Mulheres Munduruku divulgam nota direto de um garimpo localizado na terra indígena
“Estamos muito bravas e tristes e desapontadas com as autoridades como Funai, Ibama, Icmbio que deveriam ajudar a proteger nossas terras mas deixaram cair nas mãos dos garimpeiros pariwats”
Mulheres Munduruku emitiram nesta terça-feira, dia 3, um comunicado direto de mais um garimpo fechado por elas junto a caciques e organizações políticas do povo. “Estamos muito bravas e tristes e desapontadas com as autoridades como Funai, Ibama, Icmbio que deveriam ajudar a proteger nossas terras mas deixaram cair nas mãos dos garimpeiros pariwats”, diz trecho do comunicado veiculado na página do Movimento Iperegayu.
“Há cinco anos o Movimento Ipereg Ayu e mulheres que agora se organizam na associação Wakoborun estão denunciando os males do garimpo que está causando para o nosso povo. Como não recebemos apoio de nenhum órgão, nós mesmos decidimos fiscalizar e proteger nossa terra. Já fizemos ação na aldeia PV e no rio Caburuá aonde queimamos máquina de garimpeiro”.
Leia na íntegra:
3º comunicado das mulheres Munduruku sobre a fiscalização contra garimpo
Nós mulheres do Movimento Ipereg Ayu, junto com os caciques, guerreiros, associação Wakoborun, associação Wyxaxima, associação Aro e associação Pusuru falamos agora do meio de mais um garimpo que está acabando com a Terra Munduruku.
Fizemos a nossa assembleia extraordinária de 28 a 30 de março na aldeia Caroçal rio das Tropas. Choramos por tudo o que está acontecendo em nosso território. A falta de peixes, e as doenças e a prostituição e drogas e uso de bebidas alcoólicas pelos jovens e violências e a cooptação de homens Munduruku. Tudo isso aumenta com a entrada dos garimpeiros pariwats.
Estamos muito bravas e tristes e desapontadas com as autoridades como Funai, Ibama, Icmbio que deveriam ajudar a proteger nossas terras mas deixaram cair nas mãos dos garimpeiros pariwats.
Há cinco anos o Movimento Ipereg Ayu e mulheres que agora se organizam na associação Wakoborun estão denunciando os males do garimpo que está causando para o nosso povo. Como não recebemos apoio de nenhum órgão, nós mesmos decidimos fiscalizar e proteger nossa terra. Já fizemos ação na aldeia PV e no rio Caburuá aonde queimamos máquina de garimpeiro.
Agora nós fomos no igarapé Mapari que joga suas águas no rio das Tropas, aonde tem um garimpo grande com pista de pouso dentro da terra indígena Munduruku, saímos da aldeia Nova Esperança nas margens do rio das Tropas e entramos pela mata, levamos 5 horas para chegar nesse garimpo.
Viemos nós mulheres com bebês de colo, os caciques e guerreiros e avisamos para se retirarem todos os pariwats.
Descobrimos que o dono de uma das máquinas se chama Emerson de Novo Progresso e o gerente do garimpo é Amarildo Nascimento do município de Trairão. Na hora encontramos 20 garimpeiros, 2 PC, 3 pares de maquinas e um jerico.
Isso é muito perigoso para nós. Não queríamos deixar nossas roças e aldeias para ter de fazer o trabalho da Funai e dos outros órgãos, mas seria pior deixar acabar o futuro dos nossos filhos. Eles dependem dos rios limpos, livre de garimpo, livre de barragens e com a floresta que nós sabemos cuidar. Se acontecer alguma coisa com nós mulheres ou lideranças do Movimento nós responsabilizamos o Estado e seus órgãos que não fazem nada.
Fomos de novo na aldeia PV fomos recebidos por munduruku bêbados e armados com revolveres que nos ameaçaram. Vimos jovens bêbados e drogados e muitos pariwats, todos ameaçando os guerreiros que estavam com seus arcos e flechas. Ameaçaram a coordenação do Movimemto Ipereg Ayu Ana Poxo, Maria Leusa, cacicas e também o cacique Geral.
No total encontramos 14 PC que conseguimos encontrar e havia muito mais pois não chegamos nos outros garimpos. Pá de máquinas nós contamos 22 e 5 jericos trabalhando com 200 pariwats, fora os que se esconderam com medo ou para não serem reconhecidos pelos guerreiros.
São 24 indígenas que fizeram parceria com os pariwats para envenenar as águas do rio das Tropas e enriquecer deixando nosso povo que tem mais de 13 mil pessoas com as doenças e a água envenenada.
Nós do povo munduruku já decidimos nossa terra não é lugar de pariwat!
Sawe, sawe, sawe
Movimento Ipereg Ayu
Associação das mulheres munduruku Wakoborun
Rio das Tropas, 03 de abril de 2018