Cura que vem da natureza: encontro de mulheres reúne lideranças de sete povos indígenas em Minas Gerais
O evento faz parte do processo de formação e fortalecimento do movimento das mulheres indígenas do estado
Mais de 50 mulheres, lideranças dos povos Pankararú, Pataxó, Xucuru Kariri, Kiriri, Aranã, Xacriabá e Kaxixó participaram do encontro de mulheres que teve como tema “A Cura Que Vem da Natureza”, entre os dias 16 a 18 de fevereiro. O “Encontro de Cura”, como é chamado pelas participantes, foi realizado na aldeia Capão do Zezinho, território do povo Kaxixó, em Martinho Campos (MG).
O evento faz parte do processo de formação, empoderamento, organização e fortalecimento do movimento das mulheres indígenas em Minas Gerais, que está sendo realizado com a assessoria do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Leste e o apoio da Fundo de Apoio Urgente para a América Latina (FAU-LAC).
“O evento faz parte do processo de formação, empoderamento, organização e fortalecimento do movimento das mulheres indígenas em Minas Gerais”
Maria Rosária Schaper, do Coletivo de Mulheres do Cimi Regional Leste, conta que “o evento, previsto no projeto apoiado pela FAU-LAC, em sua etapa formativa, está na agenda do Cimi Regional Leste e no calendário das atividades do Movimento de Mulheres Indígenas de Minas do Coletivo de Mulheres da APOINME, como estratégico para o fortalecimento da luta dos povos indígenas”.
A formação do “Encontro de Cura” foi conduzida pelas representantes da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME), Giselma Xukuru-Kariri que é coordenadora do Departamento das Mulheres de Minas Gerais e Carliusa Kiriri, vice coordenadora da organização indígena.
“Foram dias de profunda cura, pessoal, coletiva e espiritual. Um momento transformador para meu povo e território”
Este foi um momento extremamente rico e profundo, avaliam as participantes. Durante os rituais, rodas de conversas, partilhas e reflexões sobre o papel da mulher indígena na luta por direitos e seus desafios vividos no cotidiano várias questões e dores vivenciadas foram colocadas à roda e acolhidas por todas as parentes, relatam as organizadoras da formação.
“Foram dias de profunda cura, pessoal, coletiva e espiritual. Um momento transformador para meu povo e território. A natureza tem todos os elementos de cura, os vários produtos e plantas trazidas pelas nossas anciãs curandeiras foi extremamente rico”, avalia Carina Kaxixó. “Me sinto muito honrada e agradecida ao coletivo de mulheres, ao Cimi Leste e a FAU-LAC por proporcionar este momento profundo de cura e empoderamento das mulheres indígenas de Minas. Peço aos parceiros para dar continuidade com o apoio para esse rico processo de formação”, apela Carina.
“Peço aos parceiros para dar continuidade com o apoio para esse rico processo de formação”
Ao descreverem o que o território representa, as participantes o listam como “espaço de cura, de poder, de transformação e por isso estão matando as lideranças indígenas”. Além de reforçarem as comunidades indígenas como lugares de aprendizagem de ensinamentos.
“A natureza, a mãe terra é o único ser que não morre, ela é geradora de vida, ela cura e nós mulheres somos geradoras de vida e buscamos na natureza a cura para nós e nosso povo”, aponta Cleonice Pankararu.
Para resistir nos territórios por vezes é necessário exercer a de desobediência, reflete outra participante durante a roda de conversa. “A desobediência deve estar fundamentada nas nossas crenças e as vezes é preciso ser desobediente ao sistema aí imposto para que a verdadeira cura aconteça”, explica.
“A natureza, a mãe terra é o único ser que não morre, ela é geradora de vida, ela cura e nós mulheres somos geradoras de vida”
Para além da formação, da troca de saberes do ‘Ser Mulher’ é mais um passo no fortalecimento da concretização do coletivo e esse passo foi dado, assegura Giselma Xukuru-Kariri. “Portas se fecham, mas muitas se abrem. Se não tem portas, existem janelas, dar mais trabalho para escalar, mas, elas existem para serem abertas e superadas. Se não abrirem, se necessário for serão derrubadas para garantir os nossos direitos”, reforça Giselma Xukuru-Kariri
No diálogo sobre a importância deste ciclo de atividades, surgiram outros depoimentos muito forte e profundos.
“A troca de saberes do ‘Ser Mulher’ é mais um passo no fortalecimento da concretização do coletivo e esse passo foi dado”
“A mulher indígena tem sua força. Não precisamos mendigar nada a ninguém, o que temos é que lutar e exigir que nossos direitos sejam garantidos. É chegada a hora das mulheres ocuparem os espaços de luta e políticos não para reproduzir a estrutura colonizadora e sim, para fazer a transformação necessária em defesa da vida e da mãe terra” afirmou Cleonice Pankararu.
Ao final dos três dias de atividades, as participantes do “Encontro de Cura” se comprometeram a retornar a suas aldeias e articular com as outras mulheres na base os pontos focais e listar os desafios dos territórios a serem superados pela organização coletiva. Para isso foi acordado a elaboração de uma carta com o objetivo de subsidiar essas articulações nas comunidades, além de tornar conhecida as propostas deste Coletivo.
“É chegada a hora das mulheres ocuparem os espaços de luta e políticos para fazer a transformação necessária em defesa da vida e da mãe terra”
Um novo processo de articulação e mobilizações ocorrerá no mês de março, ainda deste ano. Assim como, foi tirado um indicativo de um segundo Encontro Estadual das Mulheres Indígenas da APOINME, em Minas Gerais, a ser realizado julho na aldeia Geru-Tucunã, território do povo Pataxó, em Açucena (MG).
O Cimi Regional Leste e a FAU-LAC, apostam neste processo formativo e de fortalecimento e organização das mulheres e acompanhará todo está caminhada, assegura Maria Rosária Schaper, do Cimi Regional Leste.