“Garimpeiros são doentes, parecem cupim”
Diversas denúncias foram realizadas este ano contra a ação de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami,
A atividade garimpeira aumentou muito nos últimos três anos. Atualmente, existem cerca de três mil garimpeiros, que estão nas comunidades Katrimani I, Hakoma, Maloka Papiú, Kaianaú e Parafuri. “Garimpeiros são doentes, parecem cupim. Foram expulsos e depois de dois, três meses voltaram de novo e estão no coração da nossa terra”, informa Davi Kopenawa Yanomami, presidente da HAY.
“Já falamos com Lula, com a Funai e com diversos orgãos do governo.
Os jovens da comunidade têm se arriscado, se aproximando dos garimpos para registrar as atividades ilegais em suas terras. Em carta divulgada em março deste ano, a Hutukara afirma que os garimpeiros estão roubando nas roças da região, poluindo rios e ameaçando os indígenas. “Eles atiraram com espingarda em um grupo que se aproximou deles na comunidade de Hoyamou e mataram um indígena Ye’kuana. Mesmo assim, nada foi feito”.
Várias pistas clandestinas podem ser vistas durante um sobrevôo a terra Yanomami. Os garimpeiros têm equipamentos e veículos que transportam o que recolhem da área, inclusive um avião. “Nós Yanomami estamos revoltados com a ousadia dos garimpeiros e isto nos lembra a época dos anos 80 quando muitos de nos morreram por causa do garimpo”, afirmam.
Precisamos que as autoridades façam uma operação grande e bem organizada para retirar os garimpeiros que estão dentro da nossa terra e para impedir que eles voltem. Apenas retirar eles não resolve, eles sempre voltam. A Hutukara reivindica que, além de operações de desintrusão in loco, sejam realizadas ações efetivas para desestruturar as raízes econômicas do garimpo nas áreas urbanas de Roraima – transporte, comércio e investimentos.
Descoberta das ativades garimpeiras
A exploração garimpeira na TI Yanomami começou na década de 1970 com a implantação dos projetos de desenvolvimento lançados pelos governos militares da época. Com a construção da estrada Perimetral Norte (1973-1976), o sudeste da terra indígena foi invadido, o que possibilitou a descoberta de importantes jazidas minerais.
Kopenawa disse que os garimpos na terra Yanomami foram descobertos durante uma caminhada que fazia na área com agentes da própria Funai e da Polícia Federal. “Em 1970, cerca de 50 homens entraram na nossa terra, de avião, e começaram o garimpo. O povo não sabia o que eles queriam e somente mais tarde descobri que retiravam ouro e pedras preciosas da área”.
A descoberta de tais riquezas naturais desencandeou um movimento de invasão garimpeira na região. Situação que foi agravada em no final de 1980 e tomou forma de uma verdadeira corrida do ouro. Estima-se que entre 1987 e 1990, existiam cerca de 40 mil garimpeiros na terra indígena. Embora o número de invasores tenha diminuído, hoje são cerca de três mil, os problemas decorrentes da invasão desenfreada continuam.
Desde a descoberta dos primeiros garimpos, afirma o presidente da Hutukara, ele vem pensando em como ajudar seu povo. Ele reconhece que o trabalho é difícil, pois a terra é muito grande, o que dificulta a fiscalização e a retirada dos garimpeiros, que contam ainda com a ajuda de pessoas influentes e com grande poder aquisitivo.
“O político abre estradas, arrancando árvores e raspando a pele da terra, dizendo que nos fazem um bem, mas foi assim, que nos trouxeram também as doenças e todo tipo de problemas, como a violência. Matam nosso povo para trabalharem tranquilos, sem índios, e ganharem dinheiro”, disse Kopenawa.
Em 1991, os Yanomami, com a ajuda de entidades e organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) conseguiram expulsar cerca de 30 mil garimpeiros da região. Três meses após a retirada, o grupo voltou e foi novamente expulso pela PF. Desde então, a comunidade vive insegura com o aumento de invasores na área.
“Minha luta é essa: falar com as autoridades para ajudar meu povo. Vivo junto e se preciso for derramo meu sangue pelo meu povo”, afirma o presidente. Os Yanomami querem a ajuda e o apoio de entidades indigenistas para denunciar e cobrar providências do governo federal para a retirada dos garimpeiros de suas terras.
TI Yanomami
A Terra Indígena Yanomami cobre 96.650 km2 de floresta tropical. A região, que faz fronteira com a Venezuela, tem alta relevância em termo de proteção da biodiversidade amazônica. Ela foi demarcada em 1991 e homologada pelo então presidente da República, Fernando Collor de Melo, em 1992.
Na região, onde atualmente vivem cerca de 16 mil indígenas, haviam fazendeiros que deveriam ter desocupado a terra declarada de ocupação tradicional indígena quando da sua homologação. A Funai fez levantamento fundiário e indenizou a maior parte deles. Porém, um pequeno número se recusou a sair e recorreu a ações judiciais, perdendo em todas as instâncias.
O Tribunal Regional Federal, em 2004, reconheceu que essas terras são mesmo dos Yanomami e setenciou que os fazendeiros devem sair da área. Dezoito anos, desde a homologação, se passaram e a situação permanece a mesma. “Queremos que a Funai faça um trabalho eficiente e providencie a desintrusão da nossa terra. Esse escândalo se perpetua por quase duas décadas e nós não queremos mais esperar”, declaram.