“Dom Tomás, Deus colocou no seu coração o amor pelos povos indígenas” (Gercília Krahô)
A força do Espírito levou-lhe por caminhos pouco trilhados, espinhosos e tortuosos. Mas estes nunca o fizeram desistir de caminhar junto com o povo pobre e oprimido. Inspirado no Concílio Vaticano II, foi um incansável defensor das causas do Reino e fez germinar nas aldeias, na roça, no campo e na cidade as sementes de libertação e esperança.
Esse compromisso evangélico com os sem voz e sem vez, fez de você o grande defensor dos pequenos e oprimidos. Fez revelar uma Igreja solidária e samaritana, defensora e advogada dos pobres, como diz Aparecida.
É para agradecer ao Deus libertador pela sua vida e testemunho que nos unimos na cidade de Goiás: povos indígenas, camponeses, representantes de pastorais e movimentos sociais, estudantes e universitários, políticos, gente do campo e da cidade.
Estamos de luto pela perda de nosso grande profeta, mas continuaremos firmes na luta pelas causas do Reino, que você defendeu com uma fé inquebrantável.
“Seremos eternamente gratos porque sempre esteve conosco nas nossas lutas em defesa de nossos territórios. Você esteve conosco na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, nas nossas festas e nas nossas lutas”. As palavras de Antônio Apinajé ecoaram com força na Catedral de Goiás no ritual de acolhida a Dom Tomás, reforçando a aliança que ele fez com a causa indígena.
A Igreja de Goiás foi testemunha da dor e gratidão do povo por Dom Tomás, homem simples e de profunda fé, que não se calou diante dos poderosos, nem teve medo do latifúndio e dos grandes defensores do agronegócio. Defendeu os pequenos e oprimidos como compromisso e missão evangélica.
Esse mesmo compromisso Gercília Krahô pediu para quem fica no lugar de Dom Tomás. “Ele gostava da gente, ele respeitava a gente, não só defendeu a nós, mas também defendeu aos camponeses, ribeirinhos, quilombolas e pescadores. Deus colocou no coração dele esse amor pelos povos indígenas, por isto, peço a quem fica no seu lugar que defenda também a nós e a nossa mãe terra”.
Vendo e ouvindo esses testemunhos de fé, luta e esperança dos filhos da terra, dos pobres e explorados, de forma generosa e corajosa Dom Eugênio Rixen, bispo da Diocese de Goiás, comprometeu-se publicamente: “Eu me comprometo com você Gercília e com os povos indígenas para defender a causa indígena, defender os territórios indígenas das ameaças do agronegócio e a demarcação das terras indígenas”. E relembrou: “Do mesmo modo que Monsenhor Romero, falou ‘se me matam ressuscitarei na luta do meu povo’, da mesma forma, Dom Tomás, continuará vivo na luta do seu povo”.
A Páscoa de Dom Tomás, nos revelou com mais firmeza que ele foi e continuará sendo sinal de contradição para os poderosos e compaixão para os pobres e oprimidos, e que lutar não foi, nem será em vão.
Revelou-nos também que Dom Tomás quebrou todas as barreiras, todas as fronteiras e todos os protocolos para defender a vida e direitos dos prediletos de Deus. A fé na ressurreição nos faz acreditar que o compromisso evangélico e profético de Dom Tomás, renascerá nas muitas sementes plantadas por ele no coração e na vida do povo, e que não se pode sepultar a vida e a luta por justiça.
Cidade de Goiás, 05 de maio de 2014.