25/10/2011

Líder comunitário é assassinado no Pará

”Denunciamos o assassinato covarde de mais um defensor da natureza na Amazônia”

No último sábado (15) foi assassinado o líder comunitário João Chupel Primo em Miritutuba, município de Itaituba, Pará (PA). Conheci o João em sua comunidade, onde realizei as primeiras crismas como bispo de Itaituba.

 

Eu o tinha encarregado de fundar uma nova comunidade. Justamente no dia da crisma, em junho deste ano, ele deixou de ser o coordenador da Comunidade Nossa Senhora de Nazaré de Miritituba para poder se dedicar à fundação da nova comunidade.

 

Ele vinha fazendo denúncias sobre grilos de terras e extração ilegal de madeira (veja a nota abaixo). Por isso foi assassinado brutalmente com um tiro na testa sábado passado.

 

Quando os defensores da natureza e da legalidade vão deixar de serem mortos? Quando o Governo Federal colocará a Polícia Federal para agir no Pará?

 

Fraternalmente

 

Dom Frei Wilmar Santin, O.Carm.

Bispo da Prelazia de Itaituba, Pará – Brasil

 

Nota da CPT

 

Sábado, dia 22, por volta das 14 horas, foi assassinado com um tiro na cabeça João Chupel Primo, 55 anos. Ele trabalhava numa oficina mecânica onde o crime ocorreu, ao lado de seu escritório.

 

João denunciava a grilagem de terras e extração ilegal de madeira, feitas por um consórcio criminoso. Ele tem vários boletins de ocorrências de ameaças de morte na polícia local. João fez várias denúncias ao ICMBIO e a Polícia Federal, que iniciaram uma operação na região.

 

A madeira é retirada da Flona Trairão e da Reserva do Riozinho do Anfrizio, onde as portas de entrada para essa região, que faz parte do mosaico da Terra do Meio, são pela BR 163 – Vicinal do Brabo cortada até o Areia; entrando pelo Areia (Trairão), cortada até Uruará. Pela BR 230: vicinal do Km 80. Vicinal do km 95. Vicinal do 115. A operação do ICMBIO, que recebeu apoio da Polícia Federal, Guarda Nacional e Exército não teve muito êxito, pois toda noite ainda saem de 15 a 20 caminhões de madeira. 

 

Dizem que não foi dada continuidade à operação por medida de segurança. Um soldado do Exército trocou tiros com pessoas que cuidavam da picada quilômetros adentro da mata e ficou perdido cinco dias no mato. O Exército retirou o apoio. A Polícia Militar também não quis dar apoio.

 

A responsabilidade de mais uma vida ceifada na Amazônia, recai sobre o atual governo, o IBAMA/ICMBIO, Polícia Federal – que não deram continuidade à operação iniciada para coibir essa prática de morte, tanto da vida da Floresta como de pessoas humanas.

 

Já foram assassinadas mais de 20 pessoas nessa região de 2005 até hoje.

 

Quantas vidas humanas e lideranças ainda tombarão???

 

Itaituba, 24 de Outubro de 2011.

CPT – BR163

Prelazia de Itaituba

Fonte: Comissão Pastoral pela Terra (CPT)
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