28/01/2025

Lideranças indígenas denunciam a expansão do gado na TI Kanela-Memortumré, no Maranhão

Os indígenas do povo Canela Memortumré relatam sofrer ameaças de fazendeiros dos povoados Ribeirão, Leandro, Buriti, Catitu e Escondido que andam armados

Os indígenas Canela Memortumré relatam sofrer ameaças de fazendeiros e que estes andam armados com espingardas. Foto: Fábio Reis/Cimi Regional Maranhão

Os indígenas Canela Memortumré relatam sofrer ameaças de fazendeiros e que estes andam armados com espingardas. Foto: Fábio Reis/Cimi Regional Maranhão

Por Andressa Algave, da Assessoria de Comunicação do Cimi Regional Maranhão

Lideranças do povo Memortumré Canela, da Terra Indígena Kanela-Memortumré, localizada em Fernando Falcão, no Maranhão, denunciam a expansão da criação de gado em seu território demarcado e homologado, com cerca de 125 mil hectares, desde 1982. Os indígenas denunciam ameaças de fazendeiros dos povoados Ribeirão, Leandro, Buriti, Catitu e Escondido, situados próximos ao território, e que estes andam armados com espingardas. Desde 2023, a ocupação tem avançado de forma avassaladora. Em janeiro, as lideranças relataram ter contabilizado mais de 150 cabeças de gado no território, comprometendo a segurança e o Bem Viver da comunidade.

Em carta assinada pelo cacique e vice-cacique do povo Memõrtumré Canela, indígenas da aldeia Escalvado informam que já solicitaram diversas vezes que os fazendeiros retirassem o gado, mas foram respondidos com ameaças. Além disso, denunciam que os invasores têm coletado o mel do povo, praticado caça ilegal e desmatado áreas de vegetação protegida. O gado está invadindo áreas de cultivo importantes para a alimentação do povo: plantações de amendoim, milho, batata-doce, inhame, abóbora, feijão-de-corda (Phaselous sp.), mandioca-brava (wayput-re), macaxeira, algodão, cabaças e outros produtos.

“Nós indígenas nunca entramos em qualquer propriedade sem a permissão do proprietário e também nunca autorizamos o aluguel de pastos de nosso território para pastejos de gado de fazendeiros da vizinhança. Pedimos o apoio das autoridades competentes para solucionar esses problemas”, afirma a carta.

“Os caras estão lá, armados de espingarda. Um amigo que estava no setor de roça disse que eles colocaram mais gado lá e querem conflito com a gente”

Terra Indígena Kanela-Memortumré do povo Canela Memortumré (MA). Foto: Fábio Reis/Cimi Regional Maranhão

Terra Indígena Kanela-Memortumré do povo Canela Memortumré (MA). Foto: Fábio Reis/Cimi Regional Maranhão

Uma das lideranças relata que, após o pedido de retirada dos animais, os fazendeiros colocaram ainda mais cabeças de gado no território. “Os caras estão lá, armados de espingarda. Um amigo que estava no setor de roça disse que eles colocaram mais gado lá e querem conflito com a gente”, denunciou.

Gilderlan Rodrigues, da coordenação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Maranhão, explica que a expansão do gado é um dos principais motivadores de conflito na TI Kanela-Memortumré. “O povo Memortumré tem enfrentado diversos conflitos em seu território: plantações de soja em torno, estradas que cortam o território, e o gado. Os indígenas têm avisado os proprietários para tirar o gado do território, mas de lá pra cá a coisa não se resolveu. O território é indígena e cabe ao usufruto exclusivo aos indígenas.”

O Cimi tem atendido às denúncias e encaminhou o caso ao Ministério Público Federal (MPF) e à Polícia Federal (PF), cobrando providências em relação ao conflito. Gilderlan alerta que a intervenção das instituições precisa ser urgente para evitar uma escalada do problema: “O contexto é delicado, e é essencial que os órgãos públicos responsáveis pelos direitos indígenas atuem no território o quanto antes.”

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