Mizael Martins Mota de Souza
    33    Edson Buscarate

     

     

    Read More
  • 20/06/2017

    Povos Ka’apor e Munduruku firmam compromisso em defesa de seus territórios


    Por Tania Pacheco, do Combate Racismo Ambiental

    Uma Carta Compromisso firme e indignada foi um dos resultados do encontro entre os povos Ka’apor e Munduruku para discutir suas lutas de resistência e pela autonomia indígena. Lideranças do Povo Munduruku do Alto Tapajós atenderam ao chamado dos Ka’apor e, em conjunto, definiram estratégias depois de reconhecerem seus inimigos comuns – “o Estado, com seus muitos órgãos que não fazem nada, e os ricos, garimpeiros, madeireiros, políticos”.

    “Nós temos um compromisso. Nosso caminho vai nos levar a defender nosso território. Pra cada lei que o Karaí fizerem contra nós, vamos libertar outras terras. Nossa autonomia não vai mais esperar”.

    O texto enviado pelo Conselho de Gestão Ka’apor ao site Combate  Racismo Ambiental pode ser lido na íntegra abaixo:


    Read More
  • 20/06/2017

    Povos indígenas na mira de um governo ilegítimo


    Povo Gamela na semana em que sofreram ataque. Foto: Ana Mendes / Cimi

    Por Erika Yamada e Luís Donisete Benzi Grupioni *

    O governo de Michel Temer vem colecionando momentos constrangedores em instâncias internacionais por não cumprir seus deveres constitucionais para com os povos indígenas. A repetida ausência de representantes do Ministério da Justiça em audiências e sessões que tratam de violações aos direitos indígenas em organismos internacionais como a ONU e a OEA tem imposto desafios para a diplomacia brasileira, que, diga-se de passagem, não tem se saído bem na defesa do governo, levantando questionamentos sobre o seu real compromisso com a agenda de direitos humanos.

    O episódio mais recente de descaso ocorreu no 162º período de sessões da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), realizado entre os dias 22 e 26 de maio em Buenos Aires, quando a CIDH atendeu ao pedido da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), em conjunto com a Rede de Cooperação Amazônica (RCA), Plataforma Dhesca e outras 27 entidades indígenas, indigenistas e de defesa de direitos humanos, para a realização de uma audiência com representantes do Estado brasileiro que tratou da situação dos direitos dos povos indígenas no país.

    O governo brasileiro foi representado por diplomatas do Itamaraty que justificaram a ausência de representantes do Ministério da Justiça e da Funai por dificuldades administrativas, em função da série crise econômica que o país atravessa. Foram, porém, contestados pelos representantes da sociedade civil, que afirmaram que a falta revelava o descaso e a não disposição para o diálogo por parte do governo Temer e de seus sucessivos ministros da Justiça – comprometidos com sua base parlamentar, fortemente composta por defensores do agronegócio e contrária aos direitos indígenas e de comunidades tradicionais.

    A CIDH e a OEA têm analisado diversos casos de violações individuais e coletivas de direitos humanos de povos indígenas como os yanomami, os xukuru, os guarani kaiowá, os povos da Raposa Serra do Sol e outros. No entanto, esta foi a primeira vez que se realizou uma audiência para tratar da situação nacional dos povos indígenas, numa conjuntura de retrocessos institucionais que tem chamado a atenção da comunidade internacional.

    Representantes indígenas da Amazônia e do Nordeste levaram ao conhecimento da CIDH diversas situações concretas de violações de direitos indígenas praticadas pelas três esferas de poder. Destacaram as violências praticadas contra comunidades indígenas em disputas territoriais, envolvendo chacinas e mortes, como o ataque ocorrido em abril aos gamela no Maranhão por fazendeiros e capatazes e que resultou em dezenove feridos, e a criminalização envolvendo agentes do próprio Estado, de lideranças indígenas que estão na luta pela defesa de seus direitos. Para os peticionários, essas violações (assim como o avanço de ilícitos sobre os territórios e recursos naturais indígenas) se agravaram a partir do empoderamento de ruralistas e políticos com discursos anti-indígenas no governo Temer. Notadamente, criticaram a nomeação do até então ministro da Justiça Osmar Serraglio, defensor da proposta de emenda constitucional que visa impedir a demarcação de terras indígenas no Brasil e que, ao chegar à pasta, que tem a Funai sob sua jurisdição, afirmou que “terra não enche barriga”, deixando claro que tinha uma causa a defender.

    As lideranças denunciaram também a grave ausência de interlocução do atual governo com representantes indígenas, quando sérias medidas administrativas e legislativas avançam em alta velocidade para retirar direitos consolidados. Isso se deu, por exemplo, com relação à mudança do procedimento de demarcação de terras que confirmou os esforços para a paralisação de demarcações e cancelamento de áreas já reconhecidas; ao desmantelamento da Funai com cortes desproporcionais e injustificáveis de cargos e orçamentos que inviabilizam a aplicação de políticas voltadas à proteção das terras indígenas. Comparado a 2015, em 2017 o governo reduziu cerca de 80% do orçamento da Funai para as ações voltadas a povos isolados e de recente contato, o que levou ao fechamento de diversas bases do órgão. Além disso, os peticionários denunciaram o cancelamento de todas as reuniões de 2017 e inviabilização dos trabalhos do Conselho Nacional de Política Indigenista; o avanço de projetos de lei que visam flexibilizar o licenciamento ambiental e abrir as terras indígenas para a exploração; e as autorizações administrativas de obras e empreendimentos que impactam as terras e a vida de povos indígenas sem sua consulta livre, prévia e informada.

