• 10/04/2017

    #ABRILindígena: oficina “Os Povos Indígenas e os Direitos Originários” está com inscrições abertas

    Estão abertas, até 20 de abril, as inscrições da oficina “Os Povos Indígenas e os Direitos Originários”. O evento é uma das realizações do Ministério Público Federal para o #ABRILindígena. A oficina acontece no dia 25 de abril, das 9h às 13h, no Auditório JK, na sede da Procuradoria-Geral da República, em Brasília. Para garantir sua participação, envie e-mail para o endereço [email protected]. As inscrições são gratuitas.

    A primeira mesa da programação terá como tema as Terras Indígenas nas constituições brasileiras. O debate será presidido pelo subprocurador-geral da República Luciano Mariz Maia, coordenador da Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do MPF (6CCR/MPF), realizadora do evento. A procuradora federal dos Direitos do Cidadão do MPF, Deborah Duprat, e o constitucionalista Daniel Sarmento debaterão a temática.

    Etnografia nas terras indígenas será o assunto da segunda mesa, que contará com a mediação de Luiz Eloy, representante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), e participação dos antropólogos João Pacheco e Fabio Mura como debatedores. A cientista política e ativista indigenista Dalee Dorough (University of Alaska) participa da terceira mesa, cujo tema é Terras indígenas na Jurisprudência do Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Indígenas.

    A oficina é uma iniciativa da Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do MPF, com o apoio do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Instituto Socioambiental (Isa), Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e Plataforma Dhesca.

    Confira a programação no site do MPF.

    SERVIÇO
    “Os Povos Indígenas e os Direitos Originários” – Oficina
    ***Inscrições pelo e-mail: [email protected]
    Quando: 25 de abril, das 9h às 13h
    Onde: Auditório JK, sede da Procuradoria-Geral da República (SAF Sul Quadra 4 Conjunto C Brasília/DF)
    Mais informações: (61) 3105-6051 ou 3105-6052

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  • 07/04/2017

    Semana dos Povos Indígenas: Territórios e biomas como expressões de luta e vida

    O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), neste simbólico mês da resistência secular indígena, lançou a tradicional campanha Semana dos Povos Indígenas. Por todo o país, missionários e missionárias percorrem escolas, universidades, sindicatos, órgãos públicos, Legislativo e Judiciário, além das aldeias discutindo um tema previamente selecionado. Acesse aqui o material da campanha na íntegra.

    Para este ano, o Cimi convida a reflexões sobre "Povos indígenas, Territórios e Biomas: Berços de Vida, Lutas e Esperança". O tema vincula-se ao proposto pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para a Campanha da Fraternidade de 2017. Partindo das reflexões da Encíclica Ladauto Si, do Papa Francisco, o texto da campanha analisa:

    "São inúmeros os problemas gerados por um modelo exploratório, que vê converter tudo em mercadoria e subjuga os seres vivos aos imperativos de lucratividade e de concorrência do sistema capitalista. Dentro dessa lógica, os povos indígenas e populações tradicionais são vistos como obstáculos e suas distintas maneiras de pensar e de viver são caracterizadas como ultrapassadas, anacrônicas, obsoletas".

    A campanha reflete sobre os conhecimento tradicionais dos povos indígenas e comunidades tradicionais como vitais para as espécies do Planeta. "Esta é uma capacidade desenvolvida a partir de seus modos próprios de viver e de entender as relações entre os seres, na terra. Para viver, e não meramente sobreviver, é preciso ver nos outros – pessoas, animais, plantas – não um inimigo ou um concorrente, e sim um elemento que integra a trama da vida e que tem, nela, o seu lugar".

    Desse modo, garantir os territórios tradicionais a estas populações é a face de uma luta contra toda uma ordem econômica e política geradora de misérias, desigualdades, esbulhos e genocídio.

    "A relação dos povos indígenas com a terra é explicada pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro (2016, s/p) nos seguintes termos: A terra é o corpo dos índios, os índios são parte do corpo da terra. A relação entre terra e corpo é crucial. A separação entre a comunidade e a terra tem como sua face paralela, sua sombra, a separação entre as pessoas e seus corpos, outra operação indispensável executada pelo Estado para criar populações administradas".  

    Justamente por conta de tal capacidade dos povos indígenas e comunidades tradicionais de desobedecer à "criação de populações administradas", a Semana é também um espaço de denúncia. "A demarcação e proteção das terras é um direito dos povos indígenas estabelecido pela Constituição Federal, Art. 231, no qual se afirma que “são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.

    Biomas

    Não há quem melhor proteja um bioma do que o povo que nele vive de forma integrada com as diversas formas de vida ali presentes. Há que se destacar que a presença dos povos indígenas e demais comunidades tradicionais como os quilombolas, os coletores de iscas, os ribeirinhos, os caiçaras e os pescadores artesanais ajudam a preservar os biomas. Tal relação é outro aspecto que a Semana pretende abordar. Exemplos não faltam.

