Espiritualidade Indígena: a força que vem de dentro
O Encontro de Espiritualidade dos Povos Indígenas, que acontece em Campo Grande (MS) até esta quarta-feira (14) em comemoração ao centenário da Congregação Irmãs Lauritas, reuniu povos indígenas do Brasil, Chile e Paraguai.
O que move povos tão distintos como os Aymara e Quechua dos Andes do Chile e Bolivia a se encontrar com os guerreiros Xavantes ou os resistente Kayowá, Guarani ou Pay do Paraguai?
Talvez só o sonho e o compromisso com os povos indígenas das Irmãs Lauritas, as irmãs dos índios, e a intensa busca de união e harmonia dos povos indígenas nesses quatro países foi construindo esse encontro continental de espiritualidade indígena, em consonância com os encontros continentais de Teologia Índia e outras iniciativas que buscam o intercambio e reflexão dessa temática.
O que ficou evidenciado nesses dois primeiros dias do encontro é a centralidade que tem a espiritualidade nos processos de resistência e luta dos povos indígenas por seus direitos, particularmente pelos seus territórios. Daí decorre uma espécie de espiritualidade da terra, da mãe terra, da Pacha Mama. Um momento importante é de harmonizar e trazer aqueles que já partiram para a celebração. Os espíritos dos antepassados se fazem presente nos rituais.
Essa harmonia e integração com a natureza, a comunidade, os parentes, ficou ressaltada nos rituais e exposições da delegação andina. A religiosidade e espiritualidade, após mais de 500 anos de intensa relação com outras religiões, especialmente as cristãs, construíram uma espiritualidade muito própria, nas raízes profundas de suas espiritualidades com elementos do cristianismo.
Evidenciam-se os aspectos festivos e alegres dos rituais e celebrações, da partilha, da reciprocidade, dos presentes, da cura, da gratidão à Pacha Mama. A reverência ao sol e a folha da coca tem uma função simbólica sagrada na relação dos povos originários e a mãe terra.
A espiritualidade guerreira dos Xavante ecoou forte. Quirino fez questão de ressaltar “Somos um povo guerreiro, mas somos alegres”. Essa alegria e energia não são apenas ressaltadas nos corpos robustos cobertos de urucum, mas também nos rituais e danças de expressão forte, ritmada.
O ritual da cura, com uma complexa interação com o universo e com Deus, foi detalhado por Quirino e lideranças desse povo.
O que mais marca o encontro é a interação, o intercambio e a celebração da vida na pluralidade de rituais e simbolismos.
Uma das manifestações importantes foi o desejo de construir e reconstruir caminhos e formas de solidariedade entre os povos, como aconteceu com frequência nas lutas das décadas de 70 e 80. Foi expresso pelos Xavante seu desejo de apoiar concretamente a luta dos parentes Kaiowá Guarani e Terena.
Os Kaiowá Guarani com sua intensa espiritualidade marcaram desde o início o encontro, dando o tom celebrativo e o desejo de união não apenas dos Guarani do Brasil e Paraguai, mas de todos os povos originários do continente.
Para melhor compreensão todas as intervenções, as colocações são feitas em três línguas – português, espanhol e guarani.
Mais do que belas palavras, frases de efeito, raciocínios lógicos, o que se vivenciou nesses dois dias foram intensos rituais e manifestações religiosas na pluralidade originária deste continente, a partir da força que vem de dentro.
Egon Heck e Laila Menezes
Secretariado Cimi
Na memória dos lutadores e guerreiros, Dom Moreira e Dom Tomás e todos os que deram sua vida nesta causa