12/11/2024

Adolescente Ka’apor da TI Alto Turiaçu é ferido em combate a incêndios criminosos no território

Lideranças Ka’apor tem combatido o fogo sem qualquer apoio institucional e denunciam incêndios criminosos; território é afetado por queimadas desde agosto

Brigadista tenta conter um dos focos de incêndio na Terra Indígena Alto Turiaçu, localizada na região noroeste do Maranhão. Foto: Povo Ka’apor

Por Andressa Algave, da Assessoria de Comunicação do Cimi Regional Maranhão

No início deste mês, um jovem Ka’apor de 15 anos teve queimaduras graves nos pés durante o enfrentamento aos focos de incêndio na Terra Indígena (TI) Alto Turiaçu, localizada na região noroeste do Maranhão. O jovem caiu em um buraco com brasas enquanto ajudava a controlar o fogo no território, e após o acidente foi deslocado para um hospital em Zé Doca (MA), a 81 km da TI, onde está em tratamento.

A TI tem sido alvo de focos de incêndio desde agosto. Desde então, os brigadistas indígenas do Conselho Tuxa Ta Pame têm combatido o fogo sem equipamentos adequados ou qualquer apoio institucional, fator que tem colocado em risco a integridade física das comunidades indígenas.

O Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão  relatou ter registrado 25 mil hectares de floresta destruída pelas chamas na TI, que também integra a área da Amazônia Legal maranhense

Incêndio na Terra Indígena Alto Turiaçu, localizada na região noroeste do Maranhão. Foto: Povo Ka’apor

As brigadas em atividade, compostas em sua maioria por indígenas, tem denunciado que os incêndios são criminosos e tem origem nas fazendas que cercam o território. O Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão (CBMMA) relatou ter registrado 25 mil hectares de floresta destruída pelas chamas na TI, que também integra a área da Amazônia Legal maranhense. Além dos indígenas feridos, lideranças denunciam que diversos animais silvestres têm morrido carbonizados pelo fogo.

A TI Alto Turiaçu, que é casa dos povos Awa-Guajá e Ka’apor, tem 530.524 mil hectares e fica às margens da BR 316, que liga as cidades de Belém, Teresina e Recife. O território fica a sete horas de Belém (PA) e São Luís (MA), e está sobreposto a seis municípios do noroeste do estado maranhense – Zé Doca, Araguanã, Nova Olinda do Maranhão, Maranhãozinho, Centro do Guilherme e Centro Novo do Maranhão.

Apelo

Em vídeo publicado nas redes sociais, uma liderança da TI Alto Turiaçu e integrante do Conselho Tuxa Ta Pame, fez um apelo para que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ajude os brigadistas indígenas na contenção do fogo. “A gente tá tentando apagar esse fogo e não conseguimos. Pedimos apoio para o Ibama, e até agora o fogo continua. O fazendeiro bota fogo na fazenda e depois ele se espalha para o território indígena. Pedimos apoio para tentar apagar. O fazendeiro é culpado, não o indígena. O indígena tá cuidando do território”, exigiu.

Sem ajuda, as brigadas recorrem aos sopradores, facões e galões de água no enfrentamento às chamas. Em um vídeo, um jovem Ka’apor escala a floresta com um galão de água nas costas para acessar um dos focos de incêndio.

Gilderlan Rodrigues, da coordenação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Maranhão, conta que o período de estiagem das chuvas agravou a velocidade com que as chamas tem se espalhado. “Neste período não tem chovido, há a estiagem das chuvas e isso tem provocado cada vez mais complicações com o fogo. Infelizmente todos os esforços que estão sendo feitos não têm sido suficientes para conter o incêndio na TI Alto Turiaçu. O Cimi tem buscado informar sobre o caso e tem denunciado aos órgãos competentes, também buscando dar visibilidade ao que está acontecendo, porque a riqueza do povo Ka’apor está literalmente virando cinzas”, informou o coordenador.

Segundo relatos das lideranças, os responsáveis pelo início dos focos de incêndios são fazendeiros e madeireiros dos municípios de Centro do Guilherme e de Centro Novo do Maranhão. As denúncias são de que os igarapés do território estão secando e que as estradas estão sendo cortadas pelo fogo. “Os fazendeiros estão planejando atacar a gente porque não queremos deixar eles entrarem para tirar madeira. Nossa vida está sendo ameaçada aqui dentro. A morte da floresta é a morte do nosso povo Ka’apor”, afirmou uma das lideranças da TI, que não será identificada nesta matéria por motivos de segurança.

As lideranças indígenas já indicaram quatro fazendeiros responsáveis pelos incêndios que queimam a terra indígena. Os incêndios têm mais um agravante: o território do Alto Turiaçu é uma das últimas áreas de Amazônia Legal no Maranhão. O território garante ao povo a existência e a continuação de seu projeto de vida.

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