Carta Aberta dos Povos Indígenas Munduruku do Alto Tapajós
Nós indígenas Munduruku, representantes das aldeias Saí-Cinza, Caroçal Rio das Tropas, Boca do Caroçal, Vila Nova, Bananal, Boca das Tropas, Karapanatuba, Jacaré Velho, Jacarezinho, Jardim Kaburuá, Porto, Biriba, Katõ, Estirão das Cobras, Maloquinha, Monte Alegre, São João, Trairão, Missão Velha, reunidos na Aldeia Saí-Cinza – Terra Indígena Saí-Cinza, município de Jacareacanga, Pará, reunidos. nos dias 25 e 26 de abril de 2011, vimos através desta Carta Aberta declarar a toda a sociedade que:
Nós Munduruku, não queremos de jeito nenhum os Complexos Hidroelétricos do Tapajós e Teles Pires nos nossos rios, pois irão trazer problemas para nós e nossos filhos;
Queremos dizer ao governo que nós somos os primeiros habitantes do Brasil, que nós somos os verdadeiros brasileiros, por isso, não dá para o governo construir seus projetos sem consultar os povos indígenas;
Sabemos que se construir uma barragem, o governo vai construir todas. Por isso, nós devemos lutar para não acontecer a construção de nenhuma;
Exigimos que as autoridades do governo, antes de pensar em qualquer projeto dentro ou no entorno das terras indígenas, que venham se fazer presente e não mandem seus secretários ou representantes e que respeitem o que está escrito na Constituição Federal de 1988 e na Convenção 169 da OIT no que diz respeito aos direitos dos povos indígenas;
Denunciamos que o governo não liga para os pobres, só para os grandes empreendedores. O governo olha pra nós como se não fôssemos ninguém;
Denunciamos ainda que a barragem com certeza irá interferir em nossa cultura e, por isso, exigimos que ao invés de apresentar projetos que vão destruir nosso modo de vida, o governo mostre programas para beneficiar as comunidades em relação à saúde e a educação indígena.
Declaramos a nossa solidariedade a todos os nossos parentes dos rios amazônicos que também estão ameaçados pelos projetos hidroelétricos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal.
Lembramos que nós devemos ser fortes nesta luta, nós temos que dizer não às barragens. Se nós formos fracos, o governo vai nos pisar. Por isso, não queremos barragens, porque com nossos rios livres, nós temos liberdade de pescar, de caçar e trazer alimentos para a família e filhos.
Sabemos que os grandes projetos de hidroelétricas vão acabar com tudo. Os rios, peixes, terra são a nossa vida. Por isso, o governo tem que nos respeitar, porque nós estamos vivos ainda.
NÃO ÀS HIDROELÉTRICAS NOS RIOS TAPAJÓS E TELES PIRES!
VIVA OS NOSSOS RIOS, VIVOS PARA SEMPRE!
Aldeia Saí-Cinza, Jacareacanga – PA, 26 de abril de 2011.