    Para a CIDH, ficou claro que os peticionários precisaram recorrer a essa instância internacional para solicitar um mínimo de diálogo respeitoso entre Estado e povos indígenas, e a ausência de representantes da Funai e do Ministério da Justiça convocados para o diálogo só comprovou a falta de compromisso do atual governo com suas obrigações constitucionais e internacionais de direitos humanos e a tentativa já enfraquecida do Ministério das Relações Exteriores em afirmar que no Brasil a democracia anda bem.

    Os membros da CIDH mostraram preocupação com o agravamento da violência contra lideranças e comunidades indígenas, insistiram na obrigação de o Brasil investigar, punir responsáveis e prevenir atos violentos, bem como cobraram compromisso do governo em manter o marco constitucional dos direitos indígenas. O relator do organismo para o Brasil, James Cavallero, solicitou aos representantes do Itamaraty que esclarecessem como o governo Temer pretende manter a proteção dos povos e terras indígenas com cortes no orçamento da Funai, que remete aos recursos disponíveis com os quais a Fundação contava há dez anos. Questionou, ainda, como o país tem realizado consultas aos povos indígenas diante da obrigação contraída pelo país ao ratificar a Convenção 169 da OIT, que impõe tal dever aos Estados nacionais.

    O relator, porém, permaneceu sem resposta. Expressando-se em português, espanhol e inglês durante a audiência, a diplomacia brasileira não convenceu os presentes com afirmações vagas do compromisso do governo com os povos indígenas, seja no cumprimento de seus deveres constitucionais, seja no aprimoramento das políticas públicas voltadas a esse segmento da população. O representante do Itamaraty apresentou dados no mínimo duvidosos ao falar, por exemplo, da redução do desmatamento por ação das instituições públicas quando dados oficiais demonstram que em apenas um ano (2015-2016) o desmatamento na Amazônia aumentou 29%. No Brasil, a ampliação do desmatamento, assim como do garimpo ilegal, está relacionada à indústria da grilagem de terras e do agronegócio e afeta diretamente as terras indígenas.

    As lideranças indígenas presentes à audiência da CIDH também relataram a repressão que sofreram durante o Acampamento Terra Livre, em abril, quando 4 mil representantes indígenas de todo o país se manifestaram contra os retrocessos de direitos em curso e contra o aumento da violência e do racismo que sofrem em suas comunidades. O governo não se pronunciou sobre o assunto, mas parte da mídia nacional e internacional mostrou como a pacífica manifestação dos índios na capital da República foi agredida pelas polícias civil, militar e legislativa.

    A distância entre o clima de normalidade propagado internacionalmente pelo governo e a realidade vivida no país vai se descortinando. Nesse esforço diplomático, a audiência na CIDH revelou, menos que um evento fora da curva, uma tendência nesses tempos sombrios.

    Em recente avaliação do Brasil pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, quando o país foi sabatinado em sessão do Mecanismo de Revisão Periódica Universal (RPU), nenhum representante do Ministério da Justiça integrou a delegação brasileira em Genebra. Naquela sessão, um terço dos países mostraram preocupação a respeito dos povos indígenas e fizeram recomendações ao país para a garantia de direitos – como dar sequência às demarcações de terras indígenas e consultar os povos indígenas quando projetos ameaçarem seus territórios e modos de vida. O Ministério da Justiça foi o grande ausente na delegação brasileira presente em Genebra, cabendo à ministra dos Direitos Humanos fazer declarações vagas sobre o tema.

    Nesse diapasão, seguem as incertezas quanto ao real compromisso do governo Temer em cumprir a Constituição Federal e demarcar terras indígenas, alimentando o aumento da violência, inclusive institucional, contra os povos indígenas, agravada por sua incapacidade de dialogar com os movimentos sociais.

    Ao recém-empossado ministro da Justiça, Torquato Jardim, se impõe o desafio da retomada do diálogo com os índios e de fazer o dever de casa para dar prosseguimento aos processos de reconhecimento territorial indígena. Sem isso, a diplomacia brasileira seguirá escorregando entre falácias e a dura realidade dos fatos.

    *Erika Yamada é relatora de direitos humanos e povos indígenas da Plataforma de Direitos Humanos – Dhesca Brasil; e Luís Donisete Benzi Grupioni é secretário-executivo da Rede de Cooperação Amazônica (RCA).

