10/07/2015

Nos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, o Brasil é o campeão

Assim noticiou o Jornal do Turismo, no último dia 24 de junho: “A presidenta Dilma Rousseff participou da cerimônia e garantiu presença na abertura, em outubro. Para o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, os jogos ajudam a projetar o Brasil no cenário internacional. “Os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas são mais um gesto nosso no sentido de se abrir para o mundo, mostrando a nossa capacidade de oferecer oportunidades a todos de crescer, se desenvolver e se alegrar", afirmou Alves. Segundo ele, o evento ressalta características positivas do país. “Mostramos um Brasil democrático, que respeita a própria história e as diferenças”, afirmou. É a primeira vez que um evento esportivo-cultural reúne uma diversidade tão grande de etnias”.

A crescente violência contra os povos indígenas, com centenas de assassinatos de lideranças nos últimos anos;  a tentativa de suprimir direitos indígenas da Constituição; as leituras e decisões reducionistas a partir do “marco temporal”; as condicionantes da Raposa Serra do Sol, sendo estendidas para demais processos de regularização de terras indígenas; as inúmeras iniciativas no Congresso (quase uma centena de projetos contra os direitos indígenas), visando impedir o reconhecimento dos direitos constitucionais dos povos indígenas. Poderíamos continuar perfilando um rosário de ações e omissões do Estado brasileiro, que o habilitam a ser campeão de violências e violações dos direitos indígenas.

Como antes, em dois tempos/momentos o país assumiu o reconhecimento e regularização de todas as terras indígenas (Estatuto do Índio/1973 e Constituição Federal/1988), prazos esses olimpicamente descumpridos, e mais recentemente o próprio presidente Lula se comprometeu a realizar todas as demarcações de terras indígenas, e não fez quase nada neste sentido. Chegou a vez da presidente Dilma fazer um gol. Ao que tudo indica, será um gol contra.

Mas ainda é tempo. Restam quase três meses para que uma força tarefa, como jamais fora vista nesse país, mobilizando toda a sociedade e o Estado brasileiro para o pagamento da dívida eterna, através da demarcação de todas as terras indígenas, possibilitando uma vida digna com autonomia e respeito aos projetos históricos desses povos. Só assim poderemos dizer que somos “Um Brasil democrático, que respeita a própria história e as diferenças”. Quem viver verá!

Povos indígenas da Bahia exigem seus direitos

Com a mesma perplexidade da invasão primeira, há 515 anos, os Pataxó, Pataxó Hã-hã-hãi, Tupinambá, entre outros povos, estão agora no Brasil central, mais precisamente nas praças e palácios dos poderes em Brasília, para identificar os invasores, suas motivações e estratégias, para combatê-los com maior eficácia e exigir seus direitos.

Movidos por uma grande força histórica de resistência e espiritualidade, seus rituais estão inundando os diversos espaços do poder e seus braços de dominação e corrupção. Sua pauta principal é a regularização dos territórios e uma saúde de qualidade, diante do descalabro em que a Secretária Especial de Saúde Indígena (Sesai) transformou o atendimento a esses povos.

Egydio, com ou sem título, cidadão amazonense

Egydio Schwade é um dos guerreiros destacados desse país, talvez mais do que qualquer outro cidadão desse Brasil. Foi e é um aguerrido lutador pela vida, um intrépido e incansável defensor dos povos indígenas, inflexível e radical defensor da natureza, em especial da Amazônia. Mais do que merecedor de cidadão de uma região, é cidadão do Brasil e do mundo.

Batalhador e um dos articuladores da Operação Anchieta (Opan) e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Egydio sempre buscou se inserir na radicalidade dos processos de transformação dentro da Igreja e na sociedade. Foi e é um dos críticos ferrenhos das políticas do Estado brasileiro e sua nefasta política indigenista. Com a mesma dedicação e radicalidade, defende a importância das abelhas para a continuidade da vida no planeta Terra.

Com Egydio partilhei caminhos, sonhos e sofrimentos nestas veias abertas da América Latina e em especial no Brasil. A ele, nós do Cimi, temos muita gratidão e carinho pelo que já fez e continua fazendo pelos povos indígenas deste país e da Ameríndia, ainda na paixão. Com especial destaque para os Kiña-Waimiri Atroari, a quem dedicou momentos especiais de sua vida.

O gesto mais forte que me lembra nesse dia, o Egydio guerreiro, é seu gesto emblemático de queimar, em praça pública, na cidade de Presidente Figueiredo, seu título de eleitor. Foi a expressão máxima que encontrou para externar sua revolta e indignação com o descalabro, malvadezas e acintes escabrosos da política local. Com ou sem título de eleitor, e cidadão amazonense em seus 80 anos de vida, tens nosso total reconhecimento, admiração e apoio. Certamente essa nossa homenagem se estende com todo carinho a Dorothy, companheira de Egydio já falecida, que igualmente deu a sua vida pela causa dos povos indígenas e da Amazônia.

 

Fonte: Por Egon Heck, Secretariado Nacional do Cimi
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