15/05/2014

Nota de Repúdio da Arpinsul sobre o conflito agrário e criminalização de lideranças indígenas no RS

A Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul repudia a ação, ou a falta de ação do governo federal, mais especificamente do Senhor Ministro da Justiça, que julgamos culpado neste fato que ocorreu no Rio Grande do Sul, que seria totalmente evitável, caso não nos enrolasse tanto, com tanta incoerência nesses diálogos paliativos e promessas furadas de resolver a situação das demarcações de terras.

Há vários anos este governo e sua cúpula é ciente que o problema estava por se acirrar mais e nada fez, se pronunciando apenas para fazer média com a classe latifundiária e com esses políticos da região que explicitamente demonstram ser anti-indígenas e contra os direitos dos Povos Indígenas. Até agora o que vimos e observamos foi promoverem cada vez mais o preconceito e desentendimentos entre os indígenas e os pequenos produtores da região. Por outro lado esses têm feito a sua parte de entrarem num entendimento e buscar uma solução para resolverem as questões fundiárias e o que o governo tem feito é desarticular todo esse diálogo, com suas propostas desconexas que coloca em risco o fim dos conflitos, ou até aumentando ainda mais, como vimos neste caso há alguns dias.

O problema não está nos Povos Indígenas, nem nos pequenos agricultores, nem nos que estão ocupando os territórios de boa fé ou não. O problema é realmente que governo não quer resolver isso. Não quer resolver, porque já existe um caminho constitucional e garantindo em lei de como fazer e demarcar as terras indígenas e fazer a regularização fundiária, e mesmo assim sempre tenta deslegitimar a garantia legal e manipular os nossos direitos para atender apenas o anseio capitalista e opressor do partido, dos latifundiários, dos grandes empreendedores e dos interessados nos territórios indígenas.  Enquanto isso coloca os pequenos para brigarem entre si e os usam como massa de manobra nos seus interesses partidários, eleitoreiros e desenvolvimentistas, e depois vem com discurso que está buscando uma solução?

Nada a ver o que eles tentam fazer a gente engolir e agir pacificamente, querendo nos fazer acreditar que está do nosso lado e do lado dos nossos companheiros pequenos e sofridos produtores. Do lado nada! Vejam o que armaram contras as lideranças que foram criminalizadas e presas sem maiores esclarecimentos e sem provas. Vejam o que as autoridades, militares, exército e forças armadas fazem com nosso Povo por esse país afora. Mataram nossos pais, matam nossos filhos, nos oprimem, tomam nossas terras e ainda nos taxam de riscos à segurança nacional.

O esbulho das nossas terras e as intrusões foi promovido por eles mesmos, pelo estado, e agora não querem admitir suas culpas e mais uma vez querendo “dialogar” com as lideranças para mais uma vez nos enganar com suas promessas e tentar acalmar os ânimos. Eles já sabem o que é pra fazer. Eles têm inúmeros documentos. Já têm em suas mãos e nos seus gabinetes nossas demandas. Por que não querem fazer? Por que não querem solucionar este conflito? Por que não querem a paz?

Não queremos mais ser enganados com tantas mesas de diálogos, mesas de enrolação, GT de Terras, GT de manipulação e nada de solucionar nossos problemas! Cada dia mais conflitos, mais mortes, mais criminalização, mais perseguições, mais violência, mais desesperos, mais desesperança. O que esse governo quer de nós?

 

ArpinSul, maio de 2014

Fonte: Arpinsul
Share this: