Povo Kreepym-Katejê manifesta-se por melhores condições e contra a PEC 215
Entre os dias 16 e 18 de novembro, 200 indígenas do povo Kreepym-Katejê ocuparam a sede da prefeitura do município de Itaipava do Grajaú, no Maranhão, para reivindicar melhores condições de saúde, educação e a reconstrução das estradas que dão acesso à Terra Indígena Geralda/Toco Preto, onde cerca de 350 pessoas deste povo vivem em três aldeias distintas.
Os indígenas também utilizaram a mobilização para manifestarem seu repúdio pela PEC 215. “Não teve nenhuma mídia, não apareceu na televisão, mas a gente fez a nossa manifestação aqui. Não fomos para Brasília, mas quisemos demonstrar que estamos mobilizados aqui na nossa base, apoiamos a luta dos outros povos e somos contra a PEC 215”, afirmou por telefone Fábio Timbira, liderança da Aldeia Sibirino, uma das três aldeias de Geralda/Toco Preto.
Segundo Fábio Timbira, uma das principais motivações para as manifestações foi a desestruturação completa das estradas, tanto as que ligam as diferentes aldeias entre si, quanto as que ligam-nas à cidade de Itaipava do Grajaú, distante cerca de 30 km da Terra Indígena.
A água do único poço artesiano da Aldeia Sibirino, perfurado pela Sesai em 2004, é salgada, o que faz com que a comunidade dependa da água das aldeias vizinhas ou da do fornecimento de água via caminhão-pipa. Por isso, o risco de que as condições da estrada se agravem no próximo mês – quando inicia na região o período de chuvas – e isolem a aldeia fez com que os indígenas resolvessem se manifestar.
Além disso, os indígenas reclamam da discriminação sofrida nos serviços de saúde pública do município, que, segundo eles, não assume as demandas apresentadas pelos povos. Segundo Fábio, há pessoas aguardando a realização de cirurgias urgentes, mas a Prefeitura diz que não há material disponível.
Em setembro, os Kreepym-Katejê já haviam se manifestado para que a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) disponibilizasse uma equipe multidisciplinar numa base mais próxima, à Terra Indígena de Geralda/Toco Preto, além de um carro e um posto de saúde – estes últimos, ainda aguardados pelos indígenas.
Outra reivindicação dos Kreepym-Katejê é a construção de uma escola nova dentro da sua Terra Indígena, pois a atual construção, além de estar muito deteriorada, não possui cozinha e nem banheiros e atende apenas até o quarto ano do ensino fundamental. “Isso faz com que as crianças tenham que ir para a cidade depois do quarto ano, o que a gente não quer. A gente quer nossa escola aqui, para quem quiser estudar aqui, sem ter que ir pra cidade nem abrir mão da nossa cultura. A cidade é muito longe”, afirmou Fábio Timbira.
No terceiro dia ocupando a sede da Prefeitura de Itaipava do Grajaú, os indígenas foram atendidos e um acordo foi fechado com os órgãos municipais e estaduais. A construção da nova escola, atribuição do governo estadual, deve iniciar até o ano que vem, e a reparação das estradas, por parte do município, deve ser concluída até o dia 26 de novembro. “Caso contrário”, diz Fábio, “Vamos ocupar novamente, e só saímos quando tivermos uma resposta na prática”.