    Read More
  • 19/06/2017

    Em Porto Velho (RO), assembleia da OPIROMA avalia políticas públicas destinada a indígenas


    Foto: Cimi Rondônia

    Com o objetivo de analisar a conjuntura política do Brasil e avaliar as iniciativas públicas específicas destinadas a indígenas, representante de 26 povos se reuniram na III Assembleia Geral da Organização dos Povos Indígenas de Rondônia, norte do Mato Grosso do Sul e sul do Amazonas (Opiroma). O encontro, que ocorreu entre 12 e 14 de junho em Porto Velho (RO), debateu as realidades de morte trazidas pela construção de hidrelétricas, invasão das Terras Indígenas por garimpeiros, madeireiros e os impactos sociais, culturais e ambientais causados pelas ferrovias e hidrovias.

    O coordenador da Opiroma, José Luiz Kassupá, chamou a atenção para a problemática das invasões ocorridas em seus territórios. “Nós precisamos que o Estado se preocupe com a questão dos territórios, pois hoje são os únicos lugares em que existem os recursos naturais”, afirmou.  Para ele, as políticas do atual governo são anti-indígenas.

    Na audiência pública conduzida pelo deputado Ezequiel Junior, a temática da invasão das Terra Indígena por madeireiros, garimpeiros e grileiros continuou em debate. “Pedimos que façam imediata retirada dos invasores, de madeireiros, garimpeiros e grileiros das Terras Indígenas Uru eu Wau Wau,  Paiter/Suruí, Karitiana, Karipuna, Rio Negro Ocaia, Lage Novo, Ricardo Franco-Guaporé, Sotéreo-Mamoré, Mequém e Tubarão Latundê”, exige o documento final da Assembleia. “Pois os mesmo vem causando todos os tipos impactos socioambientais dentro das terras indígenas”.

    Para Laura Vicuña Pereira Manso, da coordenação do Cimi Rondônia, projetos de Manejo Florestal, que habilitam a exploração de recursos naturais em determinadas áreas, favorecem a invasão dos territórios destinados aos povos indígenas. “Esses projetos no entorno das comunidades indígenas têm a finalidade de esquentar as madeiras que são roubadas dos territórios indígenas por essas pessoas que assaltam as florestas”. 

    Estiveram presentes no encontro lideranças dos povos Aruá, Apurinã, Cinta larga, Uru Eu Wau Wau, Jiahui, Tupari, Suruí, Gavião, Sakirabyat, Sabanê, Makurap, Kampé, Migueleno, Oro Mom, Oro Waram Xijem, Karitiana, Puruborá, Guarasugwe, Kaxarari, Parintintin, Karipuna, Kujubim,  Tenharin, Kassupá e Salamã.

    Com informaçõs do Cimi Rondônia

    Read More
  • 19/06/2017

    Fórum Ambiental e Tenda Multiétnica serão realizados na cidade de Goiás durante o 19º FICA


    Foto: Carmelo Fioras

    Entre os dias 20 e 25 de junho, serão realizados na cidade de Goiás (GO), em paralelo ao 19º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA), o Fórum Ambiental e a Tenda Multiétnica. Esta última espera receber cerca de 300 pessoas, representantes de povos e comunidades tradicionais. A Campanha Nacional em Defesa do Cerrado e a CPT trarão o debate sobre a importância da preservação do cerrado para a manutenção das águas no ecossistema brasileiro.

    Com programação diversa, as atividades irão debater temas como agroecologia, defesa de territórios tradicionais, violência e resistência no campo, criminalização das lutas sociais, bem como saúde e meio ambiente, agrotóxicos, entre outros. O tema Cidades Sustentáveis – Os Desafios do Século XXI será debatido em cinco mesas durante o Fórum Ambiental. De acordo com Murilo Mendonça, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG) na cidade de Goiás e um dos coordenadores das atividades, “o FICA tem como um dos elementos estruturantes o Fórum Ambiental. Na edição 2017 do Fórum, temos como temática principal a questão das ‘cidades sustentáveis’. Esta temática nasce dos impactos causados por grandes empreendimentos e por um modelo de desenvolvimento social e ambientalmente insustentável. O que tem causado, entre outras questões, a falta d’água na área urbana, a contaminação do ar, da água, do solo. Por isso o Fórum Ambiental propõe este ano um debate que coloca na mesa estas discussões e busca alternativas coletivas para sua resolução”.

    No dia 24, a partir das 19h30, a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado promoverá a mesa Impactos e conflitos socioambientais pela água. A Campanha, que tem como uma das coordenadoras a Articulação das CPT’s do Cerrado, foi criada a partir de demandas apresentadas pelas comunidades do Cerrado e tem com foco principal a questão da Água e dos Povos desse bioma. Seus principais objetivos são pautar e conscientizar a sociedade, em nível nacional e internacional, sobre a importância do Cerrado e os impactos dos grandes projetos do agronegócio, da mineração e de infraestrutura nele, além de dar visibilidade à realidade das Comunidades e Povos do Cerrado, como representantes da sociobiodiversidade, conhecedores e guardiões do patrimônio ecológico e cultural dessa região. Para a coordenadora da Articulação, Isolete Wichinieski, “o espaço do FICA ultrapassa as telas do cinema, é amplo e diverso. Essa diversidade está correlacionada com a Campanha em Defesa do Cerrado, que também tem como objetivo ampliar a visão da sociedade sobre a importância do Bioma e de seus povos”. Durante todo o FICA serão recolhidas assinaturas para a petição que cobra do Congresso Nacional a aprovação da lei que transforma o Cerrado e a Caatinga em patrimônio nacional, assim como o são a Amazônia, o Pantanal e a Mata Atlântica. Clique para saber mais. 

