04/07/2012

Meu caro e inesquecível Antônio Brand

Meu caro e inesquecível Antônio Brand,

 

Fiquei profundamente abalado quando hoje de manhã o nosso comum amigo Egon Heck me deu a notícia de tua partida e depois tua filha querida me telefonou e chorando me disse: Meu amado pai se foi. Não consegui traduzir minha dor em palavras. Falei apenas que iria rezar por ti e te recomendar ao Pai e lembrar-te na Eucaristia.

Dom Erwin Kräutler (esquerda) e Antonio Brand (direita) eleitos para a coordenação nacional do Cimi

 

Os anos que lutamos juntos no Cimi passaram de repente como um filme diante de mim. Lembrei a assembleia em Itaici (1983) em que fomos eleitos para presidir a entidade. Lembrei muito mais ainda a sintonia que entre nós reinava todos esses anos de luta em favor dos povos indígenas de nosso País. Foram anos decisivos para a causa indígena, pois era a época da assembleia nacional constituinte. Não podíamos perder a chance de ancorar os direitos indígenas na Constituição Federal. E creio não exagerar quando afirmo que o teu empenho foi decisivo. Quantas vezes foste ao Congresso para encontrar-te com deputados e senadores a fim de convencê-los a respeito da dignidade e dos direitos dos povos indígenas. Como não recordar também a virulenta campanha contra o Cimi, deslanchada pelo jornal de maior circulação neste País! Como sofremos com as calúnias e difamações veiculadas durante cinco dias por aquele matutino! E quando sofri aquele misterioso acidente que quase ceifou minha vida, tu foste visitar-me no hospital em Belém para me confortar, expressar tua solidariedade, mais ainda, para assegurar-me que estavas pronto para continuar a luta apesar dos ataques da parte dos inimigos da causa indígena. Sou-te eternamente grato, Antônio, por tua dedicação. E os povos indígenas também o são!

 

Quem pensava que a festa de casamento de tua filha querida fosse o nosso derradeiro encontro. Ficaste tão feliz naquele dia! Nunca te vi tão alegre e contente. Tive ainda a oportunidade de visitar a terrinha que te viu nascer. Sem o sabermos, foi nossa despedida neste mundo.

 

Agora tu ves face a face o nosso Deus cheio de bondade e misericórdia. A morte é apenas a ponte para a vida em plenitude. Passaste hoje por esta ponte. Nós, do lado de cá, continuaremos em peregrinação.

 

Abraços, com gratidão,

 

Erwin,

bispo do Xingu e presidente do Cimi

 

Santarém, PA, 3 de julho de 2012

Fonte: Secretariado Nacional - Cimi
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