03/11/2010

Lula, Dilma e os Guarani

Por Egon Heck

Passados os dias da ressaca, dos santos e dos mortos, um feriadão inesquecível, voltemos aos primeiros habitantes dessa Terra de Santa Cruz. Para boa parte deles todos esses rituais pouco significaram. O gesto maior de cidadania e democracia, que foi apertar dois números, foi apenas mais um voto de esperança.

Em muitas comunidades houve celebração e comemoração pela vitória da candidata Dilma Rousseff, que governará o país pelos próximos quatro anos. Já tarde da noite, toca o telefone: – “Estamos comemorando a vitória da Dilma aqui na aldeia Paraguasu”, me diz uma liderança Guarani. Fico surpreso com a notícia e, ainda meio sonolento, os felicito pelo gesto. Felicito-os, pois a cada eleição renovam a esperanças, mesmo que depois, ao longo do mandato, amarguem muitas decepções. Ao telefone, ainda ouço as razões para tanta festa: “Pobre vota em pobre”, finaliza.

No dia seguinte vou conversar com Anastácio Guarani Kaiowá, liderança que por diversas vezes teve a oportunidade de conversar com o presidente Lula e alertá-lo da grave situação em que vive seu povo por causa da não demarcação das terras.  “Espero que Dilma, enquanto mulher, mãe e presidente, seja sensível à causa dos povos indígenas, e tenha especial consideração com a difícil situação do grande povo Guarani e cumpra o disposto na Constituição, demarcando todas as terras indígenas e também garantindo os demais direitos que aí temos.

Com uma pitadinha de ironia e desconfiança, Anastácio arrisca uma sugestão “a senhora como ministra foi mãe do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e agora como presidente poderia ter a histórica iniciativa do “programa de aceleração da demarcação das terras Guarani (PAG)”.

Pedra no sapato

Provavelmente a recém eleita presidente do país, Dilma Rousseff, herdará uma pedra no sapato – a não demarcação e garantia das terras dos Kaiowá Guarani, no Mato Grosso do Sul. É bom, que ao pensar a transição (continuidade) a equipe não se esqueça dessa agenda, que via de regra fica para o final da fila, depois de contemplar todos os interesses envolvidos na composição do poder.

O presidente Lula tem menos de dois meses para diminuir sua dívida histórica com o grande povo Guarani, fazendo avançar os processos de identificação e regularização das terras. O que Lula não conseguir fazer em oito anos, espera-se que Dilma faça nos primeiros anos de governo. Os Kaiowá Guarani têm uma paciência secular, mas não é infinita. E chegou ao limite.

Os Guarani comemoraram com os milhões de brasileiros e pessoas no mundo inteiro, especialmente na America Latina, a vitória da presidente Dilma. Especialmente os pobres e empobrecidos desse país, os expulsos das terras, os sem terra, os índios, os quilombolas e os excluídos, de uma maneira geral, esperam ter seus direitos respeitados e sua vida e dignidade asseguradas.

Povo Guarani, Grande Povo

Dourados, 3 de novembro de 2010

Fonte: Cimi Regional MS
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