    "Para se ter uma ideia inclusive do potencial de reavivamento de áreas degradadas nestes biomas, os Pataxó que lutam por suas terras tradicionais na Bahia, exatamente no local da invasão portuguesa ao Brasil, plantaram mais de 20 mil mudas de árvores nativas da Mata Atlântica nos últimos anos. Os Ka’apor, entre 2013 e 2016, fecharam 14 ramais de retirada ilegal de madeira da Terra Indígena Alto Turiaçu, no Maranhão. Os Munduruku conseguiram impedir a destruição da Terra Indígena Sawré Muybu, no Pará, barrando a construção do Complexo Hidrelétrico do Rio Tapajós – o que por conseguinte inundaria milhares de hectares de Floresta".

    Pouco a sociedade envolvente a estes povos é informada pela mídia hegemônica sobre o que representa para todos e todas os indígenas e comunidades vivendo nos territórios tradicionais. Ao contrário, a mídia apenas reproduz o modelo que tem nos levado a situações de vulnerabilidade e morte, caso do agronegócio (grande destruidor de biomas e populações), negando, inclusive, a informação de que 70% dos alimentos que acessamos diariamente vêm da agricultura familiar.


    "Demarcar e respeitar os limites dos territórios indígenas é uma das formas de reconhecermos que há outros povos com propriedade e sabedoria para resguardar a diversidade ecológica que existe em nosso país. É também um modo de dar visibilidade a outros pontos de vista sobre o mundo, e a concepções que não cabem nos limites de nossa tradição ocidental".

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  • 07/04/2017

    Após 28 anos, acusados de matar indígena no Mato Grosso são condenados em júri popular

    Os réus Sadi Francisco Tremea e Antônio Lopes da Silva foram condenados a 18 anos e nove meses de prisão em regime fechado, cada um, por homicídio doloso qualificado contra o indígena de 70 anos Yaminerá Suruí, ocorrido em 16 de outubro de 1988, na Reserva Indígena Zoró, localizada no Município de Aripuanã, região noroeste de Mato Grosso. A condenação foi resultado do júri popular realizado nesta quarta-feira (5), em Cuiabá (MT), pela Justiça Federal de Mato Grosso (JFMT), e anunciada após 10 horas de embates calorosos entre a defesa e acusação. Os acusados estão foragidos.

    Julgamento – A sessão teve início por volta das 9h30 com o sorteio dos sete jurados que compuseram o júri. Em seguida, foram reproduzidos em vídeo os depoimentos de três testemunhas ouvidas por carta precatória. Os primeiros a serem ouvidos foram dois servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) que afirmaram que o indígena havia sido assassinado devido a disputa de terra, pois colonos estavam invadindo os limites da área indígena dos Zoró. Uma das testemunhas afirmou que só foi possível localizar o corpo do indígena, que estava em boa parte carbonizado, graças ao depoimento dado por um dos acusados que estava preso em Cuiabá. Essa testemunha também afirmou que Yaminerá foi morto pois, sendo idoso, não conseguiu correr para dentro da mata, fugindo dos tiros como os outros indígenas fizeram.

    A terceira testemunha a ser ouvida foi o indígena Celso Natin Suruí, sobrinho da vítima. Ele contou que estava caminhando próximo a estrada com o pai, o indígena Yaminerá e o balseiro “Osvaldo”, quando os acusados passaram de caminhonete e começaram a atirar. Os outros índios e o balseiro conseguiram correr para a mata, mas Yaminerá não conseguiu correr por causa da idade. “Ele foi morto a queima roupa. Meu pai ainda chegou a ser atingido de raspão no braço, mas conseguiu fugir”, afirmou em depoimento.

    Ministério Público – Não houve leitura das cartas precatórias de outras testemunhas, e então iniciou-se a fase dos debates. Representando o Ministério Público Federal em Mato Grosso (MPF/MT), o procurador da República Vinícius Alexandre Fortes de Barros enfatizou que havia provas suficientes para a condenação, porém, mais que condenar os réus, a questão era a de se fazer justiça depois de 28 anos, acabando com a sensação de impunidade. “O MPF tem o papel não de condenar, mas de defender a sociedade, e é isto que queremos fazer aqui”, afirmou.

    Durante o seu discurso, o procurador lembrou que o indígena havia sido assassinado 11 dias depois da promulgação da Constituição Federal, que traz em seu artigo 230 a garantia da vida das pessoas idosas, e o artigo vizinho, o de número 231, que trata sobre o reconhecimento dos indígenas, suas crenças e costumes, e direito de demarcação de terras. “A vítima teve ceifados dois de seus direitos reconhecidos pela Constituição Federal recém promulgada”, completou.

    Em seguida, a palavra foi passada para a procuradora da República Marianne Cury Paiva, que leu alguns depoimentos dados pelos réus, confirmando terem sido convidados para fazer parte da chamada "caravana da morte" e que todos estavam armados e em duas caminhonetes. Nos depoimentos, os acusados deixaram claro que o grupo teria atacado quatro vezes os indígenas, sendo que no terceiro ataque o indígena Yaminerá Surui foi morto. Ela apontou que os réus não negaram o crime em seus depoimentos.

    Já o procurador da República Ricardo Pael Ardenghi tratou de explicar aos jurados os quesitos que seriam usados no julgamento e enfatizou que, além de condenar os acusados, um dos principais objetivos do júri era o de acabar com a sensação de impunidade. “Absolver os dois acusados será como deixar um vazio, assim como está a cadeira dos réus aqui hoje, vazia. Basta dessa sensação de impunidade. É preciso que sejamos justos”, ressaltou Pael, que enfatizou a situação de como se deu o crime e a impossibilidade de reação por parte da vítima idosa. A acusação usou as duas horas e meia a que tinha direito.

