No lugar de respostas, general da Funai ameaça despejar ocupação Guajajara à sede do órgão no MA
Caminhão madeireiro apreendido em operação na Terra Indígena Arariboia. Crédito: Luís Carlos Guajajara
Por Renato Santana, da Assessoria de Comunicação – Cimi
Completou uma semana a ocupação dos Guardiões da Floresta da Terra Indígena Arariboia à sede regional da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Imperatriz (MA). Ao invés de soluções para a proteção e fiscalização da terra, invadida em seis de suas oito microrregiões, os Guajajara/Tenetehar receberam a informação de um servidor do órgão indigenista que da Funai/Brasília chegou um ultimato: os indígenas deveriam sair da sede até o meio-dia desta sexta-feira, 1, ou então serão despejados à força.
De acordo com apuração, o presidente da Funai, o general Franklimberg Ribeiro de Freitas, de fato solicitou uma ação judicial pedindo a reintegração de posse, mas até o fechamento desta matéria nenhuma decisão nesse sentido havia sido concedida pela Justiça Federal.
Os Guajajara seguem com a ocupação e afirmam que não saem sem respostas. “Um servidor se sensibilizou e nos comunicou. Explicou que por essa ameaça ele teria de falar pra gente sair. Não tem mais quem proteja a nossa terra, além da gente. Precisamos que o governo cumpra sua função, porque nós estamos fazendo o papel de Funai, Ibama, Polícia Federal”, explicou o coordenador dos Guardiões da Floresta, Franciel Guajajara. Para ele, a qualquer momento uma morte pode ocorrer.
“Estamos todos marcados. Não adianta sair da terra, se esconder. Só não vão nos matar se a gente deixar eles retirarem madeira. Isso não vai acontecer, é a nossa casa, nossa mãe, mas não dá mais pra combater só a gente. Precisamos de apoio pra fazer essa limpeza. Também se a gente deixa, podemos responder por depredação do Patrimônio da União. Para os madeireiros isso parece não ser problema”, destaca Franciel. Com os incêndios dos últimos dois anos, estimativas do Greenpeace chegam ao dado alarmante: cerca de 70% da terra virou sofreu queimadas. Rios e igarapés secaram, além de uma quantidade incontável de espécies animais e vegetais mortas.
O presidente da Comissão da Terra Indígena Arariboia, José Inácio Guajajara, afirma que há um ano – exatamente o mesmo tempo em que Temer está no Palácio do Planalto, após o impeachment – não ocorrem operações do Ibama, Funai e Polícia Federal para coibir e fiscalizar a ação de madeireiros, caçadores e grileiros na terra. “Nossas terras se encontram numa situação de emergência. Está muito invadido. Falta apoio e recursos. Falta do próprio governo, que não se manifesta pra ajudar a gente a combater as invasões. Não dá mais pra esperar”, diz.
José Inácio explica que com os incêndios, os recursos para manter as brigadas dos Guardiões da Floresta são escassos. Afinal, são 12 mil indígenas vivendo na Arariboia – entre eles, indígenas Awá-Guajá em situação de isolamento. “Os Awa, por exemplo, como podem se defender? Não é coincidência também que os incêndios tenham sempre se iniciado por onde eles andam. Para enfrentar madeireiro, precisa de recurso. Estamos fazendo isso, mas com dificuldades”, salienta. Para o Guajajara, se o governo apoiasse as invasões poderiam chegar ao fim.
Histórico da ocupação
Na sexta-feira, 25, os Guajajara encaminharam um documento ao presidente da Funai. Esperaram por uma resposta, que não chegou. “Decidimos pelo ato pacífico para demonstrar nossa insatisfação com a falta de respostas para problemas antigos”, explica Franciel Guajajara.
O documento também foi endereçado ao Ibama e Polícia Federal. Os Guajajara reivindicam fiscalização permanente com a construção da Base de Proteção no território. São 12 mil indígenas residentes na TI Arariboia – além dos Guajajara, abriga os Awá-Guajá em situação de isolamento voluntário. “Arriscamos nossas vidas e deixamos de fazer outras atividades. Precisamos de uma ajuda de custo”, diz Franciel.
A terra indígena é dividida em oito microrregiões: Lagoa Comprida, Arariboia, Canudal, Bom Jesus, Angico Torto, Zutiua, Abraão e Barro Branco. Com 413.388 hectares (Cimi, 2017), a Arariboia possui diversas “portas” para invasores e os indígenas pretendem articular melhor a rede entre as aldeias. Os Guardiões, deste modo, solicitam equipamentos de comunicação e também postos de vigilância em cada uma das áreas.