26/10/2010

A hora é agora

Egon Heck
Cimi Regional Mato Grosso do Sul

 

“Como você e muitos outros que partilham desta solidariedade com os índios, eu também lamento o que aconteceu em Ponta Porã....Penso que o problema só será solucionado quando a Presidência da República tomar a peito a situação dos nossos índios. Caso contrário, será um martírio que se prolonga de geração em geração”. (Dom Redovino – bispo de Dourados-MS)

 

Irmã Mariblanca escreve uma mensagem angustiada, perguntando a quem escrever, como ajudar a comunidade Guarani do Ypo’i, na eminência de ser expulsa novamente essa semana. Explico-lhe que uma das formas mais eficazes de ajudar é, além de rezar, manifestar a solidariedade à comunidade e dirigir-se às autoridades e ao judiciário brasileiro para que não se perpetre mais essa violência.

Os povos indígenas do Mato Grosso do Sul, reunidos em Campo Grande fizeram um documento exigindo justiça.

“Sabemos que nossos parentes Guarani se encontram dentro da mata de reserva legal da fazenda, e que não trazem nenhum impedimento à produção do fazendeiro que possui apenas algumas cabeças de gado pastando em volta da mata. O povo Guarani respeita a natureza e ainda a protege contra eventuais destruições e desmatamentos.

A permanência do povo Guarani de Y´poí dentro deste pequeno pedaço de sua terra tradicional significa o mínimo que o Estado brasileiro deve garantir para amenizar o sofrimento e garantir a sobrevivência digna da comunidade que não suporta mais viver nos confinamentos das antigas reservas.

Deste modo queremos prestar nossa solidariedade à comunidade de Y´poí e afirmar nosso compromisso com as lutas pela demarcação de todas as terras indígenas de Mato Grosso do Sul.

Clamamos ao poder público para que reverta as decisões de expulsar o povo Guarani de Y´poi como única forma de se preservar direitos humanos fundamentais daquela comunidade.

Estaremos acompanhando e denunciando todas as ações de violência e intimidação contra a comunidade indígena e que não iremos tolerar jamais as medidas contrárias aos nossos direitos históricos e constitucionais em termos reconhecidas as nossas terras tradicionais de Mato Grosso do Sul. Queremos um basta à violência! Queremos uma solução definitiva para a demarcação de nossas terras! Queremos a paz para todos e todas, que será alcançada com o respeito aos povos indígenas e nossos direitos!

Esta é uma semana decisiva para a comunidade Guarani do Ypo’i. Temos a certeza de que a injustiça e a violência não prevalecerão.

Mais uma ordem de despejo 

Tomamos conhecimento ontem de que a comunidade Guarani de Remanso, na Terra Indígena Yvy Katu, também recebeu ordem de despejo. A decisão foi do desembargador Federal Peixoto Junior. Em sua argumentação ele declara que “não se podendo olvidar a dignidade humana também dos detentores de títulos de domínio e trabalhadores que igualmente precisam da terra para viver e não se podendo minimizar a questão pondo de um lado o direito dos indignas à vida e, de outro direito patrimonial…” Acontece que o  nobre desembargador no seu zelo pelo direito à propriedade privada talvez não tenha se atentado sobre as informações disponíveis na internet a respeito do proprietário que pediu a reintegração de posse. Ele é dono de fazendas em várias regiões do país, constando na lista dos que mantém trabalhadores com trabalho escravo.

Cabe então a pergunta, até quando comunidades indígenas Guarani continuarão sendo despejadas à beira da estrada, tendo seu sagrado direito às suas terras tradicionais negadas, para simplesmente favorecer grandes proprietários do agronegócio?

Fonte: Cimi Regional Mato Grosso do Sul
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