    Defesa – Após a suspensão do júri por uma hora para o almoço, foi a vez da defesa retomar o debate. O defensor público da União, João Paulo Rodrigues de Castro, tentou convencer os jurados que os invasores da terra indígena eram fazendeiros e agiram em legítima defesa, pois dois dias antes do assassinato do indígena alguns índios teriam ido até o local onde os posseiros estavam e feito ameaças de morte caso eles não se retirassem das terras Zoró.

    O defensor também usou a tese de que o indígena assassinado também teria participado do ataque feito pelos indígenas no acampamento dos posseiros, e que o motivo do crime não teria sido fútil, desqualificando o crime. Além disso, afirmou que não houve uma “caravana da morte” e que a vítima não foi alvejada pelas costas, e muito menos em um terceiro ataque feito pelos posseiros. Para o defensor, a vítima teria sido atingida por um tiro durante intenso tiroteiro entre os posseiros e indígenas, em uma batalha campal. A defesa também usou as duas horas e meia.

    Ainda foram usadas a réplica por parte da acusação e a tréplica por parte da defesa, ambos sustentando as suas versões.

    Votação – Por volta das 17 horas os jurados se retiraram para a sala secreta, onde fizeram a votação de acordo com os quatro critérios colocados pelo juiz: o primeiro, a materialidade do caso, ou seja, se o crime havia ocorrido; o segundo sobre a autoria, se os réus teriam concorrido de alguma forma para a morte da vítima; caso positivo, o terceiro quesito era que, mesmo tento participado de alguma forma, os jurados os absolveriam; e o quarto quesito era quanto a qualificadora, ou seja, por motivo fútil e indefensável.

    A sentença foi lida pelo juiz federal Francisco Moura Júnior, que presidiu a sessão. Os jurados reconheceram a culpabilidade dos réus e também a qualificadora, ou seja, que o crime foi cometido por motivo fútil, condenando assim os réus. A pena aplicada foi a de 18 anos e nove meses para cada réu. Como eles já haviam sido presos em 1989, houve uma redução de aproximadamente quatro meses para cada um. O juiz, na dosimetria da pena, considerou o fato mais reprovável e aumentou a pena base por ser um ataque contra integrantes de uma comunidade indígena, indiscriminadamente, tão somente por serem indígenas. A defesa irá recorrer da decisão.

    Os réus são considerados foragidos desde 1989, quando tiveram a prisão preventiva decretada e posteriormente a liberdade provisória, tendo mudado de endereço sem prévia autorização, não sendo mais localizados.

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  • 07/04/2017

    Provocar rupturas, construir o Reino. Vicente Cañas SJ: Fragmentos de seu martírio

    O colaborador do Reino, necessariamente, será um provocador de rupturas. Vicente Cañas foi este colaborador da causa maior do Reino, que irrompeu de sua opção pela causa dos povos indígenas.
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  • 06/04/2017

    Povos indígenas no cinema: lançamento de documentários na Unila


    Dois documentários sobre os povos indígenas do Brasil serão lançados na Universidade da Integração Latino-Americana (Unila) nos próximos dias, em meio à programação da Semana dos Povos Indígenas.

    O primeiro, exibido nesta sexta (7), às 18h, será o documentário "Enchente: o outro lado da barragem norte", sobre as consequências da barragem construída pela Ditadura Militar, na década de 1970, na proximidade da Terra Indígena Ibirama Laklãnõ, do povo Xokleng, no alto Vale do Itajaí, em Sanca Catarina.

    Saiba mais sobre o filme: https://goo.gl/mjtzvI

    No dia 11 de abril, também às 18h, será exibido o documentário Martírio, do diretor Vincent Carelli. O filme analisa a violência sofrida pelo povo Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul, resgatando o histórico recente dos conflitos envolvendo as terras indígenas destes povos.

    As exibições ocorrerão no auditório Martina Piazza, na Unila, em Foz do Iguaçu (PR).

    A atividade é promovida pelo Coletivo da organização da Semana dos Povos Indígenas 2017, composta pelo Cimi Regional Sul, estudantes e professores da Unila e da Unioeste, pela Jornada Universitária pela reforma Agrária (JURA) e pela Unila.

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  • 06/04/2017

    Povos indígenas isolados, mas não vencidos


    Texto e fotos por Egon Heck, do Secretariado Nacional

    Na Pan Amazônia, nos diversos países são possivelmente em torno de 150 povos isolados ou livres. Eles encontram-se em situação de ameaças e pressão constante sobre seus territórios.

    Diante dessa ameaça à sobrevivência está ocorrendo em Cuiabá o primeiro Encontro Pan-Amazônico Em defesa dos direitos dos povos “Isolados”. Foram mais de 30 participantes do Brasil, Peru, Bolívia, Paraguai, Equador e Colômbia.O avanço acelerado e destruidor da mineração, madeireiras grandes obras de infraestrutura e agronegócio põem cada dia mais em risco a sobrevivência desses povos-comunidades. Diante desse quadro de genocídio pessoas e instituições dos países Pan Amazônicos, apoiados pela REPAM – Rede Eclesial Panamazônica se reuniram em Cuiabá para refletir a gravidade da situação desses povos e traçar estratégias eficazes para garantir sua sobrevivência.