    O Fórum e a Tenda proporcionarão, ainda, oficinas como de capoeira angola, arte indígena, plantas medicinais e medicina popular. Entre os convidados, estarão representantes de povos indígenas, dos Kalunga, do Movimento Camponês Popular (MCP), do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Comissão Pastoral da Terra (CPT), do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), entre outros.

    Com apoio da CPT documentário sobre a soja será lançado na Mostra da UEG

    No dia 24 de junho, a partir das 10hoo, será lançado durante a Mostra da Universidade Estadual de Goiás (UEG), o documentário “Seu churrasco tem soja?”, do agente da CPT da Bahia, Thomas Bauer. Realizado com o apoio da CPT e da Welthaus, o filme discute o impacto da demanda mundial por carne no meio ambiente, a partir da soja, produto base na produção de carne bovina, suína, aves e outras, através da ração utilizada nesses criatórios. A produção de soja domina hoje dois terços das terras férteis do mundo, e o Brasil é um dos maiores exportadores de grande parte desta soja. “Mas quais são as consequências do boom da soja onde ela é cultivada? O que significa para as populações locais o avanço do chamado ‘ouro verde?’”, esses e outros questionamentos são levantados no documentário.

    Mais informações:
    Assessoria de Comunicação da CPT Nacional:
    Cristiane Passos (62) 99307-4305 ou
    Elvis Marques (62) 99309-6781

    Read More
  • 19/06/2017

    Organizações Munduruku se pronunciam contra garimpos nas terras indígenas do povo


    Manifestação Munduruku em Brasília contra os garimpos e a morte de Adenilson Krixi pela PF. Foto: Ruy Sposati/Cimi


    Em virtude de uma operação do Grupo Especializado de Fiscalização (GEF) do Ibama na Terra Indígena Munduruku, no Alto Tapajós, sul do Pará, noticiada pela imprensa (leia aqui), o Movimento Ipereg Ayu, Associação Da’uk e a Associação Pariri, essa última dos Munduruku que vivem no Médio Tapajós, se pronunciam em nota contra o funcionamento de garimpos no interior das terras indígenas do povo.   

     

    "Os munduruku que estão nos garimpos estão em um caminho de doenças, mentiras e corrupção, não falam pelo povo e sim por seus interesses. Não são lideranças, são garimpeiros se escolheram o caminho das doenças", diz trecho da nota. Em recente assembleia, ocorrida em março, os Munduruku deram um prazo para que todos os garimpos fossem desmontados e retirados do território tradicional.

     

    Para os Munduruku, no entanto, a imprensa erra ao lembrar da Operação Eldorado, de 2012, que culminou na morte de Adenilson Krixi: "Nessa operação a polícia invadiu a aldeia Teles Pires (não um garimpo como saiu nos jornais) e um delegado atirou em nosso guerreiro. Aguardamos até hoje que a justiça condene o assassino do Adenilson Krixi".

     

    Leia a nota na íntegra:

     

    O caminho do povo munduruku

     

    Na luta encontramos forças pra seguirmos nosso caminho. Nós munduruku defendemos que a floresta do rio Tapajós é nossa garantia de vida. A floresta e o rio sofrem com o garimpo já sofremos muitas violências do governo que quer construir barragens em nossos rios.

     

    Queremos esclarecer alguns fatos sobre a operação contra garimpos em nossa terra e que saíram nos jornais lembrando da Operação Eldorado de 2012 quando nosso parente Adenilson Krixi foi morto. Nessa operação a polícia invadiu a aldeia Teles Pires (não um garimpo como saiu nos jornais) e um delegado atirou em nosso guerreiro. Aguardamos até hoje que a justiça condene o assassino do Adenilson Krixi.

     

    Também falaram nos jornais que a polícia saiu do garimpo depois de meia hora porque não estavam preparados. Os donos de garimpos nem foram incomodados nessa operação.

     

    Por fim nos dias 22 a 24 de março de 2017 em assembleia do povo munduruku realizada na aldeia Sai-Cinza os caciques determinaram a Pusuru que em 15 dias ela notificasse a todos os garimpeiros pariwat ou munduruku que retirassem suas máquinas da Terra Indígena.

     

    Todas as assembleias munduruku reforçam que nosso caminho não é o do garimpo, estamos trabalhando nosso Plano de Vida e em nossos encontros das mulheres nosso caminho está definido que nossa terra é sagrada, que queremos nossos rios limpos, nossos locais sagrados respeitados.

     

    O encontro de caciques e lideranças munduruku do médio Tapajós, na aldeia Sawre Muybu no dia 11 de junho de 2017 que contou com a presença de indígenas da região do Planalto Santareno e do baixo-Tapajós, reforçou que nosso caminho é da luta e contra todas as doenças que envenenam nossas florestas e rios.

