História da resistência indígena: 500 anos de luta
Benedito Prezia resgata a história negligenciada dos povos indígenas, revelando sua resistência e importância na história do Brasil
Acaba de ser lançada pela Editora Expressão Popular, de São Paulo, a 4ª reimpressão – da 2ª edição – do livro intitulado “História da resistência indígena – 500 anos de luta”, de Benedito Prezia, lançado originalmente em 2017. A reimpressão traz um episódio a mais sobre a resistência dos Guarani-Kaiowá, que, desde o 3º lançamento, faz parte da obra ampliada.
O livro de Benedito Prezia lança luz sobre um aspecto frequentemente negligenciado da história do nosso país: os povos indígenas como personagens ofuscados por narrativas dominantes ao longo dos séculos. No passado, sofreram a escravidão imposta pelos colonizadores e enfrentaram a devastação causada pelos exploradores. Hoje, suas terras continuam sendo invadidas, enquanto são alvo de preconceito por parte daqueles que os veem como obstáculos ao progresso.
A obra de Benedito Prezia representa um importante passo rumo ao resgate da memória indígena e ao reconhecimento do papel fundamental que desempenharam ao longo dos séculos no Brasil. Prezia, com sua dedicação e formação acadêmica voltadas para os povos indígenas, oferece uma valiosa perspectiva para compreendermos a verdadeira história e a incessante luta desses povos diante das adversidades.
Como diz o autor, “a conquista da América foi palco de um grande genocídio, talvez o maior da história da humanidade, quando cerca de 70 milhões de pessoas foram exterminadas”. Genocídio que foi encoberto e que esconde a verdadeira história da resistência indígena, ocorrida ao longo desses 523 anos de Brasil. De acordo com o autor, a importância da cultura e das batalhas dos povos indígenas é negligenciada na educação formal, agravada pela escassez de registros e materiais que abordem o tema de forma imparcial, limitando-se apenas à perspectiva dos “vencedores”.
“Não sem razão o escritor checo, Milan Kundera, escreveu: “Para liquidar um povo, começa-se por lhes tirar a memória. Destroem-se seus livros, sua cultura, sua história. E outra pessoa lhe escreve outros livros, lhe dá outra cultura e lhe inventa outra história.” (In: O livro do riso e do esquecimento, 1978, p. 45)”, observa Prezia.
Para preencher parte dessa lacuna, Benedito Prezia, a partir de 2005, começou a reproduzir episódios das lutas e da resistência indígena, publicados pelo jornal Porantim. O autor esclarece que por esse motivo “o livro foi escrito com um viés jornalístico, para que as pessoas pudessem sentir uma história viva, sentindo mais os personagens, ao contrário de uma história acadêmica, que poderia se distanciar do calor dos fatos. Não foi fácil, tornando-se algumas vezes um trabalho de “garimpagem”, pois a história da resistência indígena não interessa à classe dominante, que controla a cultura. Por isso vários episódios não puderam ser recuperados, pois os dados eram insuficientes para se reconstruir um episódio de luta”, explica.
O autor expressa o desejo de alcançar principalmente líderes indígenas e professores de escolas indígenas, a fim de que conheçam sua própria história, pois frequentemente dependem de livros provenientes da narrativa oficial. Além disso, o autor reconhece a importância de atingir também militantes, especialmente em um contexto político de retrocesso, e jovens que, mesmo no meio acadêmico, possuem um desconhecimento significativo sobre a história indígena.
Sobre o autor
Benedito Antônio G. Prezia, formado em filosofia, atua na questão indígena desde 1983, tendo trabalhado no Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em Brasília, de 1983 a 1991. A partir de 1992 passou a ministrar a História da Resistência Indígena no Brasil no Curso de Formação Básica do Cimi. Em 1997, tornou-se mestre em Linguística Geral (USP), com o tema Os indígenas do planalto paulista, nas crônicas quinhentistas e seiscentistas, publicado pela Editora Humanitas (USP, 2ª. ed. 2010). Em 2008, doutorou-se em Ciências Sociais (PUC-SP), com a tese Os Tupi de Piratininga, acolhida, resistência e colaboração. Em 2001, participou da fundação do Programa Pindorama para indígenas na PUC-SP, sendo seu atual coordenador. É autor de vários paradidáticos sobre a temática indígena, como Terra à vista, descobrimento ou invasão (Moderna, 3ª. ed. e 30a reimpr., 2015); Marçal Guarani, a voz que não pode ser esquecida (Expressão Popular, 2ª reimpr., 2009) e Virando gente grande (4ª reimpr., 2014). É co-autor dos livros: Esta terra tinha dono (FTD, 6ª ed. 2000), Brasil indígena, 500 anos de resistência (FTD, 2ª. ed. 2004), Povos Indígenas, terra é vida (Atual/Saraiva, 7ª ed., 2013) e A criação do mundo e outras belas histórias.