Incêndio no Maranhão: Funai dá indícios de que fará contato com indígenas isolados na TI Arariboia
Quatro indígenas Awá-Guajá se deslocaram para a Terra Indígena Arariboia, sudoeste do Maranhão, devastada por um incêndio há 40 dias, e já estão no interior da mata para se aproximar de outros indígenas Awá em situação de isolamento voluntário. As informações foram transmitidas por lideranças Guajajara, povo que divide a TI Arariboia com os Awá isolados, presentes em outras três terras indígenas: Caru, Awá e Krikati – os grupos foram separados pela estrada de ferro da Vale e posteriormente com a construção da BR 222.
O fogo chegou às áreas de perambulação dos isolados (na foto, em 2012, o registro da presença madeireira em tais áreas). Desde a semana passada, vestígios da presença deles são encontrados a poucos metros da linha do incêndio. Um tratorista integrante da equipe de brigadistas de combate ao fogo afirmou que durante a semana passada viu alguns destes Awá isolados correndo no sentido contrário às chamas.
A Fundação Nacional do Índio (Funai) não confirma oficialmente se a decisão do órgão é pelo contato com os Awá isolados. Os indígenas Guajajara, porém, confirmam que o Exército e uma emissora de televisão se encontram no local para participar de uma suposta iniciativa de contato. Um grupo de isolados se encontra na aldeia Zutiwa, município de Arame, e outro na aldeia Guaruhu, que se localiza na proporção do município de Amarante.
São fortes os indícios de que madeireiros atearam fogo em pontos distintos da terra indígena, tornando o incêndio uma tentativa de genocídio. As denúncias de que algo grave poderia acontecer são antigas: no início de 2012, os Awá isolados já tinham sido atacados por madeireiros. Na ocasião, o ataque teve repercussão internacional. De lá até aqui, dizem os Guajajara, nada mudou: nem a violência dos madeireiros tampouco a ineficiência do governo federal para garantir a proteção do território. Na última sexta-feira, 16, um grupo de servidores do Ibama que atua na brigada de combate ao incêndio sofreu uma emboscada.
O chefe de fiscalização do órgão em Brasília, Roberto Cabral, levou um tiro na perna direita e declarou aos jornalistas que a tentativa de homicídio veio da parte de "criminosos que estão roubando madeira e se dispõem a matar para continuar a atividade ilegal”. Para o coordenador da Equipe de Isolados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Gilderlan Rodrigues, o incêndio pode ser considerado a crônica de uma tragédia anunciada.
Para o indigenista, caso aconteça o contato “haverá a remoção dos Awá da Arariboia. Com isso, a população pode ser reduzida. É preciso que a Funai permita o controle social, sobretudo nesse momento. O Estado não está preparado para esses contatos. Como exemplo, temos as duas indígenas contatadas na Terra Indígena Caru, em dezembro do ano passado. Por pouco não morreram”, avalia Rodrigues.
Na explicação de Rodrigues, o Cimi entende que o investimento da Funai deve ser feito no controle do fogo e para que as chamas não destruam mais o território de perambulação dos Awá. “A Funai deve fazer a proteção. A questão é de segurança para a vida desses isolados. Eles estão em risco com o incêndio, é verdade, mas não se pode responder a um erro com outro. O fogo precisa ser apagado, e para isso o governo precisa ter mais empenho. No final das contas, os madeireiros é que precisam sair da Arariboia, e não os indígenas”, afirma Rodrigues.