Trajetória e legado: Homenagem à professora Rosinha, defensora da Educação Escolar Indígena
Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena homenageia Helena Dias da Silva por sua atuação e compromisso em prol do direito a educação escolar indígena
No dia 13 de dezembro de 2023, a professora Rosa Helena Dias da Silva, conhecida como Rosinha, foi homenageada pelo Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (FNEEI). Pedagoga e doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), Rosinha atuou pelo Cimi nas décadas de 1980 e 1990.
Trabalhando a partir do secretariado nacional e, depois, do regional Norte 1, em Manaus (AM), ela se dedicou com especial afinco à luta por uma educação indígena libertadora, construída pelos próprios povos, com respeito aos seus modos de vida, sua organização social e seus projetos de futuro.
Entre 1998 e 2017, Rosinha foi professora associada da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), onde coordenou o Curso de Licenciatura para Formação de Professores Indígenas da Faculdade de Educação. Ela também acompanhou e assessorou o Movimento de Professores Indígenas na Amazônia, junto ao qual atua há mais de trinta anos.
“Quando me mudei para Manaus, tive a alegria e o prazer de entrar em contato com inúmeros professores e professoras indígenas que lutavam por uma educação escolar própria. Lutavam e continuam lutando para fazer da escola um projeto étnico-político, uma escola outra, como espaço e possibilidade de diálogo entre as diversas ciências, de afirmação das identidades e busca por autonomia”, afirma ela.
Rosinha foi uma das 36 pessoas homenageadas durante o VII FNEEI, entre professores, professoras, lideranças e apoiadores que dedicaram e dedicam suas vidas à luta em defesa da educação escolar indígena.
“Nós guerreamos, nós brigamos, mas nós também somos muito gratos”, explicou Gersem Baniwa, da coordenação do FNEEI. “A gratidão é uma forma de retribuição concreta, objetiva”.
A sétima edição do Fórum ocorreu em Brasília (DF) entre os dias 13 e 15 de dezembro, com o tema “Ensino médio, universidade indígena e políticas afirmativas”.
Confira o agradecimento de Rosinha
Sou Rosa Helena Dias da Silva, pedagoga, professora aposentada da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Atuo junto ao movimento de professores/as indígenas na região norte há mais de 30 anos e minha tese de doutorado foi: “A autonomia como valor e a articulação de possibilidades: um estudo do movimento dos professores indígenas do Amazonas, Roraima e Acre, a partir de seus Encontros Anuais”.
Em 1989, quando me mudei com a família para Manaus, para fazer parte da equipe do CIMI-regional Norte I, tive a alegria e o prazer de entrar em contato com inúmeros professores e professoras indígenas que lutavam por uma educação escolar própria. Lutavam (e continuam lutando) para fazer da escola um projeto étnico-político, uma escola Outra, como espaço e possibilidade de diálogos entre as diversas ciências, de afirmação das identidades, de busca de autonomia. E neste “sonho que se sonhou junto” e se tornou uma “realidade sempre em construção”…muito tenho aprendido, em especial sobre o valor que a escola pode ter na vida das comunidades, na nossa vida!
Posteriormente, em 1998, iniciei minha carreira docente, na UFAM.
E nesta trajetória acadêmica, pensei ser importante destacar aqui dois momentos em que meu “ser amazônida” e minha militância política nos movimentos sociais que lutam por uma “sociedade Outra” – me impulsionaram a, junto com outras(os) colegas, colocar minha energia, minhas utopias e meu vigor acadêmico em ações concretas.
Refiro-me aqui à:
1) reformulação do Programa de Pós Graduação em Educação, que passou a assumir como seu eixo temático “Educação, Culturas e Desafios Amazônicos” e
2) construção do Curso de Licenciatura Formação de Professores Indígenas em um protagonismo compartilhado entre a Universidade e os Povos Indígenas.
Desde 2008, a Universidade Federal do Amazonas, através da Faculdade de Educação, oferta o Curso de Licenciatura “Formação de Professores Indígenas”, sendo que até este ano (2023) já se formaram 8 (oito) turmas, compostas por diversos povos.
Coordenei, juntamente com um grupo de professoras e professores, articulados pelo Grupo de Pesquisa “Formação de Professores no contexto amazônico”, a elaboração da proposta, sua implantação e a avaliação para reconhecimento, pelo MEC (o curso teve seu reconhecimento aprovado pelo MEC em 2014).
No início de 2017 me aposentei. Mas não me aposentei das lutas, em especial, esta que nos une aqui: a da educação escolar indígena.
O que é o Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena
O Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (FNEEI) representa um espaço de diálogo e colaboração entre profissionais e líderes engajados na área da educação escolar indígena e o Estado brasileiro. Essa iniciativa surge como uma demanda fundamentada nos princípios democráticos da educação pública e na promoção do respeito à diversidade, conforme estabelecido no Plano Nacional de Educação (PNE).
Trata-se de uma atividade contínua que envolve educadores indígenas e indigenistas. Os debates realizados têm como objetivo aprofundar a reflexão sobre o processo de concepção, implementação e avaliação da política nacional de educação voltada aos povos indígenas. Essa abordagem visa garantir que a educação oferecida às comunidades indígenas seja culturalmente relevante, respeitando suas tradições e contribuindo para o desenvolvimento integral dos estudantes.