Informe nº 979: Semana de manifestações contra Belo Monte
A semana Mundial em Defesa das Florestas em imagens e vídeos
Também anterior ao próprio Dia Internacional, foi o ato público realizado no Largo do Mestre Chico, na entrada do Bairro dos Educancos, pelos participantes da Primeira Cumbre Regional Amazônica dos Povos Indígenas, no dia 18, em Manaus, Pará. A usina de Belo Monte entrou inclusive na declaração final deste grande encontro internacional, como símbolo da destruição gerado por um modelo econômico predatório e neo-colonial. Figura sob o ponto 4 da Declaração: "¡Basta de represas “Belomonstruos” en Brasil, Guyana, Perú (Inambati, Marañón, Pakitzapango), Bolivia y el Mundo!"
Ainda no mesmo encontro, o presidente da Funai, Márcio Meira, levou um puxão de orelha do cacique Raoni, do povo Kayapó, que luta desde os anos oitenta contra a usina no Xingu. Disse Raoni a ele: “Tem que sair! Você está matando os povos indígenas. Tem que colocar outra pessoa que se preocupe com a gente”.
Em Altamira, município onde a usina está planejada, os movimentos se mantêm firme na resistência e saíram mais uma vez às ruas para mostrar sua indignação com Belo Monte.
O Comitê Metropolitano Xingu Vivo para Sempre, junto com outros movimentos, articulou uma grande passeata pela cidade, com música, caras-pintadas, faixas e panfletos distribuídos aos passantes. Estima-se entre 1500 e 2000 o número de participantes.
Até em Brasília, cidade muito parada nos fins de semana, se reuniram espontaneamente umas sessenta pessoas. Elas improvisaram um bonito ato sob o lema "Lutamos, armados até os dentes, como mudas e sementes". Sempre mantendo o círculo, símbolo da continuidade, alternavam cantos, danças, palavras de ordem e momentos de meditação, em volta de uma muda de mogno, símbolo da vida.
Outras manifestações se realizaram em Manaus, Fortaleza, Salvador de Bahia, Santarém, Porto Alegre, Curitiba e Florianópolis e no Rio de Janeiro. Essa última, aliás, também já faz parte de uma série de manifestações contra Belo Monte, sempre articuladas na calçada de Copacabana por vários grupos e indivíduos.
Fortaleza, Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis
Segunda-feira, dia 22 de agosto, foi marcada pelas manifestações no exterior. Em vários países pessoas realizaram atos para chamar a atenção da população para o desastre iminente de Belo Monte, pedindo às autoridades brasileiras que parassem o projeto, optando por um modelo energético mais sensato. O novo Código Florestal também foi objeto das manifestações.
Chamou atenção a manifestação na Austrália, possivelmente incentivada pelo recente documentário Dammed, no qual o presidente do Ibama, Kurt Trennenpohl, explica que a função do Ibama não é cuidar do meio ambiente e que o Brasil vai tratar os indígenas como Austrália tratou os aborígenes. Este povo originário sofreu campanhas de extermínio. (veja estes trechos específicos aqui).
Outras manifestações que se destacaram, foram articuladas em Taipeh (China) e Jakarta (Indonésia), talvez a primeira vez que os temas de Belo Monte fosse motivo para protesto num país asiático. No caso da Indonésia, há grandes semelhanças com o Brasil, na questão do desmatamento desenfreado da floresta tropical.
Taipeh, Jakarta
O protesto em Ancara, Turquia não deve surpreender, visto que neste país tem sido travado uma longa batalha sobre a construção de muitas usinas, com a usina de Ilisu sendo a mais notória, já que ela vai inundar grandes áreas e inclusive uma cidade histórica. O paralelo com os sítios arqueológicos que Belo Monte vai inundar é óbvio. Outro paralelo é que financiadores internacionais saíram do projeto (em 2008) por preocupações com os grandes impactos socioambientais. O governo da Turquia, como o do Brasil, insiste em construir a usina, agora com financiamento interno.
Manifestações em Londres, Edimburgo (Reino Unido), Paris (França), Haia (Países Baixos)
Nova York, Washington, São Francisco e Los Angeles (EUA)
Viena, Moscou, Oslo, Paris
Berlim (Alemanha)
Jornada Nacional da Via Campesina
Durante a semana apóso Dia Mundial em Defesa das Florestas, a pressão contra Belo Monte continuava. A suspensão imediata da usina fazia parte da pauta da Jornada Nacional da Via Campesina. A resposta do governo era curto e grosso: "todas as demandas são possíveis de serem atendidas. Com exceção da construção da usina de Belo Monte".
Vários grupos levantaram a bandeira contra Belo Monte durante a marcha da Via da quarta-feira, dia 24 de agosto.
A semana se encerrou com um twitaço, ao qual milhares de pessoas aderiram. O tag ou hashtag #parebelomonte foi enviado e reenviado 10.000 vezes pelos participantes. O twitaço teve dois focos: primeiro, serve para aumentar a consciência sobre a questão da usina de Belo Monte, divulgando ao máximo frases e links referentes ao assunto. Segundo, pressionar de forma direta as empresas envolvidas ou associadas ao empreendimento, como BNDES, Vale, bancos (que podem atuar como co-financiadores), construtores (Camargo Corrêa) e companhias de energia (Chesf, Eletrobras). Os participantes enviaram tweets (mensagens curtas) de forma direta a estas entidades. Para uma análise do twitaço, veja a matéria #PareBeloMonte ganha a web.