60ªAssembleia Geral da CNBB: “Não podemos mais aceitar em nossa história o descaso com os povos originários”
Bispos cobram proteção dos povos indígenas e a derrubada da tese do marco temporal para a garantia dos direitos constitucionais
Foto: João Pedro Oliveira/Santuário Nacional
“Reconhecemos a importância da resistência histórica do movimento indígena, cujo fruto se traduz na chegada de suas lideranças a diversos postos de decisão no governo federal e em alguns governos estaduais. Contudo, essa presença não pode ser apenas figurativa. Há uma imensa necessidade de se adotarem providências e ações concretas em defesa desses povos”, diz o trecho do documento “Mensagem da CNBB ao povo brasileiro”, elaborado e aprovado pela quase totalidade dos 326 bispos ativos e parte dos 157 bispos eméritos brasileiros, presentes na 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
O documento traz ainda a esperança de que o julgamento da tese do marco temporal, pelo Supremo Tribunal Federal, seja decisivo para o reconhecimento dos territórios indígenas e para a garantia dos direitos constitucionais dos povos originários. A mensagem ao povo brasileiro demonstra também a preocupação dos bispos com “as agressões desmedidas à ‘casa comum’, aos povos indígenas e comunidades tradicionais, a mineração predatória, entre tantas outras, que fragilizam o tecido social e tencionam as relações humanas”.
A 60ª Assembleia Geral da CNBB aconteceu do dia 19 até o dia 28 de abril de 2023, no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP), e reuniu mais de 450 bispos da Igreja Católica. No encontro, que teve como tema central a Avaliação Global da Caminhada da CNBB nos últimos quatro anos, foi realizada a eleição da nova presidência da CNBB para o próximo quadriênio (2023-2027), e dos novos presidentes para as Comissões Episcopais,12 no total.
A Assembleia Geral representa a manifestação do espírito de união, solidariedade e compartilhamento de responsabilidades entre os líderes eclesiásticos no país. Essa reunião é realizada anualmente, podendo ocorrer também de forma extraordinária para tratar de questões urgentes, abordando temas pastorais e os desafios atuais enfrentados pelas pessoas e pela sociedade.
Em pronunciamento na 60ª Assembleia Geral da CNBB, o arcebispo de Porto Velho e presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Dom Roque Paloschi, agradeceu o apoio da Conferência ao Cimi e aos povos indígenas “na sua luta pelo Bem Viver de todas e todos”.
Na ocasião, Paloschi apresentou ainda um breve relato sobre o cenário político-indigenista e destacou a atuação dos missionários e missionarias do Cimi que atuam junto aos povos originários, apresentando também algumas das incidências do Conselho Indigenista em curso. “Com o apoio do Cimi, os povos indígenas permanecem atentos e mobilizados na luta pela efetivação de seus direitos e avançam em seu protagonismo”, destacou.
“Ao meu irmão, Dom Walmor Oliveira, agradecemos pelo seu compromisso e dedicação na missão a ele confiada e, especialmente, pela sensibilidade e apoio aos povos indígenas. A Dom Jaime Splengler, que assume agora a tarefa de conduzir a presidência da CNBB, muita força, ânimo e sabedoria. Que o Espírito Santo seja o seu norte, guia e inspiração para proporcionar que a Igreja consiga demonstrar, em suas ações e conduta, o rosto de Jesus, sobretudo junto às irmãs e irmãos mais fragilizados”, concluiu.
Igreja missionária
Como líder da CNBB, foi eleito o arcebispo metropolitano de Porto Alegre (RS), dom Jaime Spengler, para assumir a presidência. Com 62 anos de idade e ordenado bispo em 2010, ele adota como lema episcopal “In Cruce Glorariari”, que significa “Gloriar-se na Cruz”. Antes disso, o bispo ocupava a posição de 1º Vice-Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
No seu primeiro discurso, o arcebispo acolheu a sua nomeação “com humildade, simplicidade, temor e tremor, guiado pela fé” e disse ser um instrumento nas mãos do Senhor, que guia a Igreja. Com esse espírito, Dom Jaime Spengler comprometeu-se a servir à CNBB nos próximos quatro anos, desejando realizar um trabalho que esteja à altura da história da Conferência no Brasil.