    Povos Livres

    O termo “livres” é uma designação que parece ser mais apropriada para identificar esses grupos, porque descarta a perspectiva da necessidade absoluta da “pacificação” daqueles povos indígenas que sempre fizeram questão de guardar distância das sociedades nacionais (Cimi, 2001).

    São poucos os povos isolados sobreviventes no mundo de hoje nos diversos Estados e continentes. Não se trata de povos do passado, mas do presente e do futuro.


    O marco legal e os povos isolados

    Internacionalmente, o Direito à resistência, livre determinação e autonomia dos povos livres é garantido pelo artigo 3º da Declaração das Nações Unidas sobre os Povos Indígenas.

    Entre os tópicos discutidos no evento, chegou-se à conclusão de que é preciso fazer encontros entre os diversos países da América do Sul, para ampliar a discussão a respeito dos direitos dos povos livres em âmbito continental.

    Outra questão que chamou atenção é a da segurança, especialmente em relação às fronteiras. Teremos que revisitar essa questão de segurança, pois a realidade hoje é bem mais grave pelos muitos interesses escusos que permeiam as fronteiras hoje em dia, afirmou o Procurador da República Ricardo Pael, que abordou a necessidade de discutir a segurança das comunidades de fronteira frente ao do narcotráfico. O Procurador Ricardo já trabalhou em Ponta Porã, no MS fronteira com o Paraguai.

    A dúvida e o medo é que os indígenas sejam vítimas de organizações criminosas na fronteira. Segundo ele, o Ministério Público Federal tem mais perguntas do que respostas.


    Ameaças

    Grandes projetos, como os contidos na IIRSA (Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana), afetam mais de 400 comunidades na Amazônia. O princípio da precaução deve garantir os direitos dos povos indígenas, não podendo os interesses de projetos alheios a eles passarem por cima desses povos.

    “Em suas longas e difíceis trajetórias de fuga e recolhimento, os povos livres não só se protegiam das pessoas que ameaçavam aproximar-se deles, mas também e principalmente, do Estado, um ente abstrato que historicamente se constitui no maior, mais perverso e impiedoso inimigo” (Povos Indígenas Isolados na Amazônia – A luta pela sobrevivência – Cimi 2011)

    Urgência

    Diante da extrema vulnerabilidade dos povos isolados, é urgente e indispensável que suas terras sejam demarcadas, como medida de precaução que garanta sua sobrevivência.

    Texto e fotos Egon Heck
    Cimi Regional MT
    Cuiabá, 4 de abril de 2017

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  • 06/04/2017

    Incidência política: a força indígena na defesa dos direitos

       Rose, Rosilene e Roberto Kanamari: lideranças em incidência junto ao poder público. Crédito das fotos: Fábio Pereira/Cimi-Tefé

    Por Ligia Kloster Apel, da Assessoria de Comunicação – Cimi/Tefé


    “O diálogo precisa acontecer e ser permanente. Os órgãos públicos precisam ouvir o povo indígena, conhecer as necessidades e assumir sua responsabilidade de criar e implementar políticas públicas específicas para nós”. Essa foi a principal reivindicação das lideranças dos povos Deni e Kanamari na reunião de incidência política que aconteceu na sede do CIMI, no município de Itamarati (AM), no dia 29 de março de 2017.

    A reunião em Itamarati foi convocada pelas parceiras Associação do Povo Deni do rio Xeruã (Aspodex) e Associação do Povo Tâkuna do Rio Xeruã (Aspotax), do povo Kanamari, e recebeu o apoio do projeto “Garantindo a defesa de direitos e a cidadania dos povos indígenas do médio rio Solimões e afluentes", realizado pela Cáritas de Tefé e Conselho Indigenista Missionário (CIMI-Tefé) e apoiado pela Agência Católica para o Desenvolvimento no Exterior – CAFOD-Brasil, da Inglaterra e País de Gales, e da União Europeia. Também, a organização indigenista Operação Amazônia Nativa (OPAN) apoiou e se fez presente no encontro.

    Por parte do poder público estavam presentes o Secretária de Meio Ambiente do município de Itamarati, Natanilson Lopes, e o Gerente da Unidade Local do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (IDAM) em Itamarati, José Artemio.

    Foram várias as reivindicações dos povos Deni e Kanamari durante a reunião e mesmo antes dela. As assembleias das associações Aspodex e Aspotax acontecem anualmente desde as suas criações (2006 da ASPODEX e 2009 da ASPOTAX). Em todas elas, as reivindicações de cumprimento das políticas públicas para os indígenas são feitas e encaminhadas aos órgãos competentes.

    Em todas elas, os problemas são apresentados, as violências contra os direitos indígenas denunciadas e as necessidades apresentadas. Mas, apesar das Terras Indígenas destes dois povos, no município de Itamarati, estarem demarcadas e homologadas, ainda existe desrespeito ao seus territórios e seus modos de vida. A ausência de políticas específicas de educação escolar diferenciada, de assistência a saúde, de incentivo à produção, entre tantas outras ausências, promovem um distanciamento das instâncias de poder para além da distância geográfica que se encontram.

