Universitários indígenas evidenciam protagonismo durante 3º Fórum de Direitos Humanos e Saúde Mental
Foto: Gilberto Vieira / Cimi
Por Gilberto Vieira, secretário adjunto Cimi
Quando perguntei a Ana, Laura e Thairaa qual o principal desafio na Universidade, não titubearam: “é o preconceito! ”. As jovens Ana Patté cursa mestrado em Antropologia, enquanto Laura Parintintim e Thairaa cursam Ciências Sociais e Direito, respectivamente. Ana eThainaraa são indígenas do povo Laklãnõ/Xokleng, Laura do povo Parintintim. Durante o 3º Fórum Brasileiro de Direitos Humanos e Saúde Mental elas e outros indígenas que estudam na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, expuseram artesanatos e os desafios que enfrentam no cotidiano de uma universidade pública. O evento aconteceu de 28 a 30 de junho.
O que foi comum na pronta resposta das jovens indígenas ganhou visibilidade na fala do médico Walter Ferreira, presidente da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme). Durante a mesa de abertura do Fórum o pesquisador destacou os ataques aos direitos dos povos e a luta dos indígenas de Santa Catarina. Lembrou, em especial, da situação do Morro dos Cavalos, terra tradicional que os Guarani reivindicam há anos e que, contudo, ainda aguarda homologação.
Darci Frigo, presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos, e doutora Deborah Duprat, da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), compuseram a mesa e também destacaram a situação de violações de direitos enfrentada pelos povos indígenas no país.
A situação destes povos ganhou maior destaque quando Joziléia Daniza Jagso Kaingang, doutoranda em antropologia, leu o Abaixo Assinado escrito pelos indígenas universitários da UFSC. No texto Joziléia, também coordenadora pedagógica do curso de licenciatura Intercultura Indígena, escancarou a dura realidade enfrentada pelos povos indígenas do sul brasileiro. Se evidenciou que, mesmo dentro de espaços onde a democracia e o direito a diferença deveriam se fazer valer, enfrentam-se preconceitos e discriminações.
“A luta e, especialmente, o direito à terra e sua devida regularização, são simplesmente desconsideradas por diversas instâncias de poder. As pressões econômicas e políticas vão além, contudo, de ataques e expulsões: geram formas de preconceito embasadas na ignorância e no desconhecimento das trajetórias históricas destas comunidades e de indivíduos”, denunciou em um dos trechos do documento. “Muitas formas de violências são verificadas dentro das próprias terras indígenas, sejam elas demarcadas, homologadas, ou apenas identificadas”.
Na luta por seus territórios ou por outros espaços que lhe são por direito, os jovens indígenas vão abrindo horizontes.