     

    Os munduruku que estão nos garimpos estão em um caminho de doenças, mentiras e corrupção, não falam pelo povo e sim por seus interesses. Não são lideranças são garimpeiros se escolheram o caminho das doenças.

     

    Nosso caminho que se fortalece em nossa educação com o Ibaorebu e nos encontros de mulheres e nas alianças com outros povos que lutam por uma vida melhor e autônoma em seus territórios.

     

    Trabalhamos por isso e continuaremos nesse caminho apesar das ameaças às vidas de nossos guerreiros e seguiremos junto com o Cacique Geral Arnaldo Kaba, denunciando o que está errado.

     

    Sawe!

     

    Movimento Ipereg Ayu

    Associação Da’uk

    Associação Pariri (munduruku do médio Tapajós)


    Read More
  • 17/06/2017

    O admirável mundo que não queremos


    Foto: Guilherme Cavalli / Cimi

    Por Cezar Britto*

    A nossa geração, influenciada pela visão futurista do cineasta Stanley Kubrick, acreditava que o ano de 2001 significaria o triunfo da raça humana, o início da conquista do infinito. Acreditávamos que o ser humano, sem as costumeiras pressões terráqueas, não mais teria tempo para as guerras ou para as disputas por um poder sempre sedento de mais poder. Predizíamos que a Era da Opressão não encontraria moradia no futuro, pois o Universo era grande demais para justificar as picuinhas e as futricas que impediam uma justa distribuição das riquezas, das terras e da felicidade. A corrida espacial seria o novo e definitivo sonho dourado de conquista, como comparavam animadamente os entusiasmados amantes dos faroestes italiano-estadunidenses, também em moda nas animadas rodas de proveitosas divagações.

    Lembrei-me, confesso, dessa viagem geracional inacabada quando li o PL 6.442/2016, de autoria do deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), o mesmo parlamentar escalado para relatar a CPI da Funai/Incra. Exatamente aquela comissão que criminalizou a reforma agrária e retroagiu a questão indígena ao tempo da morte autorizada em “caça santa”, entendido como revogado por alvará de 1755, subscrito pelo rei José I, “o Reformador”, quando o Brasil ainda era colônia do Reino de Portugal e Algarves. Acredita-se, tal era a sanha punitiva da CPI, que o soberano português só não foi incluído no extenso rol de indiciados pelo “grave crime de compreender o índio como pessoa humana portadora de direitos inalienáveis”, por ter morrido em 24 de fevereiro de 1777 e já ter havido a independência brasileira em 07 de setembro de 1822. É que constava do alvará assinado pelo rei que flertava com a modernidade pombalina a premissa de que “os índios são iguais a seus descendentes e colonos”, não podendo ser escravizados.

    Exatamente aí a minha torre de observação. A base de pouso da teoria do parlamentar mato-grossense fora cimentada, tanto na CPI quanto no projeto de lei, na ideia de que os índios e os trabalhadores rurais não são pessoas humanas iguais aos demais brasileiros, não podendo embarcar na mesma nave que transporta o sistema jurídico de proteção à cidadania. Este pensamento medieval decola livre já na exposição de motivos que abastece o projeto legislativo proposto, especialmente quando anuncia que o manual de voo da atual legislação rural fora elaborado “com fundamento nos conhecimentos adquiridos no meio urbano, desprezando usos e costumes e, de forma geral, a cultura do campo”. E o deputado não mediu esforços para pilotar o seu intento.

    Pousando o olhar sobre os cento e dezesseis (116) artigos do PL proposto pelo deputado que pretende “louvar a cultura do campo”, logo se descobre o combustível utilizado para movimentar a máquina legislativa reguladora dos usos e costumes praticados na ambiência rural. Diz-se, ali, que é usual prender o campesinato ao querer absolutista do senhorio, dentre eles o de exigir jornada de trabalho desgastante, sol a sol, domingo a domingo.
    Autoriza-se que o mínimo salário legal seja transformado em ínfima migalha remuneratória, sinônimo do que sobrará após os descontos de moradia e alimentação. Admite-se hipótese em que não é obrigatório fornecimento de um local decente para o exercício do trabalho, inclusive água potável e banheiro. Em resumo, apenas enxerguei no projeto – certamente turvado pelo meu urbano vício civilizatório – o velho costume de garantir privilégios aos barões, aos coronéis, aos latifundiários, aos fazendeiros e a todos aqueles que acham ser “moderno” voltar ao tempo da “coisificação da pessoa humana”, onde o grande “barato” é comprar barato o trabalho alheio.


    Foto: Guilherme Cavalli

    Definitivamente não era essa a Odisseia que, comandada por Dave Bowman, partira no ontem para pousar no ano de 2017. O embarque simultâneo do relatório da CPI Funai/Incra e o do PL 6.442/2016 na mesma nave parlamentar soa como símbolo do fracasso da jornada espacial projetada no passado infantil, pois nos faz lembrar de que o sistema de servidão não foi destruído pelos canhões da história, como um dia acreditou Napoleão Bonaparte. Mostra-nos que permanecem vencedores aqueles que entendem ser a pessoa humana parte integrante da gleba destinada ao senhorio, assim como são os rios, os solos, as plantações, os frutos, as máquinas e os animais. E que vencidos continuam aqueles que seguem impossibilitados de acumular a sobra de sua própria produção, permanentemente empobrecidos e impedidos de buscar um pedaço de chão para cultivar a felicidade.

