Indígenas de Roraima publicam manifesto contra o tráfico de pessoas no estado
Em carta aberta, a turma GH1 do curso de Licenciatura Intercultural do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), manifesta seu apoio na luta contra o tráfico de seres humanos na região. De acordo com o documento/denúncia, diversas meninas indígenas têm sido aliciadas e barbaramente exploradas sexualmente no estado.
“Não podemos nos omitir diante dos levantamentos que apontam Roraima como rota internacional do Tráfico, onde a população indígena aparece com maior vulnerabilidade! Somos educadores e iremos agir fazendo diversas atividades para mobilizar as populações indígenas para essa realidade”, afirmam na carta.
Eles encerram o documento, afirmando que lutarão por suas crianças, jovens e mulheres.
Confira carta na íntegra:
Carta aberta da turma Gh1, Instituto Insikiran: “União dos povos indígenas contra o tráfico de seres humanos em Roraima”
Nós alunos do curso de Licenciatura Intercultural do Instituto Insikiran (UFRR), turma GH1, pertencentes aos povos Macuxi, Wapichana e Ingaricó, entendemos que o tráfico humano é uma questão grave, que tem acontecido em Roraima, sob nossos olhos, aliciando meninas indígenas que são traficadas e barbaramente exploradas sexualmente. Os aliciadores conquistam a confiança das famílias fazendo-se passar por pessoas generosas, boazinhas, oferecendo-lhes carona, empregos lucrativos que envolvem viagens. As ofertas de trabalho geralmente são em Manaus, Guiana, Venezuela ou Suriname.
Por isso, nos organizamos e pensamos que para enfrentar o tráfico de pessoas é necessário, sobretudo, ousadia e mostrar que existe uma sociedade organizada capaz de proteger suas crianças, adolescentes e mulheres contra a exploração e expropriação de sua dignidade humana.
Não podemos nos omitir diante dos levantamentos que apontam Roraima como rota internacional do Tráfico, onde a população indígena aparece com maior vulnerabilidade! Somos educadores e iremos agir fazendo diversas atividades para mobilizar as populações indígenas para essa realidade.
Antes da chegada dos não índios, nós podíamos desfrutar de nossas riquezas naturais e das belezas aqui existentes, sem que tivéssemos que nos preocupar com a exploração e o trafico de pessoas. Hoje, os aliciadores usam os sonhos de falsa riqueza, as ilusões criadas pela população não indígena e fortalecida pela televisão de que uma vida feliz é uma vida com muito dinheiro, longe da família e de sua Terra Mãe.
Com simpatia, seduzem as pessoas e as levam para longe onde desaparecem… Eles aprisionam as pessoas, roubam seus documentos e as escravizam de maneira desumana.
Já lutamos e conquistamos nossa Terra Mãe Livre! Agora lutaremos por nossas crianças, jovens e mulheres que são o nosso futuro. Para isso, escrevemos essa carta que propõe que lideranças, escolas, comunidades saibam o perigo que o tráfico de pessoas representa e se organizem, denunciem e protejam seus jovens.
Solicitamos das autoridades maior atenção aos dados de Tráfico de pessoas em Roraima e à Secretaria de Estado de Educação de Roraima a inclusão dessa temática como meta prioritária no Plano Estadual de Educação.