    Tais distanciamentos tornam o acesso às secretarias municipais e suas respectivas funções, mais difícil, até pelo desconhecimento das responsabilidades de cada uma, como afirma Ton Antônio Alexandre Kanamari, professor da aldeia São João do Kurabi: “muitas vezes os Kanamari chegam na cidade e solicitam apoio aos representantes da prefeitura, mas cada vez que chega em uma secretaria, dizem que aquilo não é função dela, é função de outra. E como nós não conhecemos as funções certas de cada uma, nós não conseguimos o apoio que precisamos”.

    As reivindicações dos indígenas ao poder público se estende, inclusive, para esses esclarecimentos.

    Associação: o jeito não índio de se organizar para produzir

    Em relação à produção, os indígenas afirmam que o que plantam lhes dá garantia de subsistência, mas existe a necessidade de melhoramentos e agregação de valor em seus produtos para poderem comercializar e, assim, possibilitar recursos para outras necessidades que têm. Para isso, é imprescindível o apoio do poder público.

    Ton Kanamari comenta as dificuldades que seu povo têm para escoar, por exemplo, a produção de banana, abacaxi e o peixe: “É difícil vender nossa produção de banana e abacaxi porque não conseguimos acondicionar para não estragar até chegar na cidade. Mesma coisa é o peixe. Precisamos de estrutura para acondicionamento e certificação também. A Secretaria de Meio Ambiente e o IDAM podem ajudar nisso aí. Porque aí podemos agregar valor nessa produção e melhorar nossa renda”, afirma o professor.


    Outras produções, como cana de açúcar, extração de açaí e óleos de andiroba e copaíba, também precisam de incremento, de apoio técnico e de maquinário. “Tudo isso podemos produzir, mas precisamos de apoio e estamos dispostos a oferecer contrapartida no que for possível”, afirma o líder Kanamari, na expectativa de que os órgãos assumam suas atribuições e contribuam com a produção.

    Esse depoimento, assim como os depoimentos do presidente da Aspodex, Marizanu Makhuvi Deni, e do líder Saravi Makhuvi Deni, revelam as diferenças que os costumes e conhecimentos tradicionais, assim com a forma de organização social, em muito se destoam da forma da sociedade não indígena se organizar.

    Marizanu diz que o trabalho conjunto faz parte da natureza indígena e demonstrou, durante o debate, que é com essa natureza coletiva que os Deni querem trabalhar o associativismo. Essa é a “forma dos não índios se organizar”, afirma, mas se dispuseram a aprender e organizaram as associações: “Estamos trabalhando e organizando as comunidades do jeito não índio de se organizar. São conhecimentos novos, mas estamos lutando pra fortalecer a Aspodex. Ainda temos dificuldades e desafios, mas, aprendemos e estamos lutando pra fortalecer a associação. As dificuldades podem ser superadas com a ajuda da prefeitura. É só a gente trabalhar junto”.

    O líder Saravi Deni, reforça a importância de aprender o funcionamento do mundo não índio lembrando que seu povo enfrentou diversas dificuldades depois do contato com os não índio, por desconhecer esse jeito de viver: “já tem muito tempo que eu tenho buscado aprender junto aos não índios novos conhecimentos. Por isso sou um Deni que vou à cidade estudar. Graças a esse esforço e a contribuição das organizações indigenistas, como o CIMI e a OPAN, as condições socioambientais dos Deni vêm melhorando. Por isso, queremos trabalhar em conjunto e precisamos das políticas públicas específicas pra nós”.

    O representante do IDAM, José Artemio, manifesta seu apoio e respeito pelos esforços dos indígenas ao se organizarem nas associações e diz que, o planejamento do órgão está vindo ao encontro das reivindicações e necessidades manifestadas. “Pretendemos ajudar os Deni com viveiros de árvores frutíferas mais precoces para possibilitar a diversificação da sazonalidade de frutas, sem deixar de lado as frutíferas tradicionais. A cana de açúcar será apoiada pelo mesmo motivo da diversificação de culturas”, diz Artemio reforçando a disposição do IDAM em apoiar as decisões dos Deni e Kanamari e oferecendo apoio técnico para culturas diferenciadas.

    Exemplifica o apoio com a produção de farinha, que visa a melhoria da sua qualidade: “a proposta do IDAM é fortalecer o plantio e a produção em condições sanitárias e de qualidade que permitam a agregação de valor ao produto”, reitera Artemio, dizendo que os padrões de qualidade, saúde e higiene da produção devem ser rigorosos porque se está produzindo alimentos. Quanto ao escoamento, que também está contemplado no planejamento, diz que “é necessário buscar recursos para estrutura e logística (transporte), por isso é muito importante planejar coletivamente e via as associações”, finaliza.

    Merenda regionalizada nas escolas: uma necessidade almejada

    Um dos maiores problemas enfrentados pelas comunidades indígenas é a merenda escolar que vem da cidade com alimentos industrializados. Segundo os indígenas, é uma merenda de menor qualidade quando comparado ao alimento tradicional da comunidade, como destaca o indígena Umada Deni, ao concordar que os alimentos produzidos precisam ter qualidade. “Os Deni estão dispostos a se capacitar para alcançar qualidade exigida nos produtos. É isso que queremos. Mas, nosso alimento é diferente. Os alimentos industrializados são pior dos que os nossos, mesmo que digam que o nosso não tem esse padrão exigido”. E destaca que, assim como os “índios respeitam o alimento dos não índios, os não índios devem respeitar nosso alimento”.