    Mas se é verdade que a esperança é a última a embarcar na aeronave da vida, devemos por ela teimar lutar. Ainda há tempo para interromper a contagem regressiva do insensível foguete, até porque não aprovados os planos de voo pela Câmara dos Deputados. É nossa missão impedir que a nossa tomjobiana Terra Brasilis seja abduzida do mapa, substituída pela Londres imaginada pelo escritor Aldous Huxley. Afinal, o Brasil não pode ser o mundo real que reproduz O Admirável Mundo Novo em que as pessoas são divididas em castas, criadas em laboratórios ou condicionadas no avançar do tempo, como alfas, betas, gamas, deltas e ipsilons. Índios e trabalhadores rurais não são letras do alfabeto grego, máquinas, utensílios ou experimentos sociais. Eles são pessoas, pessoas como cada um de nós!

    *Advogado, integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) e preside a Comissão de Relações Internacionais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Foi presidente do Conselho Federal da OAB e da União dos Advogados de Língua Portuguesa (Ualp).


    Read More
  • 15/06/2017

    Guerreiros viram estrelas que nunca perdem o brilho e iluminam nossos caminhos.


    Foto: Ana Mendes

    Homenagem a um amigo e parente que se foi

    Clodiodi ou guri, como era conhecido, foi brutalmente assassinado
    por proprietários de terra frios, calculistas, que planejaram este triste e lamentável fim.
    Hoje completa um ano que você partiu.
    A saudade aumenta a cada dia. Não temos palavras para descrever tamanha dor.
    Guri era um jovem muito alegre, sorridente, e por onde passava arrastava sorriso nas multidões.
    Sua voz silenciou. Seu sorriso se calou.
    Hoje seus amigos, parentes e comunidade choram pela sua perda,
    uma perda tão repentina e tão precoce.
    Você foi um grande amigo, sentimos muito pela sua partida.
    Guerreiros não morrem, sempre estarão vivos na lembrança e na memória.
    Guerreiros viram estrelas que nunca perdem o brilho e iluminam nossos caminhos.

    Por Cristiano Vera Guarani Kayowá
    Reserva Indígena de Caarapó (MS), 14 de junho de 2017
    Poema escrito em memória há 1 ano da morte de Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza

    Read More
  • 14/06/2017

    Meu glorioso Clodiodi: Um ano do Massacre de Caarapó, demarcação foi anulada e fazendeiros soltos

    Por Renato Santana e Tiago Miotto, da Assessoria de Comunicação – Cimi

    Clodiodi Aquileu Rodrigues de Souza foi morto há um ano no tekoha – lugar onde se é – Toro Paso, município de Caarapó (MS). Dias antes, em 12 de junho, o Guarani e Kaiowá, ao lado de outros 300 indígenas do povo, retomou uma área de 490 hectares da Fazenda Yvu, incidente sobre o tekoha. Os fazendeiros se reuniram em consórcio e atacaram o acampamento da retomada, apoiados por jagunços, pistoleiros uniformizados e encapuzados. Utilizaram retroescavadeiras e incendiaram tudo o que identificavam como pertences dos indígenas. Além de Clodiodi, cinco Guarani e Kaiowá foram baleados e seis outros feridos – inclusive a tiros de bala de borracha. O ataque durou entre nove e 13 horas, sem a polícia intervir. Nenhum fazendeiro ou bandido contratado para atacar os indígenas se feriu, ou foi preso. O local do massacre – Toro Paso – passou a ser chamado de retomada Kunumi Poty Verá, nome indígena de Clodiodi.

    Kunumi Poty Verá faz parte da demarcação Dourados Amambaipeguá I. Por conta da paralisação do procedimento, incluído ainda em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 2007, portanto há dez anos, entre o Ministério Público Federal (MPF) e o governo federal (nenhum procedimento foi concluído, de apenas quatro abertos), os Guarani e Kaiowá decidiram que não era mais possível esperar às margens das rodovias: passaram a retomar áreas tradicionais pertencentes à delimitação da demarcação. “Essa demora do governo matou Clodiodi e mais uns tantos”, afirma Elson Guarani e Kaiowá. Mesmo diante da procrastinação estatal, a Justiça Federal, no dia 10 de fevereiro deste ano, suspendeu o processo administrativo da Dourados Amambaipeguá I, declarando o ato nulo. Para os Guarani e Kaiowá, este pode ser considerado o segundo assassinato de Clodiodi.

