Manchas de Vergonha
Uma "mancha de vergonha", conforme expressou o representante da Anistia. Ali onde a cana e a soja se encontram, onde casebres Kaiowá Guarani estão espremidos entre a cerca e o asfalto, talvez seja a mais contundente imagem da discriminação, racismo e genocídio em curso contra comunidades desse povo.
A alta velocidade com que os veículos passam no local, sem nenhuma sinalização, fazendo frequentes vítimas, manchando de sangue o asfalto e a terra, é mais um trágico símbolo da violência estrutural ali implantada. Somente neste acampamento ocorreram a morte de cinco pessoas da mesma família, por atropelamento.
Não é apenas mais uma delegação a constatar a violência, contra os direitos humanos e étnicos de uma comunidade Kaiowá Guarani, é mais um grito de alerta internacional contra as "manchas de vergonha" espalhadas pelo Mato Grosso do Sul.
Dia Mundial dos Povos Indígenas
Por ocasião do dia mundial dos povos indígenas instituído pela ONU em dezembro de 1994, houve inúmeras manifestações, denúncias e protestos pelo mundo afora.
A Coordenação Andina dos Povos Indígenas (CAOI) divulgou uma carta na qual chamam atenção dos Estados nacionais e sociedade sobre o continuado desrespeito dos direitos dos povos indígenas, apesar de serem signatários de várias leis, normas e convenções que garantem o direito desses povos especialmente a seus território e recursos naturais, liberdade e paz.
Concluem se pronunciando "contra a perseguição judicial e todas as demais formas de criminalização do movimento indígena de Abya Yala como estratégia de intimidação aos líderes indígenas e contra a liberdade de expressão e direito de protestar que os povos originários temos tido como única estratégia de visibilização de nossos direitos".
Em Roraima, em torno de 500 indígenas marcharam pelas ruas da capital Boa Vista,
Mesa de diálogo ou de enrolação
Frustração. Esse foi novamente o sentimento entre os mais de 40 mil Kaiowá e Guarani no Mato Grosso do Sul. O governo, através de seus ministros havia prometido uma solução definitiva para a grave situação das terras indígenas desse povo e dos Terena. A reunião que deveria definir a proposta foi protelada do dia 5 para o dia 7, sem qualquer proposta concreta de solução, além de uma saída de duvidosa execução para a Terra Indígena Buriti, onde foi assassinado pela polícia a liderança Terena Oziel.
Os Kaiowá Guarani honraram sua palavra e não retornaram a nenhum território tradicional, originário, neste período. Já o governo, através da "mesa de diálogo", apenas gerou mais uma profunda decepção e total descrédito quanto às soluções infinitamente adiadas.
Com nosso grande profeta e poeta D. Pedro, nos colocamos na sintonia da esperança e transformação
Pai-Mãe da Terra e da Vida,
Deus Tupã de nossos pais e mães,
Venerado nas selvas e nos rios,
No silêncio da lua e no grito do sol:
Pelos altares e pelas vidas destruídas
Em teu nome, profanado,
Nesta nossa Abia Yala colonizada,
Te pedimos que fortaleças
A luta e a esperança dos povos indígenas
Na reconquista de suas terras,
Na vivência da própria cultura,
Na fruição da autonomia livre.
E dá-nos (a nós, neocolonizaores)
Vergonha na cara e o amor no coração
Para respeitarmos esses povos-raiz
E para comungar com eles
Awere, Amém, Aleluia
(Dom Pedro Casaldáliga)