Festa do rapaz: se formam novos guerreiros Tentehar/Guajajara
Nos dias 08 e 09 de setembro, na aldeia Juçaral, o povo Tenetehar/Guajajara celebrou a festa dos rapazes, que significa a passagem da infância para a fase adulta. Essa festa não era realizada a mais de 20 anos. Voltando a ser realizada há cinco anos. Motivo pelo qual tantos jovens participaram com entusiasmo desse ritual de passagem dos homens.
A recuperação de uma festa tradicional como essa é muito importante para o fortalecimento organizativo e cultural do povo Guajajara. A formação de novos guerreiros, preocupados com a sua cultura e com os seus direitos, é importante também para a defesa do território Araribóia.
Há mais de 45 anos que essa terra tem sofrido constantes invasões. Durante esses anos foram mais de 57 indígenas mortos. Mortes essas que tem relação com a exploração ilegal do território. As constantes denúncias e lutas feitas pelos indígenas contra a exploração ilegal de madeira não tem surtido o efeito desejado.
Os indígenas têm sofrido ameaças de morte, mas as ameaças não têm paralisados os Tentenhar/Guajajara, que continuam lutando contra as invasões em seu território e pela preservação de sua cultura. A preservação dos recursos naturais da terra são importantes para os rituais e para o sentido da vida desse povo.
Nesse sentido, à medida que o povo realiza as festas tradicionais como essa, mostra a sua resistência frente a todas as ameaças que querem acabar com a especificidade dos povos indígenas. Com a realização dessa festa de passagem dos rapazes, se formam novos líderes, caciques e guerreiros. Ao realizar a festa, o povo Tentehar/Guajajara monstra que sua cultura e identidade continua viva e fortalecida.
Conhecendo o ritual
O pai de um jovem ao perceber que ele está mudando a voz ou ao completar 13 anos, reuni as lideranças da comunidade e comunica a realização da festa do rapaz. Todas as demais famílias que tem rapazes na mesma fase participam da festa.
Acertado com a comunidade, o pai do rapaz “dono” da festa e as lideranças vão em busca de apoio para a realização da mesma. Apoio principalmente para custeio das despesas com alimentação. As mães dos rapazes confeccionam os enfeites (esteira, bracelete, capacete e colares) que eles usarão durante a festa. Também são responsáveis para preparar o jovem durante o período que antecede a festa.
É construído um grande barracão para todos ficarem em baixo. Os rapazes não podem pegar sol e nem sereno. Quando os rapazes entram nesse barracão começam também as cantorias que dura toda a tarde e noite. Encerrando ao nascer do dia.
No dia da festa após o meio dia, os rapazes iniciam a preparação. Primeiro se faz a pintura corporal. Geralmente feita com jenipapo e urucum. A mãe é responsável pela pintura que acontece na casa de uma das lideranças da comunidade.
Os rapazes ao serem pintados são colocadas as plumagens e os indígenas saem para o espaço da cantoria (barracão). Essa saída acontece após o sol baixar.
Os rapazes são acompanhados por uma moça durante toda a preparação e realização de todo o ritual que antecede a festa. A presença da moça é importante para simbolizar a família. Isso não significa, necessariamente, que possa haver compromisso entre ambos.
Realização da cantoria
Chegando ao barracão os rapazes são recebidos com cantos entoados pelos cantores e cantoras do povo. É notória a satisfação de ambos ao realizar esse momento. Na cantoria os jovens ficam sentados em um banco e esteira, ambos confeccionados especialmente para ele. Ao estarem no barracão e a cantoria iniciar, os rapazes não podem mais falar com ninguém, ou mesmo sair.
A cantoria vai até a meia noite. Depois, os rapazes vão para a casa de sua família. Nesse período, a avó materna é responsável pelos cuidados que são necessários durante a permanência do rapaz na casa.
Encerramento do ritual
Às quatro da manhã os rapazes são novamente preparados. Desta vez com shorts brancos. Eles são trazidos para o local da cantoria para se juntarem com os cantores e cantoras e são apresentados à comunidade. Daquele momento em diante, o rapaz se faz homem, podendo assumir responsabilidades maiores junto ao seu povo.
O sol nasce e a cantoria se intensifica cada vez mais. Todos se juntam em uma grande roda. A comunhão e a alegria são contagiantes que não tem quem consiga ficar parado.
No encerramento, acontece um choro coletivo, em seguida, todos os participantes vão agradecer ao dono da festa. Terminado o ritual, cada jovem leva seu banco para casa, enquanto estiver pintado, não pode banhar em rios ou mesmo lagos.
Com esse ritual a comunidade se alegra com a formação de novos guerreiros do povo, uma tradição que se renova, mantendo viva a cultura desse povo.
Cimi-Regional Maranhão