Policiais militares espancam indígena e o mantém cativo durante evento em Palmeira dos Índios
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“Decidiram soltar o declarante sem levá-lo à delegacia, mas não sem alertá-lo de que não deveria denunciar o ocorrido”, diz trecho do Termo de Declarações lavrado pela Procuradoria da República, com sede em Arapiraca. O indígena, conforme o documento, apresentava ferimentos na boca, nariz e garganta, “inclusive ainda escarrando sangue”. Menezes precisou ser encaminhado ao atendimento de urgência, com fortes dores no tórax e na cabeça, além de ferimentos. Um inquérito será instaurado para apurar o caso.
A família do indígena está em estado de choque. Sobretudo porque acreditam que o espancamento tenha como contexto a demarcação do território Xukuru-Kariri, por sua vez atrelada às perseguições inerentes ao procedimento, ora paralisado pelo Ministério da Justiça. Nas terras tradicionais reivindicadas pelos indígenas há fazendas e propriedades defendidas por uma rede de políticos alagoanos, caso dos senadores Renan Calheiros (PMDB/AL) e Fernando Collor (PTB/AL), ambos da base de apoio do governo federal.
Outro ponto que espantou os familiares de Menezes se deve a gratuidade da violência policial. Acompanhado da noiva, o indígena “foi surpreendido por policiais fardados que chegaram agredindo o declarante sem que o mesmo fosse interpelado”, diz o documento da procuradoria da República assinado por um analista pericial do Ministério Público Federal (MPF). Enquanto dois policiais espancavam Menezes, outros quatro assistiam. A violência teria sido cometida porque o indígena se desentendeu com um homem.
“Esse desentendimento não foi nada grave, nem mesmo houve troca de ofensas, apenas um esbarrão e derrubada de copo de bebidas alcoólicas (sic)”, descreve o documento. Menezes admitiu que ingeriu bebida alcoólica, mas afirma que não o suficiente para gerar problemas. “Mesmo que estivesse embriagado, a polícia deveria ter usado de um tratamento adequado, abordar do jeito certo, saber quem eu era e se portava documentos, permitir explicações”, disse o xukuru-kariri, da aldeia Fazenda Canto.
Conflito por terras e ameaças
“Olha, não vamos desistir de nossa terra. Enquanto o procedimento de demarcação estava acontecendo, tudo ia melhor. Foi o ministro da Justiça (José Eduardo Cardozo) paralisar para a situação piorar. Querem fazer pressão para desistirmos. Será que vão esperar um indígena morrer, como já aconteceu, para garantirem o nosso direito?”, questiona uma liderança que pede para não ser identificada por razões de segurança.