24/10/2024

Nota de pesar pelo falecimento de Gustavo Gutiérrez, a voz profética e destemida do pensamento teológico latino americano

As palavras e o pensamento do sacerdote e teólogo peruano abriu caminho para uma libertação profunda das correntes da opressão junto a luta de povos e comunidades excluídas

Padre Gustavo Gutiérrez. Foto: Reprodução

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) manifesta sua dor pela partida do padre Gustavo Gutiérrez, sacerdote e teólogo peruano. Pe. Gustavo foi uma voz profética, lúcida e destemida no pensamento social e teológico latino-americano. No final da década de 1960 e inícios dos anos de 1970, muitos países da América Latina foram atravessados pela opressão de regimes militares.

Nesse período, a Igreja despertava a um novo tempo após o Concílio Vaticano II e a coragem e a palavra de Gustavo Gutiérrez abriram caminhos novos, alicerçados no protagonismo dos povos e comunidades excluídos e na perspectiva, a partir deles, de uma profunda transformação e libertação das correntes da opressão.

Gustavo Gutiérrez participou da elaboração do documento de Medellin, fruto do encontro dos bispos latino-americanos em 1968, e em 1971 publicou seu livro Teologia da Libertação: Perspectivas. Seu pensamento significou uma ruptura com o colonialismo teológico pré-conciliar.

Para isso, colocou no centro da experiência humana e da experiência de Deus as lutas emancipadoras dos mais pobres e dos povos e comunidades que, a partir de outras perspectivas e lógicas culturais, contestavam com resistência o poder político, econômico, religioso e epistêmico do projeto colonial.

O Cimi, que nasceu nessa mesma época, em 1972, bebeu muito dessa fonte de ruptura de um modelo tradicional e colonial. Desse modo, buscava-se avançar, com os povos indígenas, em outros caminhos decoloniais e libertadores, na defesa da justiça, da terra, da diversidade e do protagonismo dos povos em seus próprios caminhos de liberdade e de Bem Viver.

Gratidão, Pe. Gustavo Gutiérrez! Vá em paz, na paz inquieta, comprometida, militante, esperançada e esperançadora. Continue intercedendo para que, como dizia Dom Hélder Câmara, não deixemos cair a profecia.

Brasília, 24 de outubro de 2024

 

Conselho Indigenista Missionário

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