    Manuel Pima Kanamari também concorda que, quando se trata de compra e venda de produtos, a qualidade deve ser rigorosa, mas “a aquisição local dos produtos locais deve ser feita pelos próprios indígenas, e são eles que determinam a qualidade dos produtos”, enfatiza.

    Artemio não discorda e diz que a produção para merenda escolar indígena é uma boa experiência para se alcançar qualidade na produção porque se a ideia é vender é preciso estar atento à qualidade. “Conseguindo fornecer alimentos para as escolas com boa qualidade, as aldeias alcançarão experiência e, aumentando a boa produção, conseguirão no futuro comercializar os produtos para fora das comunidades”.

    Para Fábio Pereira, do CIMI Tefé, a discussão sobre a necessidade da merenda escolar ser regionalizada e adquirida nas comunidades pelos próprios indígenas, é uma reivindicação que vem das assembleias realizadas. E, desde lá, a conclusão é que é importante e necessário unir os conhecimentos tradicionais e técnicos para melhorar a qualidade dos produtos. “O ideal é consorciar os conhecimentos para que se possa viabilizar essas produções. Essa reunião de incidência foi bastante feliz, pois está mostrando que as especificidades indígenas vão ser contempladas no planejamento do IDAM. Portanto, o diálogo entre indígenas e poder público precisa ser permanente e constante, para  não ficar só no debate e as políticas sejam implementadas de forma eficiente”, enfatiza.

    Um documento para que o diálogo não pare

    Na perspectiva de que os órgãos públicos presentes levem as discussões, as reivindicações e os encaminhamentos acordados à prefeitura e às demais secretarias e órgãos competentes, os indígenas das comunidades Terra Nova, Boiador, Morada Nova e Itaúba, da Terra Indígena Deni, e Flechal, Santa Luzia e São João do Curabi, da Terra Indígena Kanamari, escreveram e protocolaram junto aos representantes, um Documento de Incidência Política, no qual constam as demandas referentes à economia indígena.

    Mecanismos e projetos para melhoramento, potencialidades econômicas e produtivas, transporte para escoamento, formação e acompanhamento técnico para a produção e apoio para a comercialização dos produtos e artesanatos, foram as reivindicações expressas no documento. Ele foi entregue ao Secretário Municipal de Meio Ambiente, Natanilson Lopes, que levará ao prefeito de Itamarati, Antônio Maia da Silva, e ao Secretário de Agricultura e Abastecimento, Raimundo Ferreira Fiesca. O Gerente da Unidade Local do IDAM de Itamarati, José Artemio, levará ao conhecimento do Sr. Hamilton Nobre Casaro, Secretário de Estado de Produção Rural do Amazonas (SEPROR).


    Assim, consolida-se que a união dos indígenas, organizações indigenistas e o poder público, em um grande mutirão de defesa dos direitos indígenas, consagrados pela Constituição Federal, confronta o poder que domina e viola os direitos indígenas e é a melhor estratégia de luta em defesa da vida indígena.

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  • 05/04/2017

    No Oeste do Paraná, povo Guarani Mbya fecha ponte reivindicando demarcação e melhores condições de vida


    Crédito da Foto: Luís Fernando Jacques/Brasil de Fato-PR



    Por Renato Santana, da Assessoria de Comunicação – Cimi

    As consequências da falta de demarcações de terras indígenas no Oeste do Paraná encontram similaridades com o vivido pelos povos do Mato Grosso do Sul. Sem terra, em acampamentos pauperizados, indígenas Guarani Mbya estão expostos não apenas a ataques de pistoleiros, mas a situações de fome, falta de água potável e suicídios.

    Mesmo com todas as dificuldades, seguem resilientes e no início desta semana trancaram a ponte Ayrton Senna, que liga Guaíra (PR) ao município de Mundo Novo (MS). O protesto teve como principal ponto de pauta a demarcação das terras indígenas dos Guarani Mbya no Oeste do Paraná.  

    "Temos acampamentos com os parentes vivendo num espaço pequeno entre a fazenda e a estrada. Vivendo num lamaçal, passando fome e frio", explica o cacique Anatalio Guarani Mbya. O indígena revela que os órgãos públicos constantemente afirmam que eles são, na verdade, índios paraguaios.

    Cacique Anatalio lembra que os Guarani Mbya sempre ocuparam todo o Sul do país e da América Latina – mesmo com a colonização intermitente. A construção da UHE de Itaipú inundou ao menos uma dezena de aldeias, dispersando ainda mais as famílias. "Então temos parentes, família mesmo, no Paraguai, na Argentina e no Brasil. Não existe Guarani Mbya paraguaio, existe o povo Guarani Mbya".  

    O líder indígena ressalta que os Guarani Mbya não possuem acesso a saneamento básico, cestas básicas (uma vez estão sem terras para plantar), água, saúde, a educação é precária e sem investimentos, além de faltar professores e agentes de saúde. "Temos muitas crianças doentes", diz o cacique.

