Em Assembleia, Cimi Regional Maranhão reafirma luta contra o Matopiba e denuncia assassinatos
O Regional Maranhão do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) esteve reunido em assembleia entre os últimos dias 7 e 10 de junho, em São Luís (MA). Os missionários e missionárias trataram de assuntos inerentes ao escritório regional e debateram a conjuntura indigenista no estado e no país. Dois pontos têm despertado grande preocupação para o Cimi/MA: o Matopiba e os assassinatos de indígenas – de janeiro até este mês de junho foram cinco mortes “mandadas”.
Projeto tocado pelo governo federal, o Matopiba visa exaurir o que o agronegócio afirma ser uma fronteira agropecuária ainda não explorada, o Cerrado, e envolve um cinturão de terras que perpassa os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – as siglas formam o nome deste projeto danoso ao meio ambiente e às populações que nele vivem.
"Repudiamos a continuidade da relação colonizadora e preconceituosa do Estado brasileiro para com os povos originários em suas formas de vida, em seus territórios e em sua organização social, com a implantação do Programa MATOPIBA, – a Besta Fera do Cerrado –, que causará a devastação, a poluição e a expulsão de povos e comunidades desse Bioma considerado o berço das águas", diz trecho da nota do encontro.
Leia a nota na íntegra:
Nota da 37ª Assembleia do Cimi Regional Maranhão
"Vós sois sal da terra e a luz do mundo"(Mt,13-16)
Nós, missionárias e missionários do Cimi Maranhão, o Secretário Executivo do Cimi, o bispo da Diocese de Viana, representantes indígenas dos povos Krenyê, Gamela, Krepumkatejê, Awa, Krikati, Pyhcop (Gavião) e Tentehar/Guajajara da Terra Indígena Pindaré, da Comissão Pastoral da Terra, da Rede Justiça nos Trilhos, do Conselho Missionário Regional, da CNBB e da Pastoral Indigenista da diocese de Grajaú, reunidos nos dias 07 a 10 de junho de 2016, na XXXVII Assembleia Cimi Regional, em São Luis-MA, à luz do tema Povos Indígenas: sementes de solução e fontes de esperança, refletimos sobre a importância dos povos originários para o cuidado com a nossa Casa Comum, a Conjuntura Política e Indigenista no Brasil, como esta afeta povos e comunidades, e celebramos as lutas de resistências e insurgências em nossa região.
Com os povos, reafirmamos o compromisso com seus projetos de vida, que se mostram em equilíbrio com a natureza e seres humanos. Neste sentido, salientamos a necessidade imediata do reconhecimento das terras tradicionais desses povos, para que possam dar continuidade à sua existência e dignidade de pessoas humanas.
Repudiamos a continuidade da relação colonizadora e preconceituosa do Estado brasileiro para com os povos originários em suas formas de vida, em seus territórios e em sua organização social, com a implantação do Programa MATOPIBA, – a Besta Fera do Cerrado –, que causará a devastação, a poluição e a expulsão de povos e comunidades desse Bioma considerado o berço das águas. Repudiamos também os projetos de mineração com concessões de lotes (previsto) em terras indígenas, que mais uma vez beneficiarão os já mais ricos deste País.
Denunciamos os assassinatos de cinco indígenas – 04 Guajajara e 01 Gamela –, ocorridos de janeiro até agora; as ameaças de extermínio desses povos, a invasão e exploração ilegal em seus territórios. Da mesma forma, denunciamos que essa crise econômica e política é uma farsa, sendo para nós a tomada de Estado por um golpe movido pelo interesse em retroceder com os direitos territoriais e sociais já adquiridos e, a continuidade da venda de nossas riquezas e patrimônio. Não nos sentimos representados por esse governo interino, pelo Congresso Nacional e pelo Poder Judiciário, em contínuas decisões contra os direitos territoriais e a completa ausência dos povos/comunidades nas ações que lhes dizem respeito.
Reafirmamos nosso compromisso com a causa indígena, em todos os espaços e momentos, até o ultimo território de Bem Viver dos povos seja reconhecido e a eles devolvidos. Na luta diária com nossas comunidades pela descolonização de nosso pensar, sentir e agir. Nossas armas, mais que a resistência, serão a insurgência contra esses projetos de morte e da separação forçada e violenta do homem com a natureza, chamada pelos governos, em aliança com o capital, de desenvolvimento. Na calada das noites e manhãs, ‘faremos as nossas flechas, e sairemos de debaixo das folhas para pisar na cabeça daqueles que nos querem soterrar’ pelos nossos direitos conquistados e pelo nosso direito sagrado de viver como filhos e filhas da Mãe da Terra.
São Luís, 10 de junho de 2016.
Território Livre para o Bem Viver dos Povos!!
Fora Temer!