“Os tempos que se delineiam diante de nós trazem sim uma complexidade que vai exigir de todos nós discernimento, bom senso e capacidade de colaborar para deixar as nossas comunidades, a nossa igreja e também o nosso Brasil um pouco melhor para as futuras gerações”, enfatizou.
Quanto às perspectivas, Spengler destacou o desejo de que haja continuidade no processo vivenciado até então, enfatizando o espírito de sinodalidade, o crescimento e a consolidação da comunhão e participação na Igreja. O arcebispo de Porto Alegre ressaltou a importância do processo de escuta como algo que precisa progredir.
“Nós precisamos e devemos lutar por aquilo que fazemos e termos como referência Jesus Cristo e o Evangelho. É isso que pauta as nossas decisões, as nossas escolhas, é isso que promove vida e vida em abundância”, disse.
Por fim, o arcebispo convocou a todos para auxiliar no processo sinodal, a fim de promover o avanço da obra evangelizadora e difundir o Evangelho do Crucificado-Ressuscitado. Ele reforçou que, se desejamos contribuir para a transformação de nossas comunidades, o Evangelho deve ser a nossa referência.
“Certamente é uma missão que nos desafia e muito: a complexidade do tempo, a cultura na qual nos encontramos, o momento eclesial que nós vivemos exigem de nós muita oração, muito diálogo, capacidade de promover aquilo que o Papa está pedindo de nós – discernimento em vista de uma Igreja verdadeiramente mais participativa, mais comunhão, mais missionária”.
“Para dar testemunho da Luz”
“Continuar servindo com a benevolência divina” foi a promessa do arcebispo de Goiânia (GO), Dom João Justino, que foi eleito pelo episcopado brasileiro como o 1º vice-presidente da CNBB. O bispo, com 56 anos de idade, estava exercendo o cargo de presidente da Comissão Episcopal para a Cultura e a Educação da CNBB. Ele foi ordenado bispo em 2012 e seu lema episcopal é “Para testemunhar a Luz”.
“Certamente em meu coração há gratidão pela confiança dos bispos e também há consciência de que é uma missão, um serviço, uma diaconia que eu assumo junto com o Dom Jaime (…) Coloco-me inteira disposição de continuar servindo a igreja do Brasil, agora, com essa nova missão e confiando sobretudo na vontade de Deus”, destacou Dom João Justino.
Já o 2º vice-presidente, Dom Paulo Jackson, bispo da Diocese de Garanhuns (PE), afirmou que aceitou o cargo porque acredita na evangelização como principal missão da CNBB. Dom Paulo Jackson tem 54 anos e foi ordenado bispo em 2015. Desde 2019, ele atua como presidente da Regional Nordeste 2 da CNBB, onde também desempenha a função de referência para a Doutrina da Fé. Seu lema episcopal é “In Verbo Tuo”, que significa “na tua Palavra”.
“Propor Jesus ao mundo: essa é a nossa primeira tarefa fundamental. Segundo, a tarefa da reconciliação, a tarefa da reconciliação interna, dentro da própria igreja, a tarefa da reconciliação do nosso país, depois desses processos últimos que vivemos. A igreja deve ter um papel fundamental nessa tarefa da reconciliação. E terceiro, é tarefa nossa, da presidência, animar e articular a vida missionária e pastoral do país inteiro. E quarto, é tarefa nossa a tarefa da colegialidade, da comunhão entre os vários irmãos bispos”, elencou Dom Paulo Jackson.
Assumindo o posto de secretário-geral da CNBB está Dom Ricardo Hoepers, bispo da Diocese de Rio Grande, com 52 anos. Dom Ricardo foi ordenado bispo em 2016 e seu lema episcopal é “Elige Ergo Vitam”, que significa “escolha a vida”. Hoepers enfatizou que o seu propósito é integrar as 12 comissões, juntamente com seus assessores, a fim de promover a harmonia tanto em âmbito nacional quanto regional.
“O secretário-geral é um executivo, é ele que está à frente para dinamizar, organizar e sistematizar todo o trabalho da Conferência Nacional do Conselho Episcopal Pastoral e do Conselho permanente. Então, estou à disposição da presidência que assume e a disposição de todos os bispos do Brasil para exercermos esta importante tarefa de secretariar nacionalmente a nossa Conferência Nacional”, frisou.
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*Com informações da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)