    No trancamento da ponte, ao menos 500 Guarani Mbya estavam presentes. "A gente vê o que tá acontecendo e pensa: governo quer matar todos os povos indígenas. Acho que eles estão tentando faz tempo. Destruíram nosso mundo já, mas seguimos aqui vivos", diz o cacique Anatalio.

    Conforme noticiou o Centro de Trabalho Indigenista (CTI), "a ponte foi liberada por volta do meio dia após negociações com a presença dos prefeitos Heraldo Trento (DEM-PR) e Altair de Padua (PSC) de Guaíra e Terra Roxa, respectivamente. As autoridades assinaram um documento se comprometendo a negociar as reivindicações com as lideranças indígenas".



    Tekoha Guarani, Oeste do Paraná. Crédito da foto: Renato Santana/Cimi


    Frente anti-indígena

    A Organização Nacional de Garantia ao Direito de Propriedade (Ongdip) e Sindicatos Rurais encabeçam uma forte campanha difamatória com incitação pública, com moradores de Guaíra e Terra Roxa incentivados abertamente a tomar partido na luta contra os povos indígenas.

    Faixas foram estendidas pelas praças e principais ruas da cidade com dizeres como "invasão indígena não combina com ordem e progresso" e "o Brasil que produz merece respeito". Um panfleto de caráter racista intitulado "A Verdade", financiado a partir de recursos privados dos vereadores da cidade de Guaíra, foi amplamente distribuído.

    Pelas cidades do Oeste do Paraná não é difícil encontrar automóveis com adesivos: "Minha Terra, Minha vida: PR e MS contra a demarcação das terras indígenas". Em Guaíra, no ano passado, um acampamento Guarani Mbyá, nas imediações do centro da cidade, sofreu ataque a tiros.  

    Políticos até mesmo do PT, partido com correntes de apoio aos povos indígenas, estão envolvidos em ataques aos Guarani Mbya na região, caso da senadora Gleisi Hoffmann, que quando ministra da Casa Civil declarou não existir índios no Paraná, e do ex-prefeito de Guaíra, Fabian Vendrusculo, que certa vez decretou feriado para protestos contra as demarcações.


    Em Guaíra, conforme o Setor de Documentação de Terras Indígenas do Cimi, são sete territórios tradicionais a serem identificados pela Funai e um sem quaisquer providências. Já em Terra Roxa, são cinco territórios em processo de identificação. São cerca de 5 mil Guarani Mbya em busca das terras que sempre lhes pertenceu. 

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  • 05/04/2017

    Indígenas e beiradeiros impedem audiência sobre leilão da floresta em Itaituba (PA)


    Foto: Barbara Dias/Cimi Norte 2

    Por Tiago Miotto, da Assessoria de Comunicação, e Equipe Tapajós – Cimi Norte 2

    Na tarde desta quarta (5), Munduruku, indígenas da comunidade de Pimental e beiradeiros de Montanha e Mangabal realizaram um ato na Câmara de Vereadores de Itaituba (PA), onde ocorreria uma audiência pública para discutir o leilão de 295 mil hectares de floresta à exploração madeireira. Pela pressão dos indígenas e ribeirinhos, a audiência acabou sendo cancelada.

    A área na qual o Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Preservação da Biodiversidade) pretendem legalizar a exploração de madeira contém sítios arqueológicos e é onde indígenas e ribeirinhos do Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Montanha e Mangabal caçam, fazem seus roçados e pescam de maneira tradicional.

    “Foi aberto o edital da concessão e não fomos consultados, nem os ribeirinhos e nenhum dos povos indígenas afetados”, explica Irleuza Robertinho, liderança indígena de Pimental.

    “Eles fazem uma reunião sem consultar ninguém, como se não existisse o protocolo de consulta. Nós estamos aqui, estamos vivos e vamos brigar sempre pelo nosso território, nem deixar que ninguém desmate nossa floresta para ter empreendimento para madeireiro”, afirma Alessandra Munduruku, liderança do Médio Tapajós.


    Indígenas e beiradeiros ocuparam o pátio da Câmara de Vereadores de Itaituba. Foto: Barbara Dias/Cimi Norte 2

    A audiência seria parte do processo de concessão das Florestas Nacionais (Flonas) Itaituba 1 e 2, a primeira vizinha e a segunda integralmente sobreposta à Terra Indígena Sawre Muybu. Sob ameaça de hidrelétricas, mineradoras e madeireiros, a demarcação desta terra tem sido uma das principais lutas dos Munduruku nos últimos anos.

    Embora não incida diretamente sobre os limites da terra indígena, a área que os órgãos pretendem conceder à exploração madeireira é quase duas vezes maior do que Sawre Muybu e pode ter graves impactos para a vida dos indígenas e comunidades tradicionais da bacia do Tapajós, que já sofrem com a pressão, as ameaças e as invasões constantes de madeireiros em suas terras.

    “Para nós não está sendo correto, porque depois dessas audiências eles já vão partir para o edital para abrir a concorrência das empresas. Nosso protocolo de consulta está sendo rasgado, não teve um diálogo aberto”, afirma Ageu Pereira, liderança de Montanha e Mangabal.

