15/02/2011

Cartas de Luta e Solidariedade aos Guarani Kaiowá

Por Egon Heck

 

Do Canadá nos vem um exemplo admirável de solidariedade. Na cidade de Quebec decidiram fazer uma campanha de apoio e solidariedade à comunidade do Ypo’i, acampada em sua terra tradicional. Ali sofrem diariamente por causa da fome, isolamento e ameaças. Não bastasse toda essa leva de violação de direitos, ainda sofrem com a falta de informações sobre o corpo do professor Rolindo Vera, seqüestrado e cruelmente assassinado em outubro de 2009, quando retomavam seu território tradicional, juntamente com seu primo Genivaldo Vera. Com incrível perseverança e espírito guerreiro, os Guarani enfrentaram todas essas adversidades para reconquistar um pedacinho de seu território tradicional. E lá estão eles lutando heroicamente contra todo poderio econômico regional, dos fazendeiros e do agronegócio.

 

Um dos grandes aliados nesta causa, que para nós é mais que justa e digna, tem sido a solidariedade nacional e internacional. As centenas de cartas enviadas pelos alunos de escolas secundárias de Quebec expressam apoio à comunidade em sua luta pela terra e seus direitos, na certeza de que alcançarão a vitória e um dia poderão viver em paz em sua terra.

 

Confira cartas na íntegra:

 

“Me chamo Jérémy. Eu me coloco no vosso lugar e compreendo a vossa situação.  Eu espero que as cartas que enviamos façam pressão sobre os governantes,  para que a vossa aldeia seja livre e que tenham direito à saúde, educação, terra e à liberdade. Eu vos amo muito …”.

 

“Grande confiança. Vocês não estão sozinhos”. – Jessika

 

“Queridos Guarani Kaiowá. Hoje fui à escola e todos nós pensamos em vocês. Vos enviamos nosso amor, nossa esperança e sejam fortes”  – Auclier

 

“Saudações povo da comunidade autóctone brasileira. Eu vos escrevo para dizer que eu creio que vossa causa é justa. Acho horrível essa opressão de todo um povo. Que alcancem vosso direito à terra”. – Steven

 

“Guarani Kaiowá do Ypo’i, sem dúvida vocês são  muito corajosos por preservar em  vossa reivindicação o território ancestral. Continuem com esperança que um dia vos será feito justiça”.  C. Véroneau

 

 “Fiquem com a esperança, que a justiça vencerá, nesta terra que é sua, seus antepassados estão cuidando de vocês”. – Suzanne

 

“Nós sabemos que vocês vivem momentos difíceis, mas nós trabalhamos pela vossa libertação.  Boa coragem”   

 

Coiab também apóia luta Guarani Kaiowá

  

Da Amazônia brasileira vem o apoio irrestrito dos guerreiros nativos de lá.  “Parentes, um índio sem a sua terra é como um pássaro sem o céu. Sofremos com a tristeza de seu povo. Ela também é a nossa tristeza. Sonhamos o mesmo sonho que vocês. Sonhamos a nossa Terra Mãe livre das ameaças, da maldição do agronegócio e dos grandes projetos. Essa é a reza que os povos da Amazônia fazem”.

 

Leia carta na íntegra

 

Em carta as comunidades representadas pela Coiab manifestam seu repudio pela morosidade com que o governo federal vem tratando a questão da demarcação das terras Guarani Kaiowá. Ao mesmo tempo manifestam estranheza com a presteza com que são favorecidos e implantados os grandes projetos agroindustriais como as usinas de etanol.

 

 

Leia carta na íntegra 

 

Kaiowá Guarani e Terena manifestam seu dramático apelo à presidente Dilma

 

No final de janeiro, os Guarani Kaiowá enviaram uma carta à presidente Dilma na qual mais uma vez expressam sua indignação pela morosidade dos processos de demarcação das terras desse povo e depositam sua confiança na demarcação de seus territórios:

 

“Presidente Dilma, a questão das nossas terras já era para ter sido resolvida há décadas. Mas todos os governos lavaram as mãos e foram deixando a situação se agravar. Por último o ex- presidente Lula prometeu, se comprometeu, mas não resolveu. Reconheceu que ficou com essa dívida para com nosso povo Guarani Kaiowá e passou a solução para suas mãos. E nós não podemos mais esperar. Não nos deixe sofrer e ficar chorando nossos mortos quase todos os dias. Não deixe que nossos filhos continuem enchendo as cadeias ou se suicidem por falta de esperança de futuro.  Precisamos de nossas terras para começar a resolver a situação que é tão grave. A própria procuradora Deborah Duprat considerou que Dourados talvez apresente a situação mais grave de uma comunidade indígena no mundo.

 

Sem as nossas terras sagradas estamos condenados. Sem nossos tekoha, a violência vai aumentar, vamos ficar ainda mais dependentes e fracos. Será que a senhora como mãe e presidente quer que nosso povo morra à míngua? Acreditamos que não. Por isso, lhe dirigimos esse apelo exigindo nosso direito.

 

Também o povo Terena de Cachoeirinha, município de Miranda, na região do Pantanal, depois de vários anos de luta, com retomadas como Mãe Terra e Futuro da Criança, não agüentam esperar mais. Em documento encaminhado à presidente Dilma expressam sua disposição de avançar na luta de retomada de suas terás: “Há muito tempo estamos em luta pela demarcação definitiva de nossa terra sagrada. O povo Terena se cansou de esperar a boa vontade de nossos governantes que há décadas nos prometem uma solução para concluir a demarcação de nossa terra e até agora nada!”.

 

Diante disso, o único caminho que nos restou para que possamos melhorar as nossas condições de vida e garantir um futuro para nossas crianças foi nos organizarmos e irmos para a retomada de nossas terras.

 

Ao custo de ameaças, perseguições, calúnias e mentiras daqueles que são contra nossos direitos, avançamos em nossas lutas e jamais desistiremos até que o último palmo de nossa terra nos seja entregue”.

 

Certamente as montanhas de cartas e emails não são a única forma dos povos indígenas exigirem seus direitos. Porém, eles acreditam que é uma das armas que têm à mão. E nesse início do governo Dilma, fazem seu clamor de indignação e esperança chegar até o Palácio do Planalto.

Fonte: Cimi Regional Mato Grosso do Sul
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