III Assembleia dos Povos Indígenas de Goiás e Tocantins: Povos em movimento
A lua dá seu espetáculo, cheia de graça e esplendor, despertando da cama da noite para se projetar sobre a aldeia global. Palmas para ela. É véspera de um grande momento para os povos originários indígenas de Goiás e Tocantins. Centenas deles estão juntando seus quase nada e recheando suas mochilas e corações de esperança, ousadia e sabedoria. Palmas será a próxima aldeia grande onde todos irão debater seus projetos de bem viver, denunciar a violência e ameaças que pesam sobre suas aldeias e cabeças.
Neste início de semana mais de 500 lideranças dos 10 povos que vivem e lutam nessa região estarão chegando à grande aldeia de Palmas. Ali se encontrarão com outros parentes e aliados dos movimentos sociais e indigenista para um amplo debate, mobilizações e elaboração de estratégias comuns para o enfrentamento neste momento de profunda crise por que passa o país.
3ª Assembléia Indígena de Goiás e Tocantins
Nessa 3ª Assembléia, a realizar-se de 20 a 23 de junho, estão sendo esperados em torno de 500 indígenas da região e mais alguns indígenas de outras regiões e aliados.
Num primeiro momento haverá una socialização e partilha das realidades e lutas nas aldeias. Após estas informações, haverá exposição e debate sobre a conjuntura nacional, ressaltando as graves ameaças de retrocessos e perda de direitos, que está atemorizando os povos indígenas em nosso país. Na verdade, essas ameaças pesam também sobre outros setores da sociedade, em especial sobre os camponeses e populações tradicionais. Será feito um debate sobre os grandes projetos, em especial o Plano de Desenvolvimento Agropecúario-MATOPIBA.
Serão também feitos dois atos públicos em defesa dos Direitos Constitucionais dos Povos Indígenas e da democracia e em defesa da água. Será entregue documento na Assembleia Legislativa e às autoridades do nosso país.
Às noites haverá apresentações culturais dos povos e o lançamento do filme “Taego Awá”. E o pré-lançamento da Campanha em Defesa do Cerrado. Está previsto a participação expressiva de representantes de movimentos sociais, especialmente de quilombolas e camponeses, e confirmaram presença acadêmicos e professores. Também haverá a presença pontual dos bispos do regional Norte 3 da CNBB e alguma autoridade civil.
A Assembléia Indígena pretende não apenas consolidar os apoios e alianças e união entre os povos, mas deseja também dar visibilidade à luta e direitos desses povos somando forças com demais setores da sociedade.
Dentre os temas mais contundentes em torno dos quais pretendem construir alianças, está a questão grave da água e destruição da natureza prevista com a eventual execução de projetos como o PDA- MATOPIBA.
Na opinião da liderança indígena Wagner Kraho Kanela, esse será mais um passo para a garantia efetiva dos direitos de seus povos, na consolidação da união para a luta que lhes garanta um avanço na conquista efetiva de seus direitos e contribuição para salvar a nossa casa comum, o planeta Terra.
Apreensão e revolta
Os povos indígenas vêm imbuídos e tomados por um sentimento de profunda revolta e comoção pelo massacre de parentes seus em Caarapó, no Mato Grosso do Sul. Ali fazendeiros e pistoleiros mataram e feriram parentes Kaiowá Guarani, na violência genocida, que eles vêm sofrendo. Já enviaram sua mensagem de solidariedade e vão conversar na Assembleia para ver como vão ajudar os Kaiowá Guarani na recuperação de suas terras.
No longo e promissor processo de preparação da Assembleia, também foram identificando os grandes desafios e violência por que estão passando os povos originários nessa região.
No início de dezembro de 2015, uma delegação dos povos indígenas desta região esteve em Brasília denunciando violação de seus direitos e exigindo providências imediatas.
“Estamos sofrendo grande com a falta da demarcação da nossa terra queremos a nossa terra. Não aceitamos o projeto MATOPIBA, porque ele é a morte da natureza e dos nossos povos”, afirmaram os indígenas à época.
A revoada de lideranças dos povos indígenas da região para a aldeia Palmas traz um alento à luta pelos seus direitos, amplia a união, solidariedade e alianças.
Antonio Apinajé, que já está no espaço da Assembleia para receber seus parentes, ressaltou: “A Assembleia é um espaço de mobilização e debate dos nossos problemas. As autoridades tem que dar uma resposta. O silêncio neste momento é suspeito”
Texto: Egon Heck
fotos Cimi GOTO e Egon Heck
Secretariado Nacional / Cimi GOTO