    Cerca de 60 indígenas e beiradeiros ocuparam o pátio da Câmara de Vereadores de Itaituba, impedindo a entrada de vereadores e agentes do SFB, até que a audiência fosse cancelada. Apesar disso, há outra audiência programada para amanhã (6), no município vizinho de Trairão. Os povos e comunidades tradicionais exigem que todas as atividades relativas à concessão sejam canceladas, pois SFB e ICMBio não respeitaram o seu direito de Consulta Livre, Prévia e Informada, o que vem sendo cobrado pelo MPF desde 2014.


    Foto: Alessandra Munduruku

    “São terras de ocupação ancestral indígena e ribeirinha, que vocês decidiram chamar de Flona. Fazendo isso, vocês, Ministério do Meio Ambiente, ICMBio e SFB se assumem como parte do processo colonizador que extermina povos e pensamentos. Estão usando de violência, desprezando nosso conhecimento e desrespeitando nossos locais sagrados”, afirmaram os Munduruku em carta divulgada no ano passado sobre o assunto.


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  • 05/04/2017

    Funai sofre novo golpe: ruralistas, mineradoras, madeireiras e empreiteiros agradecem



    A Organização dos Povos Indígenas de Rondônia, Noroeste do Mato Grosso e Sul do Amazonas, vêm repudiar sobre mais um golpe que a FUNAI sofre acordo esse firmado entre o governo Temer, Partido Social Cristão (PSC), ruralista, empresas mineradoras madeireiras e empreiteiro que contribuirá com o desmantelamento do órgão indigenista e violão de direitos.

    O governo Michel Temer decreta a morte para os povos indígenas quando assinou novo decreto extinguindo 87 cargos comissionados, para o desmantelamento e enfraquecendo e a capacidade do órgão oficial indigenista de analisar, fiscalizar e monitorar as ações de grandes empresas que estão explorando e usurpando todas as riquezas das terras indígenas, especialmente na nossa região Amazônica. Os cortes anunciados pelo governo federal atingem especialmente a Coordenação Geral de Licenciamento (CGLIC) e as Coordenações Técnicas Regionais (CTLs), áreas estratégicas que são responsáveis por analisar grandes empreendimentos em terras indígenas, cuidar do licenciamento, as contrapartidas e fazer o trabalho de receber e levar demandas ao poder público indigenista.

    O decreto publicado mutilou a FUNAI e os povos indígenas de Rondônia, na reunião com o presidente da FUNAI, Sr. Antônio Fernandes Toninho Costa, realizado no dia 21 de Março de 2017, na cidade de Cacoal em Rondônia. O Decreto passou por cima de toda negociação costurada e pactuada neste dia. E fica claro para nós povos indígenas o descontentamento com o atual presidente da FUNAI, que serviu como o “Cavalo de Tróia’, vindo em nosso estado não para resolver os nossos problema, mas sim, para causar mais problemas para nós povos indígena. Pois, seu objetivo é de acelerar o licenciamento de obras que estão dentro das terras indígenas, abrindo caminhos para madeireiros, grileiros e garimpeiros. Com isso, a Coordenação Geral de Licenciamento (CGLIC) fica na função figurativa e sem poder algum para coordenar todos os processos.

    Repudiamos os cortes que atingem e atingirão servidores responsáveis por fiscalizar obras das hidrelétricas, rodovias, ferrovias e outros tipos de impacto social, cultural e ambiental dos povos indígenas. Agora temos uma CGLIC que tem dez técnicos para analisar cerca de três mil processos de licenciamento e fica a cargo de 300 processos para cada técnico da FUNAI.

    Não vamos aceitar que a FUNAI sirva apenas como órgão indigenista de manobra e oficializar a violação dos direitos humanos dos povos indígenas, a usurpação dos recursos naturais e minerais das terras indígenas para as empresas mineradoras e madeireiras. Não vamos permitir que os direito dos povos indígenas seja violado.

    Queremos uma FUNAI estruturada e com orçamento que garanta os atendimentos em todas as demandas com os povos indígena do estado de Rondônia. E exerça a função de ir contra os interesses capitalistas do agronegócio, mineradoras, madeireiras e das empreiteiras nas terras indígenas.

    Não aceitamos um decreto que sucateia e enfraquece a política indigenista, retrocede e viola os direitos indígenas, decreto que possibilita o avanço do agronegócio, atinge os indígenas de não ter mais acesso ao Bolsa Família ou salário maternidade. Esse decreto é mais um GOLPE que os povos indígenas sofrem com o atual presidente e sua equipe faz e vem de maneira diabólica e desumana atacando todos direitos dos povos indígenas no Brasil.

    Repudiamos o projeto de lei de mineração em terras indígenas, pois se esta for aprovada será uma catástrofe em todas as terras indígenas. Pois, terá uma coordenadoria de licenciamento enfraquecida, sem nenhuma estrutura, física humana e orçamentária para acompanhar os processos. Juntando isso entra o projeto de estrangeirização de terras, a especulação agropecuária, os empreendimentos de monocultivo, que precisam de licenciamento também… tudo isso será devastador no geral e para a Amazônia. E o decreto faz parte de uma estratégia pensada de desmonte que faz com que a PEC 215 não seja necessária porque, na prática, já está sendo implantada.

    Vilhena-RO, 05 de Abril de 2017.

    Coordenação Executiva da OPIROMA

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