Bebê Awá-Guajá morre por demora no atendimento
Por Rosana Diniz/Cimi Regional Maranhão
No dia 16 de outubro, lideranças indígenas do povo Awá-Guajá informaram a morte de um bebê recém nascido da aldeia Tiracambu, Terra Indígena Caru, município de Bom Jardim, no Maranhão.
Segundo relato de lideranças da comunidade, a jovem mãe iniciou seu trabalho de parto na aldeia. Com muitas dificuldades ocorreu o nascimento, mas a criança tinha uma parte da cabeça machucada, lesão que ocorreu no momento do parto. Ambas então foram levadas para a Casai, localizada na cidade de Santa Inês, aonde o recém nascido chegou com vida, mas faleceu pouco tempo depois.
Para a comunidade, essa é mais uma morte a se somar no triste número de óbitos de recém nascidos já ocorridos entre os indígenas Awá-Guajá por falta de assistência por parte do órgão que até o momento é responsável pelo atendimento à saúde indígena no país, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
Por irresponsabilidade do atendimento da Funasa a esse povo, que teima em não observar suas especificidades e seu contato recente, se repetiu com Marajaxia Awá-Guajá, a jovem mãe que perdeu seu bebê, o mesmo que aconteceu com sua mãe em 2005. Arawymyna Awá-Guajá teve problemas durante a gravidez e a Funasa, mais uma vez, não evitou a morte da criança e nem da mãe, que faleceu com grave infecção no hospital Tomás Martins, também
O trauma vivido pela perda de sua mãe em um contexto equivalente se repetiu para a jovem mãe Marajaxia. Agora, as futuras mães Awá-Guajá se imaginam em um quadro de insegurança diante da assistência que a Funasa não consegue garantir: um pré-natal adequado e o apoio necessário para a realização dos partos nas aldeias, uma vez que as indígenas, culturalmente, não são a favor da cesariana.
Enterro
A comunidade ainda denúncia a forma com que essas crianças foram enterradas. De acordo com a comunidade, o bebê foi enterrado na Terra Indígena Pindaré e não em sua aldeia de origem, fato que se repete há anos em se tratando de óbitos de indígenas Awá-Guajá na Casai,
Histórico
Com mais esse óbito chega a sete o número de casos de morte de crianças do povo Awá-Guajá. De acordo com dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), esses casos foram registrados desde 2002.
Falta de assistência
Os indígenas ainda denunciam outros problemas relacionados à falta de assistência por parte da Funasa às comunidades indígenas da região. Somente este ano, dois surtos de diarréia aconteceram na aldeia Awá. O primeiro ocorreu no mês de maio, onde mais de 20 crianças foram retiradas para a cidade. Agora, no mês de outubro, já foram registrados mais de 10 casos de diarréia entre crianças e adultos.
Em todos os casos, os indígenas foram levados a Santa Inês para atendimento na Casai. No entanto, nada de concreto foi feito até o momento para indicar a causa dos surtos. Os funcionários da Funasa apenas dizem que a diarréia pode ser provocada pela água consumida, medicam os pacientes e os mandam de volta à comunidade.
Os Awá-Guajá foram contatados há pouco tempo e têm muita dificuldade de comunicação em português, o que também tem dificultado o atendimento na própria comunidade, quando a própria lei os garante atendimento específico e diferenciado.