Encontrão da Teia reúne povos e comunidades tradicionais do Maranhão
Crédito da foto: Teia dos Povos e Comunidades Tradicionais
Ao som de tambores, maracas, atabaques, pandeiros, triângulo e cantos ocorreu neste final de semana, entre os dias 26 e 28, na Comunidade Quilombola de Alto Bonito, a 11 km da cidade de Brejo na região leste do Maranhão, a VI edição do Encontrão da Teia, que é formada pelos Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão. Ao todo participaram cerca de 400 pessoas entre indígenas, quilombolas, pescadores, ribeirinhos, geraiseiros, sertanejos, quebradeiras de coco e outros aliados da causa.
Para a reflexão deste encontro, os povos presentes discutiram o tema: “Não estamos extintos, estamos de pé, em luta” sob o lema “Essa terra é nossa”. O encontro é uma forma de reafirmar mais uma vez o território dos povos para a garantia de todos os projetos de vida das comunidades.
Um dos objetivos da Teia é a articulação da luta dos povos, em direção da garantia do Bem Viver, da autonomia dos territórios e da soberania educacional e produtiva, que são as expressões da forma de produção das comunidades.
Para Adriano Guileto do povo Gavião (Caw Cree), que faz parte da articulação do encontro, “a teia veio para fortalecer a cultura e a luta de todos povos tradicionais do Maranhão”. No final de abril, o povo Gamela sofreu um massacre no município de Viana – 22 indígenas foram feridos: cinco a tiros, dois tiveram as mãos amputadas e entre os demais machucados estão três crianças. Para os representantes dos povos e comunidades no encontro, a Teia deve agir de forma unitária para enfrentar uma conjuntura de massacres e chacinas – na semana passada, dez trabalhadores e trabalhadora rural foram assassinados pelas polícias Militar e Civil de Redenção, no Pará.
Rosemeire Diniz, coordenadora do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Maranhão, ressalta que “o VI encontro da Teia do Maranhão vem trazer a discussão do que os povos e comunidades tradicionais vem enfrentando atualmente no Brasil, que é a questão da invisibilidade desses povos, aonde a quem diga que não há indígenas em algumas regiões, mas supostos indígenas”.
A missionária explica que “os encontros da Teia que reúne diferentes povos vem reafirmar que os povos tradicionais não estão extintos, mas estão de pé em luta pelos seus direitos porque é da territorialidade que esses povos tiram sua própria existência, não só da sobrevivência física, mas, é toda uma reprodução de vivência cultural e de modo de vida”.
Segundo com Dom Valdeci, Bispo da Diocese de Brejo, que acolhe a VI edição do encontrão da teia, “um dos pontos mais importantes dos encontros é o fortalecimento das comunidades tradicionais, para a permanência na terra, na luta pela conquista de direitos, o espírito de partilha e a solidariedade que a teia vem fomentando, em forma de encorajamento das comunidades”.
Ainda de acordo Dom Valdeci, na região leste do Maranhão, que abrange os municípios que fazem parte da Diocese de Brejo, existem atualmente 14 comunidades quilombolas que já têm a certificação da Fundação Palmares, e outras comunidades que ainda não foram atendidas, sendo que em todo o estado do Maranhão há aproximadamente 336 processos pendentes no INCRA-MA.
Gil Quilombola, uma das lideranças do Quilombo Nazaré de Serrano, destaca o fortalecimento das comunidades através da partilha dos diferentes métodos de luta das várias comunidades, valorizando e respeitando os saberes, os modos de vida e a cultura de cada povo. Para que assim juntos possam lutar contra esse sistema opressor que está aí oprimindo as comunidades de todas as formas.
O encontro seguiu com denúncias das violências sofridas pelos povos e comunidades, pela omissão do Estado no cumprimento dos direitos constitucionais. É o momento de unificação dos diferentes povos que resistem ao sistema capitalista.