    Sem reparação ou o direito à terra para viver, e não apenas ser enterrado, e com os criminosos impunes, o sentimento dos Guarani e Kaiowá um ano depois do Massacre de Caarapó acompanha as denúncias que o povo realiza nos últimos tempos nas Nações Unidas (ONU) e Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). “Na verdade a política indigenista do governo para a gente é o genocídio. Violam nossos direitos de todas as maneiras. No Mato Grosso do Sul um saco de soja, um boi valem mais que um indígena, um ser humano”, declara Elizeu Guarani e Kaiowá. Estatísticas e estudos comprovam a veracidade da fala do indígena. Conforme o Atlas Agropecuário, 92% do território sul-mato-grossense está em terras privadas; 83% desse total, são de latifúndios – a Fazenda Yvu, por exemplo. O restante do território do estado está destinado a áreas protegidas (4%), incluindo aqui as terras indígenas, e 1% de assentamentos. Da totalidade das terras do Brasil, 53% encontram-se em áreas privadas e 28% é a taxa de ocupação de latifúndios.

    De acordo com dados que o Itamaraty disponibiliza para as relações comerciais exteriores, tendo no Mato Grosso do Sul um de seus principais produtores de commodities, cerca de 80% da população do estado vive em centros urbanos. “O assassinato de Clodiodi está inserido dentro deste contexto de voracidade do agronegócio por terras. O que nos preocupa é o fato de que o juiz que declarou nulos os atos do procedimento administrativo da Dourados Amambaipeguá I usou a tese do marco temporal. É farta a documentação comprovando que os Guarani e Kaiowá foram retirados à força de suas aldeias, mas sempre se mantiveram perto delas vivendo sob terríveis privações na beira de estradas ou confinados em reservas”, declara Flávio Vicente Machado, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional MS. Na tese do marco temporal, só poderiam ser consideradas terras tradicionais aquelas que estivessem sob posse dos indígenas na data de 5 de outubro de 1988 – a promulgação da Constituição Federal. Em 12 de maio de 2016, a Dourados Amambaipeguá I foi declarada e delimitada pela Fundação Nacional do Índio (Funai), vinculada ao Ministério da Justiça, com publicação no Diário Oficial da União. Outros tekoha fazem parte da grande terra, que ainda abrange a Reserva Indígena Tey’i Kue – criada na década de 1930 para confinar os Guarani e Kaiowá expulsos de seus territórios tradicionais contra a própria vontade.

    Para Elson Guarani e Kaiowá, a única decisão possível é seguir colocando a vida em risco para que o direito se estabeleça de alguma maneira. Não apenas no Mato Grosso do Sul, mas em vários estados do país povos têm adotado a estratégia da autodemarcação. Enquanto isso, as retomadas não cessam – e as consequências violentas na mesma proporção. Há um ano já era o que se tinha no horizonte. “Vinham mais de duzentos carros. Fizeram uma divisão, dois grupos: um veio de um lado, pela divisa da aldeia, fizeram um cerco na gente. Do outro lado, veio pá cavadeira [tipo de trator] e arrebentou a cerca, e começaram a entrar pelo campo. Vieram atirando, atirando, tiroteio feio mesmo, arma pesada”, relatou à época um Guarani e Kaiowá. “Atiraram sem trégua, encapuzados de milícia paramilitar”, diz um verso da música Meu Glorioso Clodiodi, do Ruspo (ouça aqui). O MPF, dias depois do assassinato de Clodiodi, denunciou 12 indivíduos por formação de milícia privada no MS, envolvendo casos anteriores a este que ficou conhecido como Massacre de Caarapó.

    Parlamentares da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara Federal realizaram uma diligência no Mato Grosso do Sul, entre os dias 15 e 16 de junho do ano passado, logo após o massacre. Revelaram em relatório que policias do Departamento de Operações de Fronteira (DOF) e as polícias Militar e Federal estiveram na retomada um dia antes do ataque aos Guarani e Kaiowá. De acordo com o relatório apresentado pelos parlamentares, o fazendeiro conhecido como Virgílio Mata Fogo afirmou aos Guarani e Kaiowá, na presença dos policiais, que caso a comunidade não saísse da área retomada ele iria “resolver do meu jeito (SIC)”. No dia seguinte, conforme o documento da CDHM, Virgílio coordenou o ataque que terminou no Massacre de Caarapó junto com outros dois fazendeiros chamados de Camacho e Japonês.

    A relatora especial das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, condenou o ataque contra os Guarani e Kaiowá e afirmou s etratar de “uma morte anunciada”. A especialista instou as autoridades federais e estaduais a adotar ações urgentes para prevenir mais assassinatos, bem como investigar e responsabilizar os perpetradores. “Paramilitares agindo por instruções de fazendeiros realizaram o ataque em retaliação contra a comunidade indígena que busca o reconhecimento de suas terras ancestrais”, disse nota oficial da relatoria. O caso de Clodiodi constou no relatório de Victoria, apresentado em setembro, onde ela conclui, depois de ter percorrido Brasília, Mato Grosso do Sul, Bahia e Pará que o governo brasileiro não atendeu às recomendações da Relatoria Especial para os Direitos dos Povos Indígenas das Nações Unidas, realizadas em 2008 em decorrência da visita do relator James Anaya.

