17/04/2013

Flechas, maracás e o inviolável. O Brasil plural mostra sua cara

Jamais algum movimento social conseguira ocupar o inviolável espaço do plenário da Câmara. Os povos indígenas revoltados e indignados com o processo de violação de seus direitos, com ações e iniciativas orquestradas nos três poderes, decidiram dar o recado aos parlamentares. E isso no "espaço considerado inviolável, na casa do povo". Após quase meia hora de pressão, conseguem irromper na sala do plenário. Surpresos e perplexos, os parlamentares foram se retirando de seus assentos, e outro grupo foi refugiar-se em torno da presidência da mesa.Um clima de temor e apreensão se espalhou pelo ambiente dos 513 deputados, dos quais um pouco mais de trezentos estavam no recinto.

 

Nesse fato inédito, das 18hs10min às 18hs40min o plenário da Câmara foi despido de seu padrão engravatado, para dar lugar aos corpos e rostos pintados que ao som do maracá disseram a que vieram: ‘Revoguem já!” (as leis e projetos aintiindígenas).

 

Foi bonito ver indígenas velinhos, mulheres, jovens e crianças tomarem conta das confortáveis cadeiras, com sorrisos e comentários: "Como é confortável a casa do povo! Nunca a gente tinha imaginado o que está vendo e assistindo". Esse fato inédito correu o Brasil e o mundo. Para dizer: estamos aqui, exigimos respeito, queremos respostas, não tirem os nossos invioláveis direitos! Se perplexos ficaram os senhores deputados, muito mais perplexos e indignados estão os povos indígenas pelas inúmeras propostas que estão nesta casa, com o único intuito de retirar os direitos indígenas, para favorecer o agronegócio e outros interesses de mineradoras, madeireiras, com acelerada privatização das terras e águas em nosso país.

 

O Brasil plural mostra sua cara

 

O plenário da Comissão de Constituição e Justiça se encheu de cores, de corpos lindamente pintados, dando uma bela imagem desse Brasil plural, profundo, originário. É pena que isso só seja reconhecido nos momentos das cruciais lutas que os mais de trezentos povos indígenas levam adiante, quando os processos genocidas avançam sobre seus territórios, suas vidas.

 

As dezenas de parlamentares que vieram prestar apoio e solidariedade aos povos indígenas no Congresso destacaram esse momento bonito e crucial.

 

Nas inúmeras manifestações das lideranças indígenas, caciques e pajés, a tônica foi a mesma. Querem nos matar com esses projetos de lei, portarias. Mas nós vamos resistir, lutar, até o último índio! E todos pediram que enterrem as malditas e criminosas iniciativas do Legislativo e Executivo.

 

O momento é esse, avançaremos!

 

Nailton Pataxó ressaltou que esse momento é semelhante ao da Constituinte, quando os inimigos dos povos indígenas tramaram várias vezes para impedir com que os direitos indígenas fossem inscritos na nova Constituição. “Só vencemos por que nos mobilizamos, viemos ao Congresso quase todos os dias, visitamos gabinete por gabinete dos parlamentares, fizemos debates e rituais aqui no Congresso. Enchemos os tapetes verdes e azuis com a cara do Brasil plural, combativo e resistente. Agora estamos novamente num momento em que os nossos inimigos querem rasgar a Constituição tirando dela os direitos por nós conquistados”. Com muita firmeza e sabedoria finalizou: "Vamos vencer mais essa batalha! Unidos e mobilizados sairemos vitoriosos de mais essas tentativas criminosas de tirar nossos direitos".

 

Além da visibilidade conseguida para suas lutas e seus direitos, conseguiram do presidente da Câmara, deputado Henrique Alves, juntamente com outros parlamentares e líderes de partidos, a promessa de não indicação de membros para a Comissão Especial, que daria o parecer sobre a PEC 215 e a instalação de uma mesa de negociação com a participação paritária dos povos indígenas, para debater todos os projetos de lei e iniciativas que dizem respeito aos povos indígenas.

 

Em documento entregue ao presidente da Câmara, o movimento indígena reafirma: “Não admitiremos retrocesso na garantia dos nossos direitos… Reafirmamos por tudo isso, a nossa determinação de fortalecer nossas lutas, continuarmos vigilantes e dispostos a partir para o enfrentamento político, arriscando inclusive as nossas vidas, em defesa dos nossos territórios e da mãe natureza e pelo bem das nossas atuais e futuras gerações”.

 

A promessa é de que hoje, dia 17/04, seja criada essa mesa de diálogo.

 

Fonte: Egon Heck / Cimi
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