MPF e Xavantes vão cobrar cumprimento do prazo para que Funai apresente o plano de desintrusão da Terra Marãiwatsédé
Posicionamento da procuradora da República Marcia Brandão Zollinger e do cacique Damião teve apoio de diversas entidades que participaram do evento na Cúpula dos Povos, que acontece paralelamente à Rio+20, no Rio de Janeiro.
Vinte dias. Este foi o prazo determinado pela Justiça em 2011, que foi suspenso por quase um ano e que agora está em vigor novamente, para que a Funai apresente um plano para a retirada de fazendeiros, posseiros e grileiros da Terra Indígena Marãiwatséde,
O posicionamento do MPF, manifestado pela procuradora da República Marcia Brandão Zollinger, e pelo cacique Damião foi endossado pelos antropólogos e representantes das entidades que fizeram parte da mesa de discussão sobre os 20 anos de espera dos indígenas para o resgate de Marãiwatsédé. A Opan (Operação Amazônia Nativa), organizadora da mesa de debate, Greenpeace, Funai e COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) estiveram presentes e se posicionaram a favor do pleito Xavante. “A retirada dos não-índios da área Xavante está novamente autorizada pela Justiça. Funai e União estão obrigadas a apresentar o plano de desintrusão e isso precisa ser feito com urgência, antes que mais artimanhas, leis inconstitucionais e suspensões possam ser obtidas para retardar a posse da terra pelos indígenas”, enfatizou a procuradora da República Marcia Brandão Zollinger. De acordo com a procuradora, o MPF cobrará da Funai a finalização do plano de desintrusão que deverá ser executado em conjunto com a Polícia Federal, Incra e Ibama.
O cacique Damião Paridzané, visivelmente abatido pela viagem de ônibus que durou dois dias de Mato Grosso ao Rio de Janeiro, disse que ele e os demais indígenas que o acompanham se sacrificaram para estarem presentes nesses dias de mobilização durante a Cúpula dos Povos e Rio+20. Ele, que há 20 anos foi o protagonista na divulgação da causa Xavante durante a Eco 92, disse que está desacreditado de “promessas só de boca” que vão desocupar Marãiwatsédé. “Não vamos morrer sem a nossa terra. Vamos cobrar da Funai a desocupação e se for preciso eu e mais 50 vamos acampar lá na frente até que isso seja resolvido”. E finalizando a sua fala durante o evento organizado pela Opan na Cúpula dos Povos, o cacique Damião reafirmou a sua posição com relação a proposta feita pelo Governo de Mato Grosso de permutar Marãiwatsédé, “não adianta oferecer Parque do Estado, cem mil, trezentos mil. Meu objetivo para o meu povo é só a nossa terra”, finalizou o cacique Damião.
Na Eco 92, quando a multinacional Agip Petroli, dona da Liquifarm, anunciava a devolução da fazenda Suiá-Missú, que fica dentro da terra tradicional para os índios, um esquema de invasão da área era colocado em prática
A análise do antropólogo João Pacheco de Oliveira, do Museu Nacional do Índio, da UFRJ, é que as leis brasileiras são avançadas para o reconhecimento dos direitos, mas faltam mecanismos de controle e intervenção para para que a lei de fato seja cumprida para que o processo de demarcação de uma terra indígena ao invés de um prêmio, acabe por ser a destruição de uma geração de líderes e a desestruturação de uma cultura. “O que acontece com os Xavantes é resultado de um crime praticado pelo Estado Nacional, documentado, registrado e fotografado ainda nos anos
Marcos Astrini, do Greenpeace, destacou que nos estudos realizados sobre a relação entre pecuária e desmatamento, Marãiwatsédé é um exemplo de como aquela atividade econômica desrespeita os direitos do meio ambiente e os direitos humanos. Um levantamento do Greenpeace aponta que 85% da floresta presente na grande maioria da Terra Indígena que está ocupada por não-índios foi devastada. “A palavra do homem branco tem que valer pra alguma coisa, uma vez na vida. É uma pena estarmos aqui hoje para reivindicar algo que foi definido 20 anos atrás e que já deveria ser uma realidade”, falou o ator Marcos Palmeira que participou do evento, como defensor da causa indígena e testemunha da vida xavante, pois conviveu na aldeia São Marcos,
*Histórico da ação judicial para desinstrusão da Terra Indígena Marãiwatsédé
A Terra Indígena Maraiwãtsédé foi declarada de ocupação tradicional indígena pela em 1993, por meio de uma portaria do Ministério da Justiça. Em 1995, uma ação civil pública para retirada dos não-índios da área foi proposta pelo Ministério Público Federal
Dois anos depois, em
Em um trecho, a decisão afirma que “o laudo pericial antropológico, fartamente instruído por documentos históricos, corrobora as assertivas contidas no Parecer da Funai, não deixando margem a nenhuma dúvida de que a comunidade indígena Xavante Maraiwãtsédé foi despojada da posse de suas terras na década de
Porém, em 2011, o TRF 1 suspendeu pela segunda vez a desintrusão diante da aprovação de projeto de lei da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, que propôs a permuta de Marãiwatsédé por uma área dentro do Parque Nacional do Araguaia. As lideranças indígenas se manifestaram contrárias à permuta.
A última decisão judicial, que prevalece, é a de maio de 2012, do desembargador Souza Prudente, do TRF 1, que revogou a decisão do ano passado que suspendia a desintrusão da área.