    Velório de Clodiodi. Foto: Ana Mendes/Cimi

    Velório de Clodiodi. Foto: Ana Mendes/Cimi

    Ordens de despejo, ameaças, prisões

    Menos de 48 horas depois de deixar o Hospital da Vida, em Dourados (MS), Simão Guarani e Kaiowá, sobrevivente do Massacre de Caarapó, sofreu emboscada durante a noite do dia 26 de junho de 2016, na casa que divide com a esposa e uma filha na Reserva Tey’i Kue, inserida nos limites de demarcação da Dourados Amambaipeguá. Antevendo as intenções dos indivíduos não identificados que se aproximavam da moradia, Simão mandou que a mulher fugisse com a filha e ele danou-se pela plantação de mandioca da família em busca de um esconderijo. O pai de Clodiodi e outros indígenas presentes no Massacre de Caarapó passaram a ser ameaçados nos dias seguintes ao ataque. “A gente conhece todos que tavam ali e que deu pra gente ver. Tão ameaçando pra gente não contar”, declarou um Guarani e Kaiowá à época.

    Ao programa Notícias Agrícolas, o presidente do Sindicato Rural de Caarapó, Carlos Eduardo M. Marquez, declarou que os “produtores da região” se reuniram para retirar os Guarani e Kaiowá da retomada Yvu, mas que “não houve conflito. Os indíos voltaram para a aldeia, ficaram revoltados e trancaram a estrada. Tinha uma carreta carregada. O motorista ficou com medo e atropelou o índio (Clodiodi)”. O superintendente do Hospital da Vida, para onde foram encaminhados os Guarani e Kaiowá baleados, declarou ter “certeza absoluta” de que os indígenas foram atingidos por arma de fogo. No caso de Clodiodi, a morte foi causada por dois disparos que o atingiram no tórax, sem nenhum sinal de atropelamento por um veículo de grande porte. Conforme imagens feitas pelos próprios indígenas, o corpo de Clodiodi foi recolhido por seus parentes no interior da fazenda Yvu e ainda com a presença dos fazendeiros na área.

    Não apenas as ameaças ou as manipulações tentando descaracterizar o ataque aguardavam os Guarani e Kaiowá, além de possíveis prisões contra lideranças. As famílias sobreviventes enfrentaram uma ordem de despejo contra o tekoha Kunumi Vera. O juiz Janio Roberto dos Santos, da 2ª Vara da Justiça Federal de Dourados, concedeu liminar de reintegração de posse em favor de Silvana Raquel Cerqueira Amado Buainain, proprietária da fazenda Yvu, onde está localizado o tekoha pelo qual Clodiodi tombou. A decisão foi revertida posteriormente, em instâncias superiores. Sequer o posicionamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) em repúdio ao ataque e pedindo a demarcação sensibilizou o juiz.

    A força-tarefa Avá Guarani prendeu cinco fazendeiros por envolvimento no ataque. Em suas propriedades, apreendeu ao todo 11 armas, 310 cartuchos e dois carregadores de pistola foram recolhidos pela polícia. Foram encontrados dois revólveres e um rifle calibres 38, uma pistola .380 e sete espingardas calibres 16, 22, 28, 32, 36 e 38. Dos 310 cartuchos recolhidos, a maioria são de calibre 22 (91 unidades), 380 (67) e 38 (54). Foram apreendidos carregadores sem a respectiva arma e que armamentos registrados em nome dos fazendeiros presos não foram localizados. Para o MPF, o resultado da busca e apreensão reforça as investigações. “A perícia realizada no local do ataque à comunidade encontrou projéteis deflagrados em calibres similares às munições apreendidas”.

    No dia 28 de outubro de 2016, o MPF apresentou a denúncia à Justiça Federal em Dourados contra os cinco envolvidos na retirada forçada dos indígenas da Fazenda Yvu. “Os fazendeiros, que estavam presos preventivamente até semana passada, responderão por formação de milícia armada, homicídio qualificado, tentativa de homicídio qualificado, lesão corporal, dano qualificado e constrangimento ilegal. As penas podem chegar a 56 anos e 6 meses de reclusão. Segundo as investigações, “os denunciados organizaram, promoveram e executaram o ataque à comunidade Tey Kuê no dia 14 de junho. Cerca de 40 caminhonetes, com o auxílio de três pás carregadeiras e mais de 100 pessoas, muitas delas, armadas, retiraram à força um grupo de aproximadamente 40 índios Guarani Kaiowá da propriedade ocupada – que incide sobre a Terra Indígena Dourados Amambaipeguá”. Por decisão monocrática do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello, todos foram soltos em 3 de novembro.

    Elson Guarani e Kaiowá conta que na terra tradicional onde Clodiodi tombou, e que a Justiça diz que não existe mais, a vida é próspera. “Plantamos nossa comida (foto acima), sem veneno. Conseguimos vender feijão e mais umas plantações para comerciantes. A terra é a vida pro nosso povo. Não queremos ela para o ruim, para a maldade, para ficar rico. Queremos a terra para viver bem, junto de Ñanderu, dos espíritos dos que morreram pela terra. É o lugar pra nossas crianças crescerem. Com ela temos vida, bastante. Sem ela é morte, dor e sofrimento. Pro branco já não basta tudo o que passamos?”, diz.

    Read More
Page 327 of 1200