21/09/2010

Visita à aldeia Passo Pirajú

Em preparação ao II Congresso Missionário da Diocese de Dourados/MS, nossa equipe do Cimi visitou ontem, 20, a aldeia Passo Pirajú, no rio Dourados. A visita foi marcada pelo depoimento do cacique Carlitos de Oliveira, que esteve preso por um crime que não cometeu. Sua mulher sofre até hoje as consequências da invasão policial na aldeia e da violência física a qual foi submetida.

 

Existe um grande interesse econômico em relação às terras devido ao avanço das plantações de cana-de-açúcar. A comunidade, cujo território ainda não foi demarcado, sobrevive de cestas básicas. “Não é isso que queremos”, nos explica Valmir Rodrigues, liderança local e enfermeiro. “Queremos oportunidade para trabalhar, um serviço e uma escola de qualidade, e a liberdade de ir e vir”.

 

O processo contra Carlitos continua. Qualquer dia pode ser chamado para um júri popular. Na aldeia de Passo Pirajú não encontramos a alegria do acampamento Laranjeira Ñanderu, do dia anterior. A invasão da polícia e a passagem pela cadeia traumatizou o povo de Passo Pirajú. Procuro lembrar o cacique, que em Dourados existe também uma cadeia para prefeito e vereadores… Consigo arrancar um largo sorriso no rosto de Carlitos. Quem ri por último…

 

Autor: Paulo Suess

 

Escravidão sem demarcação

 

É de cortar a alma,

Ouvir o cacique

De Passo Piraju,

Falar da escravidão

Em que os Kaiowá

Vivem hoje,

E do massacre de ontem!

“Alívio pro meu coração

Só com a demarcação!”

Diz Carlitos

 

Nos olhos as lágrimas contidas. Gestos fortes, expressões cortantes. Hoje como dantes a dor sem limites. Rastros da maldade e destruição. “Onde está a floresta?” exclama o cacique Carlitos. Sua fé e crença inabalável, lhe dão forças para atravessar esse mar de sofrimento, de sentir e ver sua comunidade na cadeia. A privação da liberdade de se locomover é a dor maior. Espremido em poucos hectares entre a cana e o rio Dourados, ele clama por terra para seu povo acampado em casebres rústicos. “Já acabou nossa paciência. Passou de todos os limites e prazos. Queremos nossa terra, nossa liberdade”, afirma indignadamente outra liderança da comunidade. Por mais de uma hora historiam a trajetória da invasão, da expulsão, da destruição para chegar à escravidão atual. Passo Piraju é hoje a situação mais contundente da chaga aberta por uma sociedade racista, de exclusão, discriminação, ódio e acumulação. Os índios Kaiowá são o testemunho incomodo da trajetória de destruição da natureza, confinamento dos nativos e amplos espaços para o gado, a soja, a cana…

 

Autor: Egon Heck

 

Fonte: Paulo Suess, Assessor Teológico do Cimi
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